Temer

Tenho medo do dia em que minhas palavras cessarem.
Do momento em que eu não tiver mais dor.
Tenho medo do dia em que não conseguir mais gritar
Do momento em que tudo que acredito se for.

Tenho medo do dia em que estarei de joelhos
Do momento em que sucumbi as armadilhas da vida
Tenho medo do dia em que não me enxergar
Do momento em que não puder sanar mais as feridas

Tenho medo do dia em que aqueles que amo se forem
Do momento em que a solidão se fizer presente
Tenho medo do dia em que chorei sem entender
Do momento em que temia meu corpo doente

Tenho medo do dia em que me disserem estar certo
Do momento em que aceitei seu amor
Tenho medo do dia em que eu não mais tiver forças
Do momento em que vislumbrar o esplendor

Tenho medo do dia em que tudo se tornar simples
Do momento em que meu coração parar
Tenho medo do dia em que a minha alma sucumbir
Do momento em que chorar o mar.

Tenho medo do dia em que você não estiver
Do momento em que me sentirei mais sozinho
Tenho medo do dia em que seu toque se for
Do momento em que não houver mais carinho

Tenho medo do dia em que esses dias chegarem
Do momento em que chegue a tona a partida
Tenho medo do dia em que o silencio reinar
Do momento em que direi adeus a esta vida


Tenho medo do dia em que tiver medo


Feridas

A minha inocência me levou a sofrer. Eu trouxe de criança aquela pureza e fantasia de acreditar demais, sem questionar ou olhar, trilhando um caminho sem volta. O caminho da decepção.

Pois a vida ensina com imposições, e não com lições. Pois o que você não enxerga da vida, como eu sempre digo, eu preservo dentro de mim, e nunca alguém vai me salvar.
Eu não minto, os anjos mentem para manter o controle, para não deixar que o caos tome conta de todas as mentes como acontece comigo. Mas eu não sei mentir.

Espero que você, que a pessoa que tiver coragem, motivada por amor, ou por qualquer sentimento que seja de uma vez por todas verdadeiro, que tenha a compreensão em seus atos, que afague a insanidade que mais cedo ou mais tarde tomara conta de mim, seqüelas de todas as magoas que carrego daqueles que um dia seduziram minha alma, e depois seqüestraram minha esperança, matando-a no final.
Espero que compreenda que meus temores vão alem do que todos os que me rodeiam possam sentir, e que você esteja pelo menos ali no final, quando não existirem mais suspiros. E espero que seu silencio me conforte, e que em seus olhos eu veja as razões que outros roubaram de mim.

A minha vida foi roubada, em um jogo sujo onde não existem vencedores, apenas interesses, e os meus interesses nunca foram ser frio e injusto como foram comigo. E do fundo do meio peito, toda a vontade poderia se transformar em ódio, mas não tenho o ódio dentro de mim, isto também me deixa mal. Eu não sei ferir como me ferem.

Este tipo de dor que sinto, diferente em todos os aspectos, me faz sair daqui e transcende tudo que vejo. Me vejo ficando doente, cada dia um pouco mais, sentindo o gosto amargo em meus lábios, o gosto da desilusão. Eu espero que os dias bons cheguem, espero que as marés inundem todos estes sentimentos. Varrendo tudo que restava.

E vai chegar o dia em que serei realmente amado, mesmo sem razoes para que me amem, e neste dia eu realmente saberei que existem verdades que podem curar feridas.




Carta a Vida

Nada mais sombrio, enigmático, maravilhoso e frustrante.
Me toma um tempo importante tentando descobrir seus porquês, mistérios, motivos, finalidades. Eu admiro você.
Admiro a forma como escolhe cada um, como transforma cravos em rosas, desperta o brilho, afaga o ombro de muitos, com suas surpresas e promessas. Admiro e aplaudo a maneira como conduz uma história, sem pressa, com tudo ao seu tempo, sem ser obrigada a tomar decisões, pois VOCÊ já nasceu decidida.
Olho para você com intriga, vendo como se porta com alguns, e a diferença que sutilmente transforma outros, cria castelos, desmorona castelos. Você é sensacional.
Talvez a maioria nem note sua presença, tanto faz como fez, não reparam seus sinais, tão pouco suas repentinas mudanças sinuosas e que escondem como voltar atras. Mas as vezes você deixa a saída aberta, eu já vi isso, espertinha.
Eu reparo demais em você Vida, sabe. Já perdi noites de sono ocupando minha mente com um único assunto, você. Sinta-se privilegiada, mesmo porque não devo ser o único que lhe tem em mente.
Mas a maioria te ama de paixão. Sabe aquele amor cego e incondicional? Pois é. A maioria cegamente conduz e supre sua ausência de respostas apenas te idolatrando, como uma dadiva, acredita? Sim, você, tão pura e simples, vista como algo sobrenatural e "presente do alem". Outra vez te invejo aqui.
Vida, deixa eu te contar um segredo: Nem todos estão contentes com sua forma de atuar. É verdade, falo isso porque sei que no fundo você sabe disso. Não é? Mas não custa deixar registrado diretamente pra ti isto.
Posso citar experiências próprias que mostram a você este meu descontentamento.

