Indícios

Se as noites em claro me trazem dúvidas, me fazem cair, sucumbir, de tempos em tempos ir e vir.  E lá fora há um espiral de fraquezas, um mundo do cego, perambulando em compasso pelo rastro do fracasso. Se a cada noite vazia me enche de esperança, de daqui ir, e pra lá surgir, e se nada mais me segura ou sugere, o que eu aceito ou acredito é inerte. 

Lavo meu rosto, minha alma, meu dorso, cansado de arranhões, de chacoalhões. Eu reduzi a luz, refleti à mim mesmo sem capuz, e deste reflexo surgiram outras e outras portas. Espelhos de mim, caminhos sem fim, e a cada noite em claro eu vislumbro um fim. Me fecho, me liberto, suspiro, alívio. Grito, grito, grito, mas e daí? 

Tenho as frases pra me dopar, as pegadas que eu mesmo fiz. Marquei com confetes coloridos, não erro a trilha, não desvio o rumo, não misturo sementes, um riso doente. É o que me resta, vagar no silêncio, passageiro, sigo, sigo, sigo. 

Se freneticamente me sinto, ladeira a baixo, percebam a turbulência. Uma mente retalhada, uma centena de palavras, um susto real. Lá fora tudo clareia, todos voltam a existir, e você aonde foi, porque foi, pra quem foi. Sua mãe não está, seu pai também não, e todos os amigos de outrora dissolveram grão a grão. 

Sinto dor, sinto a flor, tem rancor, sem pudor. Culpado de cada ato, ato de ser culpado. Se eu sofro, é calado, e nada disso importa.  Entorta, e eu sigo em frente. 

Se eu pudesse escolher, tinha feito igual, diferente de mim, mas tudo igual. Se eu quisesse parar, não poderia nem de perto, ser feliz ou amar. 

Nada, nada, nada.  Eu vou saber onde chegar. 

Me deixe...

Há um calhamaço de dúvidas que nem eu mesmo criei. Eu não sei a resposta. 

As palavras se foram, ou a razão sessou. Um silêncio dentro de mim refletiu aqui, e a cada ano que foi se passando, quase uma década, houve a morte da esperança. 

De resposfas mal dadas à verdades cruéis. Tiros no pé e sorrisos fiéis. Eu sentia a necessidade, e ela sufocava até me trancar aqui, e então eu registrava um fúnebre auto-depoimento. 

Cada noite, cada dor, cada valsa com a solidão. Eram dias e dias, meses e meses, um infinito abismo do silêncio.  

Escrever não é um dom pra mim, um talento da criação. Escrever e um espelho, um reflexo da minha alma. Um bizarro prolapso mental onde exponho do avesso as toneladas de pressão que esmagam minha consciência dia após dia. 

A dez anos atrás, talvez os gritos representassem a liberdade de uma mente livre para sonhar, livre para questionar a violência com que a vida nos amarra, nos sufoca, e eu via tudo isso de fora. Fui engolido abruptamente pela necessidade de encarar a realidade.

Hoje em dia, eu não me encontro mais. Aquela mente se foi. É difícil pra mim estar aqui, e não encontrar mais o jeito de dizer o que tenho aqui dentro. Talvez eu tenha me perdido, de mim mesmo.  

Desculpa.