Imperfeito

Longe de ser ideal. Tenho meus defeitos com relação a você. Já te fiz sofrer, recheado de sorrisos e risos, de prazer e satisfação. Eu sei que falho, quando as portas fecham eu guardo as chaves pois sei voltar atras, quando descubro que falho. Talvez eu tenha descoberto razões pra acreditar que poderia ser eterno, mesmo sem formulas pra sempre acertar, mas que poderia ser eterno por conta de nossas vontades, ultrapassando barreiras de tempo e condição, juntos ou separados.
Eu me culpo por criar universos paralelos e orbitas que se transformam em buracos negro. Na duvida da incerteza se sempre sou bom o suficiente pra te manter ao meu lado, ou pelo menos perto de mim, eu escondo o jogo, eu mostro pouco de tudo aquilo que aprendi, mas eu ainda assim desejo cada vez mais.
E o meu coração sofre com todos os corações que já fiz sofrer, porque não aceito perder a razão, e ainda procuro uma razão pra mim, que mude o que eu costumava ser.
As sombras do medo de perder você me tiram o controle, pois eu não saberia aceitar, que de novo me deixei levar pela emoção que se camufla e se veste de certeza, eu já errei demais.
Um dia eu começo a aceitar que as coisas devam ser assim, imperfeitas, para sermos perfeitos a nossa maneira, um perdoando os erros do outro.
Desculpe-me.

Horas

Que elas passem, me carreguem, subtraindo as tristezas, apagando as pistas daquilo que se foi, que doeu. Que me leve ao longe onde só aqueles que se importam poderão encontrar, dizer obrigado e saudades, e participar. Traga comigo as marcas do que vivi, sonhei e lutei. Me envelheça a face mas não enterre meu corpo, me mostre apenas que vivi, mais que muitos e menos que outros, e que aprendi a não tentar entender.
Que demorem a se ir, se por acaso eu estiver bem, e ela me fizer sorrir e sonhar, afagando meu rosto e confortando meu peito, com segurança e amor, pedaço bom de um tempo escasso. E que se congelem se assim for meu desejo e se assim suprir minha necessidade, eu aceito. Mas que voem sem escalas ao longe, cada vez mais distante se por acaso me prender dentro desta angustia, desde rio de sentimentos doloridos, que voe, passe, se afaste e suma. Me mostre o fim da jornada ou o começo de um caminho.
Sem que eu escolha quando, me prenda, sem que peça mais, me conforte, eu as vezes não lhe aproveito, me ensine.
Que durem dias em duas ou três, se tornando eterna, cravada na história e irrefutável. Memórias que criam, de momentos que se foram.
Dure o que for, seja o que for, impartível e imparável, se assim se pode dizer.
Que as horas acrescentem virgulas a minha vida, e não apenas pontos.

Impulso

Pois agora eu falo dos dias felizes e das lembranças que mantemos. As que nos fazem sorrir sem força, que nos recordam os dias sem problemas ou crises, onde os olhos se fechavam desejando sonhar, aquele sonho bom, de realizações e ideais, de verdades crentes e mentiras místicas, uma vida pura sem peso.
E onde guardamos estes momentos, no fundo, trancado, buscando para aquele dia em que as paredes despencaram e sua vida se transforme em cacos. A felicidade plena não é forjada nem moldada, é instintiva e límpida, natural e profunda.
E levo as lembranças das preocupações juvenis, sem medo e sem receio, da nostalgia, de um dia em que o sol brilhava menos que meus olhos, e que meus dedos tentavam alcançar o céu, tocar as estrelas que escreviam meu nome no brilho da noite, viajando, sozinho, enquanto todos dormiam.
Paz de espirito, sem tormentos, chagas ou feridas. Um universo sem buracos negros, sem a pressão que paira sobre nossos ombros e nos força a ajoelhar, perante a vida. Esta que nos maltrata sem pedir, nos ensina sem educar, nos repreende sem afagos por um dia acertar, quando acertamos.
De mãos dadas, chuva, um caminho por dentro de um belo campo, não existiriam sons, não existiriam lagrimas de dor, pés descalços, seu toque meu toque, esta é a receita da tal felicidade, a simplicidade. Pureza nos atos e sanidade na mente. Talvez atingível.
E os dias felizes que hoje se encontram adormecidos, não morreram, não deixaram de existir, apenas procuram razões para acordar. Sempre em busca da felicidade.

