Querer

Mais que ter, mais que poder. Ser.
Querer constituir, entender, se tornar. Querer melhor sempre, que se fale bem, se entenda, que una e não separe. Querer uma vida sem medo, sem dúvidas do que é, sem vergonha do que não é. Querer ser belo e puro naquilo que faz, nas suas crenças, suas falas, atos, idéias. Querer como se quer à sí próprio, evitando atingir para não ser atingido, evitando dor para não sofrer. Querer ter forças para entender cada desavença, evitar cada contraste de mentes, pequenas arestas que destoam de qualquer perfeição. Querer ir aonde se tem vontade, sentir na pele tudo e qualquer sentido, o tapa que arde é o que te faz entender. Querer aquilo que seu coração pedir, de verdade, a cada pulso um aviso, um assopro que te empurra pra mais perto da glória. Querer que os que te amem sejam amados, que compreendam cada dificuldade e dor, e que estendam as mãos, "eu ainda estou aqui". Querer que se repitam as vezes que os sorrisos encobriram as lágrimas, te fizeram melhor, mesmo não sendo perfeito como pediu. Querer vencer qualquer luta, mesmo a batalha que te derruba, te traz força pra não cair mais, não da mesma forma. Querer acreditar que pode acontecer sempre que você tentar, que focar em se permitir todo e qualquer sentimento, te fará vivo. Querer deixar feliz aqueles que te fazem feliz, que batem palmas sinceras, que pedem mais de você quando falta, quando se quer estar bem. Querer ir longe, bem longe, onde sua mente te puser e seu peito tiver forças para te levar, alí, você estará feliz. Querer força, muita dela, para não perder as rédias, não soltar as mãos quando outras tormentas chegarem, quando as travessias foram tão largas que só juntos alcancem o outro lado. Querer de tudo um pouco daquilo que se quer, experimentar o sabor, o ardor ou afago, de ter conseguido. Querer viver bem, por mais duro que possa ser viver sem entender, mas que consiga viver bem de dentro pra fora, e não de fora pra dentro. Querer lutar por aquilo que bater o pé, sendo uma reação natural, do fundo do peito. Querer que estejam todos alí quando você precisar, querer, sentir falta. Quando chorar de alegria ou sorrir de tanta tristeza. Querer poder dizer tudo que precisar ser dito, antes que não exista mais como, antes que falte deixar tudo claro. Querer assim, de imaginar poder, de desejar conseguir, de conquistar de verdade. Querer que amanhã se junte com hoje, que veio de ontem. De tudo um pouco, um pouco de tudo, mas querer.

Eu quero. E você?

Destoante

Um intransitável espaço, onde fico a mercê de qualquer brecha para sair. Eu flutuo entre meus próprios medos, esbarro nas paredes dos labirintos que criei, áspero, pontiagudo, úmido e frio. Hoje estou resgatando pedaços de papel queimado, palavras esquecidas, lembranças destruídas.
Quantos deuses terei que criar antes que eu desista de fé, sepultando as minhas verdades sem ritmo? As vezes eu desperto sem razão, procurando motivos para continuar, seguir em frente para um destino desconhecido até hoje. Mas eu persisto, insisto, acredito naquilo que não vejo, como muitos fazem a toa.
E vejo seus rostos, eles brilham e reluzem, transparece a cor da mentira. Eu vejo seus pequenos universos cheirando a cinzas, um pequeno mundo dominado por todos. Eu bato o pé, eu não faço parte de histórias com capítulos repetidos.
Eu atravessei fronteiras, releguei e elegi novos horizontes, um universo antes intransponível. Poderia dizer tudo que não faz sentido, tudo que guardo e engulo, ou esqueço de falar. Mas eu deixo aqui.
São todos semelhantes, são as mesmas pessoas, vestidas diferente. Todos são pardos, pálidos, felizes e doentes. Eu vejo muita dor, muita ruína e destroços. Não existe palavras que descrevam os contornos de quem esta no fim.
Apenas um rosto a mais, eu passo por eles todos os dias, despercebidos, desatentos. Meus deuses se intercalam, entre salvadores e matadores, é quase sempre tudo ou nada. 
Toda decisão é dura e machuca, mancha a pele, sangra os olhos, busca razões irracionais para fins racionais. Eu ando de lá para cá, onde estará você? Eu parei e perguntei novamente. 
Agora que minhas pernas estão dormentes, eu tenho problemas, são internos, são minha bomba relógio, um curto pavio incandescente. 
Todas aquelas coisas que são melhores esquecidas, tiradas e destruídas. O que você faz aqui? O que te atrai em minhas palavras dislexicas e sem sentido?
Hoje eu deixo você ir sem respostas, sem verdades, sem perfeição. Hoje é tão imperfeito que se fosse fácil dizer o que quero, eu me calaria. 
Eu olho para tudo e não vejo nada, eu estou aqui, mas não tente me encontrar. 

Retrato VI

Não sou dono da verdade, nem tão pouco pretendo ser. Tenho a minha, a qual sigo, tento viver baseado, tento lutar para permanecer fiel. Tudo que vi, que vivi, que aprendi, vem do don de olhar, de observar os resultados, de entender os prós e contras. A arte da crítica. Aprendi muito com o erro dos outros, o que pode ser maléfico, pois me impede drasticamente de me atirar ao desconhecido. Hoje eu sou razão além da emoção, mas eu já provei muito dela, e quero o mesmo para os quais eu me dirijo.
Eu não me importo sem importância,  não acredito ser crer, e não aceito sem entender. Me frustra falar, para quem não quer ouvir, para aqueles que no fundo não me consideram importante o suficiente para ter importância. As pessoas não aceitam as próprias verdades, e isto as faz atacar, tentar te atingir, ou te colocar no mesmo nível mísero apenas pelo orgulho de não aceitar que pode estar em um caminho errado.
Eu não falo por mal, muito pelo contrário, eu falo para que haja uma mudança, para que os olhos se abram e um novo horizonte de opções apareçam, um que talvez esteja encoberto pelo véu do comodismo, do medo, da incapacidade de olhar ao redor, ou tentar olhar. 
Jamais imponho, não obrigo, não posso fazer. Eu apenas gostaria que pelo menos fossem capazes de ouvir, respirar por um minuto e raciocinar. 

Mas quem sou eu? Porque você me ouviria? Não sei. Porque você deveria me dar importância? Não sei. Se você tem estas perguntas talvez nunca terá as respostas, pois talvez nunca tenha realmente me enxergado. Eu não pretendo estar sempre certo, mas tenho a convicção de que não estou completamente errado, e de que eu estou tentando acertar sempre.

Não tenho receitas de sucesso, de progresso, de felicidade. Não sou perfeito, jamais serei, tenho meu lado negro e meu calcanhar de Aquiles, bem como meus segredos sujos, como todos nós. Mas eu separo. Eu separo os universos e os caminhos por onde ando. Mantenho minha mente direcionada a não errar ou não deixar que o erro prevaleça. Eu apenas aprendi a separar, praticamente tudo.

Me desaponta. Me desaponta saber que talvez tudo o que eu fale, seja visto de uma forma errônea pelo simples fato de não ser florido e belo como você pretendia ouvir. Me desaponta o fato de que você não arrisque quando eu digo, de que você não enxergue os empurrões que na verdade eu dou em você, ou em quem eu achar que mereça. 

Eu gostaria que alguns vissem o mundo como eu vejo. Travassem as batalhas que tenho de cabeça. Os mergulhos retos no escuro e silencio das respostas...
...não, no fundo eu espero mesmo que sejam capaz de me ouvir ao invés de me entender. 
A vida pode ser melhor pelo menos para você.

O que quero

O que eu procuro não se encontra fácil. Não é comum ou corriqueiro,  não é ambicioso ou reconhecido.
O que quero está em um papel velho,  um rabisco antigo,  um recado que ficou marcado. 
Aquela camisa que não serve mais,  com marcas do que passei. O que quero fica preso e grudado sem o menor esforço,  fica ali,  tocável. 
Me dá prazer e não riqueza,  me dá sorrisos de satisfação,  de feito com vontade e não obrigação. O que eu quero não é remunerado,  não é imposto. É dádiva merecida,  conquistada,  sonhada.
Aonde o menos vem cheio de mais,  onde subtrair significa selecionar e não perder. Onde escolhas são decisões e não apenas opções.

O que eu quero é a força que entende o passado e trabalha o presente,  pois o futuro não existe sem o agora. De onde eu vim,  onde eu estou,  e então serei.

Não se conta em notas,  cifrões,  papéis e montantes. Não se apalpa. Se sente. Se deslumbra naturalmente com um olhar,  um suspiro,  quando não se perdeu tempo mas se aproveitou.

O que quero é tirar proveito do hoje pra sempre,  moldar e lapidar,  esculpir e deixar perfeito. Ou pelo menos reluzente.  Pois pode se ofuscar um brilho mas jamais apagá-lo. 

Eu repasso e passo, aquilo que acho. Repasso e passo,  aquilo que me faz bem e acredito que faça também. Eu compartilho sem retorno, só esperanças. Talvez um dia você veja assim como eu vejo.

O que quero é que não haja saudade,  pois ela só aparece quando já se perdeu do peito, se esvaiu, morreu.  Lembro de ontem como se fosse amanhã,  junto comigo pra sempre sem medo de esquecer. Eu levo o que quero,  e o que preciso.

Hoje estou aqui,  arrisco e absorvo,  procuro e encontro,  como eu disse,  talvez não o que te satisfaça,  te conforte ou te traga conclusões,  mas o que me faz bem. Me faz ter paz.

O que quero é fechar os olhos para o que não quero ouvir,  pois as vezes pequenos gestos e olhares falam sem som. Transmitem cada mensagem de dentro de seu corpo. O que você sente exala. Transpõe.

Das gavetas esvaziadas, de onde tirei lembranças,  memórias,  trouxe comigo um pequeno punhado delas,  o resto dentro do peito,  maior gaveta não há.

Eu ainda desperto em madrugadas,  me cerco de anseios,  de ponderações,  satisfações e frustrações. Eu ainda grito,  em um vazio onde eu pelo menos me escuto.

