Exposição

As vezes ela me pega pela mão, me levando de volta aquele local silencioso e vazio. Vazio aos seus olhos, não aos meus.
Ali dentro onde tudo parece frio e mudo, onde tudo se esconde, onde eu não gosto de voltar, mas onde sempre sou obrigado a visitar. Pois ela não me convida, não me pede permissão, apenas se faz presente e faz de sua vontade uma obrigação.
Mesmo que eu mate por dentro, não morre, não esconde seu propósito.
E lá estou eu de novo dentro deste museu da tristeza. Onde guardo as mágoas que vive, as pessoas que perdi, as derrotas que sofri. E a cada curva, uma nova sala, onde relembro as trágicas passagens da minha vida. Onde pessoas que me decepcionaram ou me fizeram sofrer estão imortalizadas, cravadas nas paredes. Algumas exibem bolor, de tempos antigos, de antigas verdades que se dissolveram no ar. Outras como tinta fresca, ali pela primeira vez, em uma coleção onde tenho certeza não gostariam de estar.
Por estas salas eu caminho, eu relembro, choro. Obras primas de vida que não existem mais, de histórias abortadas, do fim de um ciclo que inconformado sou obrigado a sepultar.
Mas as visitas a este local não cessam, há salas vazias, prontas para receber mais lembranças, mais motivos para não sorrir.
Eu queria trancar este local para sempre dentro de mim e desaparecer com as chaves, mas não, não seria justo comigo apagar o que vivi apenas por serem lembranças ruins. Eu encaro, eu assumo, eu preservo, mesmo que por sofrimento, por incondicional tristeza.
Esta é minha vida, de onde não posso sair, locais onde me escondo, onde exibo os espinhos que flores camuflam. Estes são os locais onde você jamais estará, a não ser que me apunhale pelas costas, e que não tenha remorsos quanto a isso. Estes são comodos forjados por meus pecados, muitos deles por acreditar demais. Estas salas cheias exibem uma exposição sem autores, sem obras-primas, sem glamour.


Este é o museu das minhas dores.

Citação


Escritores subornam seus sentidos. Criam historias que se alimentam apenas de fatos fictícios. Escritores profissionais enganam a alma, que se vê calada e muda, sufocada sem poder respirar. Refém de uma imaginação, de fatos que não lhe pertencem. Eu invejo os escritores. Essas pessoas que se escondem por traz de suas próprias mentes.
Eu os invejo.
Já tentei criar o que não sinto. Ms falhei. Já tentei sentir o que gostaria. Mas falhei.

Nos dias que a tristeza aparece, e se mostra, os gritos no vazio ecoam. Mas já descrevi a felicidade, já expus o caminho que leva as montanhas mais altas, onde só eu alcanço, e de lá gritei, com todo meu fôlego. Eu não sou escritor. Sou transparente. Lavo a alma e sujo a vida que você imagina, porque eu não atuo dentro de mim. As historias são reais, porque não são contadas, são criadas e forjadas pela vida.

Um dia eu aprendo que a ficção tem o dom de proteger. Que a história que não existe esconde a pessoa que a escreve.
Por enquanto apenas exponho essência, pura e simples experiência e sentido. Dor, alegria, raiva, tristeza, paz e angustia.

Por enquanto eu prefiro assim, para que fique eternizado apenas uma história, a minha.


