Fuga

Cada vez mais as portas trancadas. E as paredes encolhem. O ar se torna pesado e rarefeito e eu não respiro, eu me sufoco. Fecho os olhos e me limito. Eu não pertenço.
Engasgado com tudo que me cerca, vejo o que não quero ver, enxergo o que me dão, achando que eu jamais recusaria, mas eu recuso cada dia mais e aceito cada vez menos.
O que eu faço aqui? A beira de um colapso, destroçado por dentro, mil tapas na minha cara e correntes em meus pés. A beleza que se vai, e eu perdendo forças para prosseguir.
Eu jamais serei o que querem que eu seja, e jamais acreditarei naquilo que não aceito.
Hoje procuro as respostas em pessoas erradas, o auxilio naqueles que precisam ser auxiliados, eu não posso mais ajuda-los, eu preciso me ajudar. Limpar minha alma de todo esse fedor e limbo que ofusca meu brilho. E para onde eu devo ir? Uma fuga para o recomeço.
Resangrar, esvaziar os acúmulos de ódio que transbordam dentro de mim, e recriar o universo que me cerca da maneira que acho correto.
Um jardim onde plantei minhas flores e não onde espinhos nasceram sem minha permissão, por já estarem ali.
Hoje é dividido, entre a verdade absoluta e a mentira desvairada, eu sei bem onde estão todos, e tudo aquilo que me mata. Eu preciso matar, e não morrer.
Ao meu lado apenas quem acredita e enxerga todo o bem de dentro de mim, que tem coragem para destruir e recriar. Minha companheira.
Eu jamais serei bom o suficiente para aqueles que jamais quiseram me enxergar. E não espero mais deles, nada mais. Uma família é morta e a esperança ressurge. Só assim esquecemos o passado.
Eu vivo o meu inferno, alimentado pelas chamas das almas daqueles que hoje me cercam, me julgam e subestimam. Por dentro eu sou perigoso a mim mesmo, por fora eu atinjo sem dó todos que não percebem .Nas noites que se seguem a esperança de um futuro sem arestas me faz acordar, e eu no fundo enxergo aquilo que ninguém mais vê. E é pra lá que eu vou, mais cedo ou mais tarde, sem medo de errar.
Quando todos verem o sorriso em meu rosto e a esperança em meu olhar estarão certos de que eu os esqueci.
Só assim então irão me perceber.



Simples Assim

Existem os dias em que as palavras fogem, não nos pertencem, nos deixam calados. Existem aqueles que queremos gritar, esbravejar contra o mundo e aqueles que nos tiram do serio. Hoje eu procuro as palavras.
Procuro por aquelas que me confortem perante as dificuldades, por sabias que penetram fundo dentro do meu peito e de lá custam a sair. Se eu falto com as palavras eu me arrasto, empurro com lerdes, a espera de novos versos e parágrafos.
Hoje eu poderia escrever sobre venerar o destino, que nos da rotas e caminhos, se tropeçamos ou não, ele já sabe, mas não ensina, educa. Hoje eu valorizo as suas escolhas.
E ele escolheu que eu me entregasse a paz, ao afago dos amigos, calor do amor, tranqüilidade e harmonia. Sem cobranças, sufocos, nervos a flor da pele e desordem. Nestes dias futuros eu valorizo o pouco brilhante que o muito obscuro, ganho com chicoteadas e não com aplausos. Minhas escolhas foram sutis, escolhidas por ele.
Fecho os olhos sem dor, sem remorso, precisando de respostas, martelando minha alma quase cansada. Os temores que hoje cultivo são os de perda daqueles que almejamos, gostamos e necessitamos. E mais cedo ou mais tarde eles se vão,
Eu na vida aprende a subtrair, recuar para não perder, respirar para não me sufocar entre os nos que ela me impõe. Eu descubro como e respondo a altura, sem dar chances aos tempos difíceis.
Talvez eu tenha tido muito daquilo que não precisava ter e pouco do que necessitava para entender tudo que minha vida ensinava. Mas eu toquei os céus e os picos mais altos, senti o brilho do sol e o frio cortante, os dois ali, juntos.
As vezes eu procuro palavras demais para imortalizar minhas passagens, elas me faltam, e ao mesmo tempo me pedem para sair, cravar na eternidade mais um pouco de mim, livre para quem quiser saber.
Esta noite eu durmo tranquilo sabendo que respondi aos pedidos do meu coração. Simples assim.