Retrato III

Eu não acredito.
Em porque devemos ser o que somos e para quem somos. Em recompensas por bondade. Em reconhecimentos por atitudes ou méritos por belos e heróicos atos. Em verdades, e caminhos que nos levem a elas. Em jeito certo, ou errado, de se relacionar. Em que pessoas sabem o quanto você é importante e fazem questão de refletir isso. Em palavras que não são vindas do coração. Em justiça e suas armas para mostrar a estupidez de algumas pessoas. Em amizades eternas. Em amores eternos. Em pessoas que passaram por mim apenas para cravar uma mentira. Em famílias felizes. Em paixão que desencadeia loucura. Em seu Deus e seus critérios para entradas no céu ou inferno. Em vida após a morte. Em pessoas 100% do bem. Em pessoas 100% do mal. Em ser bom para todo mundo. Em ficar sempre para trás. Em estar sempre feliz. Em estar sempre triste. Em ser o que não nasci para ser. Em que não enlouquecerei. Em encerrar minha vida com glorias. Em poder contar sempre com amigos. Em ser grandioso aos olhos daqueles que são cegos. Em não sucumbir as dores que me fazem sangrar. Em fixar metas apenas em mim e ser egoísta. Em paz de espirito. Em riquezas que trazem felicidade. Em pobreza que traga satisfação. Em dinheiro como sucesso. Em lutar pelo que não significa nada a nós mesmos. Em fingir para ser feliz. Em forjar sorrisos em troca de favores. Em pessoas que não mentem. Em personalidades fracas. Em necessidades sem propósito. Em ser amado para sempre. Em ser sempre perfeito. Em estar sempre errado. Em viver se tolerando ao invés de se adaptando. Em mudar opiniões. Em aceitar aquilo em que não se acredita. Em viver calado. Em todas as coisas que ouço da boca daqueles que vivem comigo. Em todas as coisas que ouço da boca de estranhos. Em pessoas sem música em suas vidas. Em estar feliz para os outros estando infeliz por dentro. Em prosperar sendo hipócrita. Em pessoas que dizem nunca. Em pessoas que dizem pra sempre. Em quem tenta mudar o que penso. Em incapacidade de ver através dos meus olhos. Em ser eterno sem se fazer eterno. Em não poder chorar. Em ter o perdão daqueles que um dia magoei. Em ter o reconhecimento daqueles que um dia eu ensinei. Em ser esquecido ou lembrado. Em sempre odiar. Em não saber perdoar. Em nunca amar.
Eu não acredito.

Fim

E esta montanha-russa me levou a extremos. Me puxou pelo braço fazendo acreditar que o impossível poderia ser alcançado. Que por mais que lutemos contra, o destino te conduz sempre pro seu caminho, seja ele complexo o quanto for.

Eu vi esperança, eu vi futuro, eu vi olhares que me tiraram do rumo e sorrisos que subornaram minhas verdades. Eu li palavras que afagaram meu peito, e acalmaram minha alma. E eu vivi. Soltei as rédias do impossível e me deixei levar. Erro?
Sangrei, como talvez eu nunca havia sangrado antes. Castelos desmoronados, egos inflados e invejas alimentadas. E eu mais uma vez, desiludido, respirei e busquei a esperança que sempre mantém intacto no que sou. Enterrado em meu peito, sentimentos que não são legíveis, que não dão as caras por segurança e experiência.
Nos braços daqueles que sempre estiveram aqui, esta montanha-russa me jogou de volta.

E ali estava, junto com aqueles que acreditava jamais me deixar. Considerado irmãos, junto daqueles que me afagavam nas recaídas e que eu poderia contar por toda a eternidade. Irmãos não de sangue, mas de alma. Cúmplices de nossos atos. E vivíamos nossa verdade, suportando as tempestades que assombravam e sonhando com nosso futuro. E riamos, riamos de saber que nada seria capaz de destruir o que nasceu natural, o que foi forjado pra ser eterno. Para sempre?
Sangrei, como talvez eu nunca havia sangrado antes. Castelos desmoronados, egos inflados e invejas alimentadas. E eu mais uma vez, desiludido, respirei e busquei a esperança que sempre mantém intacto no que sou. Enterrado em meu peito, sentimentos que não são legíveis, que não dão as caras por segurança e experiência.
Nos braços daqueles que sempre estiveram aqui, esta montanha-russa me jogou de volta.

No fim desta montanha-russa, quando vc entrega as armas e se ajoelha, não derrotado, mas exausto de suas surpresas, de seus desvios bruscos e suas quedas sem fim, recomeço.
E mais uma vez, seus olhos vislumbram possibilidades, constroem historias e mapeiam futuros. Novamente puxado pelas mãos para uma subida ao desconhecido, com a segurança e força que haviam lhe sido tirada, renovação. E enxergar o infinito é maravilhoso. Os caminhos que se cruzam, que se moldam em um só. Os medos que se forjam, os desejos que se namoram. Viver!

Este ano termina assim, entre afagos ao céu e flambadas ao inferno. É isto que me faz sentir vivo, é isto que também me matara.

Um dia.

Prosa só.

Sento-me ao seu lado, de braços dados, sorriso aberto, sem aquelas neuroses que rebatem dentro de mim. Procuro te escutar, sei que não pretendo fazer isso, mas me sinto condicionado. Os meus gestos são quase sempre marcantes, outrora puros e inexplicáveis, mas o que devemos ter de razão?
Eu vivo, respiro o mesmo espaço que você, e a gente sobrevive, de repente somos surpreendidos pela risada, que toma conta dos nossos rostos, e paramos, pensamos se aquilo é verdade, talvez seja. Eu acredito no que você diz mesmo sabendo que poderei não levar a sério. Afago seus cabelos, estes gestos não me agradam muito, eu não nasci pra isso, te belisco, te maltrato, isso sim sem maldade.
Eu quero achar motivos para preencher estas linhas com sutileza, sem ser grosseiro ou indelicado. Possamos ser gentis, e gente.
Caminho ao seu lado, hipnotizado, sem respostas para suas sabatinas, sem motivos pra te fazer chorar, e calo a minha boca pra não ser mal entendido. Chamamos de relacionamento as partilhas, de tudo um pouco, de até proibições, alegrias e presentes.
Não sei criar as histórias que você gosta, eu me enervo, me jogo de volta a conclusão dos fatos, direto e reto, pois me sinto melhor entendendo o meu redor.
Escrevo e descrevo o que ninguém vê, olho nos olhos da dor, mas não vamos cita-la aqui de novo. Eu permaneço quieto, mas não em silêncio, sem que me note, mas não invisível, e não morto, mas embalsamado. Sem pistas ao entendimento.
Dias escuros, noites claras, aonde encontro meus espinhos e transcrevo minhas verdades, que não se fazem entender, que confundem e irritam até mesmo a mim.
Preste atenção.