Memórias

Lembro da época que não tinha problemas.
Amigos ao redor, apenas rir, sair, descalço pela rua, banho de mangueira no quintal.
Dos riscos de giz no asfalto, marcando nossas brincadeiras, deixados lá para aproveitar no outro dia.
Lembro dos machucados no corpo, da tiração de sarro pura e simples.
Do caminhar pelo campo de terra, suor na cara, sentado na calçada com respiração ofegante.

De todas as coisas que fazíamos se medo, de todos as descobertas que brilhavam em nossa face.

Eu sinto falta daquela rua, dos dias que vivi ali, das amizades que criei ali.
Todas as memorias que eu tenho de lá me fazem chorar, pois nunca mais voltarão.
E eu sinto falta de não ter dor, de não sentir arrependimentos, nem angustias.
Todos os pedaços que guardo dos sentimentos que não deixei acabar, se tornam reais.

Talvez eu seja um saudosista, que insiste em preservar um passado que me fez bem.

E eu relembro com sorrisos banhados a lágrimas do meu primeiro beijo.
Do nervoso que tomava meu corpo, e da satisfação de ter passado aquela etapa na vida.
Onde estão vocês hoje? E nossas noites a beira do morro, ao redor das fogueiras, sonhando.
Na antiga caixa-d'agua, de onde víamos os carros que um dia gostariamos de ter.
E o "canão" onde caminhávamos sem medo, agua da biquinha, pura e cristalina.

E eu aprendi ali a andar com minhas próprias pernas, de bicicleta, naquele mesmo campo de futebol

Nas manhas que eu acordava disposto a encarar o dia
Disposto a viver, como nunca havia vivido

E eu renego o sofrimento que tenho hoje por não achar merecedor.
Pois todo o bem que eu pude fazer eu fiz, e tentei ser capaz.

E hoje eu só gostaria de estar naquela rua, no alto daquela seringueira..
No meu mundo.

Anos Perdidos

Eu já tentei ser o que parecesse bom aos olhos. Tentando ser o que a vida não gostaria que eu fosse, me deixando levar pelas circunstâncias, subornando a única parte de mim incapaz de mentir, meu coração.
Mentiras custam tempo precioso em sua vida, não é fácil vencer por dentro como é simples enganar por fora.
Eu poderia desaparecer, deixando o corpo padecer, livrando a alma do fardo podre que lhe foi concebido, restando nada mais que anos perdidos.
E assim a vida brinca, fazendo você pensar que é tudo aquilo que fez acreditar que era, não é difícil errar como é duro acertar.
E se eu mudasse minha vida tentando ser o tipo de homem que fizesse o que esta vida gostaria, eu precisaria morrer, ou ser livre para voar, tendo me libertado das vezes que acreditei em pessoas, os sorrisos que foram vendidos a prazo.
Eu poderia ter visto os sinais, mas agora que estou prestes a morrer, apenas deixe meu caminho livre, que a vida cuida do resto.
Não falhei como o homem que gostaria de ser, falhei como o homem que frustra e diz as coisas sem senso e erradas na hora certa.
Talvez eu nunca saberei ao certo a realidade das escolhas, o final dos caminhos que risquei, das trilhas que esqueci para trás. Mas sei de certo as seqüelas que foram deixadas comigo, das entradas e saídas, sem ordem ou propósito, dos sentimentos.
E hoje em dia envelheço, com meus medos e temores reforçados, e talvez eu tenha perdido algumas partes de mim pelo caminho, como a sanidade.
Eu não retornaria...














Sereno

O que nos torna mais puros e evoluídos são os pequenos valores.
Simples como a natureza age sobre suas formas básicas, transparente como a água, implacável como o fogo, sorrateiro como os mais suaves ventos, orquestrado sob música natural.
Busco a sustentação de uma idéia, chegando cada vez mais perto do entendimento, analisando fatos e fotos, perguntas e respostas, respiros e suspiros. Corpo, e alma, respondendo sem medo.
O que me tornara maior que todos que me cercam é a capacidade de simplificar, de extrair a pureza mesmo que do ódio, o ódio sincero é mais belo que a paixão mentirosa.
Ser natural sem ser irracional. Processamento e reciclagem do que se vê, das palavras que são ditas, das atitudes que vão alem de atos, de mentiras fantasiadas como verdades.
Alcançando a majestade e plenitude dentro das palavras, registrando sentimentos sem expressa-los. Como devemos nos portar aqueles que não nos agradam, subjetivamente, sendo simples em confundir a mente de quem não pode ser simples pra te alcançar.
Me destruo por dentro, não aceito o que vejo, espero respostas as perguntas que nem sequer fiz, me negando a descobrir alem do que preciso agora.
E os dias passam enquanto por dentro morremos sem propósito. Sua razão se perdeu no tempo, ao mesmo tempo que você perdeu a razão. Transforma o simples em banal, e o complexo em meta, esquecendo e confundindo, desaparecendo dentro do seu próprio labirinto. E os dias passam...
Equivocados aqueles que me julgam para sustentarem seu próprio julgamento. Enquanto seu castelo de areia é posto a prova, dissolvendo em meio as verdades e provas de sua falha, enquanto seus valores são subjugados dentro de um redemoinho de erros e desencontros criados por você mesmo.
Eu hoje caminho em pequenos passos, contido pelas circunstâncias da vida, como se me quisesse fazer aprender a respirar, a observar os detalhes, e aprender a viver.