Caixas

Dentro desta caixa sem fechaduras, deste pequeno baú, contendo segredos e historias, nunca ditas, jamais escritas, porém vividas. As historias que criamos quando acreditamos em algo, ou os dramas que passamos quando amamos, acreditamos, e cuidamos.
Dentro dessas caixas nos sorrimos, lutamos por quem não luta por nós, e as vezes perdemos. O que mais necessitamos alem de estarmos bem, com as mãos dadas ao caminhar pela escuridão, e se ver protegido, sem medo de errar, ou de arriscar.
O que eu escrevo talvez represente o que penso, talvez eu devesse ser impedido, antes que minha caixa se abra, talvez você jamais entenda realmente do que estou falando, do que reclamo ou resmungo.
Qual o sentido quando nos encontramos? E nos distanciamos. E vivemos assim. Talvez eu devesse parar por motivos meus, por traição, por doença ou por apenas pecar, mas eu creio que me sinto obrigado.
A música da minha vida é clássica, como uma orquestra sinfônica, explodindo em segundos e se calando subitamente, apenas deixando ecoar o que antes era concreto.
E sei que acabarei flertando com a insanidade, mas ela não pede por favor, não permite que você reaja, ela se impõe e se mostra forte. Mas creio que se não me matasse Me faria bem, pra esquecer tudo aquilo que vejo ou aquilo que passei. As caixas que nunca foram abertas. As viagens que nunca farei, e caminhos que nunca meus pés tocarão. Dentro desta pequena e insana mente se constrói um labirinto de duvidas e verdades, sem saída.
A lucidez é tomada pelo impulso, e gosto quando isso acontece. É puro, natural, onde eu chego sem força, sem a necessidade de sentir dor, ou procurar motivos pra isso. Você acredita? Eu Me sinto vivo toda vez que você parte, e me engano toda vez que penso que vai me deixar. Qual o sentido quando tudo é adeus?
Eu abri a caixa que continha seus segredos e coloquei os meus, e dentro dela, no escuro, o que existe em mim se mistura com o que existe em você. Uma única bagunça. E você retira de mim os medos, e as coragens.
Lentamente eu escapo de onde eu me escondo. Lentamente eu me escondo quando consigo escapar.

Esconderijo

Pessoas.
Tão sábias as vezes. Perfeitas.
Sorrisos amarelos, daqueles que apaixonam de falso.
Perfumes que atiçam, vestidos que colam. Saltos.
O que ser daqueles que não entendem pessoas, como eu.
Seus remorsos e atritos, duvidas sobre as verdades, certezas nas mentiras, premeditadas. Pessoas e seus amargos rancores, envelhecem, tiram o sorriso dos lábios, a cor. Aquelas que se perdem por paixão, inconstantes mudanças de humor, de amor. Talvez o ódio motive as pessoas a perda, se faça necessário,
para que nos desprendamos dos males.
E sāo estas pessoas insanas que nos machucam e ferem, nos cutucam feridas, palavras em nossas bocas, delirios infâmes, frieza. Dureza.
Não sou poeta ou filósofo, màrtir ou deus. Sou pessoa. Rio e choro, compartilho dor. Procuro felicidade.

Mais ou meno assim:

"Felicidade que se esconde,
matreira, muleca.
Menina dengosa querendo carinho,
que chora na espera.
Me diga onde estas, seu caminho,
seus detalhes. Me ensina a te gostar, não
sou adivinho, me traio, me esqueço, se
lhe perco de vista choro, menininho, com medo.
Te procuro no escuro, nas noites plurais,
tristeza singular, se te faz presente juro,
ir embora jamais.
A, felicidade. Caminhe ao meu lado, se exiba,
seja perua, se pinte, maqueie, perfumes e luxo.
De mãos dadas seremos um só. De mãos dadas.
Se acredita que pode se esconder pra sempre,
se engana. Vivo em seu rastro. Sigo sua chama.
Que brilha, reluz, traz as pistas, que a ti conduz.
Felicidade."

Lição

O que sinto agora é uma mistura. Um pouco de angústia, um pouco de dor, mescladas com revolta, com raiva.
Eu não desejo isto a ninguém. Eu não faço isso a ninguém. E por mais que eu tente achar motivos que me ponham nos trilhos do entendimento, eu não consigo. Eu não compreendo.
O que mais pode acontecer comigo? O que mais eu devo passar, eu devo entender para que satisfaça a vontade de algo, ou de alguém? O que de tão mal eu faço aos outros, para que eu receba isso em troca? Ou será que infelizmente eu não possa exigir dos outros o que sou com eles?
Estas perguntas nunca terão respostas talvez, e as facadas que eu tomo, pelas costas, devem ter um significado. Mas juro que eu só queria entender porque o destino me conduz a viver assim. Eu queria saber porque não pode ser simples. O que eu devo aprender que ainda não aprendi?

