Sobre Viver

Não é sobre amar, ou estar feliz demais. Não é sobre encontrar a pessoa certa, que te faz bem. Não é sobre viajar, acertar os passos, registrar momentos. Não é sobre sorrir sempre, agradar sempre. Não é sobre conhecer pessoas, aceitar defeitos, apontar desejos. Não é sobre acordar sem medo do hoje, pois o ontem foi perfeito. Não é sobre acreditar que pode dar certo. Não é sobre descobrir suas fraquezas, admitir ser dependente, aceitar. Não é sobre lutar sem necessidade da luta, sem a necessidade da dor. Não é sobre perder amigos, ou esquece-los. Não é sobre se sentir só, mesmo acompanhado. Não é apenas chorar, calar-se quando lagrimas não representam a verdade. Não é sobre reencontros, reaproximações, a falta que uns fazem e outros não. Não é sobre desistir, apenas ter enlouquecido. Não é sobre se confundir por dentro, de tentar achar o caminho certo entre destinos errados. Não é sobre esperar demais, se cansar de menos. Nao é sobre sentir ódio quando se deve sentir pena. Não é sobre enxergar que uns poucos vivem com tanto. Não é sobre mais um ano, que se encerra, mas um que surge. Não é a falta de esperança, a eminência da derrota, a vontade de vencer. Não é perder meus entes queridos, sofrer e se sentir triste. Não é sobre estar bem ao lado de quem não esta bem com você. Não é pensar que nunca existirá sempre. Não é beijar apenas, se envolver apenas. Não é sobre historias que se apagam, historias que superam o tempo. Não é sobre sentir saudade, sentir descrente, sentir que se foi. Não é sobre aqueles todos que não te aceitam. Não é ser fiel, sem ser leal. Não é sobre algumas verdades mentirosas, maquiadas. Não é sobre entender que existe muito mais a ser feito, fazer. Não é sobre desistir. Não é sobre acordar no mesmo dia, surpresas não existem. Não é sobre paz, glorias, esperanças. Não é sobre aceitar o que não se aceita, ter princípios e convicções. Não é sobre ser mais um perdido entre mais uns. Não é sobre perceber o quanto se consegue com o olhar, absorver. Não é sobre apenas escrever, deixar registrado, espelhado. Não é sobre apenas eu, sobre eles, sobre nos. Não é sobre sempre cair, de joelhos e parar. Não é sobre uma vida inteira sem historias ou memórias. Não é sobre estar aqui por estar. Não é sobre se dar ao luxo de esperar. Não é sobre muitos passos que serão dados, grandes e merecidos. Não é sobre nada disso, se isso não fosse pra ser, e assim será.
Não é sobre morrer, é sobre viver.

Cela

Triste quando muitos pagam pelo erro de poucos. Hoje separamos as verdades e guardamos em outro lugar. Tiramos os sorrisos, o gênio forte, a compreensão pelo que é certo e por tudo que se acredita, e escondemos longe de qualquer doença.
Fechamos uma porta, um caminho para aqueles que um dia tiveram a chance de entender um pouco mais, de acreditar um pouco mais, só que foram incapazes de aceitar.
E hoje por mais estranho que pareça eu me sinto ainda mais só. Como se não bastassem as feridas abertas por todos aqueles próximos. Como se não bastasse todo o mal que a distancia e o abandono me trás, eu precisei fechar ainda mais as entradas pra minha vida.
Talvez eu esteja sendo egoísta demais, ou talvez eu esteja fazendo o certo. Me resguardando, me precavendo de transformar o que é único em algo banal, pela simples ignorância alheia. Mas é preciso sumir.
É preciso mostrar que o silencio é mais doloroso que palavras. Que o desprezo fere mais que a critica. E que não importa se você é sarcástico ou maldoso, se houver verdade, existe você.
Hoje aqueles que me conhecem ficaram do lado de fora com todos os que queriam entrar, como eu disse, todos pagam pelo erro de poucos. Infelizmente.
Talvez um dia volte a tona aquele prazer de se fazer presente, aquela vontade de gritar ao mundo que existo, que faço parte de um pequeno grupo que não se dobrou as falhas e lutou para ser verdadeiro, mas que neste momento percebeu que não vale a pena.
Este vazio que resta, reflexo da raiva, da indignação de tudo e por todos, é torturante, é maldoso e machuca forte. Estes muros invisíveis que cercam minha alma, sufocam tanto que esmagam meu peito, e você não consegue sequer respirar.
É difícil calar uma força tão grande, ninguém é capaz, a não ser você mesmo. Mas isso te faz carrasco da sua própria vida, te transforma na condenação e sentença, pois agora, ninguém estende uma mão, agora todos se viram e aplaudem. Eu tenho ódio.
É mais uma das facetas da vida. Mais um alerta para que eu enxergue a saída de tudo que me faz mal, renasça, rescreva uma história que esta sendo apagada e borrada por personagens que não pertencem a ela. E mais um adendo de que permanecer enterrado nessa fossa podre e fétida, vai me contaminar ate a morte.
Hoje as portas estão fechadas e as janelas nada mais fazem que refletir a escuridão de dentro de mim.

Eu parti.


Trêmulo

Hoje o caminho se cruzou novamente. Enquanto a chuva caia e inundava meus pensamentos. Hoje eu deparei com a duvida e a surpresa, um sentido diferente e uma emoção sublime. Não acerto nas escolhas, não respondo as perguntas com respostas certas, mas eu acredito no que digo.
Talvez um passo a mais, um instante que dividisse tudo que acontecia. Aquilo que corria pelos meus olhos era como um diamante a ser lapidado, um sentido, uma carta de alforria de um presente negro, um presente confuso e indeciso, flambado a duvidas e ponderações.

Tem sido tão confuso tudo isto, tão incerto como certo de que as coisas aconteçam propositadamente, sempre. E a cada vez recebo mais provas disso.
Isto tudo esta me deixando a deriva, sendo levado a mercê de qualquer força, sem esforço.
Finalmente agora eu entro em um estado de agonia e preocupação. Porque isto justo agora? Porque as chaves caem na minha mão me obrigando a escolher quem vai, quem fica. Isso dói demais.
É um sofrimento que não se deve criar, um sentimento que não se deve despertar, é triste quando as estradas se separam, e não há nada que ninguém possa fazer, sou eu o ditador, o mártir, o anônimo que apedreja minha alma. E quais serão as feridas que ficarão abertas após mais essa insana passagem, me diga, me de respostas as minhas respostas, é só isso que basta.

Não posso mais uma vez desistir, não devo mais uma vez perdoar a mim. Eu não quero ser cruel. E não me faz bem ter que ser. Mas, eu não tenho escolhas. Ou sofrem ou eu sofro. E ate hoje foi sempre eu quem esteve de joelhos. Preciso parar.
Ao olhar minha face envelhecida neste antigo e trincado espelho, vejo as marcas de noites em claro, cabeça que jamais descansa, um retrato da morte em meus olhos cansados, óbito e renascimento.
Hoje então as cartas estão expostas, linhas marcadas, atitude e coragem jamais vistos, declarações abertas, portas fechadas. Levanta a força, respira, tenta achar a saída desse labirinto de novo, de onde nunca quis sair, e hoje em dia espera sentado as respostas, e elas estão vindo.
Eu só não quero machucar ninguém enquanto cruzar este caminho. É tudo muito frio. Meus sentidos se partem ao meio junto com meu coração.