Em Dobro


E eu viro a outra face para mais tapas, que ardem, que doem, que arranham, que sangram.
Porque meu outro lado já está esfolado, e sem mesmo sentir mais dor, a repetição vicia. Quando a harmonia se perde, a melodia tropeça no descontrole. Nem os mais belos momentos resistem ao sabor amargo do descaso, da eminente falta do propósito.
E eu continuo a resistir ao golpes que a vida resolve me dar, apenas não sei até quando, mas eu não escolho isto mesmo.

Selvagem e irracional, benditos aqueles que permanecem assim por toda eterninadade. Porque por quanto mais o tempo corre em frente aos meus olhos, mais eu percebo que criamos nosso próprio fim. Sozinhos, cada um à sua maneira.

Queria falar mais das flores, como já citei antes. Fortes, reluzentes, brilhantes. Esbanjam a vida em sua plenitude. Sem remorsos, mesmo quando ferem com seus espinhos.
Mas as flores que hoje vejo são cinzas.
Pequenas feridas sustentadas por um unico fio, uma folha, um pequeno espasmo de vida. Cinzas como a dura realidade de um outro fim, bem próximo.

E eu sou imaturo ao ter tanta experiência.
O que me causa arrepios e tira o sono como sempre, sem eu poder resistir ou lutar contra. Não sei lidar, não aprendi com o tempo, e o tempo aprendeu a me enganar.

Me ensina a ser livre, sem me livrar.

Distante


Por onde andam os redemoinhos que confundem minha mente?
Dias de calmas marolas, que não afetam o rumo dos barcos, nem de seus tripulantes. Talvez minha mente esteja flutuando por um espaço vazio sem querer se prender a nada, talvez anestesiada de tantas pancadas que havia tomado. Merece um descanso, um pouco de paz, mesmo que irreal, mas apenas para dar ao tempo espaço de curar as feridas mais abertas.

Ainda balanço sem direção, em um centro único que não me permite nada mais do que voltas em torno de mim mesmo. É algo estranho, não sei direito explicar, ou sei?

Ela esta se escondendo, desviando dos meus olhos sua presença, retirando de mim suas raizes, mesmo que à força. Confesso que não estou bem com isto, não quero aceitar imposições, não faz parte do meu perfil. E então porque diabos estou perdendo entre meus dedos? Perguntas, não são bom sinal. Não gosto delas.
E então estarei a deriva, ao destino sem controle, flutuando sem ponto certo por um infinito as vezes tempestuozo e outrora inerte. Não enxerga porque? Sabes que controla estes lemes e direciona para onde quer. E porque não mais? Perguntas, não é bom sinal. Não gosto delas.

As escolhas doem, evito escolhas. Evito ter que pensar em escolhas.
Não acho que você se daria melhor. Algo a se considerar.
Sentindo-se despencando.

Brilho


Leve, livre, solto, rasga os mais temidos espaços e locais. Sombrio e torturante, com medo, com dor, liberta e renova as mais cansadas almas.
Ainda não morri, reluto contra as garras que me seguram no limbo seco e velho. E ainda restam sim, forças para o ultimo olhar fixo, a ultima amarra que me prende.
Sorrir, olhos arregalados, e inspiração.
Tento novamente remar contra esta correnteza que me conduz precipício, e aos poucos os remos quebrados e sem utilidade dão lugar a novos impulsos, com um broto germinando, fertilizado por corações. Não quero pensar em nada além disso, não quero dar espaço aos temores, a tudo aquilo que me rodeia.
De onde não se espera a luz, o brilho se revela, e com ele, a suspresa de achar uma saída. É um momento melhor, um momento de absorver o que está sendo emitido, tudo que esta ao seu redor. Receba, faça a força crescer, e lute contra o que era inevitável.
Sucumbir aos delírios da mente sempre refrescam a alma. Eu tento sonhar, mesmo que por força, sair de dentro todo o ser, toda as cores e tons. Nuvens claras que lutam contra o tempo escuro e sombrio. Rasgam o céu, abrem espaço ao infinito.

