Sapato Preto II

Confissão:
"Hipnotiza, corrompe, pecado que desperta amor. Toque do calor, pedaço de brasa fria, arde sutil, entrega nos olhos o que sente, maltrata os desejos, e deixa, por mais proibido deixa. Contornos fumês, sombra que revela o que mata, satisfaz e provoca e não para. Vicio, desejo e querer. Doce, forte e sincero. Não há razão pra não ser, não escolheu, não decidiu, acontece sozinho. Inocência madura, que pisa onde quer, sapato de vinil. Não tenho culpa."

Culpa:
"Plena e incontestável. Provoca e ameaça, sabes que vence, provoca e consegue, sabes que tens, provoca e pede, sabes que merece. E deseja sem medo, e resiste aos furacões, e provoca e desfalece, sabes que venceu. Culpada por existir, pecado à flor da pele. Quem não entende desdenha, inveja que alimenta. Mas não afaga sua culpa, fato."

Fato:
"Não tem porque não. Medos que se foram, e daqueles que existiam, hoje restam apenas boatos. E quando vêem, não compreendem, e se corroem por isso. E ali onde desejou morar com belas cercas e paisagens, com suas montanhas que se destacam a luz do pôr-do-sol, é onde pretendem morrer."

Risos Mudos

Sofro sem sentir, sem falar
Tão somente me calo, parado
Não grito, suspiro, ronronar
Dor que não alivia, cala a alma
Se queres percebe arrebatar
Dos pés a cabeça, de dentro pra fora
Luz que se apaga, me ponho a chorar

Não sofra por mim, criatura
Luto por ti, tão bela ternura
Acreditas no amor que corrompe
Sucumbe aos desejos
Não sofra por mim, criatura
Suspiros sem tom, lampejos de alma
Alivia ao toque, afagos, e acalma

Vida em pequenas doses
Rei por um dia, refém para sempre
Suborno do bem, fúteis posses
E por mais que lute, fuga dormente
Não mais caminho pra frente

E leve e solto deixo ser levado
Sofro por tudo, mesmo acabado
Se queres viver, que tenha sorte
Banhos de angustia, regados a morte
Para que cresça de novo o amor
Derrube as paredes que cercam de dor

E por mais simples que se juntam
Estas palavras no fundo não mudam

Simples expor
Impossível transpor

O Menino e o Muro


Ofegante.
Assim que ele se sentia por mais uma tentativa. Os olhos ardiam, a poeira que levantava cobria seu corpo, e seus dedos apertavam suas mãos de uma forma a misturar dor, e ódio. Olhar fixo, como o caçador espreitando sua presa, pronto para o bote final.
Mais uma tentativa, queria provar a si mesmo que era capaz, mas sabia das dificuldades, sabia que sem as ferramentas necessárias, transpor esta barreira se tornara um ato único em sua vida. Um ato para vida inteira. Impulso. Salto. Seus dedos rasgam ao toque áspero do concreto, não se agarram, deslizam inquietos por cada vão, e seus pés, mesmo calçados, não achavam a base para um ultimo impulso.
A poeira novamente cobre seus olhos, agora lacrimejantes. O fio de esperança havia se perdido. A dor supera a força, a vontade, a luta por aquilo que se sonha. E sonhar ele havia conseguido, e muito, ao olhar lá de baixo os ventos que sopravam por sobre o topo. Ventos quentes, os mesmos que traziam refletidos os raios de sol, e que faziam ele suspirar.
Socos, não, socos não ajudam meu jovem rapaz, apenas adubam as feridas, e as deixam ainda mais abertas e doloridas. Não, meu jovem rapaz, poupe-se da escárnia.

De costas ele sentou-se, e lembrou que por um dia, por um único momento, seus braços esticados ao ponto de se soltarem dos ombros, lhe deu a chance de alcançar o topo, e um fio de energia puxou seus olhos, que deslumbraram, sem entender, hipnotizados e descrentes, tudo o que ele sonhava, e por ali ele ficou, contemplando, trêmulo, até desfalecer exausto de esforço.
Do outro lado meu jovem rapaz, alegria, amor, louvos e fardos. Pinturas puras, flolhagem sóbria e sutil. De que adianta se pensar?

Das mãos cobrindo a face, escoam lágrimas rosadas.
As mais puras e tristes, vindas da mistura do sangue vivo e turvo, com rios cristalinos, que brotam sem fim dos olhos que subornados, cederam a realidade minutos depois.

Tão alto não, meu jovem rapaz?
Um dia quem sabes cresça ao ponto de com apenas a força de seu peso, desmorone toda a angústia que lhe cobriu a vida infantil, e assim, por sobre as pedras, e cascalhos, por sobre os restos marcados de seus dedos, seus pés transponham a tão impiedosa barreira.

E ao sentir a brisa que antes passava lá em cima, tocar seu rosto como mãos de veludo, você, sorria.




Cai, e sara.


