O amor está morto

Quando eu dei meu último sorriso você se calou. Como luz que se apaga ao anoitecer, como a morte que flerta sem ao menos avisar. Deitado sobre seus ombros eu só ouvia pulsações, sinal de vida que existia sem barreiras.
Eu não escondo meu prazer, e onde está o coração agora que o vazio ocupou todos os espaços? Quando seus toques se tornaram sem calor, seus beijos esfriaram e sua mão me arrepiava ao toque frio, lágrimas sem controle, sentido perdido, verdade abortada.
Amo o incerto e inesistente, das marcas que deixamos ao caminhar sobre a praia, desaparecidas sem pistas, sem vestígios de um lugar que não volta.
Eu derivo sobre minha mente, lançado em um turbilhão de incertezas e mentiras impróprias que seguram meus passos. Não preciso do perfume das rosas de plástico, sangro com os espinhos que me rodeiam. Parte de mim se deita todo dia por pouco, subornando a luta travada dia a dia.
Sou incapaz de odiar, me torno refém de palavras vomitadas sem pensar, refém de seu suborno. Princípio de morte.
Quando eu dei meu último grito você sorriu. Pois não haviam verdades e minha dor lhe lavava a alma, te libertava de uma prisão sem muros, de um precipício infinito de onde jamais sairia. A dor que rasgou o meu peito cicatrizou suas feridas, e lhe levantou, enquanto eu guardava meu suspiro final.
Quantas de vocês acreditam no amor, este amor ator, que representa a fantasia imitando a realidade, onde vocês nunca chegarão, e de onde eu jamais sairei. O amor está morto.
Levo o pecado em meus ombros, por décadas, um peso que divido sem me livrar, hoje e sempre.
É difícil abrir os olhos pra onde eu vejo, é difícil respirar esta poluição. O que é incompreensivo me separa de tudo. Eu tranco as portas por onde passo, evitando que larguem as mesmas abertas tentando me seguir, não há volta.
Sepultado. O seu anonimo amor refém da mentira não prospera.
O amor esta morto.

Dúvida

Quanto tempo ainda me resta para aliviar esta angustia. Quanto tempo ainda preciso manter os passos sóbrios por este caminho destruído pela vida. Quanto tempo eu resisto aos golpes que recebo das pessoas que gosto, das tentativas de futuro, de um futuro que eu já nem sei se existe. Quanto tempo vou ficar prostituindo meu corpo em busca de uma paz que eu mesmo deixei de acreditar que exista. Quanto tempo que sorrisos não mais me cativam, e que gestos são automáticos. Quanto tempo para muitos reconhecerem a sutileza onde existe pedras e espinhos. Quanto tempo sem o respiro tranquilo e a serenidade do comum. Quanto tempo ainda duvidarei que não tenho chance de pertencer a isto, e que sonhos seqüestram sua mente e a mantém presa em um cativeiro. Quanto tempo para que você entenda um não, e para que você enxergue o sim. Quanto tempo se passou e permaneço em coma, e você não vê. Quanto tempo até que a sentença seja dada, até que os pecados sejam passados a limpo e haja o descanso, melhor que o descaso. Quanto tempo que não respiro aliviado.
Quanto tempo faz
Quanto tempo mais
Quanto tempo leva
Quanto tempo resta

Não pergunto porque não terão a resposta. Por quanto tempo?

Estrela

Longo tempo que não acordo feliz. Sem ter a incerteza pesando sobre meus ombros, me forçando a ajoelhar, sucumbir ao caos eminente.
Eu não tento ser o que não posso e não posso ser o que tento, isto me tormenta. E eu expresso isto apenas por diversão, à vocês.
Mostrar as feridas e não as cicatrizes é para poucos, somente para aqueles que não se escondem em mascaras que escondem o verdadeiro recado.
Já se tornou ponto comum, coisa sem importância, não comove ou impressiona, mas continua sendo real. Eu vivo aquele pedaço que você esqueceu, por medo ou conveniência.
Ainda estou aqui, puxado pra fora dos meus sonos, arrancado da chance de apenas respirar, calmo e pausadamente.
Gritos no vazio de uma alma doente, a deriva pelas circunstâncias, ferida pelas escolhas e em coma pelo esquecimento. Os gritos ainda não ecoam a ponto de alguém ouvir, virar, e dizer, "aqui, este é o caminho."
Quando a mente sucumbe, o corpo padece, e isto vem aos poucos se tornando real. Matando aos poucos e ofuscando o brilho antes puro e radiante.
Estrela que nasce morta, da o sinal que já se foi, seu brilho é pista, mas não é real. Sinal de vida que passou, futuro não visto, passado apagado, estrela entre o infinito escuro, luz de sua partida.
Se eu não sumir, minha existência será sem nexo, sem rastro de propósito. Me guia ao infinito para o recomeço.
Eu não aguento mais esperar.

Espera

Não são palavras, são atos que nos trazem o sentimento. Que nos fazem crer que podemos ser especiais, qu despertamos o carinho e a importância para alguem, ou algo. Muitas vezes tão puro que não necessita nada mais que um olhar, que um pequeno gesto, um trazer a suas mãos, um afagar e massagear quem se gosta.
Dos pequenos e sutis recados tiramos lições que transcedem a compreensão, a razão de ser real e normal. A devoção que damos aquilo que fazemos é o que importa, é o que transforma um pequeno em gigante, um ofuscado em brilho radiante.
E as atitudes, por mais sutis que sejam, quando captadas, enchem de orgulho a todos, e aqueles que entendem tais atos.
Quero ser grande ao ponto de ser lembrado, ao ponto de minha devoção a que acredito seja vista no mínimo como sincera, e que mesmo sem eu dizer, seja real.
Poucas coisas importam, e o quão realmente são verdadeiras é o que vale. Não me importa crescer, se para isso deva ficar sozinho, não me agradam conquistas que eu não possa partilhar, sorrisos que eu não possa dividir, e emoções que eu não as tenha por dentro.
Disto tudo tiramos pouco, e poucas pessoas são capazes mesmo se lembrar, quantas vezes fizeram muito para receber pouco, em pequenos e fortes gestos.
Não encontro a tão desejada paz de espirito ainda, mas creio que posso enxergar os lampejos disto, e os atalhos que talvez um dia me levem a descobrir o ponto final, o caminho onde eu descanse a espera de vocês.