Noites inteiras ao invés de momentos de sono
Sorrisos ao invés de lagrimas abandonadas
Passos pra frente ao invés de recuos
Minha força ao invés de fraca raiz


Um labirinto de círculos



N.R.G.S.


Então é isso que eu mereço. E esta semana esta sendo marcada pela destruição de um carácter. Marcada pela realidade da desordem que paira sobre uma vida maquiada. Mais dor, mais sofrimento, mais angústias e mais perdas. E ninguém consegue me curar. Espalhado por todo corpo, tomou conta e não existe a chance de sair. Eu não enxergo, eu não tenho forças, e posso fazer o quê?
Viva intensamente o que lhe foi concebido, e guarde isso como lembrança, pois no final, só memórias realmente restam. E a maioria quer ver o ultimo espasmo da sua vida, e rir. E a maioria quer ter o prazer de poder dizer que isso não valeu a pena. Mas valeu sim. Porque todos os movimentos que fiz me levaram à algum lugar. E eu sou fruto do que plantei.
Não me arrependo do que vivi, não me arrependo do que conquistei e também não tenho vergonha de dizer que perdi. E existem culpados, sim, e eles sabem quem são, e não apenas eu.
Mas onde cheguei muitos nem sonham estar, e por trilhas que passei muitos jamais as encontrariam, e por mais que alguns tentem, nunca chegarão perto do que eu um dia alcancei.
E vão existir voltas, e vão existir recomeços, e eu espero que tudo me faça crescer.

Mas agora vivo um deserto sem fim, onde não ha saídas. E me reservo o direito de lamentar os dias que estou passando e esta angústia certamente tem um propósito. E das cinzas do mais ardente fogo sempre ressurge a vida. E os gritos no vazio não ecoam, não são ouvidos, e tenho esta certeza.

Belas palavras estão adormecidas. Talvez tenha gasto as últimas semana passada, pelo menos por enquanto. Não penso em amor, não penso em sorrir, não penso em sonhar.

Absorvi, talvez por merecimento, a dor do anjo que se foi. Talvez este anjo sofresse toda a dor que foi descarregada à mim, e gostaria muito que este fosse o propósito, pois se for, com todo o prazer, eu sofreria isto tudo de novo.
E que este anjo me deu o dom de ver o mundo assim. E faço dos meus olhos, os olhos dela, e mostro tudo o que este mundo tinha reservado, e que por sorte, ou destino, este anjo não foi o escolhido...

...um dia te conto os detalhes, quando te encontrar.



Fato


O que é a felicidade?
Satisfação pessoal, viver bem, conquistar coisas, sorrir, rir, viver a vida em sua plenitude, demonstrar amor, respeitar, ser respeitado, vencer, produzir, plantar, colher frutos, fazer amigos, se doar, ter família, encarar desafios, abraçar, construir uma história, trabalhar?



O que é a tristeza?
Frustação, decepcões, descobrir que se perde, perceber que se trai, adoecer, sentir remorso, perder, incompreensão, desrespeito, perder o rumo, não viver, não sentir, fome, hipocrisia, assassinatos, intolerância, perder amigos, perder amor, ser frio, drogas, perceber a solidão, ser ignorado, não ter apoio, amor vazio, palavras sem nexo, mentiras, falsas promessas, abandono, morte, viver um vazio, tapas, frustração, incapacidade, ser podado, chorar, sequestro, sucumbir ao fracasso, ser cobrado, perder um filho, perder a família, brigar com os pais, egoísmo, a realidade, vingança, ganância, abuso do poder, dor, depressão?




É, por aí...

Capítulo Três



Com os sentimentos que tiram da gente as mais diversas reações, as mais profundas mágoas e alegrias. Aqueles que nos fazem sentir prazer quando chegam, e aqueles que relutamos em vir, e que geralmente não podemos escolher quando. Aos sentimentos que provocam as pessoas, aqueles que irritam, que machucam, que ferem e que nos trazem perdas. Do lado de cá do vidro apenas o calor da minha respiração.