"Vermelho como sangue, que dói aos olhos, que fascina ao brilhar, sem sequer pedir permissão. E gruda a cada toque, e se puxado, sorri, sem nenhum pudor. E enrrosca como pequenos nós, cegos, firmes e fortes. Perfume doce, mel que vicia, seda.
Branca como neve, semente de diamante, que se marca aos apertos, vergões e arranhões. Sente o calor que brota e faz suar, sente os dedos que apertam, subornados por curvas tentadoras, irresistível, presa fácil que mata a qualquer um.
Dourados como ouro, que hipnotizam, que transcedem ao real, passeiam por cada detalhe, pedem e recebem. Se fecham sem controle, confessando o mais puro sentir. Te invadem a alma, sequestro premeditado. Impossível segurar por dois segundos sem se ferir.
Rosa como a flor, mas que morde, deixa marcas, que revela alegria, que tira de você o que tens de mais precioso, e faz questão. Pede, deseja, externa falta de pudor, grita, e se cala. Passeia por cada ponto. Tudo é permitido. "


Supreenda-se com o que não está em livros, sem segredos, sem nexo, sem razão, e porque vivemos assim, e sabemos que nada tira de nós o que chamamos de essência. Primitivo e deslumbrante.
Não, não pense que sabes o que lê. Muleque.



Condicional

Vivo a vida assim. Pedaços de alegria, montanhas de dor. E sobrevivo assim. Se aquilo que queres é o que no fundo deseja, nada posso fazer. Penso nos bons, penso nos ruins. E o mesmo orgulho que me empurra pra frente é o mesmo que não me deixa recuar. Talvez tudo tenha razão, e o propósito seja este, mas quem vai saber se está certo? E as glórias serão dadas, e mesmo que palavras maldosas saiam de sua boca, as verdades sempre existirão. Dentro de mim.
E percebo a distância, e o tempo separa e destrói. E as promessas dissolvem ao vento. Se diluem ao sabor da fria transformação de corpo e alma. E se assim for o fim, melancólico, que seja transformado em mais um aprendizado, em mais uma volta nessa eterna montanha-russa. E se os passos se perderem nas diferenças dos caminhos, eles nunca mais serão seguidos. E se as trilhas forem esquecidas, nunca mais terá volta. E acaba.
O meu coração absorve, dor atrás de dor, e pulsa, ainda. Porque por mais forte que sejam as feridas, elas terminam em cicatrizes. E eu não despenco. Se não queres saber de mim, paciência, e os dias passam, e as noites chegam vazias, e as tempestades assustam mais que o normal. Se a solidão vencer, desisto. Mas nada ainda me fere mais que a indiferença.
Se os olhos são incapazes de ver o quanto brilha minha alma, esta cega. Se não sente a presença, está cega. Ou pelo menos se vendando.
E as vidas que estavam sendo contadas param subtamente.
E o que será agora? Um próximo capítulo ou uma nova história?
Vivo a vida assim. Sou a novidade que fascina, e a doença que não se cura. E sabemos da força que tenho, da pura magia de atrair próximo a mim boas coisas. E isto nunca vai parar. E nas noites que você se aproximar da solidão, vai me sentir. E dói, e não é pouco. E subornando essas dores você vai viver sem saber se foi ou não certo. Apenas verdade.

Guardo pra mim.

Sem fim

Eu não sei porque minha mente faz isso comigo. Como tiro essa sensação? Porque ela não me permite viver normalmente? Eu quero tirar esse aperto que consome meu corpo toda vez que mudanças são feitas. E sou forçado a recuar, a desistir, a novamente morrer. As coisas me confundem, as atitudes me confundem, e ninguém é capaz de sentir o que eu sinto nessas horas. É torturante, é péssimo.
Mas ao mesmo tempo eu não acredito nesta felicidade, eu não acredito que essa seja a vida que mereço. O que preciso para me salvar? Porque eu preciso passar por isso? Essas perguntas rondam minha mente o dia todo, agonia. Muita dor, angustia é a palavra, eu preciso entender porque, mas não consigo. Fadado a isto? Onde eu errei, e porque eu devo passar por isso, volta sempre a minha mente.
Eu repito as palavras, porque elas me ferem, eu repito como um pedido de socorro que nunca pelo visto será ouvido. Não existe mais em meu coração a ganância que induz as pessoas a cometerem esses atos. Eu perdi essa gana, esse sentido pelo qual lutar. E não adianta, é impossível você entender, é impossível você conseguir me convencer que estou errado, porque ja tomou conta de mim, e me consome, triste.
As pessoas tentam me ajudar, mas é impossível.

Triste, porque nada tira esse sentimento de dentro de mim...

Ex-toque

Eu sou isso. E é verdadeiro. E real. E talvez isso que me fez ter pessoas maravilhosas ao meu lado. Gente que me conhece, que sabe os porquês e absorvem o que de melhor eu puder passar.
E que talvez me faça sempre ter esse tipo de pessoa, ou que me enterre de vez em um poço sem fim, se isso for o que mereço. Mas não consigo, por mais que tente, subornar minha mente e todos os seus laços. Por mais que eu engane meus olhos, meu coração se mantém vivo, e me mantendo em pé.
E se mereço sofrer, e se na vida eu fiz o caminho que para Ele foi errado, eu devo sofrer. Mas no fundo eu sempre vou questionar, porque que eu preciso viver assim, porque que não como todos ou a grande maioria, eu não poderia apenas ser. Mas nada mais é que a pura verdade. E meu amor por ser assim é maior que o mundo, e não cabe apenas em um texto.
E aqueles que me criticam, que me xingam e me menosprezam, o gosto da minha derrota pode ser saboroso, mas o amargo da vitoria pode tardar mas não falha.
Eu sou isso. Me desculpo aqueles que não me compreendem, me desculpo aqueles que se inconformam com a sinceridade e honestidade de minhas palavras, e deixo avisado, que o dia que eu mesmo não mais enxergar dentro de mim, esta na hora da vida terminar. E que o dia que o meu sentido estiver perdido, esta na hora de terminar.
E se não consigo apenas ser eu, esta na hora de terminar.