O que quero é chegar aonde um dia talvez tenha sonhado,  guardado comigo, caminhado junto sem que nada nem ninguém possa tirar. São apenas meus diamantes.

O que quero é cada vez menos visto só como querer.

Um Dia

Um dia houve alguém por aqui que era diferente.  Que havia saído do mesmo lugar, que passou pelos mesmos problemas, que viveu as mesmas vivências de menino, mas que era diferente.
Um dia houve alguém que enxergou cedo que a vida seria mais confusa do que ele imaginava, que seus espelhos estavam trincados, e as imagens distorcidas da realidade. 
Um dia ele acreditou que alguém perto morresse, ele poderia morrer também, e chegou até a questionar porque não ele ao invés dela. 
Um dia houve alguém que não entendia direito porque o amor não existia quando se diziam amar, e porque aqueles que ele amava não estavam juntos, e não se entendiam mais. 
Um dia ele foi posto à prova, de todos os lados, conversas daqui, conversas de lá, um errado, o outro certo. Ele no meio. 
Um dia houve alguém que foi tirado do seu local e posto em um universo estranho, de pessoas superiores, com idéias que ele jamais havia visto ou pensado existir. Um dia ele achou que aquilo fosse ruim, mas hoje entende o tamanho da importância daquele tempo. Ali, aprendeu e notou que a vida poderia ser muito mais do que ele conhecia, e que se tivesse coragem, poderia transpor barreiras.
Um dia houve alguém que ainda jovem foi apresentado a música, e a sua vida mudou. Não por sucesso, mas por filosofia. A partir dali ele entendeu que poderia sonhar, e que quanto mais se aprofundava, mais expunha as verdades, e junto com ela as feridas.
Um dia houve alguém que por seus sonhos deixou onde vivia e foi de encontro ao seu destino. Lutou anos e anos, conheceu pessoas boas, pessoas más, sucesso e frustração. Viveu anos como um rei, com apoio naquilo que acredita e força pra seguir. Consegui sentir o sabor e o amargo de estar ali. Aprendeu. Subiu e novamente desceu. Sem sequelas.
Um dia houve alguém que valorizou demais a amizade, que achava que conseguiria ensinar a alguns aquilo que viveu, aquilo que saboreou. Achava que com exemplos e incentivos, eles também chegariam lá, e saberiam ouvir e ver, saberiam absorver e entender, aprender e respeitar. Mas eles foram incapazes de ver assim.
Um dia houve alguém que sofreu noites e noites tentando entender ou aceitar a realidade que lhe cabia, que pessoas se vão, que lembranças ficam, e elas geralmente machucam mais que afagam. 
Um dia houve alguém que pensou ser querido, que acreditou que seria admirado de onde surgiu, que nunca teve a soberba ou foi esnobe mesmo com motivos pra isso, e que teve muita alegria em transmitir alegria.  Um dia ele sentiu prazer em ter todos por perto, e sonhou ser capaz de juntá-los em um único local, para sempre. 
Um dia houve alguém que procurou demais por algo chamado perfeição, e aprendeu que ela não existiria, e que as qualidades devem superar os defeitos, e que só assim duas pessoas podem viver juntas. Um dia foi mais importante o perfume que o olhar, o beijo que o afago, o arranhar que as mãos dadas. 
Um dia houve alguém que esteve junto com todos vocês. Alguém que podia e sempre somou muito aqueles que foram capazes de enxergar seu brilho, seu jeito ímpar, sua sinceridade que dói mas que quer sempre o bem. Um dia estiveram tão próximos que poderiam ter caminhado juntos até o fim, mas eles são cegos demais para isso.
Um dia houve alguém que deixou pra trás tudo por descobrir que tudo que havia ficado pra trás já não era tão importante pros outros como era pra ele, e então ele deixou ir. Abriu mão de sofrer e se martirizar, e de tentar razão onde não existe razão. A vida segue.
Um dia houve alguém que poderá ser lembrado, se as lembranças ainda fizerem parte da memória daqueles que hoje sofrem de esquecimento. Um dia eles poderão repensar e ver que estavam tão errados, que me fizeram apagar o passado.

Um dia houve alguém por aqui que talvez deixe saudades, mas que hoje precisa desaparecer pra que ela apareça. Um dia eu estive do seu lado. Hoje estou aqui.

Serventias

Esta é uma porta entreaberta, encostada. Basta um empurrão e você pode entrar. Ouça o ranger das antigas dobradiças, madeira velha, dissolvendo com o tempo, cheiro de passado. Talvez você não queira sujar suas mãos ao encostar. Marcas de dedos, marcas de mãos inteiras. Alguém já esteve ali. Você vê unhas, rasgando os entalhes, alguém com raiva, que empurrou com força tentando entrar mas desistiu. Pedaços estão faltando, arrancados, como se quisessem levar como lembrança ou tentando destruí-la.
Um empurrão ela avança e teima em voltar, se fecha sozinha. Não há trincos, fechaduras, chaves. Apenas a força natural de quem sempre se manteve ali semi aberta. 

O cheiro é forte, cheiro de dor. Clima pesado e denso, tão denso quanto o que se esconde em seu interior. Uma fenda não revela luz, é escuro e frio, e ao mesmo tempo atraente. O que há de tão secreto? O que se esconde ali.
Há escritos em seu corpo, mensagens sem assunto, autores desconhecidos. Você vê paixão, palavras de amor, dedicatórias. Você vê recados, meias palavras, convites. Rabiscos sobre rabiscos. Seus olhos descem quase ao rodapé, e você percebe chutes, pedaços quebrados, alguém que não conseguiu entrar. Há dizeres com ódio, raiva, rascunhos de frases e desenhos inacabados, fotos rasgadas e jogadas ao chão, desfiguradas. Quem quer que seja passou por ali com muita vontade e terminou com muita frustração. Não percebeu que a porta estava sempre aberta a quem tinha coragem e malícia para entrar.
Corra a mão sobre os detalhes, farpas ardem ao encontro dos dedos.
A parte de cima é mais pura, menos violenta, há versos e poemas, inteiros. Foram deixados ali por quem foi capaz de entrar, sentir, respirar. Eu vejo amor, satisfação, alegria. Prazer por ter estado ali, feito parte de um momento ou personagem de uma história longa, cravou e marcou seu nome.
Estranho, sim, estranho. Não há nomes rabiscados nesta porta. Iniciais, pseudo-assinaturas que permitem dedução, mas não há nomes. Vejo setas e círculos, apontam a alguém, ou à mim. Talvez eu não entenda a mensagem ou talvez foram feitas para que eu realmente não decifrasse.

Eu nunca tranquei, reformei, substitui este local. Ela continua a mesma, mesma porta. Tinta velha, sem cor, desbotada e maltratada. Ainda entreaberta, ainda sem trancas.
Seja bem-vindo, bem-vinda. Mas não empurre, encoste. Não chute, não destrua mais do que já está. Não tente fecha-la, ninguém jamais conseguiu. Se por vontade quiser deixar um recado, arrume um espaço. Talvez ali, ao lado de quem você não goste, talvez ache alguém que te traga lembranças boas, ou um espaço só seu, talvez um pouco mais difícil este ultimo.
Um empurrão e você entra. Pode sair sem ver nada, como pode levar consigo mais que um detalhe. É escuro e turvo para aqueles que não enxergam de olhos fechados. Você é capaz de sentir o ar úmido e frio? Um calafrio na espinha. Você está indo bem. Parabéns.

Aqui dentro guardo coisas tão reais que tranca-las seria me fechar pra sempre onde ninguém fosse capaz de achar. Eu poderia fazer isso...
...mas por enquanto, se quiser saber mais, basta empurrar.

Turvo

É uma loucura que ninguém percebe, invisível mas sensível. Tira o precioso sono, te zumbifica. São tantos porquês, serás, deveriam, poderiam. Talvez sejam subtraídos desta angústia os ignorantes. 
Eu me conheço bem, sei das minhas fraquezas e fortalezas, dos tiros que dou no pé pra aprender a não errar. Eu as vezes perco a sanidade, ou ela se desprende de mim, de me deixar quieto no meu canto. As vezes eu só queria estar quieto no meu canto. 
Eu mal te conheço, minha parceira de madrugadas que invade e atropela, me chuta do sono em míseras quatro horas e me deixa lembranças na cara durante todo dia. Uma vadiagem sem esbórnia. As vezes eu só queria desmaiar e acordar depois de uns pares de dias.
Onde eu estarei daqui dois, três anos? Os passos que vou deixando marcados aqui, no chão de onde cresci, não se apagam com o tempo, estão firmes e fortes, mesmo hoje sendo seguidos por quase ninguém. Lá se vai aquela pessoa, que outrora era presente, mas que não se fazia aparecer. 
A melodia é melancólica, remete ao poço fundo da depressão. Fala de adeus, de mudanças, de deixar para trás, de romper com tudo que precisa ser rompido. E quem além de mim hoje em dia se importa? Tem sido frio e meu rosto não nega, mas eu me perfaço. E a cada angústia homeopática que sinto, procuro suborna-la e me tornar invisível, me escondo dentro de mim para tentar escapar. Hoje você não entende e ontem você não existia. Eu finalmente estou deixando este lugar.
Incompreensão, intolerância e ignorância. Quantos desses detalhes me moldaram e transformaram tudo que eu acredito. Eu não posso e não devo mais lutar pelo que não é sagrado. Eu ouço as pequenas falar entre as paredes, suspiros e sussurros que dizem por seus ombros, lhe conta a verdade e tudo fica tão claro. Paranóia pode ser.
Não escrevo para ninguém, alias raros os momentos que lhe dou tamanha honra. Dentro deste cesto cheio de folhas soltas, eu, ele, nos, somos os personagens neste caminho constante ente céu e inferno. Eu vejo rosas dentro de espinhos, aquilo que se inverte as vezes quando você percebe que estamos apenas em um caminho passageiro.
Talvez um dia eu sucumba a algo mais forte, algo que me impeça de mover os dedos habilmente para deixar aqui os espasmos da minha mente, e provavelmente quando este dia chegar eu já esteja tão cansado que agradeceria um descanso.
É evidente a hora de dizer boa noite, fechar as portas que ficaram e os trincos que ainda restam, e de mãos dadas com os sentimentos partir, abraçando o meu incompreendido destino. 
Estas notas de piano redundantes e profundas, me levam e me trazem, dentro de um redemoinho, sustentando minha insanidade. Talvez eu não seja tão normal quanto os normais acreditam por não acreditarem. Mas eu estou aqui, virando a mesa novamente, chutando cadeiras e pondo tudo nas apostas. Eu me lanço ao mar, apavorado mas confiante.
Sou apenas meu próprio salvador, meu alicerce, meu deus. O que sinto aqui dentro é tão pesado, é tão claramente turvo, rebate entre as batidas do peito. Tão confuso quanto minhas palavras são meus poréns, desvios de curso, paradas bruscas. Agora não há paradas no meio do caminho. Eu espero a mudança de ares. De temas.
Você percebe aqui os meus gritos vazios, você lê aqui meus gritos vazios, que parecem ser ouvidos só por mim. Você ignora os fatos e eu ignoro as mentiras que me impedem de crescer. Enlouquecedor.
Poderia apenas dizer adeus hoje, mas eu volto.