O que devo sentir que ainda não descobri?

Hoje meu texto tem muitas perguntas, porque todas as minhas respostas se foram. Hoje meu texto reflete uma alma que se volta a um canto escuro em buscas de respostas, em busca de quem e no que confiar.

Eu perdi uma pessoa, mas acima de tudo, eu me perdi. Porque nada é mais doído que você ter sua alma ferida, e pela própria mão que um dia vc estendeu a sua para caminhar junto. Eu perdi uma pessoa, que por motivos banais, me matou. E o que estou passando parece um filme, uma cena que não foi escrita, um final que não foi pensado, um final que talvez nunca eu, e tão somente eu, imaginei.

Eu conto as minhas histórias, eu vivo as minhas verdades, e para isso eu preciso ter força. E a única força em que acredito é na do ser humano, e nas pessoas com quem vivemos juntos. E isto esta como uma luz que se apaga, um túnel que me cega, com a escuridão.

Hoje eu aprendi uma lição. Que talvez eu nunca realmente entenda, e desista de repeti-la. Aprendi que dói, pois eu me entrego. E pago por isso. E sou traído por isso.

E é com este vazio que hoje vou dormir. Não um vazio da ausência, mas com um vácuo dentro de mim criado por eu ser assim, por acreditar demais. Ouvir as coisas que ouvi hoje, constatar os fatos que constatei, sem comentários.

O que sinto agora é uma mistura. Um pouco de angústia, um pouco de dor, mescladas com revolta, com raiva.
O que eu sinto agora, esta morto e enterrado.


Perdas

A vida traz lembranças.
Tudo o que vivemos, tudo que o passamos nos transforma no que somos hoje. E o que levaremos desta vida a não ser tudo que guardamos no coração? Todos os dias que sorrimos, todas as alegrias que nos proporcionamos, os momentos que nos fizeram chorar, as tristezas, a perda das pessoas que amamos.
Nossos pais irão nos deixar, e suas lembranças nos trarão lágrimas. Pois não imagino a vida sem meu pai, sem minha mãe, sem as pessoas que mesmo eu sendo como sou, extenderam a mão por mais contraditório que poderia parecer a eles. E onde estará meu pai quando eu acordar no meio da noite e não ouvir sua voz, me trazendo a certeza de sua presença. E onde eu terei que procurar? Meus avós, meus irmãos...
E nesta vida eu procuro ter historias, eu busco por meus amigos para que preencham todos os espaços das lembranças. Porque um dia eles também irão, e espero que juntos comigo, para que ninguem sinta falta de ninguem. Para que as passagens que vivemos sejam relembradas e revividas, dentro de nós, por nós.
E me orgulho de ter ao meu lado pessoas que controem meu futuro, e cravam meu passado de uma forma simples. Viver é simples. E isso é o que importa pra mim. Me sentir aliviado. Me sentir completo por orgulho de manter o que penso.
Ja perdi amigos, ja perdi pessoas, ainda vou perder mais. Algumas pela natureza, impiedosa, mortal. Outras por se deixarem levar por aqueles que dentro do coração não possuem brilho. E se você realmente for incapaz de enxergar tais detalhes, você se entregou ao erro.
Não acredito em outra vida, acredito que o que construimos aqui servira como afago ou perdão quando sentirmos que nossa jornada acabou.
E então espero poder ver meus amigos ao meu redor, e trazer na minha mente tudo de bom que passamos, e ve-los envelhecidos, pelo tempo, como eu, e ter a certeza que dentro de cada um eu tenho uma história, me confortará.
O que eu almejo desta vida é maior do que muitos podem notar. É mais forte e intenso do que muitos possam crer. E é meu destino.
Eu espero que o que sofro pela incompreensão daqueles que estão equivocados, seja válido, por mais que doloroso.

Sou isso.


