Eu!

Tudo é tão simples, descomplicado. Eu aqui, assim, sem saber e sem pensar. Deitado acordado, sufocado, açoitado. Se eu não acredito em fim, ninguém mais acredita. Eu, eu, eu. Sempre eu.
Um universo bem pequeno e paralelo. Eu coloquei alguns fantoches, personagens. Eles vem, eles vão, não tão aleatório quanto eu descrevi, mas eu controlo sutilmente, peça por peça.

Já assumi ser insano o suficiente pra assumir que sou assim, sem que ninguém perceba, ou melhor não perceber. Eu faço de conta ser normal quando estou normalizando com vocês. Entendeu mas não compreendeu.
Se fosse fácil explicar, seria fácil demais e não seria nada do que deveria ser. Eu preciso rir, posso? Hahaha. Eu não acredito que alguém venha a entender. Que coisa mais estranha.
Se eu apertar um botão, isso tudo some, desaparece pra quem nunca apareceu, se é que um dia alguém realmente notou. Essa minha presença não é bem vinda.

Hoje eu marco passos longe longe. Aqui se eu quisesse ser você, eu poderia ser. Se eu brincar de sorriso e abraço, quem iria negar? Aqui eu poderia fazer de conta como aí fazem de conta comigo. Um vai e vem de suposições e situações. Eu não sou ninguém aqui.

Eu deixo essas palavras ficarem marcadas. Eu, eu, eu, sempre eu. Já deu! Por isso eu escrevo. Ou digito? Talvez essas palavras jamais existam. Eu apenas registro da forma que puder.
Se eu reclamar mais uma vez, eu não estaria mentindo. Mas ninguém se importa, ninguém se apresenta. Eu não sou nada além do mal que você evita, que você tenta se livrar, apagar, esquecer.
Eu vejo tantos sorrisos que comecei a sorrir sem ver, sabe?, automático, você faz eu faço. Vejo tanta bondade que me tornei um anjo em um céu azul, e branco. Vejo amor, demais, paz, demais, sem temor. Eu bato palmas e admiro, tamanho poder em ser bom. Eu sei ser bom, olhe para trás e puxe na memória eu sendo bom pra você, e pra você, e pra você também! Hahaha.

Muitas pessoas são cúmplices. Posso dizer quase todas? Posso. É uma abismo que eu sei, fundo, escuro, repleto de eu e vocês. Morreria sozinho lá dentro? Não não não. Eu vejo e sei, tudo aquilo que você não quer mostrar. Mas porque não? Não é bom pra sua vida. Essa sua vida, tão perfeita e tão brilhante. Suja! Tão ou mais que a minha, eu eu eu sei! Mas tudo bem, não se rebele e esta tudo dentro do seu controle. Respira.

Eu me divirto, quase sempre. As vezes fico tristonho porque tento brincar com gente morta, mas eu estou deixando esses definharem. Eu preciso do meu lado pouco, bem poucos. O resto é maldade, fazem mal, trazem o mal, pensam o mal, querem o mal. Eu me curo dia a dia e fecho as feridas que me deixaram aqui, abertas.
Eu vou sarar. Eu vou sarar.
Procuro pela cura todo santo dia, aqui dentro de mim, desse labirinto escuro. Sei que está aqui, como tudo está aqui. Só preciso fechar mais e mais, mais e mais, até não haver saída.

E você ainda acha que pode saber sobre mim. E você ainda olha pra mim como olha pra você. E conclui que pode ser tudo que eu posso. Não!

Nada é mais errado.
Sai daqui.