Dos socos que arrancam sangue, a dor mostra a verdade. Nada estanca feridas abertas. Como os sentimentos que afagam as pessoas, aqueles que as fazem sorrir, que confortam, que incentivam. Vivemos do reflexo das provocações. Mais imagens distorcidas. Não perdemos nossa meta, mas perdemos como alcança-las. Do lado de cá do vidro apenas os vultos da angústia.

E os sentimentos nos impedem de parar. Dia após dia, empurrões.

- Mas não existe como viver apenas disso, e não existe como viver dos delírios da nossa mente. E a minha mente me suborna a este mundo paralelo de onde eu não quero sair, e onde estou fadado a morrer. E fascina aqueles que caminham sem dor, e fere ainda mais aquele que cria essa estrada. Mas crio meus desvios, onde eu posso parar e admirar tudo que percorri, e o horizonte aonde ainda preciso alcançar. Mas é mentira, um ponto, um conto. Uma vírgula, uma nova realidade, não é verdade, é mentira. Acredito que você não possa entender, isto é verdade. E tranço em minha mente um labirinto em circulos. Selado. -

Não escrevo poesias, escrevo versículos. Onde sempre os capítulos vencem.



Cova


E o preço é caro e doloroso, pois ninguém é capaz de pagar para se sair disso. E não adianta vocês e suas palavras pomposas que acariciam os ouvidos mas não quebram as paredes da alma. O que você não vê, não pode tocar, é simples.
A verdade é dura e certa, e eu lutei por ela, como sempre. E não sou Deus, pois se fosse, metade do que esta em frente à mim não existiria. Quisera eu um dia ser ignorante, ao ponto de não perceber as feridas que sangram nessa vida. Onde se passam muitos e muitos, e apenas poucos se fazem presentes. E não são os notórios da mídia, muito menos os políticos ou intelectuais. Esses ainda assim vivem a cartilha da humanidade, de uma forma ou outra.
O pensar sozinho dói, e não tem cura.
Eu queria muito que isso acabasse logo, que o que me tens reservado chegasse ao meu alcance, seja como for. Desejo que termine com essa loucura absurda que transborda meus dias. Quero que seja como for, cruel ou serene, doloroso ou prazeiroso, mas que tenha um fim.
E não quero lágrimas. Não daqueles que sequer entenderam os recados, daqueles que sequer foram capazes de sem ironia compreender. Mas não posso esperar isso de quem eu sempre tive certezas que não são como eu. Não é novidade, mas a constatação do previsto é sempre desanimador. E o preço é este.

E que os dias sejam as pás...

Anestesia


Mais uma vez sou refém do desespero. Da angústia que flerta com minha vida, de onde eu não sou capaz de sair. Mais uma vez eu confesso a agonia das madrugadas fervorosas, onde a mente em parafuso procura uma saída sem sucesso. Mais uma vez eu reporto nestes pequenos textos o sabor de ser autêntico assassinado por não ter a permissão de ser. Mais uma vez eu digo à vocês sobre um planeta que poucos tem coragem de visitar, e que uns sequer sabem que existe.

E divido minhas palavras em etapas como a vida, separo o bom, mas absorvo o mal. Do que não poderei ser, do que não nasci pra ser, de onde não poderei sair, e pra onde nunca poderei ir. A pior morte que se pode ter. Vivo aos olhos do povo, morto aos olhos de Deus. Não espero consideração, muito menos um perdão.

E o tempo não perdoa ninguém. E por incrível que pareça, gostaria que novas marcas fossem cravadas em meu rosto, mas não consigo mais. Não suporto mais apenas olhar, não consigo mais passar desapercebido em meio a um amontoado de incoerências. Nós, sim, nós, nos isolamos dos que nos renegam, dos que não são capazes de enxergar, ou que na sua maioria não fazem questão de tal, porque a frustracão que essas pessoas possuem, são o pior sentimento que existe, e não admitem você.