Reticências

Angústia, nem sempre má, nem sempre dói, não maltrata, não destrói. Traz a tona às realizações, as metas, as etapas que ainda estão por vir, e revela a linha de onde devo ir, pra onde devo caminhar sem olhar para trás, ou me prender a vestígios de medo.
Hoje eu deixo a angústia pelo futuro me dominar pois sei que a espera não será em vão. Acredito em tudo que acontece, acredito que as passagens e as portas se abrem para quem tem coragem de passar por elas, para aqueles que de qualquer forma buscam sempre mover-se para um próximo estágio, para um próximo capítulo em suas vidas. Eu estou prestes a encerrar mais um desses e vislumbrar o desconhecido.
O combustível que me move, que me empurra me tirando do eixo utópico de uma realidade sem brilho, sem cor, sem pulso, que eu sempre evitei fazer parte, que eu detesto estar, é a visão de uma busca por respostas e propósitos, uma espécie de doença, de vício, do bem.
Atravesso oceanos em busca dos meus rastros, entre conhecer pessoas que a maioria jamais sonha, lugares onde sonhei pisar e respirar aquilo que de dentro da minha mente eu criava como meu mundo. Eu sigo os sinais, as nuances, as pequenas frestas de luz e aproveito os espaços para entrar. Eu não tenho razões além do próprio coração para perseguir e perseguir.
Não posso esperar, não posso desistir, não posso chorar por aqueles que não existem. Não carrego comigo o remorso, a humildade que prende, a fraqueza que impede, a desilusão e conformismo que fuzila o peito daqueles que não se libertam. 
Eu acima de mim, eu acima de você, eu acima de nós. Pois não prospera quem não caminha. Não alcança quem jamais extendeu o braço para alcançar. Não vê quem nunca teve coragem de abrir os olhos. Eu acima de uma realidade pobre de realizações, de histórias, de passagens. Eu quero meu livro repleto de tópicos e marcações. Almejo coisas que talvez destorçam seus princípios e seus conceitos de felicidade. A sua não me trás nada, não me acresce, não me inspira, não me motiva. É fria, vazia, sem altos e baixos, como uma estrada reta terminando em um precipício. A minha vida é uma montanha-russa, verdadeira, a qual eu encaro enquanto você se diverte com as falsas. E dizem que não tenho coragem.
Talvez a minha coragem seja tamanha que me traz a tal angústia, pois eu sou refém da minha própria loucura e busca. Nada me detém, nada me transforma, nada me leva a trair minha alma, meus batimentos dentro do peito.
Não será apenas mais um adeus, não será apenas se separar dos que ficarem, não será apenas aceitar as mudanças necessárias. Será glória perante dúvida. Será luta ao invés de joelhos ao chão. Será olhos focados à frente, ao que me faz sentir vivo. Ao que me faz único.
Talvez eu nunca cresça aos olhos daqueles que vêem o sucesso como algo visível. Talvez eu nunca alcance também detalhes que me ajudariam a ser quem eu sou, mas eu não preciso buscar a perfeição. Não preciso de ninguém me dizendo quem eu sou, sem ao menos um dia ter tentador ser. 
Talvez eu leve anos até descansar, talvez eu esteja ainda na metade da minha existência. Mas posso estufar o peito e dizer que vi, assisti, e vivi coisas improváveis de onde vim, inalcansaveis aos que me rodeavam, inaceitáveis aos fracos e invejosos. Eu não sinto o remorso, ele não existe. E enquanto alguns tentam de alguma forma achar um fim para apenas um capítulo, eu estou com reticências.
A angústia que me tira o sono é o sinal da mudança. É a passagem que de tempos em tempos aparece a minha frente e me deixa um simples recado:
Siga em frente.


Crescente

Da próxima vez eu serei tão forte que me erguerei e permanecerei firme sobre meus pés, sem que nada ou ninguém me derrube. 
Tão forte que não sentirei dor, perda, remorsos, pena. E as viradas da vida não me farão sofrer. E eu não perca as alegrias pelo caminho, trazendo mais um pesadelo.
Um redemoinho, torce, aperta, maltrata. Eu queria ser mais bravo, forte, tão seguro diante dos fatos quanto diante da  verdade. Não odiar, não expor, não passar por buracos tão pequenos que me esmagam.
Travando uma guerra constante, quem sabe ao certo pelo que eu luto, só meu Deus. Só quem me dá forças é capaz de entender e me empurrar, me lançar aos desafios. Onde eu vou estar?
Tão inconstante. São viradas bruscas, arremessando minha alma contra as paredes. Eu preciso destruir este bloqueio. Eu quero ser o meu próprio salvador. Meu próprio juiz. Minha sentença.
Um coração forte feito para resistir aos comandos e as pressões de uma cabeça tão tão feroz, que explodiria se eu deixasse. Uma chama ardente que é capaz de matar. 
Eu, refém, eu, refém. No arrependimento, na passagem, no que faço, desfaço, começo, termino. Acendo e apago antes de iluminar, de brilhar, de trazer claramente as verdades, ofusco. Deixo queimar por dentro como uma folha se estinguindo. 
Meu som, meu refúgio, minha inspiração. Me trás a tona aquilo que existe invisível. Que me abre os olhos e me insere dentro de um mundo silencioso.
Nada termina após existirem lembranças. Eu desejo esquecer os dias, as palavras, as passagens, mas não existe saída quando foi preso dentro do coração. É um infinito sim amputando um não.
Remorsos jamais. Saudades pra sempre. Dos tempos em tempos. Do som de vozes que jamais se calarão. Eu espero desde ja apenas lembrar e pensar que transpus.
Se eu pudesse escolher, escolheria a mais pura ignorância ao invés da tenebrosa lucidez. Escolheria ser brando ao invés de ardente, ou apenas seguir caminhos planos. Mas eu não controlo o que os céus desejam, portanto sigo meu caminho, sigo meu próprio destino.
Pegue minhas mãos, me guie, me dê forças enquanto os lados desmoronam. Me abrace, forte, não me deixe ir além do que nós merecemos. Eu preciso e quero, eu aceito mas prefiro sem sofrer. Se eu puder escolher, que seja pelo menos agora. Não haverá sucumbir, e sim, prevalecer.
Quero num futuro distante olhar para trás e entender cada passo, cada lágrima, cada aperto no peito, cada perda, cada adeus, cada desistência e despedida. Cada ponte que transpus até chegar onde eu merecia. Eu mereço!
Quando vocês ouvirem minha voz. Quando entenderem além daquilo que vêem, através dos pequenos pedaços, enxergando o tamanho disso tudo, haverá tanto perdão e ao mesmo tempo raiva por terem sido tão ásperos quando a saída era apenas aceitar. 
Da próxima vez eu serei tão forte que um só sorriso vai dizer tudo aquilo que eu precisava dizer. E no exato momento antes de eu fechar os olhos pela ultima vez, me dêem apenas um sinal de que tenham entendido meus passos até ali.
Eu vou descansar em paz.

Vampiro

Houve um tempo, décadas atras, que não existiam consequências, apenas sede. Necessidade pura e simples de juntar conquistas, de ouvir as palavras certas, de sentir os murmúrios e os joelhos no chão. Não existia o "não", mas sim o "quando".
Não havia arrependimento, não há culpa, só a vitória. O certo e o errado foram mesclados e destruídos ali, dentro da insana obsessão. Dentro daquele tempo espaço onde era refém de si. 
A conquista vicia. Transforma você em escravo do "sim", do antes impossível, do chamado proibido. Não há barreiras. 
Evolução na arte da destruição, de sonhos, de perfeição, de família, união, verdadeiramente falsas ao seus olhos. Era a sede de conquista. Alguém a procura de destruir qualquer um que dissesse algo que lhe prejudicasse, que ele sentisse como desaforo ou ataque. Ele arrancava o que havia de mais digno, e da forma mais cruel e sádica.
Trazia para perto aquelas que eram soberbas, prepotentes, exibidas, arrogantes ao ponto de deixa-los aos pés. Todos? Quase todos. Ele as fazia sucumbir, ao seu modo, seu jeito, sua técnica impecável. As maiores lobas foram abatidas, domadas, de quatro ao seu comando. Era mais uma vitória.
E o prazer aumentava a necessidade, um vício sem controle, um refém de seus próprios desejos. Ele queria mais, e mais, e mais. Aquelas que se tornavam impossíveis aumentavam o desafio e o desafio aumentava o objetivo, e no final, triunfo. 
Não existiam as que eram de outros. As que estavam em mãos alheias às dele eram de mais valia. Objetivo redobrado e meta traçada. Ele queria destruir a idéia comum de união.
Introduz, apresenta, cerca, joga, cativa, conquista, vence.
A paixão o cercava, trazia a frustração daquelas que não teriam os desejos realizados. Porém nunca existiram falsas promessas, falsos comprometimentos. Era clara intenção, como era clara a consequência. 
Naquela época a paciência era virtude, a espera era recompensa, e o prazer era prêmio. Um risco intenso e eminente, uma delicia sem fim.
O proibido é doce como mel, lambuza, escorre, vicia. O improvável é apaixonante, olhos nos olhos com quem ninguém espera. Histórias que são segredos para quem as vive. Verdades que são mentiras pra quem não as soube. Esses são os trunfos imortais, por mais que os anos passem, as memórias ficam, as lembranças adormecem mas não morrem, revivem a cada vontade de renascer.
Houve um tempo em que ninguém era mais sincero e canalha, fogo e brasa ardente que acorrentava qualquer que quisesse ser tida como vítima. 
Seus homens eram objetos usados como instrumento de lembrança, lhes traziam a tona a imagem dele. Feche os olhos e imagine, suspire e diga seu nome, trema e denuncie quem te fazia mulher. Com os olhos fechados não existe traição.
E elas cobravam, exigiam mais, pediam mais, viciavam. Alimentavam ainda mais a volúpia e desejo, saciava o vício e mantinha a chama acesa. Um círculo infernal.
Daquelas histórias algumas sepultaram. Chegaram ao ciclo final. Sem mais capítulos. 
Mas as páginas escritas jamais poderão ser apagadas. Arrancadas talvez, mas o que aconteceu nunca será tirado de dentro das lembranças daquela época. 
Houve um tempo em que ele aprendeu os segredos que levará para vida toda. E todas as armas que aprendeu a usar hoje estão sobre a mesa. No final a vitória vai ser sempre em silêncio.

