Sobre Viver

Não é sobre amar, ou estar feliz demais. Não é sobre encontrar a pessoa certa, que te faz bem. Não é sobre viajar, acertar os passos, registrar momentos. Não é sobre sorrir sempre, agradar sempre. Não é sobre conhecer pessoas, aceitar defeitos, apontar desejos. Não é sobre acordar sem medo do hoje, pois o ontem foi perfeito. Não é sobre acreditar que pode dar certo. Não é sobre descobrir suas fraquezas, admitir ser dependente, aceitar. Não é sobre lutar sem necessidade da luta, sem a necessidade da dor. Não é sobre perder amigos, ou esquece-los. Não é sobre se sentir só, mesmo acompanhado. Não é apenas chorar, calar-se quando lagrimas não representam a verdade. Não é sobre reencontros, reaproximações, a falta que uns fazem e outros não. Não é sobre desistir, apenas ter enlouquecido. Não é sobre se confundir por dentro, de tentar achar o caminho certo entre destinos errados. Não é sobre esperar demais, se cansar de menos. Nao é sobre sentir ódio quando se deve sentir pena. Não é sobre enxergar que uns poucos vivem com tanto. Não é sobre mais um ano, que se encerra, mas um que surge. Não é a falta de esperança, a eminência da derrota, a vontade de vencer. Não é perder meus entes queridos, sofrer e se sentir triste. Não é sobre estar bem ao lado de quem não esta bem com você. Não é pensar que nunca existirá sempre. Não é beijar apenas, se envolver apenas. Não é sobre historias que se apagam, historias que superam o tempo. Não é sobre sentir saudade, sentir descrente, sentir que se foi. Não é sobre aqueles todos que não te aceitam. Não é ser fiel, sem ser leal. Não é sobre algumas verdades mentirosas, maquiadas. Não é sobre entender que existe muito mais a ser feito, fazer. Não é sobre desistir. Não é sobre acordar no mesmo dia, surpresas não existem. Não é sobre paz, glorias, esperanças. Não é sobre aceitar o que não se aceita, ter princípios e convicções. Não é sobre ser mais um perdido entre mais uns. Não é sobre perceber o quanto se consegue com o olhar, absorver. Não é sobre apenas escrever, deixar registrado, espelhado. Não é sobre apenas eu, sobre eles, sobre nos. Não é sobre sempre cair, de joelhos e parar. Não é sobre uma vida inteira sem historias ou memórias. Não é sobre estar aqui por estar. Não é sobre se dar ao luxo de esperar. Não é sobre muitos passos que serão dados, grandes e merecidos. Não é sobre nada disso, se isso não fosse pra ser, e assim será.
Não é sobre morrer, é sobre viver.

Cela

Triste quando muitos pagam pelo erro de poucos. Hoje separamos as verdades e guardamos em outro lugar. Tiramos os sorrisos, o gênio forte, a compreensão pelo que é certo e por tudo que se acredita, e escondemos longe de qualquer doença.
Fechamos uma porta, um caminho para aqueles que um dia tiveram a chance de entender um pouco mais, de acreditar um pouco mais, só que foram incapazes de aceitar.
E hoje por mais estranho que pareça eu me sinto ainda mais só. Como se não bastassem as feridas abertas por todos aqueles próximos. Como se não bastasse todo o mal que a distancia e o abandono me trás, eu precisei fechar ainda mais as entradas pra minha vida.
Talvez eu esteja sendo egoísta demais, ou talvez eu esteja fazendo o certo. Me resguardando, me precavendo de transformar o que é único em algo banal, pela simples ignorância alheia. Mas é preciso sumir.
É preciso mostrar que o silencio é mais doloroso que palavras. Que o desprezo fere mais que a critica. E que não importa se você é sarcástico ou maldoso, se houver verdade, existe você.
Hoje aqueles que me conhecem ficaram do lado de fora com todos os que queriam entrar, como eu disse, todos pagam pelo erro de poucos. Infelizmente.
Talvez um dia volte a tona aquele prazer de se fazer presente, aquela vontade de gritar ao mundo que existo, que faço parte de um pequeno grupo que não se dobrou as falhas e lutou para ser verdadeiro, mas que neste momento percebeu que não vale a pena.
Este vazio que resta, reflexo da raiva, da indignação de tudo e por todos, é torturante, é maldoso e machuca forte. Estes muros invisíveis que cercam minha alma, sufocam tanto que esmagam meu peito, e você não consegue sequer respirar.
É difícil calar uma força tão grande, ninguém é capaz, a não ser você mesmo. Mas isso te faz carrasco da sua própria vida, te transforma na condenação e sentença, pois agora, ninguém estende uma mão, agora todos se viram e aplaudem. Eu tenho ódio.
É mais uma das facetas da vida. Mais um alerta para que eu enxergue a saída de tudo que me faz mal, renasça, rescreva uma história que esta sendo apagada e borrada por personagens que não pertencem a ela. E mais um adendo de que permanecer enterrado nessa fossa podre e fétida, vai me contaminar ate a morte.
Hoje as portas estão fechadas e as janelas nada mais fazem que refletir a escuridão de dentro de mim.

Eu parti.


Trêmulo

Hoje o caminho se cruzou novamente. Enquanto a chuva caia e inundava meus pensamentos. Hoje eu deparei com a duvida e a surpresa, um sentido diferente e uma emoção sublime. Não acerto nas escolhas, não respondo as perguntas com respostas certas, mas eu acredito no que digo.
Talvez um passo a mais, um instante que dividisse tudo que acontecia. Aquilo que corria pelos meus olhos era como um diamante a ser lapidado, um sentido, uma carta de alforria de um presente negro, um presente confuso e indeciso, flambado a duvidas e ponderações.

Tem sido tão confuso tudo isto, tão incerto como certo de que as coisas aconteçam propositadamente, sempre. E a cada vez recebo mais provas disso.
Isto tudo esta me deixando a deriva, sendo levado a mercê de qualquer força, sem esforço.
Finalmente agora eu entro em um estado de agonia e preocupação. Porque isto justo agora? Porque as chaves caem na minha mão me obrigando a escolher quem vai, quem fica. Isso dói demais.
É um sofrimento que não se deve criar, um sentimento que não se deve despertar, é triste quando as estradas se separam, e não há nada que ninguém possa fazer, sou eu o ditador, o mártir, o anônimo que apedreja minha alma. E quais serão as feridas que ficarão abertas após mais essa insana passagem, me diga, me de respostas as minhas respostas, é só isso que basta.

Não posso mais uma vez desistir, não devo mais uma vez perdoar a mim. Eu não quero ser cruel. E não me faz bem ter que ser. Mas, eu não tenho escolhas. Ou sofrem ou eu sofro. E ate hoje foi sempre eu quem esteve de joelhos. Preciso parar.
Ao olhar minha face envelhecida neste antigo e trincado espelho, vejo as marcas de noites em claro, cabeça que jamais descansa, um retrato da morte em meus olhos cansados, óbito e renascimento.
Hoje então as cartas estão expostas, linhas marcadas, atitude e coragem jamais vistos, declarações abertas, portas fechadas. Levanta a força, respira, tenta achar a saída desse labirinto de novo, de onde nunca quis sair, e hoje em dia espera sentado as respostas, e elas estão vindo.
Eu só não quero machucar ninguém enquanto cruzar este caminho. É tudo muito frio. Meus sentidos se partem ao meio junto com meu coração.

Passageiro

Nos encontramos apenas dentro de nós. Sozinhos, enquanto vivemos ou sonhamos acordados. Criamos aqui dentro um mundo, construímos uma fortaleza que só possui pontos fracos quando baixamos a guarda e perdemos a esperança. Enquanto estamos juntos não enxergamos defeitos, não abrimos feridas, não morremos por dentro.
O inferno só existe quando você esquece onde encontrar o céu, e onde se confortar quando as piores tempestades chegam.
Passamos os dias só, dentro de nosso próprio esconderijo. Ninguém escuta seu choro, ninguém afaga seu rosto, o mais alto grito jamais será ouvido. Enquanto lá fora todo universo hoje é branco, e não existe o eco, aqui dentro a escuridão liberta o que dói mais, e só o vazio transpõe as barreiras que ninguém vê.
Hoje eu amanheci sozinho, como todos os dias, olhando pela fresta e observando um mundo cheio de esperança, fora de alcance, enquanto brilha aos meus olhos cega meus passos. Faço da dor o mecanismo da verdade.
Quero andar sem lembranças, esquecer o caminho da tristeza, redescobrindo a razão de viver enquanto respiro, e respirar a cada dia o que escolhi.
Sobrevivi aos desafios, dos mais cruéis, fui meu algoz, meu juiz, meu júri. Cravei minha sentença e mantive a pena por muito mais tempo que merecia. Nada da minha alma restou para contar a antiga história.
Se eu imaginar a vida dentro do mundo que criei, eu reconstruí meus passos, sepultei meus demônios, levantei castelos e recrutei exércitos enquanto lutava com minhas forças pelo que acredito.
Me de o desafio, me teste, me derrube aos joelhos, ensine-me a entender cada batida dentro do meu peito, eu preciso dessa passagem. Do sentido puro e simples.
Não há nada ao meu redor, nada daquilo que me protege. Gotas da chuva, raios de sol que me fazem bem, como a brisa do vento que sopra e me acorda. Não há nada que me sustente, apenas meu vicio entregue ao destino. Não vivo lá, não existo aqui. Ao meu redor temos pessoas sem história, só estão sentadas ao meu lado, não viajam comigo para nenhum lugar.
A solidão que mata, a tristeza que maltrata. Assim desse jeito, dos mais estranhos, dos mais complicados pois se fosse fácil talvez jamais fosse real. Continuo vivo, sepultando os passos que deixei, recuperando migalhas da minha antiga história e combinando com tudo aquilo que vivo hoje. Daqui deste lugar ninguém pode me alcançar.
Meu santuário, meu túmulo, minha luta.