"Podemos percorrer nossas vidas como dentro de um trem, a pequenos passos, sentindo cada detalhe, observando cada passagem, cada desvio e curva, sem pressa de chegar ao fim da linha, e o mais importante, fazendo bastante barulho e sendo notado.
Ou podemos fazer este mesmo caminho dentro de um avião, em altíssima velocidade, porém sem perceber nem notar nada a nossa volta, passando por cima de todas as paisagens e fatos, com pressa de chegar ao destino final, porém com um detalhe, sem ser notado por ninguém e em nenhum instante."



Fato.

Mais do Mesmo

São sempre as mesmas questões que pairam na minha mente. O que me obriga a escrever, pois assim eu alivio a pressão aqui dentro.
Mas confesso que gostaria de parar com estas questões, gostaria de desligar um pouco, mas não, isso não vai acontecer tão cedo pelo visto.
Não são ficções criadas para me enganar ou te enganar, são fatos reais, que devido a varias consequências e seqüelas da minha vida, estão sempre pulsando novamente bem no centro da minha mente, bloqueando todo o resto.
Me limita a força, amputa minhas pernas me deixando sem meios de escapar, como se obrigando a ficar.
O que fazer quando se precisa fugir de você mesmo? Experimente um pouco disto dentro de você e vai encontrar o verdadeiro inferno, sem diabos ou fogo flamejante, mas um abismo silencioso e sufocante, travando as amarras cada vez que você tenta se soltar. Isso é dor. Invisível e interna.
Talvez eu esteja agindo errado, já penso nisto também. Talvez eu esteja lutando contra o que deveria assumir, doendo a quem doer, matando quem matar. Pois em cada morte há um recomeço, bom ou ruim. Talvez necessite encontrar a maneira de me entregar a isso de uma vez por todas, mas como?
Algumas pessoas estão aqui por passagem, e cada vez mais acredito nisso, quando vejo o quanto me destôo da maioria, e o quanto isso incomoda, pois o que não se pode compreender sempre é visto como problema, e precisa ser de alguma forma eliminado. Ou eu eliminar?
E onde esta minha felicidade? Talvez quem deva saber disso já teve provas, e quem teve as provas sabe que eu luto para me manter firme e centrado.
O fato nisto tudo é que ainda acredito que há um propósito, uma razão no final que vai sanar todas as minhas duvidas sobre o porque de eu estar sendo mantido aqui.

Ainda vivo aqui.




Trajetória

"Da criança que um dia sonhava
Ser artista, fama, pe na estrada
Acreditava em seus sonhos, ideais
Lutou contra todos, ate contra os pais.

De fraco se fez forte, viril, ambicioso
Conquistou seu espaço, com garra, com luta.
Na música encontrou a paz, rapaz talentoso
Chegou ao topo do mundo, terminado em um fim doloroso.

Tentou novos ares, cercado de apoio
Provou ao mundo ser capaz, de recomeçar
Deixou o sonho de lado, separou, trigo do joio.
Quatro anos de luta, só parou ao terminar.

Mais uma frustração, tempo perdido na vida
Mas ainda tinha amigos, que lhe deixavam em pé
Ate um dia isto mudar, e a vida testar sua fé.

Traído, subjulgado, amordaçado e sem forças
Recebeu um duro golpe, da mais inesperada pessoa.
Fraco, desiludido e sem rumo, persistiu.
Procurou uma saída pra entender, a traição a qual sucumbiu

Na psicologia Ingressou, tentando compreender
Os atos insanos de alguns, que lhe fizeram sofrer
E se conseguir alcançar, aquilo que tanto deseja
Chegara ao fim desta jornada, reencontrando grandeza."

Achismo

Achei que a vida seria fácil.
Que as coisas aconteceriam como em uma correnteza, sem pressão ou chances de desvio, sem sabermos o destino final, mas que ela fosse direta, sem tempo para pensar.
Achei também que passaria despercebido pelas pessoas e que jamais algumas delas transformariam minha vida, mas eu estava tristemente enganado. Que sem me fazer notar não seria notado, mas não escolhemos isso.
Achei que algumas de minhas palavras fossem certeiras para seu coração, e que outras pudessem sanar feridas, porém palavras as vezes calam muitas vozes que deveriam ecoar dentro da gente por anos sem medo.
Procuro por momentos que consolem todos os erros que cometo, assim não sucumbo, esmagado por uma pressão invisível aos olhos, mas evidente a alma, pois achei que sempre agüentaria sem encostar os joelhos no chão.
Achei por longo tempo que não existia a traição, novamente, tristemente enganado, pois onde existirem pessoas, existira.
Eu certamente achei que não repetiria palavras e que reverteria o tema da minha jornada aqui, que transformaria gritos em sussurros, e vazio em amor completo, mas ainda estou aqui, aquém da sua ou da minha vontade.
Acho que o amor, se me permitem cita-lo, se esconde bem, provavelmente existindo a espera de se manifestar, de aflorar, e talvez pra mim ele seja tão perfeito que não creio ser capaz de vive-lo. Tristemente enganado.
E eu passo os dias achando que posso montar meu quebra-cabeça, em perfeita harmonia, com as partes se encaixando e dando forma a um final sem falhas, porém, novamente, eu estou tristemente enganado, pois algumas peças nem sequer existem pra completá-lo.
Eu apenas achei, que a vida seria fácil.