O que quero

O que eu procuro não se encontra fácil. Não é comum ou corriqueiro,  não é ambicioso ou reconhecido.
O que quero está em um papel velho,  um rabisco antigo,  um recado que ficou marcado. 
Aquela camisa que não serve mais,  com marcas do que passei. O que quero fica preso e grudado sem o menor esforço,  fica ali,  tocável. 
Me dá prazer e não riqueza,  me dá sorrisos de satisfação,  de feito com vontade e não obrigação. O que eu quero não é remunerado,  não é imposto. É dádiva merecida,  conquistada,  sonhada.
Aonde o menos vem cheio de mais,  onde subtrair significa selecionar e não perder. Onde escolhas são decisões e não apenas opções.

O que eu quero é a força que entende o passado e trabalha o presente,  pois o futuro não existe sem o agora. De onde eu vim,  onde eu estou,  e então serei.

Não se conta em notas,  cifrões,  papéis e montantes. Não se apalpa. Se sente. Se deslumbra naturalmente com um olhar,  um suspiro,  quando não se perdeu tempo mas se aproveitou.

O que quero é tirar proveito do hoje pra sempre,  moldar e lapidar,  esculpir e deixar perfeito. Ou pelo menos reluzente.  Pois pode se ofuscar um brilho mas jamais apagá-lo. 

Eu repasso e passo, aquilo que acho. Repasso e passo,  aquilo que me faz bem e acredito que faça também. Eu compartilho sem retorno, só esperanças. Talvez um dia você veja assim como eu vejo.

O que quero é que não haja saudade,  pois ela só aparece quando já se perdeu do peito, se esvaiu, morreu.  Lembro de ontem como se fosse amanhã,  junto comigo pra sempre sem medo de esquecer. Eu levo o que quero,  e o que preciso.

Hoje estou aqui,  arrisco e absorvo,  procuro e encontro,  como eu disse,  talvez não o que te satisfaça,  te conforte ou te traga conclusões,  mas o que me faz bem. Me faz ter paz.

O que quero é fechar os olhos para o que não quero ouvir,  pois as vezes pequenos gestos e olhares falam sem som. Transmitem cada mensagem de dentro de seu corpo. O que você sente exala. Transpõe.

Das gavetas esvaziadas, de onde tirei lembranças,  memórias,  trouxe comigo um pequeno punhado delas,  o resto dentro do peito,  maior gaveta não há.

Eu ainda desperto em madrugadas,  me cerco de anseios,  de ponderações,  satisfações e frustrações. Eu ainda grito,  em um vazio onde eu pelo menos me escuto.

O que quero é chegar aonde um dia talvez tenha sonhado,  guardado comigo, caminhado junto sem que nada nem ninguém possa tirar. São apenas meus diamantes.

O que quero é cada vez menos visto só como querer.