Encaixes

As vezes quando desperto na madrugada, dentro de um silencio absoluto, onde não encontro nada além das batidas do meu coração, sinto como se fosse um alerta.
Como se alguém tocasse minha alma e me despertasse sem razão aparente, mas com motivos reais, para me fazer mais uma vez tentar entender cada passagem que acontece aqui.
E o que eu deveria fazer agora? E qual parte da história esta perdida dentro deste insano filme que vivo sem roteiro, sem saber absolutamente nada do final desta história que chamo de vida.
Mas quem vive com certezas talvez viva sem sentimentos. Quem vive sem páginas em branco nunca vai escrever sua história, sua trajetória, uma marca única deixada no tempo em que esteve aqui, tentando ser mais que um passageiro, mas um condutor, criando seu próprio rumo por esta estrada com um único destino, mas cheia de desvios.
Eu gostaria de ter respostas, de entender sinais, e não apenas saber enxerga-los. Se não me sinto vivo com o que faço me sinto perdido, sem propósito, passaria despercebido inclusive à mim.
Talvez sendo extremo demais, talvez sendo realista demais, tenha perdido a magia da ignorância, e me tornado alguém sem vocação de viver entre os que acreditam.
E desde então eu aguardo ansioso pelo dia em que as peças do meu quebra-cabeça irão se juntar. Talvez isto nunca aconteça, ou ele seja tão complexo que o dia que acontecer a única forma de visualizar por completo seja a distancia, olhando "de cima". E meu tempo tenha acabado.
As vezes me acho pretensioso demais, acreditando cegamente que algo maior se reserva a mim. Mas a força que me acorda nas madrugadas, que não me deixa sossegar, que não me deixa esquecer, e me faz registrar aqui cada momento ou fato, cada história ou pergunta sem resposta, é o que me motiva a seguir nesta estrada, mesmo que um dia esteja completamente sozinho, que meus joelhos estejam dobrados e meus olhos mal consigam abrir, sem forças físicas para seguir em frente, eu estarei dentro do meu caminho.
Cometo erros como todos cometem, mas não acredito nos seus pecados. Me sinto livre pra arriscar, para sofrer as consequências, para receber as recompensas. E viver para lutar, enquanto muitos lutam para viver.
O que chamo de inferno não existe em seu mundo. O que acredito como céu esta ao meu alcance. E o meu maior perigo sou eu mesmo.
Peço apenas ter forças suficiente para resistir as dores maiores que virão, das tempestades que desolarão minha alma e serão tão intensas que não existiram palavras para descreve-las. Que tenha consciência quando esta tentar se perder, e que eu aprenda mais ainda com as seqüelas que isto deixar. Se não me matar, me dará mais forças para seguir. Se não me matar.
E mais um dia ira surgir, e enquanto a maioria segue hipnotizada em meio a tudo que existe ao redor, eu encontro mais pedaços de mim. E continuo juntando as peças.



Adendo

Este não é um local de depressão. É apenas aonde estão tristes realidades. Não exalto aquilo que não vivo. Repasso a verdade, que não possui humor, momento, condição. Ela é independente.
Aquém de dias bonitos, de saudades, de lutas por apenas ser feliz, de condições, de temores ou receios, de eu estar vivo ou morto, aos prantos ou aos choros de felicidade.
Carrego comigo, hoje, ontem, amanha. Quando me trás sucesso, quando me afunda em um mar de indecisões, levanta e sacode, e não sucumbe ao tempo.
Não afirmo ser a verdade sempre, mas cravo que sou a verdade toda vez que preciso ser eu. Não minto, omito, pois não sou perfeito em todos meus atos, mas antes imperfeito que irreal. Talvez omita daqueles que não aceitem-me verdadeiro, e só.
Incompreendido, intolerável, amargo como fel, contundente como lamina afiada, sagás e dono de muitas certezas. Para muitos é simples acordar dia após dia sem questões, sem buscar algo, sem propósitos. Jamais me sentiria vivo assim.
Dentro de mim ela rebate a cada movimento, a cada pensamento, a cada visão daquilo que incomoda, daquilo que me faz mal. Um soco no estômago, impulsionando um grito. Não, eu não sei me calar.
Não aprendi a sufocar palavras, subornar meu eu, relevar. Relevo quando me equivoco, baixo a guarda quando ataco inocentes. Do contrario, é impossível me deter. Um choque naquilo que você monta e então eu desmonto.
Me exclua de perto, apague o que digo, feche os olhos para o que mostro. Não, não funciona. Pois dentro de você é imortal. Dentro de você permanece cravado enquanto por fora você reluz vitoria. Não há vitória ao olhos dos que vêem a verdade meu caro.
Desapego é uma ferramenta do bem, te trás a tona aquilo que estava adormecido. Abre os olhos ao redor, clareia a alma, separa o joio do trigo. Te fortalece. Deixa dentro de você espaço pra quem realmente merece estar com você. Vontade e não obrigação.
Hoje é um caminho sem volta. Uma estrada sem saídas, sem retorno. Transponho com receio, mas não mais com medo.
Este é só um adendo.

Destroços

Sou como uma bomba relógio. Vivo no limite pronto a explodir a qualquer momento. Muito próximo ao ponto de destruir tudo ao redor. Mas eu sou assim, intenso demais e sem a capacidade de relevar o que me fere. Como um animal acuado sem ter como fugir, a única opção é atacar. Quando me sinto ameaçado, ataco tudo que me faz mal.
E no meio disto tudo eu resisto ate ao ponto de não mais entender o certo, acreditar no errado, compreender os sinais que são mostrados a mim. Eu apenas agrido.
Mas não aceito o que me machuca, não consigo me tornar monótono ao ponto de ser despercebido. Não aceito me calar. É mais forte que apenas ter vontade de dizer e não dizer. É impulsionado por força maior.
O que pulsa dentro de mim é inconsolável. Não se corrompe com gestos e palavras falsas, não aceita desculpas depois de fatos consumados.
Eu poderia ser feliz aos olhos de todos. Subornando minhas verdades enquanto bato palmas aos prantos aqueles que me apunhalam pelas costas, e engulo seco e ardido tudo que realmente vejo. Mas ao cair da noite, eu estaria impedido de dormir tranquilo, mais confuso e inconformado do que agora, pois sei que hoje eu não camuflo as verdades, eu exponho as mentiras. E não me traio.
Para muitos talvez seja irrelevante o que digo, o que penso, o motivo pelo qual eu luto sem armas, sem méritos ou vitorias. Pode ser que nunca enxerguem através dessas paredes, e jamais sejam capazes de reconhecer as virtudes que eu pareço ter, eu serei despercebido. Mas eu sou tudo, ou nada. Sempre serei.
Eu não tenho inimigos. Não no sentido figurado da palavra. Não falo ou ataco sem propósito ou intolerante. Eu tenho traidores. Esses sim, aos montes.
Traidores de confiança, traidores de consideração, traidores de amizade, traidores de amor. Esses sim, são os quais me sinto pronto a atacar sem piedade. E mostro as verdades, sem razoes para mentir.
Eu não tenho medo. Nunca tive medo.
Eu posso sangrar ate a ultima gota se for preciso, e ainda assim, levarei para minha sepultura o que acho realmente sagrado e digno de ser eterno. Eu não temo mais qualquer tipo de julgamento, qualquer tipo de retaliação por ser incompreendido. Perfaço-me.
Mas estou cansado. Bastante cansado desses dias e dessas historias, de tentativas e erros. Hoje procuro as diretrizes que me guiem a paz seja ela como for, aonde for e com quem for. Cada vez mais disposto a aceitar sofrer para aceitar viver. Se atirar dentro do olho do furacão, alcançando a morte ou a gloria, de enxergar o que ninguém jamais viu antes. Eu vou me arriscar.
Sofrer por ter tentado, por mais destruidor que possa vir a ser, é infinitamente melhor que sofrer por arrependimento. Devo me agarrar a tudo que acredito e lutar para agüentar a tempestade passar, e quando ela se for, eu venci.
E o que levarei comigo? Quais as lembranças que irão restar? Quais gestos e sorrisos estarão ao meu lado e quais mãos continuarão estendidas se eu finalmente deixar tudo?
Estas e outras respostas eu terei quando partir. Só quando partir.


Flutuante

É difícil inverter os papeis.
Como se acordasse dentro de um filme bom, sem vilões ou perigos. Com seus cabelos ao vento e a brisa doce da manhã em seu rosto.
Seus olhos refletiam a luz da felicidade que transbordava em seu peito. Talvez paixão, amor, a alegria por ter encontrado sua razão, seu propósito.
E ela olhava para os motivos, que estavam ali, tão próximos que lhe escapara por anos, tentando descobrir algo que não se percebe com esforço, se sente tão naturalmente quanto respirar, quanto suspirar a um único toque.
O que ela procurou foi por um sorriso, em meio a todos aqueles que passaram despercebidos, um sorriso que falasse mais que mil palavras, lhe indicasse a passagem entre seu universo e o dele, entre trevas e luz.

E ela transpôs.

...Naqueles campos de girassóis dourados, suas mãos tocavam as pétalas enquanto seus pés flutuavam em um transe profundo, uma overdose de sentimentos tão intensos que se tornavam indescritíveis e únicos.
Uma versão da paz, daquelas que nunca se viu, de serenidade reluzente que ofusca a vista. É difícil viver assim.
E ela gritou. Tão alto que sentiu o sabor amargo de ferro em sua boca. Saliva vermelha turva.
Ela gritou tão ferozmente ajoelhada nos cascalhos a beira do riacho que os pássaros se foram, e as folhas tremeram como se temessem aquele som.
Mas não existiam trevas, não, ela não estava ali perdida ou desesperada, era só sentimento branco. Os raios de sol camuflavam seus cachos dourados,e ela seguia à giros por todo o local, destemida e sem temor, ofegante, transbordante de desejo por mais, por não acordar sequer quando respirar.
Os sinais estavam claros. Era uma versão pura e inconseqüente, sem erros ou acertos. Uma rebeldia saudável daquelas que assustam, um coração com aval para pulsar. Tão forte que as pétalas caíam ao seu tremor, e os ventos sopravam ao seu ritmo. Era pura certeza de vitoria.
Seus olhos refletiam a lua ao cair da noite, e ela suspirava, suspirava satisfeita olhando aos céus e suas inúmeras almas, com brilho incandescente e eterno.

É difícil viver assim.E ela apertou e serrou os pulsos com tanta força que suas unhas cravaram em seus braços, e sangue bordou os lírios que a cercavam. Não existia dor, mas angustia de finalmente ter que deixar e ir em frente.
Ela chorou em prantos.
Por quantos anos não desejou estar perdida ali, fazendo se sentir viva, suprindo seu peito de esperança e gloria, de amor anônimo, de vitorias sutis que deixam marcas só nela.
Estendeu as mãos ao céu, olhar tremulo, perguntou porque ele não estava ali para guia-la e gritou por seu nome, enquanto ouvia o silencio. O seu lugar não era ali, seria apenas mais um adeus, como todos aquelas que por anos ela ouviu. Angustia.
Os campos dourados haviam ficado para trás, ela correu tanto, que seus rastros apagaram. Se foram.
Por fim, daquele dia só lhe restaram lembranças, sementes secas de um suspiro de vida, daqueles dias que ela subornava a dor com sorrisos incandescentes.
Um dia ela conseguiria inverter os papeis que o destino lhe deu, lhe trazendo de volta, lhe ensinando que a vida pode ser maior que apenas uma jornada sem vitorias. Basta se entregar.