Algumas vezes transformo em metáforas o que sinto, para suavizar a verdadeira sensação que esmaga meu ser. Minhas migalhas de serenidade espalhadas pelo chão.

2920 Dias


Lado a lado.
Sem medo do imprevisto, sem a ganância pela perfeição, sem motivos para sempre rir, mas também sem motivos para morrer de chorar. Dos dias de dor, faço questão de esquecer, de entender que era preciso, mas sabendo que não se repetem. De que cada grito foi por querer, de que cada sentimento de ódio foi por sentir que poderia escapar o que fazia feliz. E não existe quem não sente raiva de perder o que gosta.

E de todos os passos que eu dei, mesmo que estes me joguem de um precipício, eu não sentirei medo, nem remorso, pois os corajosos e bravos não temem à morte, não sucumbem ao fim certo. Se apoiam em sentimentos e paixões, pois só elas nos fazem acreditar que é possível, que existe a chance de não ser sempre o mesmo. E eu fiz.

Não existiriam risos, nem sucesso, nem vitórias.
E só as minhas histórias de nada serviriam se não existissem os fatos, os motivos que me trouxeram até aqui e neste tempo todo ainda se fazem presente.



As palavras que saem com lágrimas são reféns dos sentimentos.
Como estas:

E elas me deduram sem medo sobre o que eu sinto, e te mostram que mesmo que a vida corte as pontes que nos unem, todos os caminhos que estas ligavam foram explorados. E não sinto medo de perder meu apoio, porque ele nunca vai desaparecer.
Porque mesmo quando eu estiver sozinho, de dentro de mim vou buscar os pedaços de você e juntar todos para criar o dia em que me fez acreditar na vida. E essa força que cresceu demais com o tempo vai me fazer ir até o fim, dar um passo a mais, e tentar novamente vencer. E a cada vitória, um brinde à você, e a cada novo sorriso, um brinde à você.



Mas enquanto estivermos aqui, juntos, eu não sinto medo...


Refém


Ninguém podia tocar suas mãos. As pontas dos dedos procuravam por uma simples sensação de presença, mas sem sucesso. O desespero é eminentem quando a noção de estar sozinho preenche seu corpo, toma o controle, enforca e sufoca.
Nada é mais aterrorizante que um despertar ímpar em meio a desconhecidos. E isto estava eminente em sua vida. Silêncio e transtorno. As pessoas se distânciam do que não conseguem compreender, sem perceber que colaboram com a decadência.

Chega de fato!

E por onde anda a inspiração? Adormece de tempos em tempos, calando-me sem perdão. Não existe receita, não existe o caminho planejado. Servo do inconsciente, escravo do transtorno. Vai inspiração, me abra mais uma vez as asas para transpor essa dolorosa barreira que sangra meus olhos. Me dope com suas doses cavalares de magia para que eu não sinta os pregos que me cravam a este mundo. Apareça!
Não seja medrosa como eu! Não sucumba ao que eu reluto em engolir, faça você seu caminho. Maldita inspiração que me pune dia após dia. Te odeio por me sentir seu escravo. E nada poder fazer.

Me use, me conduza, me moleste perante os outros! Seja capaz de me derrubar e me servir ao porcos. Não tenho como lutar e aceito a derrota como carma. Me corte em pedaços, desmembre as chances de transformar isso em algo racional. Sou incapaz de sentir seu cheiro, seu sabor, enxergar sua face. Desistir de renegar o que você, inspiração, me manipula a fazer.

Terceiro ato.
Te cerco, te encurralo, te determino um fim. E nada pode ser feito. Porque a força pra te imobilizar por pelo menos um tempo é dádiva minha. Mesmo sabendo que você voltara, por agora te tranco dentro do deserto escuro da minha mente. Insana, infame, inerte, intropectiva perante ao mundo monocromático.

Desculpe inspiração.