Quieto

Ando calado, sem dizer aos quatro ventos o que sinto. Sem talvez a necessidade de mostrar doses de mim que a maioria nem sequer merece. E como me foi dito dias atras, eu me exponho demais, me "abro" demais e escancaro o que sinto pra muita gente desprezível. Meu erro.
Mas estes dias as palavras permanecem aqui, dentro de mim, onde ninguém é capaz de ler ou deduzir, ou de abusar disso como um suborno mental.
Palavras novas para tempos novos. Do surgimento de novos sorrisos, novos perfumes, um toque diferente e um olhar inédito. Eu adoro estas descobertas. Do escuro surgir e reluzir, das incertezas boas surpresas. Da "magia" do inesperado descobrir que deveria ser aquilo mesmo, isto é bom.
Sou movido a convites bem feitos, ousadia que surpreende e motiva, que pode ser confusa para você, mas clara como água para mim.
Não existem barreiras quando não se existe temor. O proibido se esconde na sombra da vontade.
Ando calado pois estou transcrevendo palavras diretamente aos olhos de quem merece. E quem são essas pessoas? Pergunta de simples resposta se vive comigo.
Estou absorvendo de pequenas doses bons momentos, de conversas de 2 horas na madrugada, de "bom dias" simples e sinceros, renovados e sem cicatrizes, criadas por mim mesmo. E qual seriam as chances das coisas darem certo, mas o que deveria dar mais certo ou esta dando errado. Consigo entender e ao mesmo tempo me confundir, e confundir você.

Talvez eu precise mudar algumas coisas, só que estas mudanças trariam perdas, e estas perdas me fariam mal. E o que fazer então?

Esperar que eu seja surpreendido. De novo.

Tempo

Ate quando irei me entregar as desilusões?
Para onde eu miro meu rumo, o chão desaparece e novamente não existem pistas para felicidade.
O que o tempo mata, destrói, sucumbe, vira pó.
Palavras ao vento, largadas e soltas se misturam a dura e cruel realidade. O fracasso.
Não existe beleza, não aceito anjos que me querem bem. Este é o inferno, e eu vivo cada pedaço dele, sem direito a condicional.
Mais uma vez respiro e engulo seco, nocauteado pelas verdades implícitas, maquiadas de jargões, sorrisos programados e mentiras.
Luto pelo que não existe, por acreditar que mereço, por saber que deva existir, e descubro de novo que luto sozinho.
Mais uma vez, amputado prematuro. Sonhos abortados como que sem perdão, sem justificativa ou razão. Apenas eu preciso passar sempre e sempre por isso.
Eu não aguento mais.
Quero tirar de mim qualquer motivo que me leve a sonhar. Qualquer pequeno lampejo que me faça acreditar pra depois me foder, sem dó. Quero a abstinência da alma, sem volta, muda e surda, paralisada.
Me procuro onde não devo existir. Me crio em mundos onde não pertenço, e sou deletado. Espero quem me resgate da catástrofe real que passo e sinto dia após dia. Não quero mudanças, quero a simplicidade da adaptação à mim, por mim, de alguém.

Por enquanto, nada me faz feliz.

Poeta

Simples, direto e real.
Eu não sou poeta, eu não sou escritor, não divido glorias, não recebo prêmios.
O que digo é da alma, é retrato de vida, paixões e brigas, suor e lagrimas.
Pedaços de vida que se partem, terminam aqui, no porão da minha alma. Isto é fruto da demência, uma tal que não controlo, que me permite ser anjo, maquiado de demônio.
Isto é sentido, vivido, passado e presente. Recuo o futuro e cravo meus sonhos, medos e loucuras.
Aqui de onde estou não existira o poeta, o sagaz das palavras, que confunde sua mente e salga seus desejos. Eu sou o escravo do meu sonho, a vitima dos seus delírios e o assassino do agora.

O que a vida me ensina, eu regurgito em pedaços. Crus, doentes, câncer que some e volta, curado, infeccioso, maligno e benigno.
Não há voltas, poeta, não a regras nem limites, presos ao seu corpo, devorando sua alma, eu amo meus espasmos de lucidez.

Mas vivo na utopia do astro caído.

Loucos aqueles que se prenderam aqui, mundo ríspido e seco, laços sem fitas, cortes sem sangue.

O que esta em mim é puro, salgado e raro.

Poeta? Poesia?
Vida e suas leis.

Laços

Nas noites que não terminam, onde sorrimos
Com palavras doces que cobrem as madrugadas, mimos
De rosas vermelhas, pétalas doces, espinhos afiados
Gotas de orvalho que transmitem o suor, corpos suados

Nuvem que cobre meu dom, que esconde meus gestos
Palavras avulsas, assustam meus olhos
Pareço não entender, uma por uma, amor e protestos
Do amor eu tiro as armas, uso e abuso
Seus medos te atraem sem motivos, confuso

Uso vírgulas que separam o fim, de novo
Quero continuar, separo, e paro
Como é possível não entender, eu quero
Eu digo doces, amargos e puros, é vero

Do desconhecido ao irresistível
Para chegar ao que hoje chamamos de desejos
Isto confunde os sentidos, indescritível
Freio com medo de me perder, esquecer os cortejos
Lamina afiada, navalha cruel, fere

Sentidos marotos, desrespeitosos, desleixados
Vão sem dó, pra onde eu não sei, eu permito não saber
Querem que continue, mas não tem sentido.
Assim...

Madrugada fria, onde perco meu sono, onde encontro razões, que me seguram aqui, Madrugada do silêncio, que me abraça e me respalda, juiz dos meus atos, cúmplice dos meus pecados,  bandido da minha razão. Se eu quero ser único, me livro e me separo do casulo do medo, deste pequeno círculo vicioso. Meu começo, meio e fim. Meu fim sem palavras.

Boneca

Eu abandono em um canto do quarto. Sem vida, sem calor, destrambelhada e sorriso pintado. Seus cabelos não tem perfume, seus olhos piscam se chacoalhados, manipulo seus gestos e suas falas.
Corpo lindo, colorido, transformado e modificado por mim. Pode ser sempre minha, posso emprestar, não se importa com nada.
Marionete com sorriso bonito, que ilude friamente, estrapola a dignidade, mata e fere. Se te pego pelos cabelos nem geme. Se xingo não retruca. Minhas experiências te excitam, mesmo você não sentindo prazer.
Esqueci de você por dias, me fez bem, livrando minha mente da mentira muda que ainda prega. Esfrego seu rosto contra a parede, mas na verdade queria arrancar sua cabeça fora. Queimar mesmo sabendo que não sente dor. Mas te uso como me usa, te manipulo como fui manipulado, eu controlo. Ou sou controlado?
Te trouxe a vida que quis, cresci sentindo você mais que a qualquer outra, e você apodrece, com o tempo, apodrece com o silencio, apodrece com a indiferença.
Largo você no esquecimento, de onde jamais deveria ter saído. Te cubro com entulho, escondo, quebro cada pedaço que um dia conservei intacto.

O que não existe não pode me matar. Você se calou.