Retrato IV

Aqui eu me desafogo, esvazio os surtos, descarrego o peso de falar demais, enxergar demais, me preocupar demais. Desse jeito me alimento, me sinto agoniado, me puno, interpreto seus erros, absorvo as chicotadas e sobrevivo.
Aqui eu me perfaço, me faço descobrir, levo comigo aqueles que acreditam, que namoram as palavras e se apaixonam pelo intrigante. Real e cruel, assim que eu sou. Doce amargo que transborda em uma correnteza de dúvidas.
Aqui eu me enxergo antes mesmo de descobrir, prevalece minhas verdades sem contestação, com lutas e guerras, paz momentânea e profana. Eu sou imortal, não em carne mas em gestos, em luta e princípio. Regurgito as fases e recomeço sem medo.
Aqui eu luto sem armas, tudo vem de dentro, fere como faca, marca como tatuagem, prolifera, expande, impregna. Por mais forte que você seja, eu te derrubo, rasteiro e sempre, talvez cruel e passivo. Vença-me e eu abdico à tudo.
Aqui eu marco seus passos, concerto os meus, corrijo os seus, alinho meu universo e meus satélites, livre arbítrio, dentro da minha jornada. Marco o que me dói, me suga, me sangra. Real e repetitivo, mas necessário.
Aqui eu reescrevo suas crenças, releio as minhas, desfaço meu sombrio pesadelo e
remonto em pequenas poesias, poemas, contos e fatos. Meu renascimento como homem, maduro e imaturo.
Aqui eu não aceito o óbvio, não sou julgado por tolos, desprendo minhas amarras e transformo em vida, tudo aquilo que talvez você quisesse dizer. Eu, mais que eu, escravo de mim.
Aqui eu releio e leio, minhas passagens, minha vida forjada e falsa, meus erros e lições aprendidas, e repetidos gestos e frases, que me seguem, me levam a fazer e a cumprir o que devo cumprir sem medo. Destino.
Aqui eu e ele andamos juntos, sua sombra meu guia, meu caminho no escuro e na imensidão que me banha, sem o alcance de seus olhos, sem o reconhecimento de minhas palavras, sem ser único.

Aqui eu, somente eu, prevaleço.

O Sonho

Eu estive em um sonho, não morto pela vida, de onde eu via o paraíso, e todas as coisas boas que minha juventude sonhou. Eu havia estado ali, segurado pelas mãos, com a dor em meu peito controlada, e as pessoas sorriam, meus amigos enxergavam a paz, e tudo estava claro como cristais reluzindo a luz do sol.
Porque sempre que eu sorria, eu apaixonava alguém, e o amor se fazia presente sem ao menos se tocar, eu estava ali e dali não queria sair.
Achava que as perdas teriam se tornado raras, e que as vezes todos choramos, mais cedo ou mais tarde tudo que poderia dar errado cessou, e os dias eram brilhantes, e eu esperava...
...pois achava que já tinha o bastante nesta vida, e que as mãos que me ergueriam aos céus me trariam a paz, banhada as lagrimas daqueles que conviveram comigo.
E neste caminho dos dias longos e noites curtas dos sonhos acordados e pesadelos ao dormir, eu sonhava com as vezes que alcancei o infinito em desejos, as vezes...
...onde tudo se transformou, eu ainda espero, espero o momento que meu peito se estufe de vida, da mais plena e satisfeita, dos pequenos gestos e afagos, meus mimos sem vergonha de mimar.
Homem que me tornei sem a fraqueza de sucumbir, eu hoje sonhei com aqueles que seriam meus amuletos, e com amores que a distancia não destrói, e uma juventude que se faz presente dentro de mim.
E elevo meu espirito nos meus sonhos, liberto meu mais íntimo suspiro, de sonhos que a vida não pode sepultar.
E que os sonhos sobrevivam, que as tempestades que destroem minha vida, não coagulem os dias em que acreditei ser possível não desistir.
Ou eu desistiria de tudo por nada disto.