Labirinto


Eu procuro demais por não sei mais o que. E esta procura aos poucos esta me matando. Perdi as pistas que me levavam à saída, as passagens que me guiavam por este labirinto da vida, e hoje eu me perdi. Me perdi enquanto todos saíram daqui, rodei em círculos tentando de qualquer forma um jeito mais fácil, uma maneira sem sofrimentos de alcançar o final, mas não achei.
Eu sou apenas mais um rosto na multidão, enquanto caminho despercebido, sem ninguém sequer entender o que acontece dentro de mim.
Esta vida, se parece como uma prisão. Sem grades, sem muros, e perpetua. Uma eterna sentença de morte, sem morrer. Meus deuses só escutam meu silencio, enquanto eu luto sozinho, procurando por não sei mais o que. Meus deuses se calaram e assistem a meu declínio.
O que eu supostamente deveria fazer? Quem me dá esta resposta? Eu grito por dentro por proteção, por segurança, por força. Grito!
E os anos passam, me tirando as armas potenciais, que eu também não me importo mais. Me deixando com as palavras de protesto, as únicas verdades em que posso acreditar.
Ninguém é feliz sozinho.
Mas você não precisa se importar, pois eu não preciso ser aquilo que não consigo. Eu não preciso me tornar algo sem alma para ser feliz. O que é ser feliz?
As coisas que sinto não são amor, nem ódio. Não retratam seus olhares, não demonstram seus gestos, não rebatem em sua alma. O que fazer para se sentir feliz sem razão. Eu não acredito.
O que não preciso são de pessoas querendo me dizer o que sou, preciso de pessoas que sabem o que sou. Esta é a diferença.
Creio que já estive fora deste embaraço da vida, mas acabei jogado novamente dentro deste infinito caminho em círculos, e não sei mais sair, realmente.
O que fazer quando não se procura a felicidade aonde ela se encontra? Quantas perguntas, quanto anseio por sinais enquanto olho para o céu. Negro.
Não existem milagres, eles não acontecem aqui, não existe por acaso, nada é sem querer.
Quando eu vou encontrar a saída? Talvez eu jamais a encontre novamente. Talvez eu nunca realmente tenha achado.
Continuo gritando por dentro por proteção. E acho que já é tarde demais. Tarde demais pra sair daqui.
Pois você não consegue mais me encontrar.

Amor e Ódio

Loucos quando nos demos as mãos, correndo perante aqueles que jamais enxergariam o que éramos, e nossas bocas se tocaram pela primeira vez, para nunca mais se esquecerem. Cruzei e derrubei as barreiras de um mundo inteiro para poder te ter, além de tudo que eu poderia ter, e esperei suas respostas, que vieram com tanto fogo e paixão que eu mesmo me surpreendi. E daquele dia em diante, fomos tão intensos que nos sentimos culpados. Mas fomos intensos.
E enquanto eles riam, enquanto eles procuravam entender, eu olhei em seus olhos para sempre. E daquele dia diante ninguém mais nos separou. Daquele dia em diante, as respostas nunca mais foram secas, as palavras nunca mais foram frias, nossas vidas nunca mais foram as mesmas.
Isto é amor, insano e inquieto amor, que me proíbe de ter você, e te proíbe de me alcançar, mesmo quando está em meus braços, este estranho amor te tira de mim, ao amanhecer do dia, ao despertar da realidade, este louco amor que me trouxe você, leva distante nossas vidas.
E então desaparece, some por meses e meses, me torturando, enlouquecendo, rebuscando nas lembranças seus suspiros, tentando sentir aquilo que só existe com os dois juntos, lutando para não enlouquecer ao entender que você não esta, porque a vida não quis que estivesse. E percebo que seus passos estão seguindo outros passos, que sua vida gerou outra vida, seguindo aqueles passos, e eu entro em colapso.
Isto é ódio, mais puro e maldito ódio, que me faz desejar apenas poder te ver em meio a todos os outros, que chama sua atenção enquanto você finge que eu não existo, mas eu existo dentro de você sem controle, e você se mata por dentro por me amar.
Daquele dia em diante, não existiu mais o certo e errado. Ninguém mais pode julgar. Seus sonhos antigos desmancharam, dando lugar a paixão.
E ate hoje quando você sorri pra mim, eu recebo em meu coração. E ele transborda de satisfação por saber que longe de todos eles, quando os seus olhos se fecham como os meus, você é tão minha quanto eu sou seu.

Tão minha quanto eu sou seu.

Recriando

Realmente o que eu reflito com minha aparência se confunde com o que eu reflito com minha alma. Isso porque o inferno que vivo dentro de mim transborda pelas minhas palavras, sem que eu consiga segurar. É como prender a respiração e agüentar o máximo que puder. Ou você inevitavelmente solta, ou morre.
Eu percorro uma estrada interminável, gostaria de ser mais forte e estender meus braços para ser puxado, mas na frente, pelos caminhos que ando, não vejo ninguém. Existem os que padeceram e os que tomaram caminhos diferentes. Então não há o que fazer. Esta é uma guerra onde luto sozinho.
Eu despenquei de tão alto, que meus joelhos cravaram no chão com a força de três vidas, e então, desde então, eu tento me levantar. Com feridas, dor, cicatrizes, e sem forças.
Ao meu redor nada além de promessas de amor, suspiros de paixão, ilusões de saídas que não refletem a verdade. São sorrisos mortos, demônios que batem palma cada vez que eu os procuro, e recaio ao circulo vicioso que cresci dentro enquanto todos se distanciaram, não houve ajuda, não houve alternativas.
Eu sinto o gosto amargo do arrependimento por não ter me arrependido na hora certa. Por não ter dado dois passos para trás ao invés de um pulo à frente.
Na minha pele eu trago cicatrizes e dor, marcas do que eu sou por dentro. Mas o que eu deveria ser para você que não consigo ser nem para mim? Por favor se existe algo que eu não vejo, me mostre. Eu engoli todo meu orgulho, absorvi todas suas perguntas e não sei qual a porra da resposta que devo dar, nem sequer para mim.
Se talvez eu simplesmente andasse para frente sem olhar para trás, o que restaria? Se eu fechasse os olhos para aquilo tudo que vivi e recriasse um universo onde ainda não existissem vocês, mas não consigo reconstruir isso.
Eu esperei demais. Eu esperei demais acreditando que não deveria aceitar o fim, mas descobri que tudo acaba, mesmo a minha força de persistir.
Esta é minha vida, que eu construo e relato aqui inspirado em momentos e fragmentos que recolho das noites que desperto sem entender a razão de estar aqui, e todos os meus erros vem a tona, e quem não erra?
Eu gostaria de um dia lembrar de tudo isto, vendo tudo de longe, como um passado que um dia me fez mal, mas que servirá de exemplo, de lição para nunca esquecer de que já fui forte o bastante ao ponto de não aceitar que que eu poderia me arrepender.
Hoje ele existe.

Medo

O que esta na minha cabeça.
Chega uma hora que você não sabe mais o que sente. Chega uma hora que o vazio se torna tão profundo e tão agonizante que você entra em um modo de transe, se torna algo parecido com um zumbi.
Chega uma hora que é tão doloroso você se sentindo assim, que sua mente não consegue mais achar a saída e nem o porque de tudo que ela pensa, é um estado insano de sofrer.
Não é com dor, não é doente fisicamente, é uma dor indescritível. Algo que prende dentro de você e não te deixa mais falar ou reagir.
Eu to sozinho demais. Quem me pega pela mão? Eu to sozinho demais.
Hoje eu estou com medo. Muito medo. Talvez seja esse o sentimento que toma conta de mim. Medo. O pior deles. Ele é tão intenso que eu só penso em uma coisa: como me dopar e tirar de dentro de mim esse medo.
Eu não posso gritar, eu não posso chorar, eu não tenho forças pra isso, eu to com medo. Estou passando a maior prova de todas, nunca um momento da minha vida foi tão sombrio e avassalador. Nunca em apenas um mês, o peso de 1 milhão se vidas me esmaga absurdamente tão forte que eu não consigo respirar.
O ar esta pesado, ele é muito pesado. A minha cabeça esta confusa demais pra qualquer coisa, eu só consigo escrever. Não sinto minhas pernas, não escuto nada, não penso nada.
Chega uma hora assim que eu rezo por medo de saber que não sei onde esta mais o sentido de nada praticamente. Nada que estão me dizendo estes dias faz sentido.
Eu não quero comer, eu não quero responder a minha mãe, eu não quero ouvir conselhos de amigos tentando algo que hoje é o que menos importa. Eu estou sozinho e não sei pedir ajuda.
Sim eu fiz algo ainda pior. Ou melhor. Eu ouvi uma amiga e fiz algo impensável. Misturei mais ainda tudo, trouxe a tona mais medo. Abri mais uma ferida, talvez a maior de todas as elas e juntei, juntei com a dor e o medo de tudo que esta acontecendo agora. E então estou ainda mais destruído.
Eu não sei se o que preciso é ajuda, não sei se o que preciso é me calar. Eu não tenho mais respostas, eu desisti.
Sabia que chegaria um ponto que a insanidade iria engolir a razão, e eu me tornaria refém de mim. Hoje esse dia chegou. Eu não tenho mais sentido, eu não vejo nada além e não tenho sequer coragem de aceitar.
Não sei mais o que sinto dentro de mim de tanto medo da solidão. Não é esse tipo de solidão que você pensa. É algo como perder você dentro de si mesmo. Essa solidão de não ter nenhum lugar onde se segurar.

Hoje eu admito que ela venceu.
Eu não consigo mais me encontrar.

Suspiros

Eu não sei dizer adeus. Eu nunca soube. Talvez este seja um dos meus maiores defeitos. Eu não ignoro, não desisto, não aceito, não me conformo em deixar para trás o que por algum momento na minha vida se tornou prioridade e necessidade.
Eu ainda tento entender porque devemos chegar tão longe para morrer. Como se caminhássemos por dias ate chegar a um abismo, e nos atirássemos. E todo aquele tempo percorrido, todo aquele suor e dedicação derramados, se vai em segundos, acabando tudo.
Eu não sei dizer adeus. Não aprendi a enterrar tudo que vivo e esquecer. Ao contrario do que imaginam, dentro de mim só existe vida quando existe razão de viver. E é difícil você ver a razão se perdendo, e toda a fé.
Aqueles sacrifícios que foram feitos, contrariando e lutando contra tudo, provando que além disso, existe algo que ninguém jamais havia descoberto em mim, eu fiz coisas incríveis. Fiz coisas apaixonantes e sinceras.
Não sou perfeito, longe talvez de conseguir ser, mas do que vale a perfeição se ela for mentirosa? Toda verdade tem defeitos, e é por isso que as verdades doem mais que mentiras, porque elas carregam o peso de ver sem mascaras, de encarar o problema na sua frente, e muitas vezes não é suportável. E eu não consigo trair minhas verdades.
Eu não sei dizer adeus. Não sei fechar os olhos e respirar quando algo me sufoca, não me deixa ir, mesmo talvez acreditando que isto possa ser o certo. O certo talvez nunca passe de ilusão, mas a busca por ele destrói qualquer coisa.
Porque construímos? Porque acreditamos? Porque vivemos ao lado sempre tentando ter aquilo que provavelmente não exista?
Hoje minha cabeça vaga por rios de duvida, se perde em meio a confrontos e lutas, questiona, pergunta, caça respostas aonde não existem palavras.
Mas o que sinto é pesado e aperta o peito. Torna tudo ao redor frio e cinza, realça e traz a tona toda angustia da decepção pela vida, e pelo que ela reserva a nós, sempre oferecendo para depois tirar.
Então é isso? São passagens, são caminhos que deixam duvidas sobre tudo que foi feito, passos que foram dados.
Hoje meu rosto retrata a tristeza, mesmo tentando sorrir. Hoje minhas mãos tremem ao invés de punhos fechados, hoje os dias parecem não ter fim a espera da paz.

