Término

2015, que você fique pra trás. Que leve consigo lembranças que não precisam ser lembradas, e deixe que eu colha os frutos do hoje, amanhã.
Você me ensinou que não existe perfeição. Que saltos muito altos podem ser catastróficos. Que não existe amor onde não existe verdade. Que amor de pai, de mãe, de família, é pra sempre. Seja da forma que for. Que na vida arriscar nem sempre é vencer, e que nada se constrói sem base, força, sinceridade e complacência. 
2015, você provou pra mim que posso lutar, posso vencer, posso perder. Que resisto as mais duras pancadas, as maiores rasteiras, e por mais que eu derrame lágrimas de frustração, amanhã é um outro dia. 
Você começou me destruindo, me arrancando do peito toda esperança, e todo orgulho. Me pôs no chão. Me bateu na cara. Me mostrou que é preciso sim história pra se fazer história. Que pessoas mentem, iludem. São frias e egoístas, e que eu não deveria ser precipitado, ou devo?
Porque essa mesma "afobação" fez você me mostrar um novo caminho. Pode ser que já estivesse ali, e eu cheguei à ele, por vias conturbadas e confusas, mas cheguei. 
2015, você foi maluco demais. Me tirou de casa, me mandou pra longe, me envelheceu. Me mostrou nuances que eu evitava ver, pontes que eu contornava sem passar, e me amadureceu.
Depois me trouxe uma pessoa maravilhosa, lutadora, guerreira, maltratada pela vida e suas armadilhas. Me fez responsável por ela. Que eu lute junto, batalhe, sofra e por fim seja feliz. Mostrou que é possível preencher o coração vazio muito rápido quando se tem um sentimento sincero e verdadeiro. Me fez apostar e eu apostei. Sem arrependimentos. E ela é hoje uma das razões do meu viver. 
Você me fez aprender a construir à dois. Me mostrou que ser homem é realmente difícil, e eu sempre havia tentado evitar, me mantendo garoto. Me obrigou a mudar, a entender, a compreender, e a principalmente ceder. Deixar pra trás o que não é relevante à felicidade.
2015, bateu forte, e ainda está batendo. Nos testando, pregando dolorosas adagas em nossa esperança, mas não nos matando. Transformando este ano em um ano de provações pontuais. De você tiraremos lições valiosas pro que vem pela frente. Você foi cruel, mas sagaz. Um pai que bate querendo ensinar. E ensinou.
Que tu fiques pra trás, pois eu, nós, não podemos apaga-lo de nossas vidas, mas podemos te-lo como referência, de certo, de errado, de mentiras e verdades. Exemplo.
Quando você se for, não direi até logo, saudades, ou sinto muito, direi ADEUS. 
E que eu inicie 2016 cicatrizando suas feridas e construindo por sobre sua base. 

Você terminou, eu comecei. 

Não Sirvo

Eu não sirvo pra nada. Nem pra ninguém. 
Eu construo e destruo. Começo e termino. Faço brotar a vida mas não sou capa de rega-la. Ela morre. E eu morro mais um pouquinho. 
Não importa o esforço que faço, não importa as mudanças que sofro. Lá na frente tudo ao meu redor desmorona porque nada nem ninguém é capaz de cravar firmes alicerces. São castelos de areia. 
E no fim eu sempre sou julgado, maltratado e condenado. Nenhum dos meus esforços é salvador. E sempre foi assim. 
Quem está certo? Quem está errado? Eu erro sempre que tento acertar. Mas quem eu deveria ser? O que eu deveria me tornar?
Eu me perfaço todos os dias em busca de uma paz que só existe em meus sonhos, enquanto tudo ao meu redor é sustentado por tolerância, não por vontade. 
Existe algo que não posso enxergar, e talvez eu nunca enxergue, pois ninguém vê com os olhos dos outros. Eu engulo todo meu orgulho e perguntas, mantenho tudo distante para que haja algo real, e parece que vivo encenando dentro de um reality show. Porque? 
O que seria de tudo se simplesmente eu sair andando sem olhar para trás? O que pensariam de mim e que conclusões trariam? 
Não adianta o quanto amor eu sinta, nunca é visto. Porque pessoas tendem a amar da mesma forma, e só esse amor é válido. Mas essa receita nunca foi sucesso. Nunca. 
Se eu pudesse mudar tudo para que nunca houvessem detalhes errados, eu o faria. Mas a perfeição esconde defeitos invisíveis. E as máscaras caem quando se desprendem. 
Enquanto eu luto, quantos lutam por mim? Quantos perguntam se estou feliz e vivo? Se a realidade me sufoca ou me faz bem. Quantos por aí desapareceram assim que eu apareci. 
Ou tudo se acertará ou tudo dissolverá. Eu segurei tempo demais. Eu tive forças tempo demais. E se elas não foram suficientes, eu nada posso fazer. 
Não serei perfeito, porque perfeitos mentem. Não serei falso, porque falsos escondem verdades. Não serei outro, porque não consigo nem ser eu mesmo.
Agora estou aqui, tão distante, tão só, ponderando todos os passos e todos os esforços. Enquanto todos sorriem, enquanto todos aprenderam como ceder e viver. 
Daqui vejo tudo, vejo começo, meio e fim. 
Se tenho tantos erros, se sou um poço de defeitos, não me engane mais. Me deixe chafurdar nos meus próprios pecados e aprender mais um lição. 
É só mais uma ferida que terei que cuidar...