Mulher

Ela não é você. Não é aquela que procura o amor, que sonha acordada, que mentaliza seus sonhos. Ela não existe, escondida em seu quarto, corpo reluzente, mascara de santa, alma de serpente. Não existe temores, amores, corpo que insinua ao amor, carnal e banal, sem pretensão de vingar.
Ela é a mulher que insulta, incomoda meus sonhos, os sonhos seus, aqueles que acreditam saber, do que se trata, de quem se trata.
Vadia impura, eu não denomino ou aponto, a mulher sombria, de laços coloridos e sandálias de plástico, rasga os sentidos.
Ser que atormenta as donzelas, criminosa, amor bandido e falso, mulher sem pudor, demônio do sexo podre, profano e apaixonante. Agarra os desavisados e seqüestra, cativado e cativo, ela salga seus lábios e marca sua roupa, batom vermelho, unhas afiadas.
Mulher por mulher, sem porém ou porque, piranha ou santa, descontrolada. Ela não é você, não é ninguém, só existe onde tudo morre e onde faltam porquês, mistura de sujo, cheiroso e doce. Amargo na alma.
Não há rostos a seguir, passos a trilhar, não conheço ela e tão pouco poderia julgar, mentalizo, desenho, crio. Mulher mais que mulher, daquela que brilha no escuro, pisa, sorri e larga.
Não falo de nenhuma, de porra alguma, só descrevo as chamadas de puras, as xingadas de putas, quem fala de quem, mulher de mulher. As santas de barro, as perfeitas de corpo, de alma ruim, de desafeto e afeto forjado, mentirosas que falam a verdade.
Essas serpentes peçonhentas com beijos venenosos, homenageiam os homens com seu sorriso e olhar pecador.
Não aponte o dedo, não julgue as palavras que elas não representam nada, ninguém, tão naturais e banais, como seu desafeto e seu jeito de ser, mulher que derruba touro, fácil e fútil, meticulosa.
Dessa mulher você não fala, desrespeita e inveja, dessa mulher que cria e mata, loba.
Não encare como homenagem, para você ou você, para mim ou qualquer outro, nada é marcado.
Uma representação mulher, denominada pecado.




Sentidos

E o coração dispara.
Com olhos ainda vermelhos, cansados, ardidos de não poder por pelo menos um tempo apagar e esquecer de tudo. Uma respiração descompassada denuncia a angustia. Os pensamentos que não cessam, mundo girando ao redor, duvidas transbordando em um ritmo caótico.
Fecho os olhos para não sentir a pressão, os ouvidos captam, qualquer nota desconcentra, traz de volta a tona como um tapa na cara, arde e queima, deixa marcas.
Cortinas abertas para mais um dia desgovernado, incolor, morno, lampejado. Movimento a cabeça como que querendo não acreditar, representando perguntas sem respostas, meus olhos ainda ardem insuportavelmente.
Ninguém sabe como é dormir com os punhos serrados, como se quisesse se segurar dentro de um esconderijo e não ser puxado. Os músculos tensos, isto impede o sono, ninguém sobrevive assim.
Transpiração constante envolta a um frio cortante, combatendo o obvio, prendendo. Camiseta molhada de um suor frio, um corpo desregrado, flertando com a falência.
Nada sobra, nada resta, a paz foi dissolvida em mais uma madrugada muda. A dor dos braços encolhidos, que protegiam o corpo como se de ataques, doem ao se abrir, ao se esticarem.
Eu não desejo este cenário a ninguém. Escapem de seus medos, subornem todos os sentidos, alivio da dor. Preciso apenas desligar, eu imploro por um coma, vazio imune a tudo, abstrato e vegetal.
Meus sentidos culminam em descontrole e falta de nexo, onde qualquer palavra se transforma em pedidos de socorro. Registro tudo, me faço presente, incompreensivo, indecifrável, incógnito.
Seja capaz de absorver ao invés de temer, eu não reluto mais ao meu fim.