Eu não sei dizer adeus como dizem adeus à mim.

Ventos Frios

Não há nada mais dolorido que a solidão. Nada que fere mais a alma e destrói alguém que a falta de esperança. Quando olhar para os lados e não existir ninguém, quando erguer seus olhos e não ver nada, com suas mãos esticadas implorando por alguém, e ninguém as segura.
Quando a angustia chega, e você procura por quem gritar, e não existe este alguém. O que você faz?
Os ventos frios que trazem a dor, te isolam, rasgam seu rosto e nada mais resta a não ser sentir o frio cortante que maltrata como uma forma de punição. Não existe saída, ninguém esta aqui, é um sofrimento impar, ninguém esta aqui para eu encostar meu rosto em seu ombro, eu estou sozinho.
Meu sorriso morreu, e junto com ele se foram as pessoas, se foram os amores, a familia, a vida. Junto com ele apenas palavras de adeus e a certeza que irei desaparecer, sozinho, sem ninguém pra quem chorar.
Então é isso, todos os capítulos estão escritos, todas as portas fechadas, pessoas distantes, passados mortos, tudo aquilo que sonhei, não há vínculos, não existe nada além do que vivo hoje.
Eu deixei para trás e perdi minhas vitorias, abdiquei da minha vida pelo meu destino, eu disse adeus aqueles que cresci e os capítulos estão todos com ponto final.
Tem sido tão frio, é um processo lento, uma etapa tão violenta que vai deixar seqüelas, das mais profundas e feridas das quais jamais vou sarar. Eu estou cedendo aos tombos que tomo, meus joelhos não agüentam mais, meu corpo não suporta mais o peso da minha mente.
Quando eu me for, talvez tudo isto seja lembrado como luta, talvez seja visto com os olhos daqueles que forem capazes de entender o que é lutar. Quando eu me for, deixando este lugar, marcando minha passagem através de tudo que até hoje escrevi, que aqueles que lerem finalmente percebam os motivos, percebam o verdadeiro tormento que é tentar viver.
Chegara um dia que estes ventos frios me farão adormecer para sempre e tirarão a força do meu coração. E ninguém além de mim vai presenciar isso.
Pois morremos sozinhos, cada um com sua dor.

Única

Hoje me deparei procurando por algo que não se pode encontrar. Não sei o que me deu, o que eu estava sentindo naquela hora, naquele momento em claro na madrugada, quando resolvi digitar seu nome em um lugar que jamais você estaria.
O que vivíamos era antigo, coisa de verdade, risos de verdade, brigas de verdade, amor de verdade.
Hoje te procurei como um surto, tentando te encontrar por alguns instantes onde quer que esteja. Te procurei na internet, engraçado, você foi embora antes disso, eu sabia que não te encontraria ali. Mas o Google hoje tem tudo, faz tudo, conhece tudo, não você. O Google não sabe quem é você e quem foi você, azar o dele.
Hoje eu tentei encontrar aqueles olhos azuis, aquele nariz que denunciava quem éramos, aqueles cabelos que eu nunca tive. Tentei me ligar à você pelos caminhos que hoje são comuns, mas você não estava lá.
Me nutri de esperanças, busquei pistas, ano, data, imagens, nome. Sei que existem registros, mas eles não estão registrados. Sei que lutei para achar algo que me fizesse sorrir nesta noite longa, nesta noite interminável.
Procurei você, que um dia foi tão próxima e no outro lembrança, que um dia me fez querer morrer para tentar te encontrar, aonde estivesse, se estivesse. Hoje eu estava assim, afoito por uma lembrança, um vestígio.
Hoje passei a noite recriando imagens, refazendo passos, reconstruindo lembranças. Passei a noite segurando sua mão, te puxando, tentando trazer pra mim tudo aquilo que nos unia. Tentei livrar de você aquilo que te levou, ir no seu lugar, e deixar seu brilho ofuscar a visão de todos aqui.
Só por você talvez eu me rendesse, ouviria, aprenderia a como cativar em silencio. Talvez só por você eu aceitaria mudar, retroceder, aprender a ouvir. Mas você se foi a tempos atras, e eu ainda reluto em estar aqui, como sempre com medo de desafiar, ao contrario de você.
Nesta noite eu derramei lagrimas tentando encontrar você aonde não estaria, e aprendi que se eu quiser te achar, basta fechar os olhos, e todo dia você estará comigo.
Pra sempre e sempre.

Histórias


Uma história é feita de capítulos. De momentos extremamente bons e outros tão tristes que nos faz parar de viver. Uma vida é feita de sentimentos, tão simples assim, quanto o respirar. Tudo que sonhamos nos dá esperança. Aquilo que conquistamos nos recompensa. Precisamos de aplausos e afeto, gostamos de amar e ser amado. Conseguimos sucesso, reconhecimento, glórias e louvores.
Uma história é para ser contada por felicidade, vitória, resultado. Isso nós sonhamos em ter, sonhamos em conseguir, levando tudo que vivemos como parte desta historia. 
A vida de alguns é assim - bela e recheada de capítulos felizes - enquanto outros lutam todos os dias dentro de imensos infernos. Uma história ruim e amarga, muito dura, muito castigada. 
Conhecemos pessoas, vivemos juntos, acreditamos em pessoas, vivemos juntos, gostamos de pessoas, vivemos juntos, e esquecemos de pensar no depois, porque na vida, sempre existe o depois. 
Aquilo tudo que um dia foi perfeito se desmancha como um castelo de areia, imponente ao olhar, mas frágil demais para se sustentar assim, forte, firme, demonstrando tamanha grandeza que desafia os demais. Mas é tudo só imagem. Tudo tão frágil que um simples vento o despedaça. É assim que vivemos com pessoas. Amamos e odiamos tão rápido e perto que os dois se entrelaçam, se apertam e se afrouxam, terminando e começando. Um ciclo de uma metamorfose que sabemos exatamente no que se transforma. Perda e dor, dor e perda.
Quantas vidas cruzamos, que passam despercebidas e invisíveis, e como podemos saber se ali não estaria tudo que desejávamos, tudo que sonhamos ao nosso lado. Esbarra, encosta, troca olhares, apertos de mão, e adeus. Ali se foi o que talvez poderia ser tudo. Mas como saber disso? Como acertar quem não magoar e quem não perder. Nunca iremos acertar.
Nas histórias que criamos somos mocinho e bandido, salvamos e matamos, e nunca conseguiremos acertar quem será a donzela apaixonada. 
As vezes eu me pergunto porque temos que conhecer pessoas, continuar conhecendo, mesmo depois de termos passado por tantas relações, mesmo depois de ter errado achando acertar, e continuamos tentando. 
Talvez o segredo seja se encontrar antes de querer encontrar alguem,  talvez a verdadeira paz e sentido só seja alcançado quando sofremos sozinhos, de corpo e alma, pois de cada sofrimento nasce um novo começo. E quando sofremos sozinhos, ou nos curamos ou enlouquecemos, o que também é uma forma de se curar de tudo ao redor.
Eu reluto e luto todos os dias tentando entender todos estes processos, e me preparar para todos eles, mesmo sabendo no fundo que quando eles acontecerem, eu não estarei preparado. 
E irei sofrer.

Caminho

O que me livraria de toda angustia?
Hoje nem mesmo eu suporto meu estado, nervos a flor da pele, irritado, sangrando, decepcionado com tudo ao redor. Ataco tudo que vejo, sem propósito real por conta da intolerância que a vida me fez ter. Ate aqui.
Na verdade é a luta entre uma pessoa que acredita demais em si, contra todos os obstáculos que tentam derruba-la.
Por alguma razão minha mente não me deixa dormir, me acorda em meio ao silencio como um tapa na cara me fazendo sempre e sempre encarar a realidade, forçar-me a tentar achar ima saída, que alias já achei.
Este é apenas mais um relato em vão. Mais uma prece à ninguém, um relato de sufoco. É mais um daqueles textos que não faço forças pra deixar escrito, pois emerge de mim simples e puramente natural. Uma luta que travo a anos, intermináveis anos que se diluem enquanto ao meu redor as paredes se tornam cada vez mais apertadas e claustrofóbicas.
Destino, que me conduz por caminhos tortos, pois sabe que me rendi a ele, uma vitima por simplesmente crer que tens poder supremo e pode criar e destruir alegrias e tristezas. Sou personagem principal da minha história, com roteiro pronto, mesmo sendo triste.
Na verdade eu não perdi o foco naquilo que quero, pois ao contrario do que parece ele sempre esta presente em tudo que tento fazer - eu procuro a paz. Sei que não vou encontra-la contrariando meu coração, acreditando em mentiras, vivendo o que não me faz bem. Eu procuro pela paz senso honesto comigo, marrudo comigo, sem desistir. É disto que eu não desisto, de encontrar o caminho entre as pedras. Dando asas ao destino.
Difícil fazer isso dentro de um circulo contaminado e vicioso, onde a única meta é prosperar artificialmente aos olhos dos semelhantes, lucros, materialismo, aparência, soberba e ostentação do vazio. Difícil não ser julgado como tolo e vagabundo quando não compreendido, pois aos olhos daqueles que não perseguem seu próprio destino e lutam para ser o que a sociedade molda, você é mal quisto.
Me aponte o Norte, me guie por essa escuridão pois sou seu fiel escudeiro e defensor. Alinhe meus pés, erga minha cabeça e deixe o restante comigo, eu vou conseguir. Só não me abandone às duvidas e insônias, aos tormentos diários lutando sem armas, pois você sabe que não posso realmente vencer.
No final, sua vontade prevalecera.
Só peço que quando o momento chegar, e toda a dor que eu sentir nesta transição, valha. E que depois da tempestade que irei criar e passar por dentro, os dias se tornem mais saudáveis, claros e confortantes.
São meus votos de crença.