Retrato V

Eu aprendi muito esses últimos anos.
Vendo as pessoas que me rodeavam, o que elas achavam importante, a que elas se dedicavam, e fui percebendo que era tão vazio e sem propósito. E fui entendendo que aquilo não era para mim, que meus valores iam alem de status, de necessidade de ter dinheiro para se mostrar "bem"ao olhos dos outros. Descobri que eu procuro algo maior, uma paz interna e satisfação que vale muito mais que qualquer nota de 100, e que me desprendendo da necessidade e da obsessão, dessa ganância covarde que é imposta e que muitos aceitam, eu me encontraria e entenderia meu propósito. Eu me entendi, descobri meus limites e assimilei as conseqüências.
Acho que se você pensa em mudar, não deixe que os "e se" dominem sua mente. Eles são as travas impostas não por você, mas por toda a falsidade que nos circula, que nos mantém presos ao sistema impedindo qualquer um de pensar, agir, ou evoluir além do que lhe é "oferecido". Feche a porta atrás de você, que a da frente vai se abrir, e se por acaso ela não abrir meu amigo, mete o pé, porque as vezes, existe a necessidade da coragem e não só da oportunidade.
Tente não perder os avisos que a vida lhe da, as dicas que são postas em seu caminho, para que você siga por outra estrada. As respostas estão dentro da gente, e por mais estranhas que elas possam ser, elas são verdadeiras. Por mais objeções que você faça, e questione, não tenha receio, caminhe.
O que vejo são pessoas arruinando suas vidas, criando empecilhos para evitar dar um passo à frente, por medo, insegurança, incapacidade e preguiça. Se acomodar atrasa demais, aceitar, atrasa demais. Esperar atrasa demais.
Eu aprendi que me livrando do desespero imposto pelo ambiente que me cerca, eu conseguiria observar tudo que acontece ao meu redor, filtrar tudo aquilo que me fazia bem e me ajudava a aprender, e jogar fora a maioria dos exemplos errados, de toda e qualquer espécie. No entanto, aprendi também a manter próximo alguns desses erros, dessas pessoas, sempre a vista, para que eu jamais esquecesse das falhas e não repetisse ou começasse a errar. Olho, analiso, aprendo, filtro.
Veja, eu não sou perfeito. Longe disso. Não quero aqui dar receita alguma de sucesso, pois o meu sucesso provavelmente não é o sinônimo do seu. Apenas deixo aqui registrado, aquilo que eu ando fazendo ultimamente para tentar viver em paz e fora dessa agonia insana que a maioria se afunda. Eu já fui assim, e demorei quase uma década para perceber os erros, e só após experimentar o outro lado, eu consegui dar conta do que me prejudicava. Talvez você, que leia, esteja a procura de uma saída, ou pelo menos de respirar melhor. Se ainda continua lendo, é provável que pense um pouco diferente daqueles que eu repudio.
Nestes últimos anos, entre picos de alegria e abismos de tristeza, eu procurei respostas as minhas perguntas mais simples, as minhas dúvidas mais coerentes. Eu queria encontrar razões. Razões até para entender e aceitar pessoas e atitudes erradas, entender que elas nasceram para co-existir e que não existe realmente a possibilidade de todos "brilharem". O nosso planeta é povoado, e é aceitável de certa forma que a grande maioria se torne e viva apenas como "massa de manobra", termo na moda ultimamente. Mas eu nunca aceitei. Talvez por isso que eu desenvolvi tantas e tantas dúvidas e questionamentos, auto analise afiada e percepção aguçada. Sim, eu me considero inteligente, e isto não é soberba, é ser confiante.
Eu não consegui mais tolerar palavras que destoam de atos, idéias que se agrupam, atitudes robóticas e vontades questionáveis. Eu fui afastando, me afastando, e sendo afastado. Eu já disse isso uma vez, ou talvez mais que uma, mas a realidade irrita as pessoas. A verdade, incomoda demais. E eu me tornei uma pessoa difícil de digerir. Porém ao invés de lutar contra isso e sucumbir a uma falsa necessidade de aprovação por parte dos outros, eu aceitei. Ao meu lado, ou pelo menos próximo, vão sobrando aqueles que pensam um pouco diferente, que possuem outras visões, que possuem coragem e deixam sua existência perceptível.
Procuro fazer hoje em dia o que gosto. Registro meus pensamentos, apresento minha cara, falo do que gosto, escrevo sobre o que falo, critico o que não concordo, ignoro o que perco a paciência e o mais importante - aprendi a me desapegar das pessoas. Talvez isso soe cruel demais ou egoísta demais, mas só assim eu consegui realmente exorcizar meus demônios do passado, deixando quem passou, passar. Minha paciência para tolerar esta curtíssima, ando no fio da navalha, com as garras a mostra, com a língua afiada ao menor sinal de deslize, e sinceramente, eu gosto. Hoje mostro na cara aquilo que incomoda, as atitudes erradas, as promessas não cumpridas. 
E aqueles que não gostam, que apontem o dedo. Que digam de mim e contra mim, mas que digam verdades.  Sou mentiroso? Falso? Aproveitador? Vagabundo? Não tenho palavra? Hipócrita? De má índole? Irresponsável? Mal educado? Ignorante? Invejoso? Muito provavelmente não. E isto incomoda. Pois a melhor resposta vem quando os outros são incapazes de lhe julgar. Quando os outros são incapazes de lhe dizer que realmente você faz o mal, você age errado ou fez o mal pra alguém. Não, não vão achar. Exclua daí antigos amores femininos frustados por não terem o que gostariam da forma que gostariam, e foram incapazes de me fazer acreditar que queriam, e rapazes que tiveram suas "dignidades" roubadas da melhor forma possível, enquanto se preocupavam em "fazer minha caveira", eu me preocupava em agradece-los por suas fêmeas. Obrigado, "amigos". Isto nunca poderá ser apagado. Lembranças são inatingíveis. Engulam.
Hoje eu estou sossegado. Mais calmo. Mais brando. Acertando os ponteiros para um novo capítulo. Passando borrachas, deixando as linhas de rascunho em branco, para novos parágrafos, novas histórias. Hoje eu me retrato e me auto afirmo como uma pessoa a caminho da vitória, da minha vitória, sem falcatruas, sem resultados combinados, sem dignidade roubada. Apenas aceitando-me mais e mais a cada dia, e no fim das contas, eu vou poder dizer que nasci e morri sendo verdadeiramente honesto comigo. 
Mais histórias estão por vir. 
E eu continuo afiado.

Valeu

Hoje me deu vontade de chorar. Aqui, sozinho, de madrugada. 
Hoje, enquanto todos dormem, minha cabeça não para, e eu rebusco nas lembranças algo pra extravasar. Pra conseguir diminuir um pouco a angústia desses dias, que estão difíceis. E por mais forte que eu seja, por mais realista que eu seja, hoje, eu sucumbi. Pois não há força que deixe um homem em pé quando ele se vê impotente. Quando não cabe mais a ele decidir, cuidar, curar, trazer de volta.
Eu desabo quando não me conformo, deveria me conformar, talvez, mas é difícil. Esta é a palavra que mais perfura minha mente, como é difícil. 
E me pego a lembrar dos dias que não mais existirão. E isso dói demais. E me pego a lembras das horas de conversa, de aprendizado, de respeito. E onde estarão elas agora? E me pego a pensar se deixei de fazer algo, se deixei de dizer algo, se faltou um sorriso, se esqueci um abraço, se faltei com respeito, sem querer. E me destrói porque eu não posso fazer nada, nada mais. 
Quando eu vou repetir os almoços? Quando eu vou ter a ajuda pra lavar minha moto? Eu não sei! Ninguém sabe, porque talvez, não exista mais esse dia. 
Eu queria ter dito tudo que podia ter dito, mas ninguém sabe, ninguém escolhe, ninguém prevê. Eu queria poder ter aproveitado mais, não sei! Eu queria poder reverter as coisas.  Mas não tenho nenhum dom. 
Hoje, me deu vontade de chorar. Aqui, sozinho, de madrugada.
Hoje, eu só tenho uma pegunta que não me sai da mente. Porque? Porque tinha que ser assim? Será que esse foi o melhor jeito? Será que isso conforta? Eu não tenho nenhuma das respostas. O que me vem são lembranças, dos momentos bons, dos milhares de risos que dei, e dói, dói, dói, saber que mesmo estando ali, eu não vou mais poder repetir. Minha cabeça lateja, eu, sou forte, mas não tanto. O que eu deveria fazer pra entender esbarra em uma fraqueza comum.
A vida poderia levar as lembranças junto com as pessoas. Tirando de dentro de nós a falta que isso faz. A angústia que isso causa. A morte por dentro é pior que tudo.

