Retrato V

Eu aprendi muito esses últimos anos.
Vendo as pessoas que me rodeavam, o que elas achavam importante, a que elas se dedicavam, e fui percebendo que era tão vazio e sem propósito. E fui entendendo que aquilo não era para mim, que meus valores iam alem de status, de necessidade de ter dinheiro para se mostrar "bem"ao olhos dos outros. Descobri que eu procuro algo maior, uma paz interna e satisfação que vale muito mais que qualquer nota de 100, e que me desprendendo da necessidade e da obsessão, dessa ganância covarde que é imposta e que muitos aceitam, eu me encontraria e entenderia meu propósito. Eu me entendi, descobri meus limites e assimilei as conseqüências.
Acho que se você pensa em mudar, não deixe que os "e se" dominem sua mente. Eles são as travas impostas não por você, mas por toda a falsidade que nos circula, que nos mantém presos ao sistema impedindo qualquer um de pensar, agir, ou evoluir além do que lhe é "oferecido". Feche a porta atrás de você, que a da frente vai se abrir, e se por acaso ela não abrir meu amigo, mete o pé, porque as vezes, existe a necessidade da coragem e não só da oportunidade.
Tente não perder os avisos que a vida lhe da, as dicas que são postas em seu caminho, para que você siga por outra estrada. As respostas estão dentro da gente, e por mais estranhas que elas possam ser, elas são verdadeiras. Por mais objeções que você faça, e questione, não tenha receio, caminhe.
O que vejo são pessoas arruinando suas vidas, criando empecilhos para evitar dar um passo à frente, por medo, insegurança, incapacidade e preguiça. Se acomodar atrasa demais, aceitar, atrasa demais. Esperar atrasa demais.
Eu aprendi que me livrando do desespero imposto pelo ambiente que me cerca, eu conseguiria observar tudo que acontece ao meu redor, filtrar tudo aquilo que me fazia bem e me ajudava a aprender, e jogar fora a maioria dos exemplos errados, de toda e qualquer espécie. No entanto, aprendi também a manter próximo alguns desses erros, dessas pessoas, sempre a vista, para que eu jamais esquecesse das falhas e não repetisse ou começasse a errar. Olho, analiso, aprendo, filtro.
Veja, eu não sou perfeito. Longe disso. Não quero aqui dar receita alguma de sucesso, pois o meu sucesso provavelmente não é o sinônimo do seu. Apenas deixo aqui registrado, aquilo que eu ando fazendo ultimamente para tentar viver em paz e fora dessa agonia insana que a maioria se afunda. Eu já fui assim, e demorei quase uma década para perceber os erros, e só após experimentar o outro lado, eu consegui dar conta do que me prejudicava. Talvez você, que leia, esteja a procura de uma saída, ou pelo menos de respirar melhor. Se ainda continua lendo, é provável que pense um pouco diferente daqueles que eu repudio.
Nestes últimos anos, entre picos de alegria e abismos de tristeza, eu procurei respostas as minhas perguntas mais simples, as minhas dúvidas mais coerentes. Eu queria encontrar razões. Razões até para entender e aceitar pessoas e atitudes erradas, entender que elas nasceram para co-existir e que não existe realmente a possibilidade de todos "brilharem". O nosso planeta é povoado, e é aceitável de certa forma que a grande maioria se torne e viva apenas como "massa de manobra", termo na moda ultimamente. Mas eu nunca aceitei. Talvez por isso que eu desenvolvi tantas e tantas dúvidas e questionamentos, auto analise afiada e percepção aguçada. Sim, eu me considero inteligente, e isto não é soberba, é ser confiante.
Eu não consegui mais tolerar palavras que destoam de atos, idéias que se agrupam, atitudes robóticas e vontades questionáveis. Eu fui afastando, me afastando, e sendo afastado. Eu já disse isso uma vez, ou talvez mais que uma, mas a realidade irrita as pessoas. A verdade, incomoda demais. E eu me tornei uma pessoa difícil de digerir. Porém ao invés de lutar contra isso e sucumbir a uma falsa necessidade de aprovação por parte dos outros, eu aceitei. Ao meu lado, ou pelo menos próximo, vão sobrando aqueles que pensam um pouco diferente, que possuem outras visões, que possuem coragem e deixam sua existência perceptível.
Procuro fazer hoje em dia o que gosto. Registro meus pensamentos, apresento minha cara, falo do que gosto, escrevo sobre o que falo, critico o que não concordo, ignoro o que perco a paciência e o mais importante - aprendi a me desapegar das pessoas. Talvez isso soe cruel demais ou egoísta demais, mas só assim eu consegui realmente exorcizar meus demônios do passado, deixando quem passou, passar. Minha paciência para tolerar esta curtíssima, ando no fio da navalha, com as garras a mostra, com a língua afiada ao menor sinal de deslize, e sinceramente, eu gosto. Hoje mostro na cara aquilo que incomoda, as atitudes erradas, as promessas não cumpridas. 
E aqueles que não gostam, que apontem o dedo. Que digam de mim e contra mim, mas que digam verdades.  Sou mentiroso? Falso? Aproveitador? Vagabundo? Não tenho palavra? Hipócrita? De má índole? Irresponsável? Mal educado? Ignorante? Invejoso? Muito provavelmente não. E isto incomoda. Pois a melhor resposta vem quando os outros são incapazes de lhe julgar. Quando os outros são incapazes de lhe dizer que realmente você faz o mal, você age errado ou fez o mal pra alguém. Não, não vão achar. Exclua daí antigos amores femininos frustados por não terem o que gostariam da forma que gostariam, e foram incapazes de me fazer acreditar que queriam, e rapazes que tiveram suas "dignidades" roubadas da melhor forma possível, enquanto se preocupavam em "fazer minha caveira", eu me preocupava em agradece-los por suas fêmeas. Obrigado, "amigos". Isto nunca poderá ser apagado. Lembranças são inatingíveis. Engulam.
Hoje eu estou sossegado. Mais calmo. Mais brando. Acertando os ponteiros para um novo capítulo. Passando borrachas, deixando as linhas de rascunho em branco, para novos parágrafos, novas histórias. Hoje eu me retrato e me auto afirmo como uma pessoa a caminho da vitória, da minha vitória, sem falcatruas, sem resultados combinados, sem dignidade roubada. Apenas aceitando-me mais e mais a cada dia, e no fim das contas, eu vou poder dizer que nasci e morri sendo verdadeiramente honesto comigo. 
Mais histórias estão por vir. 
E eu continuo afiado.