Vingança

Essa sensação de inconformismo. Esse desejo de não aceitar e o ódio por ter acreditado. Hoje sinto o peso do mundo em meu peito, o amargo no engolir seco e incrédulo pela perda. Hoje a noite atravessa diante de meus olhos, me puxando a realidade e me jogando de novo ao limbo.
Outrora acreditei que poderia encontrar a paz renascendo, que poderia estender novamente a mão que seria levado mesmo que por momentos para longe daqui, mas agora vejo que a mão que me acolhia era a da vingança. Eu estou inconformado. Por não poder ter aquilo que acredito, pois não sei ser o vilão, não consigo. Eu fui um tolo.
Como um castelo de areia que sucumbe por ser fraco, diante da majestade de suas formas, ele cai. Me sinto fraco, traído, usado e atirado aos lobos. Não consigo sentir apenas raiva, o que me domina é a tristeza, é a luta para entender onde foi que eu errei.
Eu busquei ser simples, transformando o impossível em real, concertando erros que cometi, sentei no banco dos réus e aceitei minha pena, e me curei. Voltei e tentei perfazer, e hoje eu estou de joelhos, derrotado. E esta é a derrota que dói, aquela que leva junto com ela um pedaço seu, e deixa uma ferida, que hoje sangra mais que tudo.
Não quero fechar os olhos, pois sei que tudo sumirá, sei que as pedras foram jogadas em um caminho e bloquearam a volta, eu não volto. Frieza, meticulosa, sádica, assassina sem piedade, por um único motivo, vingança. Ela trás o êxtase do momento e o arrependimento final, aquele quando ninguém vê.
Minha noite em claro me maltrata, me pune mais uma vez, qual é a lição? O que devo aprender agora? Nada sobrevive ao meu lado, nada sobrevive ao meu lado.
O que você criou é mal, é maldoso e cruel. Eu não desejo a ninguém e não quero mais isso. Você teve sua chance, eu aceitei que fosse fácil, mas e você?
Hoje eu dormi pensando que amanha já esqueci.

Pulsante

Meu coração guia meus passos, desgovernado e súbito, insano e feroz. Dita os beijos que sinto, as paixões que suspiro, as alegrias que me fazem sorrir e as incertezas da vida. Me leva por esta montanha russa de sentimentos, brinca comigo sem que eu permita ou tenha chances de fugir.
Meu coração me fez refém para sempre, de suas vontades. Palpita a mais pura sedução e se recusa a amar. Congela-se, se tranca e joga a chave fora, e diz que ninguém mais entra.
Bate na minha cara me fazendo relembrar, não quer esquecer, não desiste de tentar. Me subjuga e me testa, me desafia e me trai.
Meu coração é livre de mim, me larga em meio a conflitos e some, não se decide nem deixa eu tomar as decisões. Das vezes que tentei deixa-lo de fora, errei.
Mal criado e rebelde, sua única forma de chamar atenção é me deixando triste, e isto ele faz bem. E as vezes ele não me deixa em paz. E isto é quase sempre. E o que eu posso fazer?
Meu coração vive uma história sem fim, ele nunca para ou desiste, seus pulsos são seu ar, e quando ele parar, ele para por mim, e decide naquele instante que chegou a hora de descansar. Não há nada a fazer.
Quando eu esqueço ele se lembra, quando eu me acalmo ele entra em parafuso, me toma a alma.
Meu coração vive de memórias, jamais descansa e jamais me deixa caminhar sem consulta-lo. Caímos juntos e levantamos juntos, e isso será eterno.
Meu coração é meu companheiro, cúmplice, conselheiro. Meu vigia nas cagadas, meu paizão, que puxa minha orelha e me põe nos trilhos. Um irmão mais velho que ensina os valores sem precisar dizer uma palavra.
Não aceita a traição, a deslealdade, e não tolera que o machuquem.
Meu coração machucado, hoje é cruel com aqueles que o ferem. Eu não tiro a sua razão.
Dele eu tiro as forças, as palavras que deixo aqui, os passos que marco, dos pulsos que sinto sempre que fecho os olhos.
Meu coração é bravo e forte, imponente a tal ponto que me dói o peito pensar que o carrego comigo.

Não Posso Mais

Hoje as noites voltaram a ser curtas. Com pequenas doses de paz, enxurradas de angustia.
Um conflito que jamais cessa, renasce, ressurge, reaparece sempre que a vida me torce e me esmaga.
É um silencio profundo, sem ecos, sem cor, inodoro. Daqui de dentro não vejo sorrisos ou afagos, não enxergo brilho ou luz, é a solidão mais dolorosa que pode existir, e nada derrota essa força.
A morte da esperança, como uma vida que termina precoce, nasce com força mas não resiste as pedradas que a realidade despeja. Uma pequena semente que sempre teima a surgir, mas que sem água, seca e morre. Minha esperança é um aborto, e é assim desde sempre, ninguém vê.
Eu repito meus dias, copio as palavras, resgato as frases que me fazem expressar o que sinto, mas ninguém nem nada altera isso. São como alertas ignorados dia a dia, como de alguém procurando e pedindo ajuda, mas que não é atendido ou visto como real.
Hoje quando as noites se encurtam, naquelas horas infinitas de tristeza e choro, contrastando com a força física, ninguém está. Meus gritos, aqueles, no vazio.
Não sei o que fazer, onde encontrar, como recomeçar de novo. Não sei se tenho forças pra seguir, relutar, reagir, ressurgir. Não há fé que me alimente, não há ambição que me atice, não há satisfação que me basta. Hoje eu não acredito mais.
Falo para ninguém, talvez alguém que leia, releia, e passe. Ou alguém que leia, releia, e abrace. Eu não sei mais o certo pra fazer.
Vou agindo como praxe, caminhando como praxe, e não recebo os aplausos. Pois estou me traindo, isto sim sinto dentro de mim. Uma traição ao que minha alma julga como correto e verdadeiro. Mas ela só sente, demonstra, não ensina nem mostra ao certo o que fazer, para onde ir, como ir.
Eu erro, mas erro por ser certo demais, por acreditar no fundo que mereço ser feliz sendo feliz. Erro porque talvez procuro algo que não existe hoje, algo que sucumbiu a dura realidade, que eu não consigo aceitar, não acredito e não digeri ainda. Hoje eu erro demais sem ninguém perceber.
Se é pra ser assim eu prefiro o fim. Se é pra ser assim, que me cale de vez, que me tire as forças da esperança. Se é pra ser assim que me entregue aos lobos e sem dó.
Eu não agüento mais.

Tolerância


O que eu sinto é a traição. Aquele gosto amargo que me desperta na madrugada. E este texto é curto como minha paciência, que deveria ser como minha hora de mudar. Eu não vejo a hora!
Por eu enxergar demais eu vejo dentro de cada um e o que meus olhos dizem se torna sua sentença. Todos vocês são podres, sujos e mortos por dentro. Com erros que eu condeno e atitudes deploráveis. Eu erro também, eu peco também, mas não engano a mim mesmo.


Eu sou fruto de uma doença chamada hipocrisia, que me transformou no que sou por estar cercado de cobras e vermes.Hoje reluto e defendo as verdades que aprendi a crer, e no fundo elas estão certas e são elas que me fazem permanecer aqui. Todos estes castelos de areia, frágeis e fúteis, eu chuto e desmancho, destruo. 


Hoje eu levanto a bandeira do meu ego, me orgulho de nunca ter sucumbido aos arredores.Nada do que eu vejo faz sentido. Vocês se maqueiam, se enfeitam, se juntam em pedaços de mentira recheados. Eu vejo cada dia mais e vocês cada dia menos. Estou cheio de tudo isso, estou cansado por estar cercado de falsos e subjugáveis. 


Eu aprendi a voar cada vez mais alto enquanto urubus dão rasantes sobre a carniça. Procuro me libertar desta prisão sem muros, preciso achar uma saída, preciso encontrar aquilo que transforma tudo ao meu redor. Eu estou apodrecendo por viver entre podres.


Onde estão aqueles a quem dei meu sangue? Onde estão todos quando as portas se fecharam, e junto não restou nada. Onde estarão aqueles que um dia eu estendi as mãos. Eu vivo os dias refém da minha tolerância com tudo aquilo que me mata. Uma tolerância aos fracos, aos falsos. 


O meu câncer é incurável, um câncer de alma, do qual nunca irei me livrar sem matar tudo aquilo que me causa mal.

Incerto

Será que alguém é capaz de ver através de mim? E de sentir as facas que dilaceram minha alma. Todos os dias nebulosos e sangrentos. Eu nunca me tornarei aquilo que todos quiseram, as vezes penso que seria melhor desistir, mas como eu terminaria isso sem deixar todos para trás ou sem apagar a luz que atravessa meus olhos. Eu prefiro morrer a ter que aceitar e desonrar minhas verdades e meu próprio destino. Hoje eu recalculo meus pecados e presto menos atenção ao meus erros e questiono mais o que ainda não fiz.
Sorrateiro e objetivo, eu planejo os meus passos e manipulo meus pensamentos. Abro caminho para que as coisas que tenham de acontecer sejam bem vindas. Doloridas ou não.
Eu não espero do próximo, eu não quero que esperem de mim aquilo que não é puro de mim. Eu ficaria melhor sofrendo por verdades do que por meros propósitos.
Dentro de mim estou do avesso, revirado, transpondo meu próprio inferno. Sentindo o amargo na boca, os olhos embaçados e visões turvas da vida, daquilo que chamam de vida.
Eu talvez já tenha perdido a batalha mas ainda estou em guerra, uma que provavelmente nunca vença, sem armas e banhadas de sangue.
Eu sou meu maior perigo, minha maior desilusão, meu demônio. Se eu cair serei amparado por garras. Hoje ainda me sustento em bases fracas e destruídas. Sucumbirão.

"Eu vejo almas perdidas, eu vejo olhos sem brilho e ofuscados pela morte de seus donos. Eu vejo um final idêntico para vidas diferentes, nesta festa da hipocrisia e falsidade. Os lugares que eu fui e ninguém jamais foi, os encontros que tive ao fechar os olhos em cada pedaço de mim. Aqueles que não acreditam, que me vêem como apenas um anormal, ou seria normal demais, eu repudio. Isto é apenas vida, vista com outros olhos e perspectivas, vista por caminhos criados e não dados. Não me levara ao céu pois eu não pertenço a este local. Não me sucumbira ao inferno pois no inferno já estou. Eu vejo meus semelhantes mortos e não posso salva-los. Eu mão tenho nada além de palavras a deixar, e nada além de conselhos a dar. Não choro por salvação. Tudo ao redor se tornou mudo e doentio. Eu sangraria ate a morte tentando sobreviver. Eu perdôo à mim mas condeno todos vocês."

Minhas rezas não invocam seus deuses, minhas rezas não idolatram seus deuses, minhas rezas não me salvam dos seus demônios, minhas rezas me seguram aqui.
Hoje mais que nunca eu procuro pela insanidade para viver enquanto você morre tentando ser aparentemente normal.