O meu baú de "porquês"!

"...Porque Vida você escolhe? Sim, você escolhe alguns, esquece de outros. Porque Vida você mostra os caminhos que não chegam a lugar algum? Que nos fazem acreditar que estamos na direção certa, e deparamos com a frustração. Talvez você Vida, isenta de sentir, de sentimentos, não entenda a força que tem um desilusão. Não compreenda o poder da alegria de acertar, de saber que você, Vida, foi generosa e mostrou o caminho certo, e o certo a se fazer. Porque Vida, você se cala as vezes, deixando uma tormenta de buracos negros, vácuos, e duvidas? Você não brinca assim, você não brinca com todos, pois eu já vi muitos serem diretamente contemplados por você, sem o mínimo esforço ou merecimento. Porque? Se cala e joga aos ventos pistas, as vezes ofuscadas pela realidade, as vezes tão sutis que vou passar toda existência tentando descobrir onde acertar. Porque Vida?"

Este baú é imenso. Não é um buraco de lamentações, mas sim um covil de decepções jogas e manipuladas por você, Vida.

Mas não posso te culpar de tudo, eu sei, reservo aqui o direito de lhe dizer obrigado por ser talvez mais generosa comigo do que com muitos: "OBRIGADO VIDA". Mas isso não me basta. E talvez um obrigado não baste à você.

Me despeço aqui, deixando registrado diretamente a você que gostaria de algumas respostas diretas, de alguns sinais simples, de não ser tão manipulado, levado ao pico e jogado ao fosso. Eu não estou feliz com suas brincadeiras, e vou me calar.

Enfim,
Gostaria, como muitos, de dizer que te amo, mas por enquanto Vida, eu quero um tempo de nós dois.





Calmaria

Nos tempos em que a maré baixa, em que as ondas do mar se transformam em marolas que não nos agridem, eu costumo me calar. Esta calmaria me traz a paz, me ajuda a navegar tranquilo e transpor as amarras sem dor.
Omito a alegria, pois acho que ela incomoda, e agride, aqueles que preferem os distúrbios e as facas afiadas. Eu levo os enxames de abelhas para longe, sem deixar rastro e espaço para que me sigam, tirando de mim aqueles que me fazem bem.
Quando as nuvens passam, quando você se torna mais brilhante, a alegria coagula minhas feridas, estanca os gritos que perturbam e assombram minha solidão.
Falar de sentimentos bons é difícil, me faltam palavras, tão acostumado com o contrário que talvez deva ter criado um dom, por mais estranho e sarcástico que possa ser.
Esqueça o bom.
A calmaria me assusta, perco o foco e embaralho as cartas de novo. Meus braços se fecham, sem afagos, distante de aceitar e acreditar que pode ser possível. Alimento os corvos, sacio a fome por migalhas de muitos, esperanças que nunca se tornarão reais.
O mesmo chicote que fere é o que sana as feridas, duas vias, uma única mão, um túnel escuro e frio, transponho e retorno.
Hoje vejo mais pegadas que passos, mais pistas de onde vim e pra onde deveria ir. Hoje vejo rastros por onde passei e corpos que ficaram ou sumiram.
Levo comigo as lembranças e memórias, ópio, anestésico, entorpecendo a necessidade constante de respostas e entendimento. Não tenho forças ainda pra construir (destruir) as amarras, recuo, passos em falso.
Queria ser capaz de enxergar o futuro da mesma forma que montamos o passado, prova de que nossa história já estava ali, voltamos, e buscamos o que vivemos. Bom seria buscarmos os pontos chave a nossa frente, e o momento crucial onde saímos da duvida.
Talvez amanha, ou depois, esta calmaria dissolva-se em migalhas, me transpondo novamente para dentro de um tornado de duvidas e arrependimentos, e as cartas voltam a mesa, embaralhadas e misturadas. O que eu gostaria é de separar os naipes, sem descartar os curingas.
Péssima analogia...