Eu não me conformo. Me revolta as vezes. Me da raiva em certos momentos, me rebela contra a ironia do destino. Eu, você, ele, sempre refém dele. 
Libertar minhas palavras aqui tira um pouco de dentro de mim a pressão imensa que estou sentindo, a vontade de desaparecer e voltar quando tudo tiver terminado, ou voltar no tempo, seis dias. Seis dias, e nada disso existia. Seis dias, e tudo era harmonioso como sempre foi, e nossos almoços continuavam, e nossas conversas continuavam, e nossas brincadeiras e sorrisos continuavam. Seis dias.
Meu exemplo de força hoje é exemplo de luta. Mas talvez seja exemplo da crueldade do destino, da injustiça da vida, da maldade inevitável. Não tenho mais palavras.
Eu só espero que nunca o tenha magoado. Que nunca o tenha perdido. Que nunca o tenha decepcionado. Espero que guarde, nas lembranças que restarem, um pouco de mim, da forma que for, do jeito que for, mas que eu não me perca em um vazio condicional, um vazio agonizante. Espero que tenha forças pra saber das nossas histórias, dos nossos trinta e cinco anos.
Hoje eu não tenho mais você por completo. E isso dói demais. 
Hoje tudo que eu mais queria era não ter recebido aquela ligação do domingo, e a vida seguiria, porque as vezes é melhor acontecer com você.

Eu só sinto pena, por mim, por nós. 

Mas de qualquer forma, valeu, e MUITO. 

Primeiros Passos

Eu vivo o pior dos pesadelos por ter sonhado. Naqueles dias em que eu era apenas um menino, e tinha a inocência como companheira, que me fazia acreditar demais no que eu via e vivia, sem os defeitos, sem me mostrar as armadilhas que estavam por vir.
Ali, sentado sobre o alto do morro, eu olhava o horizonte e imaginava como seria e onde eu estaria. Carreguei o conhecimento, observando aqueles que me cercavam, aprendi cedo o que muitos levam anos e outros talvez nunca vivam o suficiente pra encarar tais lições.
Foi um tempo inocentemente difícil.
Eu fui um menino bom. Longe de ter sido perfeito, mas entendi rápido que não estava a meu alcance muitas coisas na vida, que eu não tinha os poderes dos super-heróis, e que eu não alteraria o que o destino - que eu nem sabia o que significava - resolvesse por si só. 
Aprendi que pessoas são más. Que algumas se aproveitam das outras e outras não aproveitam o que lhes foi dado. 
Eu caminhei lado a lado com inúmeros conflitos. O que era real? Quem realmente amava em meio as discussões? Quem eu via chorar tinha a pureza nas lagrimas ou trazia a malícia que eu era incapaz de entender? 
Lá estava eu, sobrevivendo no olho do furacão, enquanto adultos, até entao meus espelhos, entravam em colapso. Sim, eu me calava e olhava, e enquanto eles pensavam que eu não lembraria na manhã seguinte, eu lembro trinta anos depois. Feridas saram mas deixam cicatrizes.
É certo que eu não poderia usar as palavras que uso agora pra ilustrar o que via, mas voltando no tempo, relembrando passagens, eu transcrevo o que minha inocência não teve recursos para fazer. Hoje eu sou o porta-voz, o reflexo de um rascunho de familia perfeita.
Talvez nem eles, crianças crescidas, tinham a sabedoria pra entender as marcas que deixariam dentro de mim, não posso culpar ninguém, mas posso pontuar tudo que foi errado.
Daquela época eu trouxe comigo a imagem e a lição de não fazer nada sem ter a certeza de que aquilo é verdadeiro pra você. Passei anos tentando ser feliz tentando me transformar no que eu não nasci para ser: uma pessoa feliz. Lutei contra aceitar o que aquela criança se tornou, mas como lutar para evitar ser si próprio? Cedo ou tarde eu perderia esta guerra. 
Será que se eu voltasse no tempo, e guiasse os passos tortos daqueles que queriam me ensinar como andar, eu mudaria o rumo da minha vida? Provavelmente não. 
E mesmo assim, trazendo junto comigo incertas respostas e seqüelas, eu aprendi a não desistir. Esta deve ser a maior mensagem que gravei. De nunca se conformar com o que te desagradar. De nunca desistir de buscar a paz, e de não acreditar no que se vê pela primeira vez. Ah, e de que pessoas só ficam juntas quando relevam os defeitos umas das outras. Frase que muita gente gosta de proclamar mas que pouquíssimas conseguem praticar. 
Hoje não existem culpados por um passado distante. Hoje existem os personagens que criaram aquele universo onde eu estava inserido, e o passado deles é irreversível como o meu. 
Eu perdôo e peço desculpas ao mesmo tempo, pois a mesma força que não existiu pra me manter intacto, é o empurrão pra eu ser quem eu sou.
 
Eu me lembro de tudo. E tudo não caberia aqui.


Pra Você

Hoje eu enxergo as coisas diferente. Talvez com os olhos daquele que apostou e arriscou por muito tempo e com isso aprendeu sozinho. Tentando, olhando. Errando, acertando. 
Todas as passagens que eu tive me trouxeram até aqui. Todas as sementes que plantei não me deram flores, e os espinhos que surgiram, me ensinaram o que é dor.
Eu não espero que aquelas pessoas que fizeram parte em vão deste processo reconheçam meus passos, ou admitam a perda, mas de onde elas estiverem poderão ver, e observar onde erraram ao estar ao meu lado, onde poderiam ter sido mais perspicazes para ter mantido as coisas nos trilhos. Eu não paro.
As surpresas que a vida me dá, me moldam dia a dia, porém eu não esqueço ninguém. Nenhum dos passos que dei, nenhuma das palavras que eu disse, nenhum dos corações que conquistei. Uns se feriram, outros continuam flechados, outros congelaram com o tempo. A vida é assim. São historias que criamos que se tornam ou não eternas. Magoas são desejos maltratados.

Talvez você hoje ouça dizer que finalmente eu sosseguei. Que eu tenho meus objetivos mais claros e minhas aventuras não mais me trazem o prazer que outrora me satisfaziam. Talvez você ouça que ao meu lado existe alguém que me basta, que tem a alma tão voraz e contundente quanto a minha, mas que da mesma forma, anseia por proteção. E tem coragem de sobra pra arriscar graças a vida que lhe foi dada, assim como a minha trilhou caminhos até seu encontro. E o mais importante, que demonstre o verdadeiro amor, que mesmo por linhas tortas, escreve o caminho certo.

Foram muitos os dias que eu tentei acertar por meio das palavras que eu ouvia, das faces que me apareciam. Mas ninguém é verdadeiro só em palavras. Ninguém é tão intenso ao ponto de me fazer perder os sentidos. Eu sempre ouvi mais do que senti. Os erros estavam ai.
Hoje a mesa virou, quem estava nas pontas desapareceu, as cadeiras vazias foram retiradas, e quem eu considerava importante moldou o caminho para o desprezo. Tirou de mim todas as formas de enxergar algo bom em pedaços de prazer, suspiros de sentimentos. É hora de dizer adeus.

Talvez quando a saudade suspirar em seu ouvido, e a distancia lhe trazer a tona o desespero por conta do impossível, você tenha noção de que deveria ter sido mais sincera, mais decidida, mais contundente, mais verdadeira. E que todas as chances foram dadas à você como foram dadas à mim. Eu nunca quis a guerra, mas sempre tive armas pra vence-la. E eu venci e vencerei todas as batalhas até o fim.

A vida é e sempre será um jogo. Um constante redemoinho de ganhos e perdas, de onde não podemos sair. E eu me larguei dentro deste turbilhão, sem medo de onde ele vai me deixar, de onde eu cairei e se sobreviverei ou não. Eu sou tão inocente e refém quanto qualquer um que aceita seu destino. Eu não me sacrifico pelo que não considero sagrado. E enquanto meus pés tocarem o chão, haverá sempre a certeza de que eu vivi confiando na vida acima de qualquer sorriso bonito ou promessa de sucesso. Eu no fundo, sempre soube onde tudo terminaria.

Hoje eu risco seus nomes, mas não apago seus rostos. Hoje eu expiro os desejos e bloqueio as tentativas paralelamente com a realidade. Não existe aquilo que não é mutuo. Não existe aquilo que só eu vivi. Hoje eu aprendi a matar, como um dia aprendi a fazer nascer. E que seja sentido pra sempre por todas as pessoas que um dia me roubaram um pouco de sinceridade. 

Mas, não importa mais. 
Hoje, nada disso é tão sincero quanto eu acreditava ser.


Passagens

Sei que muitas lagrimas virão. Muitas delas por eu não ser capaz de aceitar que historias terminem. Muitas delas por um dia ter acreditado que não existiriam adeus, e que por mais que eu fosse difícil de digerir, seria reconhecido todo e qualquer esforço. Porém algumas coisas são melhores quando esquecidas.
Mas quando tudo que é dito ao seu redor começa a não fazer mais sentido, as peças não se encaixam mais.
Eu sou refém, de caminhos que conectei, de historias que cultivei, de sonhos que alimentei. Daquelas palavras de conforto que ofereciam solução enquanto a tempestade atormentava sua mente. Eu era o conforto enquanto não existia paz, era a aventura enquanto foi preciso esquecer.
Hoje não sei mais o que deve ser dito, não vejo mais as passagens que criamos, as verdades que falávamos. Soa tudo como algo passado.
Sei que muitas lagrimas virão. E não existirão saídas, não existirão espasmos de fuga, de busca por uma tal liberdade, que me desprendia da realidade. Mas ela, ela nunca foi real. Eu preciso entender.
O que devo é viver minha vida sem arrependimentos, sem esperar daqueles que nunca esperaram de mim, para que amanha eu não me culpe por não ser culpado.
Quantos começos sem sentido culminam em finais tristes e dolorosos. Isto vai mais uma vez ser frio. Outra passagem pelo inferno.
Devo um dia sim, dizer à todos que por me importar demais, eu tive que partir. Que por não caber dentro de mim tudo que me fazia mal, eu tive que aceitar este longo caminho, e esta cura.
Por favor, não espero reconhecimento, gratidão, entendimento. Eu ainda sou miserável e inquieto, mas quais as respostas que eu deveria dar quando todas as perguntas foram engolidas por orgulho? Eu nunca fui nem serei político ao ponto de ser aplaudido.
Mas nunca aceitarei que mereço o que me dão hoje. Nunca aceitarei que tudo morre, que os anos foram em vão, que eu não fiz por merecer. Tudo mudaria se eu pudesse. Se eu pudesse.
Eu estarei ok, não se preocupe. Eu estarei superando e vivendo, aprendendo como sempre fiz. Sobrevivendo como sempre fiz. Me dedicando as minhas escolhas. Sentindo dentro de mim as minhas próprias dúvidas e aceitações.
Esta é minha vida.
Com todas as mentiras e verdades.
Com todas as historias e lembranças. Com todos os começos e fins.
Com tudo que eu verdadeiramente vivo.