Fuga

Cada vez mais as portas trancadas. E as paredes encolhem. O ar se torna pesado e rarefeito e eu não respiro, eu me sufoco. Fecho os olhos e me limito. Eu não pertenço.
Engasgado com tudo que me cerca, vejo o que não quero ver, enxergo o que me dão, achando que eu jamais recusaria, mas eu recuso cada dia mais e aceito cada vez menos.
O que eu faço aqui? A beira de um colapso, destroçado por dentro, mil tapas na minha cara e correntes em meus pés. A beleza que se vai, e eu perdendo forças para prosseguir.
Eu jamais serei o que querem que eu seja, e jamais acreditarei naquilo que não aceito.
Hoje procuro as respostas em pessoas erradas, o auxilio naqueles que precisam ser auxiliados, eu não posso mais ajuda-los, eu preciso me ajudar. Limpar minha alma de todo esse fedor e limbo que ofusca meu brilho. E para onde eu devo ir? Uma fuga para o recomeço.
Resangrar, esvaziar os acúmulos de ódio que transbordam dentro de mim, e recriar o universo que me cerca da maneira que acho correto.
Um jardim onde plantei minhas flores e não onde espinhos nasceram sem minha permissão, por já estarem ali.
Hoje é dividido, entre a verdade absoluta e a mentira desvairada, eu sei bem onde estão todos, e tudo aquilo que me mata. Eu preciso matar, e não morrer.
Ao meu lado apenas quem acredita e enxerga todo o bem de dentro de mim, que tem coragem para destruir e recriar. Minha companheira.
Eu jamais serei bom o suficiente para aqueles que jamais quiseram me enxergar. E não espero mais deles, nada mais. Uma família é morta e a esperança ressurge. Só assim esquecemos o passado.
Eu vivo o meu inferno, alimentado pelas chamas das almas daqueles que hoje me cercam, me julgam e subestimam. Por dentro eu sou perigoso a mim mesmo, por fora eu atinjo sem dó todos que não percebem .Nas noites que se seguem a esperança de um futuro sem arestas me faz acordar, e eu no fundo enxergo aquilo que ninguém mais vê. E é pra lá que eu vou, mais cedo ou mais tarde, sem medo de errar.
Quando todos verem o sorriso em meu rosto e a esperança em meu olhar estarão certos de que eu os esqueci.
Só assim então irão me perceber.



Simples Assim

Existem os dias em que as palavras fogem, não nos pertencem, nos deixam calados. Existem aqueles que queremos gritar, esbravejar contra o mundo e aqueles que nos tiram do serio. Hoje eu procuro as palavras.
Procuro por aquelas que me confortem perante as dificuldades, por sabias que penetram fundo dentro do meu peito e de lá custam a sair. Se eu falto com as palavras eu me arrasto, empurro com lerdes, a espera de novos versos e parágrafos.
Hoje eu poderia escrever sobre venerar o destino, que nos da rotas e caminhos, se tropeçamos ou não, ele já sabe, mas não ensina, educa. Hoje eu valorizo as suas escolhas.
E ele escolheu que eu me entregasse a paz, ao afago dos amigos, calor do amor, tranqüilidade e harmonia. Sem cobranças, sufocos, nervos a flor da pele e desordem. Nestes dias futuros eu valorizo o pouco brilhante que o muito obscuro, ganho com chicoteadas e não com aplausos. Minhas escolhas foram sutis, escolhidas por ele.
Fecho os olhos sem dor, sem remorso, precisando de respostas, martelando minha alma quase cansada. Os temores que hoje cultivo são os de perda daqueles que almejamos, gostamos e necessitamos. E mais cedo ou mais tarde eles se vão,
Eu na vida aprende a subtrair, recuar para não perder, respirar para não me sufocar entre os nos que ela me impõe. Eu descubro como e respondo a altura, sem dar chances aos tempos difíceis.
Talvez eu tenha tido muito daquilo que não precisava ter e pouco do que necessitava para entender tudo que minha vida ensinava. Mas eu toquei os céus e os picos mais altos, senti o brilho do sol e o frio cortante, os dois ali, juntos.
As vezes eu procuro palavras demais para imortalizar minhas passagens, elas me faltam, e ao mesmo tempo me pedem para sair, cravar na eternidade mais um pouco de mim, livre para quem quiser saber.
Esta noite eu durmo tranquilo sabendo que respondi aos pedidos do meu coração. Simples assim.

Coma

O que eu vejo hoje é cinza, como desfigurando minha mente. O que falo hoje é reflexo da dor e dos espinhos em minha alma. O que penso estar certo é questionável. Eu não estou confuso até me confundir com seus atos.
Hoje eu sinto na pele aquilo que sentia por dentro, quando estendo as mãos e nada alcanço. O que passa em minha mente escorre como sangue puro, livre do bem e do mal, eu hoje vivo em um profundo transe.
Risos sem sentido, lagrimas secas e sem sabor, eu vejo que não respondo mais sobre o que preciso. Meus dias se repetem, eu repudio e me agrido por estar aqui. Hoje só.
Eles não me ouvem e acham que não escuto, mas eu ouço tudo o que não deveria ouvir. E estas verdades mascaradas estão aqui dentro de mim, eu estou respirando. Hoje ela se foi e voltara mais tarde, se voltar.
Eu me dediquei e os punhais cravados em minhas costas ardem e pulsam, cada vez que eu respiro eu lembro e sinto a dor da insanidade. Da bagunça dentro de mim.
Livre-me das trevas reais, onde jamais um de vocês pisou, descanso, descalço, sobre a brasa incandescente do verdadeiro inferno, aquele que não existe como fugir nem fictícios deuses para lhe salvar. Eu interajo com minha lucidez enquanto você respira em inconsciência eterna.
Dentro de um cesto de cementes mortas, infectado, sem fé, sem crença no que me fortalece, vou transpor as chamas do escuro, liberto.
O que eu tenho a dizer são estes curtos lampejos de sanidade, quando eu me aventuro fora desta prisão sem muros. Eu queria matar, sentir o sabor de matar aquilo que me mata. Mas não seria entendi por ninguém, e a intolerância me julgaria sem serem dignos. Eu me aquieto.
Navegue por dentro da minha mente, nos espaços e rios que eu lhes permito passar, observe se é capaz de se tornar menos simples e mais sagrado. Hoje você respira por mim e eu por você.
Meu textos são soluços e respingos da gigantesca doença que me afeta, me consome, eu não tenho cura. Me tornei o que ninguém acredita, sinto os sintomas em minha pele. Meus olhos ardem e fecham.
Neste coma profundo onde eu renasço e morro, neste como vazio de vozes, de gritos, de vida. Eu vivo.

Pedido

Quero que a vida volte a me surpreender, que me levante aos céus ou me enterre no fundo do poço, mas que se faça presente. Nunca fui perfeito e isto está longe de eu me tornar, mas eu gostaria que fosse mais fácil. E não é. E me sinto crucificado.
Eu gostaria de ver todo o mundo, de recomeçar por novas trilhas, novos horizontes, deixando tudo que me faz mal. Gostaria que dias como os de hoje fossem o último, aonde eu não precisasse ir, nem vir, e nem fazer coisas que meu coração não manda. Hoje em dia vivo assim.
Só queria amigos que fossem amigos, que aceitassem o que sou e entendessem que os meus defeitos são pequenos perto da importância que já dei para eles, e que eles enxergassem que me fizeram perder a esperança de que posso tê-los perto. E recomeçar. Mas hoje eles me deixaram.
Uma família de verdade, escolhida e não imposta. Com aqueles que realmente te percebem. Que tornassem as coisas mais fáceis e não me fizessem viver dentro de um vazio, onde não existem aqueles com quem contar ou ancorar sua esperança. 
Uma nova vida, arriscando tudo, rindo e chorando, trazendo a esperança de que tudo pode ser diferente quando parece ser igual, e tirando de dentro de mim as forças que hoje não existem mais, pois sem esperança não existe sonho, e sem sonho não existe vida.
Queria poder me impedir destes transtornos que inundam minha mente. Poder viver das lembranças boas e ter certeza que foram válidas, e não que foram transformadas em pesadelos e arrependimentos. 
O caminho para sair daqui é longo, é duro, é feito de tristezas, e eu não sei mais quem se importa. 
Tem sido tão frio, é só olhar no meu rosto, e ver o quanto a vida drenou em meus olhos, e quantos sorrisos eu dou, sinceros, enquanto sigo em frente em um caminho que não escolhi. Aquilo que estão tendo de mim são apenas o reflexo de todo a decepção que me deram. E eu não finjo.
Só queria deixar algo a ser lembrado quando eu me for, subitamente, enquanto todos estão olhando para os lados fingindo não me ver, como agora. Que pelo menos algo fique eternizado, como lembranças de um tempo que não volta mais.
Hoje procuro pelo que um dia já encontrei, escapou entre meus dedos ou realmente nunca agarrei com gana como deveria, mas que se foi. Estes transtornos que pouco importam aos outros, que eu me lambuzo enquanto tento entender, não existe fim. 
Será que um dia deixo este lugar, apagando as marcas, criando outras, sendo necessário, importante, entendido. Eu errei em não ter aceito que deveria ter pensado mais em mim sempre, errei por não aceitar egoísmo, por não acreditar em ser falso, em pisar sobre quem estava embaixo. Por ser bom demais.
Quero que exista ao meu lado quem me ame por enxergar isto tudo que digo sem eu precisar dizer, e que me dê as mãos e caminhe comigo, enfrentando todos os vales e abismos escuros, sem medo por justamente estar junto, por acreditar que o que digo realmente é para sempre ser melhor, sempre trazer a verdade e a paz. Que se realmente me amar eu serei capaz de enxergar, pois não são as palavras que unem as pessoas, mas os atos. 
Quando este capitulo da minha vida se encerrar, eu vou lembrar do quanto sofri por passar por ele, acreditando que novos e bons dias virão, para compensar as trevas que recaem sobre mim. Hoje realmente é frio, é morto, é doente. Uma doença que espero me curar.
Então é assim, hoje respiro fundo ao abrir os olhos esperando por coragem e um renascimento, e acreditando ainda em mim, porque sou o único capaz de me fortalecer quando as portas se fecham, e aqui dentro só existe eu. Apenas eu.
Quero que a vida volte a me surpreender, que me levante aos céus ou me enterre no fundo do poço, mas que se faça presente. 
Este é meu pedido.









