Condenado

Me arrasto e me arrastam. Dentro de mim não basta apenas ver, apenas ouvir, e calar-me.
Dentro de mim corre sangue fervente, que expulsa o que sente sem medo do fim. Luto, reluto, servo acoado, leão que ruge para espantar ou devorar os mais desavisados. Não me contento com pouco, pouca alma, pouca luta, pouca coragem. Basta para mim ser verdadeiro, inteiro no que digo, saltando aos olhos de espanto daqueles que desdobram suas vidas em um picadeiro. Eu esparramo minha vida em forma natural, apegado menos ao que vocês almejam, focado mais em libertação.
Minha fraqueza agora é ainda sucumbir a padrões que insistem em permanecer perto. Eu não quero isso, quero que o real se apresente, vestido de dama, ocultando o diabo, que seja, mas real.
As vezes desejos enlouquecer, tirar de mim a razão, o pensar com clareza, lucidez, e deixar sorrisos abobados tomarem meu rosto sem noção da realidade. Esta tal que nasci pra ver com os meus, e os seus olhos, enquanto você cego caminha por uma estrada sem fim. Vejo e absorvo tudo aquilo que parece ser despercebido, mas existe, existe sim aos prantos ao redor.
Dor, não esta dor física, esta é a fraqueza que se cura, a ferida que se fecha. Essa dor é a dor que crianças sentem.
Convido você a sentir a tragédia mental que se estabelece aqui, enquanto esforçado você caminha pra mais um dia patético. Ou seria patético o meu pensar? Pode ser.
Escrevo as verdades que doem, realmente amigo, e que a maioria reluta em não sentir, sorrisos amarelos, camisas combinando, um padrão de felicidade.
Me arrasto e me arrastam, isto não é pra você. Esta além de nós podermos escolher ou não. Além do que posso controlar.




Redenção

As vezes sinto a mesma angustia, que espreita e ataca em qualquer vacilo, a espera de uma pequena ponta de fraqueza.
E quando tudo parece estar bem e correto minha mente sucumbe ao caos dos pensamentos. E o medo das incertezas me inunda, afogando os pequenos detalhes e me forçando a parar, a tentar sentir os pés novamente tocando o chão.
As coisas ao redor prosperam, ou pelo menos tentam assim, enquanto eu parto para o desconhecido e me escondo onde não posso ser atingido.
Tenho a luz ao meu lado iluminando meus gestos por este beco sombrio, me deixando pistas dos atalhos, dos passos que devo dar sem feri-los, da força que necessito pra manter vivo meu espirito.
Deste lado não existe o sofrer, apenas a angustia e a insegurança de mudar, mas do lado de ca os ventos sopram a favor, brisa suave e intensa, um universo novo.
Poucos sonhos ainda restam, detalhes que talvez eu nunca revele, eu nunca sonhe junto, ou permita suspirar e murmurar tais vontades. Mas eu ainda vivo.
A harmonia é dura, quase ninguém consegue esta perfeição, atingir o nível, completamente. Mas eu estou procurando os detalhes que me levem a reconhecer que consegui, cheguei lá e repousei.
Dura batalha mental, que me derrota e me levanta, como se ainda não tivesse provado o suficiente, judia mais.
Vamos parar, vamos deixar que flua, como água moldada, escorre e segue seu caminho, não se deixa parar.
Eu sigo meu caminho, curioso, perplexo por pensar demais e cruel por não poder sonhar, mas ainda anseio pelas verdades, onde elas estiverem, pelos pontos finais, onde eles forem postos, e pela conclusão, seja ela qual for.
Eu estarei preparado para entender.


Eu amo

Assim, da forma que você não vê, do jeito que você não gosta, do gosto amargo de um amor em vão, do sabor doce de um amor varrido, da mentira de um amor de semanas, da pureza de um amor adolescente, eu amo.
Eu amo odiar, da forma que odeio o que critico, da maneira que odeio o que não me pertence, do poder de odiar aquilo que me mata.
E sim eu amo ser assim, sem nexo as vezes, sem clichês que envergonhem meu ego, amo ser rasgado, de palavras afiadas, de conclusões sombrias e desilusões entaladas.
Eu amo sem ser do seu jeito, daquela forma sem sal, pequenos suspiros que se vão, de amor de fim de semana, de passeios no parque, sorvete na testa.
Eu amo seu amor, insuportável e inacreditável, inseguro e inquieto, indefinido e doentio, salgado como mel, doce como pimenta.
Amor que você deduz que sinto, que jura que me cativa, que acredita que me faz crer, que sabe se realmente amo. O amor que eu amo é só meu, forjado a porrada, a tapas na cara e gritos histéricos, é o amor que você não vê. E me diz pra me soltar, pra amar sem remorso, do lado seu, que nem me conhece e me julga, um amante. Amante do amor que corrompe seus gestos, arrepia seus pelos e molha seu corpo.
Esse tal amor, que lança suas flechas aleatoriamente, sem pedir por favor ou dizer obrigado, quando esse amor acerta.
Mas eu amo assim mesmo, seco e rústico, amor surrado que não representa o seu amor nem em dias que amamos juntos, amor impar sem par, do lado da poesia amante do poema, esse amor.

Não tenho traumas do amor menina, tenho calos, e eles me protegem do seu amor, que ainda nem nasceu, pra me fazer amar.

Harmonia

Em pequenos gestos, em concordar com o que só nós concordamos, de chorar nossas lágrimas, de secarmos nossos rostos com beijos, das noites onde você não está, do lado de cá, pra onde eu te trago e te afago, e as vezes eu faço você chorar, e tantas outras vezes sorrir, e rir.
E nas manhãs onde eu me levanto e deixo você ir, sinto-me perdido, sem forças pra querer, pois sem ti não quero nada, alem de esperar para poder ter os capítulos repetidos dos nossos melhores momentos, dos nossos melhores dias.
E tão harmonioso são eles que me esqueço dos pecados que cometi, dos erros que criei, e das estradas que caminhei descalço, feridas nos pés, bolhas de tanto tentar alcançar algo que muitas vezes esteve tão perto.
E em cada beijo que sentimos, harmoniosamente, nos encaixamos mais e mais, como nós que se travam. Simples, simples, simples, simples!
Como estas palavras que se tornam repetitivas e instintivas, como o girassol que procura por um brilho todas os dias, eu procuro por seu conforto, seu dengo em sussurros, seu calor em brasa, como fera que procura sua presa. Não desisto.
Dos sons mais puros que escuto, reluz o acorde que me lembra você, motiva cantar e criar universos dentro de histórias. Eu não me contenho sem deixar essas palavras vivas, lapidadas em flor, forjadas a espinho. Sempre.
Harmonia, suspiros sem razão, sementes de esperança que foram jogadas neste campo a espera do desabrochar, de um novo começo.
A solidão que me cobre as vezes me conforta e me traz os pequenos detalhes aflora, me faz enxergar onde ninguém vê. Minha fonte de confissões, que me denuncia em meio aos risos de desconfiança, e em meio as invejas sobre o que não se pode explicar.
Leve e solto, livre e louco.
E se eu pudesse descrever para Deus o que ninguém conseguiu entender, ele me calaria.