Marcas

As vezes as tempestades nunca passam. Como se os dias se estendessem sem sentido ou propósito. Muitas vezes eu me sinto assim. Mas as vezes as coisas mudam. As vezes as tempestades passam sim.
Em meio a um universo turvo e sem rumo, eu consigo enxergar uma luz, um caminho, um foco, uma esperança. E vou atras. Isto resume o que passo.
O que me maltrata a alma é desistir. O que transforma meus dias em agonia é a falta de respostas, e eu estou sempre procurando por elas. O que eu devo ser?
Quem eu devo ser? Porque eu devo ser?
QUANDO EU VOU SER?

Se existe algo que não tenho é medo de mudar, medo de arriscar e mergulhar em mares estranhos. Mesmo que isto demore, mas eu não me privo de tentar. Não consigo olhar o mundo ao meu redor e enxerga-lo como um capitulo repetido, como uma história comum, como sem que nada ou ninguém alterasse meus dias. Eles precisam ser imprevisíveis como meus pensamentos.
Tudo pode mudar quando você segue seu coração, e quando você acima de tudo põe em pratica o que seus sonhos contam. Eu nasci pra sonhar.
Olhar distante, dentro da minha mente existem cenas prontas, passagens pelas quais ainda não vivi, mas eu varias vezes me vejo dentro daqueles momentos. E imaginar como eles serão me traz um sentimento de alivio. De descanso.
O que vou levar daqui, são lembranças. Muitas delas ruins, que me fizeram ser o que sou e traçar parâmetros do que NÃO SOU. Outras talvez me façam marear os olhos, mas provavelmente a frieza que tudo se tornou hoje os seque rapidamente. Quanto a isso estou extremamente desapontado e decepcionado.
Mas sigo em frente, a procura, com a vontade da descoberta, do desvendar. E poucos aqueles que caminham ao meu lado, com a mesma força e gana, gana de sonhar. E os poucos são os verdadeiros.
E sinceramente hoje aprendi que não preciso de quase ninguém. O amor e o apoio da familia, seja ele como for, é ainda mais sincero que muita coisa. Uma companheira, uma corajosa, uma aventureira, uma sonhadora, como eu, vale bastante. Quando se esta de mãos dadas, sua força é dobrada. Sua vontade se torna um empurrão, sua esperança tem apoio, seus sonhos se materializam.
Eu só preciso de chances de arriscar, pois nasci pra isso. E se as pessoas não estiverem mais ao meu lado, eu preciso entender. Eu preciso viver a vida como se não houvesse amanha. Como se o tempo me sufocasse ao parar. E no fundo, é realmente assim que vivemos. Amanha pode não existir.
Eu estou aqui para sempre estar, e não passar apenas. Eu estou aqui deixando minha marca, registrando meus sonhos, minhas conquistas, meus fracassos, mas acima de tudo, deixando claro que vivi um dia.
E todos saberão.

Convicto

O sentido não esta na busca pela perfeição. Esta na harmonia entre aquilo que façamos juntos. O segredo não esta em declarações de amor, em provas de paixão momentânea. Esta na forma como você conduz os momentos juntos.
Não preciso de elogios, de afagos programados, apelos sexuais. Não procuro por uma orquestra perfeita, mas por uma que toque sinfonias que me confortem, melodias que me façam sentir bem.
Eu erro, talvez sim, talvez não. Tudo se torna variável devido ao ponto de vista. Defeitos são eternos, erros não. Nunca deixei de ser leal, estar presente, me adaptar. Aceitar o que não se acredita por alguém é mais valioso que duzentos "eu te amo". Pois ninguém ama aquilo que não controla.
A raiva que passo pra você, é a raiva da sua insatisfação. Da sua tentativa frustrada de posse sem sentido. Da sua luta em encaixar peças dentro de um universo já montado. Não há espaço.
Estive em mil mentes, das mais brandas as mais auto destrutivas. Olhei, aproximei, dei espaço para que entrasse, e fechei o cerco. Perda de controle. Histeria, nervos a flor da pele, raiva, melancolia. Aqui dentro todo amor sem raiz, enlouquece. Depois as portas se abrem, e lá se vai mais uma suposta alma gêmea. Supôs.
O sentido não esta em tentar entender o porque das escolhas, mas sim em ser honesto com elas. Eu sou honesto comigo justamente por você não ser. Eu aceito lutar dentro dos acertos enquanto querem paz aceitando os defeitos.
O segredo é manter próximo pessoas singulares. Que te batam na cara mas que você deixe bater, pois sabe que não é a toa. Talvez eu tenha poucas assim. Raríssimas.
Quando eu olho seu comportamento, compreendo seus passos, acredito estar certo. Me de coragem e eu te dou amor. Me de esperanças e eu te dou paz. Me de motivos e eu te dou razoes. Da certeza que não tenho sobre nada, tenho a vontade e a ambição.
Não esqueço de nada, de ninguém. Não esqueço de promessas, das tentativas, e da saída. Eu lembro de tudo aquilo que me trouxe até aqui. O seu fracasso me guiou até aqui. Obrigado.
Eu sou tudo aquilo que não posso tirar de mim. Sou a junção das historias que a vida me fez passar. Sou a cicatriz de passagens e a ferida que não fecha se cutucada. Eu desisto apenas quando não vejo nos olhos a mesma luz. Quando desaparecem os atos e ficam só as palavras, jogadas ao leu.
Hoje eu não preciso mais procurar. Hoje eu não preciso mais arriscar. Hoje eu aceito e acredito estar certo na escolha, enfrentarei os desafios e no mínimo, aprenderei e terei a experiência da pratica, e não da suposição.

O que trouxe comigo até aqui foram as lembranças de tudo que nunca existiu. Esta é a verdade.

Pelas Mãos

Eu continuo a espera. Talvez de algo que eu não descubra o que seja, talvez olhando fixo ao horizonte, enxergando um lapso de esperança, mas o que eu aguardo? Eu me perdi.
É uma tragédia, uma bela tragédia. Onde não existem vilões, heróis, eu me encontro nas ilusões dentro de mim. Nas vozes que jamais se calam.
A luta para continuar me prende, mesmo eu tendo desistido de olhar seu mundo, de acreditar em suas palavras, eu me guio em transe pelo tempo. Imploro por uma solução para um problema desconhecido.
Uma exposição de belas peças, um desfile de dor, sarcástico, impróprio. Eu gostaria de perder totalmente a razão. Do dia pra noite. Ou forças para desistir. Forças para desistir.
Um destino dilacerante, aonde eu devo ir? Eu quero as respostas desse universo frio e mudo. Eu quero as pessoas que me confortam. Eu quero ver apenas o que for sincero. Quero deixar de ser maltratado por estar vivo.
O ódio que me consome deveria me matar, mas porque não o faz? A intolerância me isola da vida, mas porque não me tira dela? Eu quero o fim, eu sempre procuro por ele. Porque me mantém aqui. Penitencias.
Minhas ultimas fichas foram lançadas, eu devo acertar, eu espero acertar. Caso contrario, terminamos o jogo, terminamos a bela tragédia que me colocaram dentro. Eu quero o perdão, o meu próprio perdão.
É como se tudo estivesse do avesso. Cabeças para baixo. Sangue seco. Respiração forçada. Não alcanço os nós, não respiro aqui dentro.
Porque você lê aquilo que escrevo? Porque você absorve as doenças que vivo? Eu não sou digno dos seus olhos, das suas crenças, seus idéias. Sou o exemplo da desordem que vivemos. Sou a ferida que sempre vai estar aberta e infeccionada. Não há cura.
Cheio de palavras bonitas, imagens bonitas, atitudes bonitas. A farsa, a mentira, a inveja, o rancor. Seus espinhos me ferem, e eu nunca revido. Eu me lembro sempre de tudo. De tudo.
Eu preciso jogar fora minha pele, minha alma, minha consciência. Eu preciso desfazer um quebra-cabeças circular. Um labirinto onde vago a anos, e de onde suas soluções não me salvam.
Eu não tenho nada mais a oferecer. Eu não tenho nada a mais para ser. Eu vivo da leviandade, da traição de princípios, eu sou a vitoria da vida matando os sonhos, o espelho da realidade sepultado os sonhos. Eu acredito.
Saia daqui! Deixe-me a espera de um sangramento. Sentir o gosto do ferro, o amargo da perda. Deixe-me partir. Por favor.


Orgulho Sim

As vezes as palavras somem, mas não a dor. As vezes o silencio se torna pleno, quando tudo que precisa ser dito já foi dito, quando todas as linhas que precisam ser escritas, já se repetiram.
Eu tento me salvar, dia após dia, achar portas que ainda não abri, e que atras delas, haja algo que traga esperanças.
Talvez eu tenha descoberto uma alternativa, que alivie a dor, que controle a angustia, que acalme os demônios, que me ajude a esquecer o inferno onde vivo por alguns momentos antes de eu perceber a realidade, novamente. E não ajudará para sempre.
Eu já perdi batalhas contra mim mesmo, mas já venci varias. A verdade é que eu luto, enquanto a maioria sequer esboça alguma reação a tudo ao redor. Complacentes.
O que eu busco vai além do que se pode enxergar, além do que se pode perceber. Pois eu procuro a verdadeira paz, trazida de uma forma real. Sentida sem farsas.
Eu estou quieto, pois não acredito que sejam necessárias mais palavras, mais gritos onde ninguém os ouve. É um universo só meu.
Hoje todos se foram. Aqueles que caminhavam ao lado, aqueles que entendiam as mãos, aqueles que juravam eternidade e aqueles que chamaria de irmão. Hoje, todos se foram.
E isto talvez fortaleça minha sina, sirva como provas de que nunca se deve acreditar mais nos outros que em você. Nunca se deve amar aos outros, mais que a você.