Sapato Preto III


As vezes me persegue, tira meu sono, minhas paz. 
Principalmente quando escuto aquela música que me remete a algo que vivi contigo, que um dia foi dito que aquilo nos representaria, que seria sua música para mim.
Hoje não vivo da tentativa de estar ao seu lado, nem quero, mas vivo dos porquês de termos tido história. 
E vivemos assim, criando nossos universos e colocando paginas e personagens dentro deles, sem saber ao certo como sair depois, como se livrar de tudo que nos aconteceu.
Só Deus sabe porque brigamos tanto ou nos tornamos amantes tão vorazes, e só nos sabemos o que vivemos naqueles dias que nao existiam a mais ninguem. 
Hoje eu talvez me arrependa das vezes que fiz você sofrer, mas não sou perfeito aos seus olhos e nunca seria, dei apenas o melhor que pude nas vezes que tentei ser o melhor pra você. E eu remexo nas memorias e procuro te achar, apenas para sentir que ainda se mantém viva dentro de mim, e que todo o tempo que vivemos não se apagou, por mais difícil que seja lidar com a ação do tempo.
E eu sou ruim em esquecer, em matar dentro de mim o que um dia foi mais importante que tudo, mesmo você nunca tendo enxergado isso. E nunca tendo aceitado que não existiria outra da mesma forma, porque não existia mesmo.
Da próxima vez eu acerto nos passos que dou e conseguirei salvar a mim , e talvez a você. Eu acredito que devo pagar, aprendendo com estas lembranças.
Agora que já não existe mais, que estes versos retorcem minha mente iludindo minha razão e fazendo perceber que realmente tudo se foi, eu registro, pra que fique explicito que dificilmente eu mato alguém como você, mesmo porque não é isso que quero. 
Não quero dizer adeus dentro de mim. Memorias permanecem.Porque eu plantei em você a esperança de tudo aquilo que sempre sonhou, mas falhei, como homens falham. Mas mesmo assim acredito que lhe fiz, mesmo que por momentos feliz, pois você teve o mais real de mim. 
Eu hoje sinto falta de ontem. Sinto falta de tudo que não tivemos. E provavelmente esta seja a maior prova de que eu me importava, enquanto você não enxergava o meu jeito de te construir. Te amar.
Sei que hoje sua vida é outra, assim como a minha também é, e possivelmente você tenha conseguido tudo que eu nao consegui te dar, e que hoje é merecedora, por você e nao por mim. E que alguém te fez enxergar o amor de uma forma tal que eu fui incapaz de clarear e expor, mas isto realmente hoje nao importa mais.


Ainda lembro do dia em que cruzei meus olhos com os seus e apostei que seria no mínimo especial. 
E foi.

Quero A Verdade

Nos atos, nos abraços, nos sorrisos que me dão, nos sorrisos que eu dou. Pessoas.
Naquilo que vejo, naquilo que sinto, nos homens que podem mandar, nas palavras que leio, e nas mulheres que posso amar. 
Quando acordo, olhar o céu e voar, livre sem amarras, pra onde o nariz apontar. 
Nos sentimentos que reparto, que absorvo, entrego de corpo e alma, sem medição. 
Nos olhos dos outros, principalmente que me encaram, que me medem, me seguem, tentam me atrair e me distrair, de pessoas que acredito sem crer. 
Em cada dia que precisar trabalhar, lutar, superar, viver aos tropeços.
Vinda da minha família, que ela seja a mesma, sem remendos, sem futricas, fofocas, separados ou juntos, perto ou longe, com aqueles que quero comigo. 
Nas minhas conquistas, nas batalhas que travo sem divulgação, nas reclamações que faço, que são aceitas ou não. 
No meu dia a dia.
Dita na cara, direta e reta, que pode ferir ou doer, juntar ou perder, mas que seja feita sem mentiras.
No meu destino, superando ou errando, passando perto, deixando longe demais, não vendo detalhes, mas só meu.
No amor, naquela que me ame, que se entregue, lute, descabele. Releve detalhes, entenda problemas, supere vontades, aprenda e ensine. Não espere a perfeição.
Cada vez que precisar perguntar, entender, questionar o porque, transformar o errado em certo, liderar e ser bem liderado, em vencer.
Ao sorrir, não aqueles amarelos, comprados, sem força pra ser aceito, sem malícia pura ou alegria natural, dos meus lábios ou seus, dos nossos.
Quando ligar para mim, dizer que faço falta, me chamar para sair, ou para simplesmente me ver, sem razão ou necessidade, sem motivo algum, mas que apenas queira.
Aqui, no que digo, nas letras que imortalizo, que faço parte de mim sem medo de dizer, expondo e cravando pra sempre.
Vinda do coração, da alma, de onde não podemos mentir, nem por força ou decreto, nem por nada.

Quero a verdade sempre que precisar mentir.


Escuro

É no silencio onde escuto mais dentro de mim. Cada batida no meu peito, suspiro e calafrio. Aqui dentro é insano e hipnótico, sem nenhum controle.
Nesta quietude eu transponho a razão e me torno imortal, sem medos ou traumas, sem o sabor da derrota, nem tampouco o conhecimento da vitoria.
Um espaço neutro, analítico, constatante, sem ninguém por perto.
Se fecho os olhos é para buscar caminhos, trilhas, luz. Aquele pequeno ponto de esperança. Se me livro das dores me vejo órfão, seco, inerte. Talvez ela me alimente, me deixa nao desprender do que sou, daquilo que preciso ter dentro de mim.
Neste silencio onde escuto só a mim, não há conversa, há entrega. Sou o dono do meu choro, triste, alegre, real. Sou meu juiz e réu, minha sentença branda ou pesada, minha auto ajuda ou meu suicídio.
Questiono todo tempo, não aceito o obvio, não acredito. A frieza que cultivo hoje foi forjada pelas marcas cravadas ontem, e ninguém se livra de cicatrizes. Elas denunciam você.
Aqui dentro é insano e hipnótico. Talvez um dia eu te leve mais a fundo, além das palavras que digo, além desta degustação do que posso ser. Te convide a alcova melancólica que me preenche, buscando o incontrável, sugando cada energia em minha alma.
Se desperto sem razão, enquanto todos dormem é porque existe razão. Que eu devo tirar de mim o que sufoca, engasga, esgana. São gorfadas de inconsciência racional, que eu externo para que fiquem bem claras e nítidas. Aqui eu estive, estou ainda, e viverei assim pois assim devo viver.
Enquanto este silencio me consome, eu respiro e transpiro, preocupado comigo, mas já me aceitando melhor a cada dia.
Meu universo é mudo e escuro, as estrelas que aqui habitam ainda não morreram, apenas o sol.


Sou

Esta mente conturbada, que não aceita o óbvio, desconfia do certo, deteriora a regra e mata. Enxergo o que não deveria, tiro de você o que não gosta, te faço sofrer por saber que realmente eu acertei. Minha mente, meu mundo, um universo desconhecido aos seus olhos, de onde eu vejo o inferno onde vivo, as mentiras que convivo, os detalhes ocultos. Eu estou cansado desta incompreensão, destes seres que rastejam ao meu lado, com seus atos podres e desgastados. Um mundo oco. Não sigo regras, as tolero, pelo tempo que achar necessário, não me doo aquilo que não acredito, e não me entrego ao que você acha correto. O que vejo são objetos sem vida, sobrevivendo por necessidade, sem vontades ou força interior, aceitando e concordando, isto me assusta.
Tudo aquilo que odeio reflete dentro de mim e me machuca. Não posso suportar sem gritar, apalpar e apenas dizer que nada é errado, eu preciso absorver e explodir, doa a quem doer, no fim eu preciso sobreviver à você. E muitos como eu estão a solta, transformando mentes e livrando os poucos que querem se livrar deste nojo que nos cerca, de um mundo sem vida.  Mantenho a ferida aberta para que eu possa faze-los sentir dor sempre que eu precisar, para que acreditem que existe o outro lado, um desconforto sem piedade, você não compreende. 
Vivo dentro de um lugar morto, olhos sem brilho, atos sem nexo, propósitos destruídos, eu apenas passo por eles, cegos, sem questionar nada, indo e vindo. Lutem! Eu libero toda minha insanidade racional, que assusta você porque foge a regra onde você descansa. Nascidos mortos.
Dia após dia continuo fortalecendo aquilo que cultivei a anos, seguindo meus mandamentos, cuspindo em falsos profetas, religiões mundanas, sociedade doente, onde ratos se alimentas de ratos. Vocês não podem tirar minha alma de dentro de mim. 
É trágico e engraçado, uma diversão dolorosa. Aguardo os dias que atuo passarem, enquanto isso contribuo com a desordem em sua mente, quebro as amarras pouco a pouco, pacientemente. Logo mais não precisarei de nada disto, nada faz sentido, um pesadelo com começo, meio e fim. Hoje mais que nunca vivo sozinho, trazendo comigo apenas quem é capaz de aceitar, que tem coragem de navegar por aguas desconhecidas e turbulentas, que não vê o mundo com os olhos que todos vêem. Te trago comigo, e se você for forte, restará. 
Palavras sujas, inconstantes, singulares, sem sentido com sentido forte, confusas que te fazem se perder no caminho, esta é a razão. Um laço desfeito, um pedaço daquilo que repousa dentro de mim, local onde cultivo minha alma. Onde você jamais vai poder estar. 
Eu sou minha psicose.

Cada Vez Menos

A vida pra mim tem que ser vivida. Tem que ser magnífica e esplendorosa. A vida tem que te dar mais motivos pra sorrir que para chorar, mais dias que passam rápidos por serem intensos que aqueles que se arrastam por serem patéticos. A vida pra mim não tem desculpas, não vale ser por ser, não é digna se não haver motivo, e não me encanta se não me encantar. 
Não aceito e nunca vou aceitar que estar vivo por estar é belo. Quero que seja único e perfeito, que libere de mim tudo aquilo que mereço, e não só viver por viver. Isto não basta, não me conforta e não me faz melhor. Quem dirá feliz.
Prefiro a morte que uma vida de decepções, de lutas em vão, de desafios que não se concluem, de metas que não são atingidas, de quase vitórias. Isto pra mim não é vida, é carma, é apenas tentativa. Isso não me deixa em paz comigo.
Posso aceitar e sempre aceitarei o que a vida reserva pra mim, mas isto não quer dizer que vou aceitar e ficar quieto. Eu espero mais de você, vida. Espero que me deixe concluir os sonhos que tive, os desafios que crio, subir os degraus que enxergo a minha frente. Eu só exijo o seu respeito, da mesma forma que os outros respeitam você, porque eu as vezes te detesto.
E a cada tropeço que você me dá, justamente na hora em que estou prestes a conseguir, eu te detesto mais ainda. Sem remorso, sem pecado, sem medo de dizer o que penso. Se é pra ser sempre errada, que não seja, que tenha a dignidade de encerrar antes que eu encerre sozinho. Pois para os outros te admirar pode ser conforto, pra mim olhar por olhar é só comodismo. 
Eu continuo nesta toada, de pedaços de alegria e montanhas de dor, de momentos de glória e eternidades de fracassos. Não me interessa se pouco te faz feliz, se pequenos passos te fazem contente, eu repito e digo, eu quero mais. Sempre.
E eu vou sempre me cobrar, e cobrar as circunstancias, pois elas são sempre sinais, de que as coisas vão ou não acontecer. E eu prefiro tudo direto e reto do que estes pequenos lapsos de harmonia. Se é pra não ser então que aconteça de uma vez, eu to cansado. 
Eu to cansado de tentativas e erros, de sempre na reta final algo sair errado. Cada vez mesmo acredito, cada vez menos confio, cada vez menos sonho. 
Cada vez menos espero alguma coisa.