- Posted by Valdir Silva Jr using my iPad

Retrato II

Não quero medalhas, reconhecimento, aplausos ou tapas nas costas.
Não quero pena, dó, esmola ou solidariedade.
Vivo a vida que escolhi, com suas consequências explicitas e refletidas diretamente sobre mim.
Eu não culpo você, não culpo ele, não me culpo. Pois não me arrependo. Se me faço falar é porque necessito, sinto como se algo sempre me impulsionasse. O que levo das palavras que digo sacodem meu ser e me faz pensar mais.
Eu não sigo os mesmos rumos, não partilho das mesmas ceias, não divido o mesmo pão. Eu ofereço o meu. Pois não sei dividir, sei doar. E quando me dôo aquilo que acredito é por inteiro, e sem mentira.
A anos que sustento meus atos, desde moleque, estranho da turma, equilíbrio dentro de um sistema repetido. Sempre estive ali, encravado dentro dos acontecimentos, se fazendo notar, gritando para aqueles que nunca ouviram.
Eu não sou único, mas sou um dos poucos persistentes, que sobreviveu. Eu não sou único, sou presente, me faço necessário.
E por mais que todos odeiem não compreender, admiram as proezas, as palavras, a coragem que me sobra, e que falta a muitos.
Se preciso for sentir dor, eu estou preparado, porque a dor que rebate por dentro de longe cobre a dor física. E aquilo que marca é o que se foi cravado com força.
Palavras sempre mais fortes que músculos, que atos, que imagens. Porque palavras não morrem, adormecem.
O meu legado é eterno, a minha vida provavelmente curta, pequena o bastante que se eu fosse me calar, passaria despercebido, como muitos. E isso não caberia em mim, como não coube ao Anjo De Luz viver entre nós. Salva do inferno que banha meu corpo, das hipocrisias que ofuscam minha vista, das facadas que tomam meu peito.
Eu por eu mesmo, não culpo aqueles que estão ao meu lado. Procuro ensinar, trago pela mão. Se você esta comigo você esta cercada de força e coragem, e se for esperta se torna eterna. Sou capaz de reconhecer, eu nunca caminho sozinho, não perante aos olhos, e passo a coragem de ver a vida assim se você quiser enxergar.
Enquanto o tempo sucumbe meu corpo, me envelhecendo, enquanto o tempo encurta os limites entre o inicio e o fim, eu sobrevivo.
E se minhas palavras de certa forma atingem você, se minhas palavras de algum modo ecoam por vazios dentro de você, se minhas palavras te libertam mesmo que por lampejos instantâneos, eu cumpri minha missão. Fato.
Não me sinto triste, por mais que pareça. Minhas palavras refletem minha alma, não meu estado de espirito. Meus gestos sim, meu comportamento sim.
A minha cura não existe, eu convivo com isso.
Este é o meu legado.



Cicatriz

E perdas existem para que outros vençam. Devemos entender a vida, e suas tentativas de nos educar, de nos ensinar a não cometer os erros que fazem dela um sofrimento.
Mas não, somos desobedientes, malcriados, e tratamos da vida com desdém. Tratamos sem afagos quando nos dão carinho. Somos ásperos quando tocados por plumas. E somos maldosos, transformando a vida em uma eterna culpada.
Justo ela que nos ensina a amar, que nos ensina que amigos não subjulgam amigos, que amores vem e vão, e que nessas idas e vindas esquecemos de quanto a vida, sem forçar, nos da lições dos verdadeiros valores.
Certas vezes a vida me derruba, e eu sem pique me entrego, me manso como fera domada, sem mostrar as garras, sem olhos famintos. Mas as vezes a tal vida te mostra que é preciso reagir, que é preciso mostrar as pessoas que estão se perdendo em um caminho sem volta. Pois a estrada não tem retorno, não se pode voltar atras e mudar o rumo decidido.
Tão somente só, eu me remôo, me calo por fora e fervo por dentro, pois não aceito o desprezo. Não aceito traição, nem por um segundo, a traição de alma, traição de sangue, de concussões, de dor, de alegria, a verdadeira.
Mais uma noite enquanto o sono me laça eu reflito sobre a vida. Reflito sobre quanto a conheço, quanto ainda devo aprender, e ela não cansa de ensinar.
Loucos aqueles que trapaceiam, que subornam tudo aquilo que deveria ser natural.

Eu estou aqui, e desta vez estou calado.