Hoje a vida apaga meu passado dia após dia. Retira de mim passagens, imagens, rostos, palavras, que um dia foram tão fortes que me serviam de alicerce, e hoje, vejo que eles foram cravados em solo arenoso. Não havia solidez, e sim complacência. Não havia verdade, e sim comodismo. Agora eu enxergo as entranhas de ontem, sem maquiagens.

A solidão não mata. Eis me aqui para servir como prova. A solidão te transfere para um outro nível de analise dos fatos e das pessoas. Te põe cada uma delas sentadas diante de um júri, e você é o juiz. Eu julgo, eu sentencio, eu condeno. Com tantas provas que fica difícil errar.
Eu acredito que tudo esta certo. Acredito que se deve ser assim, exista um propósito, seja ele ruim, ou bom, mas que será visto como mais um passo.

Ao meu lado só resiste quem é real. Ao meu lado, só prevalece quem tem força igual. Ao meu lado só caminha quem da passos a frente, e nunca para os lados. Ao meu lado só quem compreende que a vida é maior do que seu universo pode abraçar, e que além do horizonte, existe esperança, e que tenha coragem de transpo-lo, ao invés de viver acoado. Ao meu lado quem for capaz de sonhar, de arriscar, de acreditar que tudo pode ser melhor. Esta pessoa estará comigo.

Eu, sou único. Eu, não viro a outra face. Eu, não acredito nas suas crenças. Eu, não finjo ser perfeito. Eu, vou além do que você jamais poderá alcançar, pois dentro de mim, existe a verdadeira força, que me conduz a frente, sempre. A minha fé, não a sua.

Frio

O silêncio maltrata. Vem sem respostas, sem pistas. Lhe deixa cego e perdido entre suas duvidas e angustias. Eu nunca serei perfeito o suficiente para ficar em silencio. Eu grito.
Eu esbravejo a cada sinal de desespero e incompreensão, porque me sufoca. Me sufoca tentar mudar mais do que já mudei e apagar mais do que foi apagado. São linhas de vida.
Por dentro eu repenso, questiono, procuro alinhar o inferno e o céu, construir solidas paredes e fortalezas, indestrutíveis, impenetráveis. Por dentro eu sou tão perigoso à mim, do que à você mesma, pois vivemos juntos, mas morremos sozinhos. E quantas mãos estarão estendidas quando este dia chegar?
É uma vida teatral, uma tragédia insana, rabiscada e rascunhada. De um jeito onde poucos sobrevivem, com impactos fortes e incessantes. O que eu deveria fazer além de esperar pelo desfecho ou ponto final, além de reagir aos golpes antes que eu tenha um ultimo suspiro. Nada pode ser feito antes, me parece.
O caminho é longo demais, as forças se esgotam. O impacto é profundo e permanente. As marcas no meu rosto denunciam fraquezas, cansaço, derrota. O tempo não para de reclamar sua parte, de reivindicar seus dias ao meu lado, um rolo de um filme do qual desconheço o final.
E ao meu redor, incapazes de enxergar, vocês permanecem indo e vindo, enquanto eu tento me salvar, eu não ouço vocês aí fora, prontos para captar minhas ultimas palavras. Eu preciso apenas salvar à mim. Algum de vocês seria capaz de levantar minha cabeça em meio a tempestade? Não.
São invernos gelados, tormentas cruciais, sombrio e nebuloso. Um prisioneiro de longa data, que não caminha mais pois seus tornozelos atrofiados, secos, quebrados, sem resposta, não lhe acompanham agora. Eu vi novamente raios de sol por aqui, mas eles sumiram.
O silencio me parece tão claro as vezes, pois dentro dele eu não preciso de consciência para entender a realidade nem quem eu sou. Mas não compreendo o seu silencio, brutal a si mesma, contundente e cruel a si mesma.
Deixo aqui, as batalhas por que passo, você lê e relê. Imagina que seja alguém, ou que seja eu, aqui, despercebido e inquieto, que te faz parar de imaginar e começar a entender. Eu vivo como um fantasma banido de seu descanso.
Na próxima tentativa eu serei mais comum, mais cego, mais imperceptível, mais automático. Menos humano.
Outra noite congelada no tempo. O que me resta são estas quase verdades, enquanto os que mentem se calam, e eu renego cada dose de calmante que me tire a sanidade. Eu mesmo não sei até quando existirão forças dentro de mim. Os céus me testam, o seu silencio me testa.
Um lampejo de felicidade me passou pela cabeça e eu tentei reencontra-lo. Onde estará tal sinal? Uma pista ou marca daqueles dias, onde eu não me continha. Não sei.
Hoje tudo ao redor é fosco. Uma chama gelada incandescente no inferno

Plena

A felicidade plena, não existe.
Para aqueles que sempre estão em busca de algo, aquilo que lhes faça ser grato, que lhe encoraje, lhe traga satisfação, fazendo se sentir bem, não existe plenitude.
Não existe conformismo e confortos eterno. Não sabemos relaxar, baixar a guarda, acomodar, desistir. É uma luta constante por ter dentro de si muita vida, muita sede.
A felicidade, para aqueles assim, é tão simples que se confunde, desaparece aos olhos de quem não as tem, se torna imperceptível e incoerente, confusa.
Muitas vezes ela é tão rara, que até esquecemos dos dias que estamos perto de ser felizes.
Hoje, mais que ontem, receio a sentir tal sensação. Desconfio das palavras que leio, ouço, presencio. Hoje, já calejado por tombos e tapas na cara, poucos me tiram a felicidade. Poucos aqueles que me conhecem de fato.
Agora eu reluto em até aceitar aqueles que um dia foram eternos e insubstituíveis, pois se FORAM é porque de fato não eram. São as farpas que restaram das angustias e sofrimentos que passei por ver escapar entre meus dedos a felicidade, que eu criei, plena.
Talvez a felicidade esteja nestas possibilidades de reencontros, de acreditar, como acredito, que os caminhos daqueles que nasceram para andar juntos, sempre irão se cruzar.
Não sei mentir quando a verdade é para o bem. Não sei fingir, quando a seriedade é necessária. Mas principalmente, não sei esquecer, quando a lembrança é eterna. Pois existem aquelas que se apagam.
Eu não me contento com nada que me queira silenciar. Eu não me contento com nada que não me atinja na alma. Eu não me contento com nada que eu sei e sinto que não veio da pureza da verdade.
A felicidade hoje pra mim se esconde e desaparece. Ela não esta aonde você esta. Ela não é o que você acha ser. Ela não compartilha da sua. Talvez ela já tenha partido.
Quando me vejo em meio a tudo que não aceito, relutante, fingindo acreditar sem que percebam que eu não acredito, eu morro aos poucos por dentro, sem ninguém perceber. Esta tolerância imaculada, santificada, atuada, me faz muito mal. E me torna mau.
A felicidade é a paz, que muitas vezes não vem como você gostaria, mas sim, como você a molda. Eu aprendi a moldar tudo em busca da paz, mesmo dentro de um inferno. Pois a plenitude, não existe.

Se este aqui sou realmente eu? Se realmente existe alguém, estará aqui. Talvez eu, por mim, nem exista mais. Se foi com tudo aquilo restou e talvez renasça quando o avesso chegar. Deste lado já não há mais espaço para continuar, não há mais pedaços de mim que sobraram inteiros.
Sou a moldura que a vida me deu de mim mesmo. Feliz.

Quando eu me for

Eu carrego todo o peso das culpas comigo. Sou certo por caminhos errados, sou errado pelos caminhos certos.
Talvez um solitário refém de mim mesmo. Um juiz e réu de tudo que escolho e faço, do que acredito ser verdadeiro por ser minha historia. Esta é minha vida. Feita de surpresas dentro de um mundo sem novidades.
Quando os novos desafios chegarem, pelos quais eu serei forçado a passar, haverão mudanças. E dentro delas haverão aqueles que irão sorrir, e aqueles que partirão. Não existe circulo perfeito. Não existe vida perfeita.

Eu vivo me testando, me questionando, desagradando, provocando. Quase sempre acerto onde deveria errar, então será que estou certo errando? Talvez eu não erre realmente. São pontos de vista.
Preciso só cuidar direito de mim para ser forte enquanto as tempestades rebatem aqui dentro. Depois disso, eu transponho junto com o balanço suave e a calmaria do sossego. Mas eu ainda não sei.
Eu tenho asas frágeis que voam longe. Que me erguem aos céus mas são facilmente destruídas se os ventos forem fortes. Eu luto sempre para estar mais alto e evitar os sustos.
Abdicar. Adormecer. Esquecer. Sepultar. Responda onde encontro essas saídas. Eu preciso de sinais de conforto, de que posso estar sendo certo, mas eu não estou tendo isto. Você ainda alimenta a duvida e ela me submerge aos abismos.

Me aplauda, empurre, incentive o erro para colher o acerto, na hora certa. Eu só peço a segurança para ser seguro,
Vou cuidar mais de mim enquanto ninguém vê, distante dos holofotes, das brincadeiras dopáveis. Mas não esqueça , eu preciso da segurança quando retornar.
Estou de fora vendo aqui dentro uma bagunça, um emaranhado de fins e começos que eu criei e me deram um nó. Um ponto cego dentro de um infinito universo de tentativas frustradas. Eu preciso de laços que se abram, me ensinando a respirar sem ar.

Enquanto eu espero pelo seus acertos, eu sofro. Ansioso, repensante, angustiado. Bata palma para que eu escute os ecos da certeza de estar certo. Sem elas eu me encolho e recuo. Se eu recuar, elas me pegam. Mantenha a luz que tenta me guiar por entre esse labirinto.
São muitas as portas que se fecham, e apenas uma entrada. Você compreende o tamanho disto? Não deveria ser uma pergunta e sim uma afirmação, mas eu não estou seguro dela e nem você pelo visto. Mas o risco é o começo da vida. Quando eu desistir de arriscar, eu desisti de escrever meus capítulos.