Erros

O que sei é que não posso esperar das pessoas o que eu espero delas. Devo aprender que elas não se dedicam à mim da mesma maneira que me dedico a elas. Do mesmo modo que acredito que devemos gostar de estar juntos, de querer se aproximar e de sentir falta. Talvez eu tenha acreditado demais que pudesse ter para sempre todos que eu gostei, e por isso hoje em dia me sinto inconformado. Hoje tento aceitar que ninguém realmente se importa mais com outros do que consigo próprio, e de que palavras apenas servem como alibi para um suposto desfecho egoísta e insensível. Palavras, só isso.
Hoje em dia questiono porque acreditei tanto em pessoas que nunca acreditaram em mim, e aproximei tanto pessoas que nunca estiveram próximas realmente. Sempre fiz testes, deixando ir, esquecendo um pouco, parando de procurar demais, para que por um momento recebesse algo em troca, um simples retorno e demonstração de que realmente eu faria falta, mas isto nunca ou raramente aconteceu.
Fui aprendendo e constatando um dos meus maiores medos, o de errar sobre meus julgamentos, sobre em quem acreditar e confiar, naqueles que posso contar quando não puder contar com mais ninguém. Ultimamente cabem em uma mão aqueles que realmente sinto que estariam ali caso todos saiam. E ainda assim, tenho duvidas se realmente estariam por completo.
Hoje me cerco de desconfiados, daqueles que não possuem a sensibilidade de enxergar além dos olhos, quando uma palavra forte é dita, ou quando uma critica é posta, de ver que o que procuro é lapidar um diamante bruto que poderia reluzir para sempre. Me cerco de pre-julgamentos infindáveis, daqueles que são julgados por serem culpados de julgue.
Longe de mim ser perfeito, nunca me julguei assim e nem sequer quero ser visto como tal. O que me difere dos demais é o simples dom de aprender mais rápido a não cometer os mesmos erros, e a não cometer novos erros. E isto incomoda demais as pessoas. Incomoda o real fato de não terem realmente motivos sobre os quais dissertarem sobre mim. Não possuo realmente algo digno de condenação, alguma coisa que realmente seja errada e maléfica. E isto realmente incomoda aqueles que precisam de alguma forma me nivelarem aos demais.
Não é um discurso egoísta e prepotente, mas que talvez soe assim pelo simples fato de verdadeiramente não existirem argumentos contrários, a não ser os criados intolerantemente e sem propósito nenhum a não ser discordar pura e simplesmente. Incomoda, eu sei, como me incomoda também a falta de tato da maioria em aceitar.
Talvez um dia eu durma tranquilo, refeito dos desgostos, aceitando mais que nem tudo eu posso concertar, que nem todos eu posso ter e que - infelizmente - muitos nasceram pra perder. Eu não aceito isso para mim.
E quando quero vencer, quando digo vitorias, é a parte que vocês menos entendem. Que quando digo vencer, é que procuro muito além daquilo que meu dinheiro alcance, muito além do que seus status e patrimônios acumulem. Vencer pelo simples fato de ter sido importante para alguém e inesquecível quando esse alguém fechar os olhos buscando ser melhor, ou querendo entender que pode ser diferente se você pensar diferente.
Para que uma nova porta se abra, outras precisam se fechar, mas tenha certeza de fechar as corretas, elas podem nunca mais serem abertas se você errar. Eu já errei em não fecha-las, e hoje em dia eu pago por isso.

Éramos

Quando os últimos dedos se tocarem, escorregando, se distanciando, de tudo aquilo que um dia foi real e sincero demais, estará terminado. E as vezes é melhor que as coisas terminem, mesmo que sendo dolorosas as partidas, eu não saberia o motivo de continuar. E eu questiono a razão porque vidas se encontram, constroem, e destroem. Porque aqueles sorrisos que um dia preencheram nossas almas com tudo de bom e perfeito se transformam em pesadelos e raiva.
Penso nas histórias que criamos, nos dias em que acreditamos que seríamos eternos, mas não fomos, como muitos outros não serão, você passou, e terminou. Um dia achei que você seria aquela pessoa que eu procurei por anos, batendo em cada porta, deitando em cada cama em uma luta constante entre ser amado e amar por desejo, desejando cada vez mais por não desejar ninguém. Mas você passou.
E o desgaste da minha frustração é a certeza de que um dia você partiria e eu não mais saberia da sua vida, do que você faz pra viver e do que você ainda vive sem mim. Se nos tornássemos amigos não seríamos amigos pois não acreditamos em nós mesmos. Mas não nos tornamos nada. 
Eu recordo com dor e dúvidas as histórias que criei, talvez eu devesse ter esquecido você, como esqueci ela, e aquela outra, e todas aquelas que um dia não foram realmente historia nenhuma. 
Mas hoje eu sou um homem, e não mais aquele menino criando histórias sem fim, alimentando corações que não suportam o peso da minha alma, e que não são capazes de lidar com a fúria das minhas verdades. Hoje eu lido melhor com o desapego e menos com acreditar em rostos bonitos e sofrimento alheio. Eu resisto a mim para resistir a você.
E eu não cito você, não cito ninguém, cito as palavras que disse e as vidas que vivi tentando viver uma eternidade, e trazendo ao meu lado quem quisesse caminhar, e hoje vejo que poucas puderam ter de mim o que eu sou. O que termina, o que morre, o que apodrece por não ser cultivado, é enterrado.
E hoje em dia eu não posso mais manter do lado aquilo que me faz mal, e hoje em dia eu não posso mais pedir para que você fique, pois eu não posso ficar com você, com mais ninguém. Os tempos pedem que tudo vire e se torne correto e reto, sem desvios e recaídas. Me livre e se livre de mim.
O melhor em nossas vidas, que caminhem por caminhos separados, que aceitem que fomos importantes um para o outro enquanto um para o outro foi importante, e é hora de dizer adeus a mim mesmo. E quando eu conseguir dizer esse adeus, e fechar a ultima porta, eu vou poder olhar para frente. Só para frente. Das lembranças que guardo comigo, crio amarras que me impedem de viver. 
Eu peço que parta antes...

Cativo

Hoje em dia vivo preso, cercado, como uma fera acorrentada sem ter para onde fugir. Hoje em dia são os mesmos sorrisos e abraços, apertos de mão e cansaço. Daqueles dias que se clonam, repito os versos, atos, gestos, sem ter pra onde fugir. 
Me mantenho ileso, por fora, por dentro murcho, esvazio a esperança e sufoco a lembrança, de onde eu vim, de onde eu sou, porque eu quero e por quem eu vou. Hoje não sonho, não idealizo a verdade que ecoa do meu peito, calado e mudo, surdo e sem voz. 
Dias sem noites, espaços ligados, perdendo a razão do tempo, do propósito vital, da alegria em sorrir, liberdade em viver, em sentir tudo aquilo que mereço por ser merecedor. Pratico aquilo que odeio, pago o preço porque tenho que sentir na pele, tudo que digo.
Hoje cativo, manso, talvez domesticado por hora, hoje meus afagos não aguentam a pressão. Humilhado, subestimado, passo de predador a presa diante dos meus olhos. Nunca desisti tanto de mim.
Jamais me doei tanto as mentiras que acredito. Nunca tolerei tanto as almas sem vida que me cercam, e todas as falsidades que vejo sem querer ver. Nunca foi tanto tempo que nunca se tornou real, e nunca parece terminar o que não gostaria, mas começou.
Me vejo em meio a um labirinto de passagens marcadas. Um caminho que conheço a saída e a entrada, e todos os defeitos e sombras que me cercam. Eu não saio porque não quero, me perco porque preciso, me escondo porque quero. Dentro daqui nada nem ninguém sobrevive.
No meu mundo, ninguém existe, ninguém transcende, ninguém me fere ou destrói. No meu mundo, você não existe, não dita regras nem aponta erros. Simplesmente se dissolve ao vento, evapora e desaparece. Aqui eu subtraio você.
Meu pequeno momento de martírio e dor, de angustias retraídas e feridas abertas. Eu compenso um lado e destruo o outro, e dentro deste redemoinho apenas eu. Eu não suportarei por muito tempo, pois não vivo o que acredito, não assumo perder, e não nasci pra estagnar. 
Se as vezes me pego na dúvida, na angustia da dor, incertezas e vazio, me retraio e busco minha alma. Se de noite, no silencio onde você jamais esta, eu grito, rasgo meu peito tentando me achar, uma luta sozinho, eu por mim.
Eu me vejo onde você se esconde, nega sentir o que sinto, proíbe sua alma de respirar. Eu aceito meus carmas, meu legado e registro cada passagem, cada momento que minha mente me transporta fora daqui. 
Desses dias eu tiro a ganância, a disputa por nada, a rebeldia inconsciente e insana pela conquista do fútil, das mesquinharias e restos. 
Hoje mais que nunca valorizo meu dom de sentir dentro de mim quem eu sou.

Pro Inferno

Com esses dias, que não passam, não desaparecem, não me ajudam a crescer. Que diminuem meu eu e sacrificam minha existência. Com tudo isso, que me consome, maltrata, fere e me mata. Com esse bando de doente, que procura sucesso em futilidade e dinheiro. Que criticam por odiar e não compreender, por não poder aceitar nada além do que é imposto e enlatado. Com quem não sabe o que sou, não conhece o que fui, e subestima o que serei.
Pro inferno sua vida, sua tentativa de ser melhor sendo esperto e petulante. Com sua soberba na tentativa de me rebaixar, de ostentar suas conquistas primarias e seu dinheiro sujo. Eu ainda assim resistirei as tempestades. Com seu medo de encarar as verdades, sua falsa vida perfeita e seu relacionamento falido, maquiado aos olhos dos outros e podre na intimidade.
Com tudo isso que eu estou passando, que vai acabar, que vai provar mais uma vez pra mim que o que importa é a paz espiritual e não o castelo de areia que você cria pra exibição. Com minhas dores, que servirão de alerta pra não mais repetir os erros, aprender e continuar da forma correta.
Pro inferno com toda essa falsidade e essa forma suja de vitoria. Essas pequenas vitorias. Com o que você pensa de mim e me julga sem entender, sem aceitar e acreditar que eu posso o que você não pode, pois eu sempre vou poder, diferente de você.
Com meus medos de tentar, de mudar e aceitar que a cada dia eu sobrevivo a tudo aquilo que não deveria. Com essa raiva, que consome, que envelhece, que entristece.

Pro inferno você, e tudo aquilo que eu sou pra pra você hoje e sempre.