Houve um momento em que eu apontava e seguia. Houve um tempo em que eu pulava com os dois pés e os olhos fechados. Aqueles dias talvez nunca voltem mais. Hoje, eu estico o pescoço para olhar o tamanho dos passos que dou tentando não tropeçar em mim mesmo. Esta é a doença chamada dúvida.

Eu estou disposto, acreditando, respirando e relevando. Abdico de velhos hábitos homeopaticamente, para não respirar por aparelhos enquanto não vejo tudo claro. Eu só preciso ver tudo claro!
Você apenas deve acertar como me guiar antes que eu me perca no caminho novamente. Só isso. Mas eu não sei. E preciso saber ao certo aonde ir.

Eu não posso dizer adeus aos antigos capítulos sem acertar o título do próximo.

Invisível


São calos que a vida cultiva em você. Te transforma dia a dia, te assusta mas assume que te molda, te mantém refém das suas vontades.
Muitas das coisas hoje passam despercebidas, sem sentimentos, sem abalos, como que se fossem invisíveis a qualquer tipo de sentido. Não sinto pena, não sinto dó, não choro por aquilo que vejo, não me culpo por não ser culpado.
Como que se as mortes fossem falsas, os choros fossem sem motivos, as perdas fossem apenas mais uma vinheta sem importância.
Nessa vida talvez eu já tenha aceitado os tombos de uma certa forma que o que acontece ao meu redor é tão fútil e inatingível dentro de mim que prefiro me calar a demonstrar tamanha frieza, inevitável, mas real.
Se eu pudesse evitar este circulo vicioso, e soubesse as respostas para aquilo que sinto, se eu pudesse andar sobre as águas, ou sempre escolher o certo, eu estaria em um sonho.
Mas isto tudo é um letárgico labirinto sem saídas, um local sem palavras perfeitas, sem ninguém mais além das minhas inquietas revoltas. Distribuo sorrisos, quais deles são meus de verdade e quantos são atuados. Tudo aqui parece invisível ao meu coração.
O que escuto de dentro desse escuro universo é o que ecoa por meus olhos, meus suspiros. Quanto tempo resta até a hora de renascer.
Sinto minha falta de sentir, como que sem uma parte de mim, como que independente de minhas vontades. Eu sempre me perco enquanto todos se encontram.
Eu apenas faço enquanto desfaço. O que mais me dói hoje é tudo que ontem apenas feria, e tudo aquilo que era real.
Os capítulos que escrevi são diários, confissões sem perdão, contados e cobrados por mim, que me cobro e me julgo mais que ninguém. Eu reafirmo as mentiras, contesto as verdades, eu me confundo entre aquilo que não vejo.
Eu finalmente devo partir, deste frio e viscoso lugar. De onde eu estiver eu vou resguardar os pedaços que sobraram de tudo que restou aqui.
Olhe em meu rosto, eu não posso apagar meu passado, tem sido tão frio, e inquieto. Olhe em meus olhos e veja os caminhos do inferno, diante das dores insanas que eu carrego, meu fardo e punição.
Eu vejo seu choro compulsivo, sua familia se foi, são agora historias antigas que nada significam para mim, um causo sem propósito, uma perda fútil.
Quantos mais eu devo ver partir e enterrar dentro de mim antes que tudo termine, sem pequenos medos.
Por favor, livre-se de mim aqueles que são incapazes de sentar-se ao meu lado, pois não há espaço para muitos, por favor eu não entendo seus atos e palavras.
O que eu deveria fazer para que vocês me enxerguem tal como eu sou, talvez mais simples do que possa ser, e mais difícil do que eu possa ver. Tão invisível.
Eu engulo todas as perguntas que vejo, e engulo todo meu orgulho cada vez que questiono o porque de cada um ser aquilo que não é. Eu ainda visto esta miserável mascara de carne.
Hoje aquelas mortes que doem no seu peito são pingos secos neste telhado, secou com o tempo, com doses de talvez e não sei. Tudo muda. Tudo volta a ser exatamente nada quando não sabemos ao certo se chegamos ao fim.
Vamos passas por estas farpas cortantes e desmembrar pedaço por pedaço qualquer dor ou ferida aberta.
Não vejo mais nada com os olhos fechados e trêmulos, cansados de tentar achar um jeito de perceber o invisível. Não vejo mais.

Seco

Não há vitorias onde as conquistas não são gloriosas. Não existe força para vencer, metas a seguir, desafios a enfrentar. Não transformamos dor em coragem, perdas em aprendizados, derrotas em lições. Quando se perde o prazer, quando se tira o sentido, você vaga sem rumo, literalmente deixando-se a deriva.
Não há sorrisos por gestos carinhosos, não há remorsos, nem sentimentos de perda. Quando a morte lhe é informada, um suspender de ombros. Não há dor.
Sua imaginação sepultada, idéias atrofiadas, vontades relegadas e desaparecidas. Não existe emoção.
Não existem amigos, amores, familia. Cada qual se foi, cada qual se distancia da forma mais cruel que conseguir. Onde não existe sentimento, não existe tolerância, nem reconhecimento, só indiferença.
Quando terminar, se terminar, esperemos frutos dessa arvore podre, ou que outra renasça e limpe todas as impurezas e doenças que infectaram aqui. É preciso renascer. E não esperar a morte e sonhar com fantasias. É preciso renascer nesta vida real, e todos tem esse momento.
Eu preciso morrer para respirar novamente. Preciso tirar de dentro de mim todas marcas deixadas, tudo que se transformou em pesadelo.
Neste lugar não vejo mais a luz, apenas dias cinzentos e mortos, horas que se vão sem sentido, pessoas que passam sem relevância. Noites mal dormidas, dias carregados de vazio.
Esta não é minha vida. Nunca foi e tenho certeza que ela deve voltar a ser com era. Esta não é minha vida. É uma passagem. E estou aprendendo a sofrer, e vou aprender a usar tudo isto quando as mudanças chegarem. Me fortaleço na dor, me preparei para aceitar meu verdadeiro destino, e acredito sem pestanejar na força que ele tem de educar e talhar sua existência.
Na frieza daqueles que me cercam, no descaso daqueles do próprio sangue, na ignorância daqueles que não reconhecem o passado, na falta de gratidão, na falta de irmãos, eu sobrevivo, e anseio pelo meu renascer, dentro deste mesmo pulsar.
Largo aqui minhas palavras, despejo aqui a realidade de conflitos que a maioria sequer imagina existir. Testemunho aqueles que interessar como é viver um verdadeiro inferno, sem ficção, chamas e demônios. Você pode sofrer no paraíso, acredite. Onde a rosas há espinhos, onde há abelhas, existem ferrões.
Deixo capítulos dessa história enquanto transponho sozinho um caminho áspero e árduo, e não há a quem recorrer conforto. Não há.
Deixo que a vida escolha o que mereço, pois eu escolhi acreditar nela.

Encanto


Seus cabelos lisos, intactos, negros como o anoitecer, passaram por seus olhos e lhe chamaram a atenção, seguido de seu perfume. Era linda, alta, com um charme encantador e um ar rebelde que combinava com seus traços. Ela não o viu, nem hoje, naquele momento, nem sequer em algum ponto de sua vida. Seu perfume lhe tocou fundo como um despertar desesperado, e ele olhou fixo para ela, de costas, de perfil. Ela usava um boné, preto, sem dizeres, que prendiam seus cabelos à frente, e deixava a mostra dois piercings em sua orelha, que ela ajeitava constantemente com suas unhas azul celeste. Vestia uma calca justa, semi social, um blusa colada cinza e uma jaqueta preta, com um salto preto. Estavam ali, dentro de um espaço unindo mundos diferentes, onde jamais poderiam pensar estar, e que um dia se encontrariam. A um metro e meio de serem um só. 
Seus olhos a seguiam, ele reparou sua pele sedosa e seus lábios grandes e carnudos que não deixavam escapar seus traços latinos. Morena de pele clara, olhos negros, boca grande, ele estava paralisado tentando fazê-la retribuir os olhares incessantes. Mas nada. Ela ficou de costas para ele, revelando sem querer suas curvas mais delicadas e sensuais. Ele a devorava com os olhos.
Enquanto as estações passavam, as pessoas entravam e saiam, ele viajava. Imaginou um mundo completo ao seu lado, imaginou filhos ao seu lado, o que aconteceria se trocassem duas palavras, ou se talvez os destinos dos dois pertencessem um ao outro. E ele a tocou com os olhos, a beijou com os olhos, afagou seu pescoço e imaginou frases que poderiam lhe agradar e arrancar um sorriso.
Algumas pessoas saíram e ela enfim pode se virar para ele, encostada na porta do vagão. Talvez ela se sentisse constrangida com os olhares, o fato é que é impossível negar que esta sendo observado, e ele fazia questão de externar isso. 
E de frente para ele, naquele metrô lotado, ele não via mais ninguém a não ser aquela pessoa que jamais havia conhecido. E pensava consigo como é possível se apaixonar em segundos, amar em minutos e construir uma vida dentro de si mesmo com alguém que nunca lhe foi apresentado.
Ela permaneceu ali, entretida com seu iPhone, olhar para baixo, rindo de fotos de fatos que faziam parte da sua vida, aquela que ele invadiu por minutos enquanto lhe olhava. Uma paixão. Pura.
Ele esboçava sorrisos em sua direção, morena marota, com ar de mulher, decidida e sozinha, pele sedosa, lhe ignorava tão profundamente que deixava mais e mais intrigado e vidrado. 
Só um contato, só um segundo de seu tempo para que ele pudesse enfim ter um retorno, e valer a pena aquela e entrega sem precedentes. Mas isso não aconteceu.
Enfim quando ela saltou, e ele acompanhando com os olhos pode ter seus últimos momentos "ao seu lado", por um segundo lhe passou pela cabeça sair ali mesmo, atras dela nas escadas, lhe puxar pelo braço, dizer oi, e acreditar que as loucuras da vida são reais. Mas a realidade lhe trouxe de volta assim que as portas se fecharam, e acompanhando suas ultimas imagens subindo as escadas, ele respirou fundo, e um suspiro lhe trouxe de volta ao chão. 
Este é apenas o registro de uma paixão.