...e se de nada valeu todas as vezes que te abracei, e te disse tantas coisas verdadeiras.  Não, elas não valem nada. Porque eu não valho nada.

Um Dia

Havera um dia em que deixarei de tentar. Talvez por força da vida, por desistencia da fé. Será um dia muito triste. Não ouvirei ninguem. Não verei ninguem. 

Quem sabe eu deixe uma nota, um bilhete a mao, um recado especial à alguem especial. Ou talvez me prenda em um silencio conturbador, revelador, e um filme passe por minha mente enquanto me dispeço especialmente de mim, e de tudo que eu lembrar de ter vivido, visto, ou feito. 
Espero que poucos sofram, talvez por isso me distancio cada vez mais de cada vez mais. Que meus próximos não sofram pois eu não lhes culpo de nada. Eu sou o culpado de mim mesmo. Do meu caminho, do meu sofrido fim, do meu destino. Vocês não. 

Havera um dia em  que todos os outros dias que me tiraram a paz se tornaram realidade. Eu não pensei nisso hoje, nem ontem, mas sim constantemente. Reluto e luto pra estar aqui, esmagado, esfolado, prensado de dentro pra fora. E toda essa pressão é fisica e mentalmente assassina. Suicida. 
Eu não quero viver as sombras e sobras. Não quero ter o remorso nem a compaixão, sem louvos. Sou gigantesco demais aqui dentro. Eu sempre inconformado comigo. E quem vive assim? Chega de perguntas. Respostas não existem, soluções se dissolvem, esperança caduca e apoiada em muletas. Uma vida quase que toda dementia. 

Havera um dia, só um, em que ninguem mais me convence de continuar. Um único momento em que tudo ao redor sera tão futil quanto tudo que se passou. E eu não vou chorar, não vou esperniar, não vou me arrepender. Porque este dia é fruto de dias que não existiram e que ninguém percebeu. Ou se o fez, em silencio, nao convenceu. Mas eu também, se não me convenci por mim, não sei se alguém o faria, se haveria razão.
Neste dia eu não pedirei desculpas, nem perdão, eu direi apenas adeus, e que se lembrem de quando eu conseguia sorrir, ou de quando eu acredita em mim e em vocês, ah, que saudade desses dias.

Havera um dia em que eu de tão cansado, resolvi descansar. Não se revolte comigo, eu já o fiz. Não sofra mais do que deveria ter sofrido durante a minha passagem, eu também já o fiz. Neste dia tente apenas confortar-se e confortar. 

Eu entenderei a sua dor, mas ela não foi um dia sequer como a dor que me levou.

Rascunho De Vida

Não há nada que eu faça que rebusque meus erros. Não há perdão. Não há cura. Como uma maldição que desafia o tempo, os atos, as promessas, as propostas, o amor, o viver. 
Eu respingo a tristeza de não ser perdoado por nada que fiz, que fui, que vivi, que criei. Sentenciado a um doloroso e tenebroso caminho. Craquelado de cicatrizes. Marcado de desilusões. Sigo rastejando por este meio fio, sendo julgado e açoitado, derrotado e erguido, pronto para mais um tombo. 

Como tirar marcas que se fazem cravadas na alma? Como derrotar um inimigo invisível aos olhos mas presente no coração? Como ser eu mesmo, sem ter chance de ser quem sou? Não há perdão. Todos meus atos são à prova. Dia após dia, noite após noite. 
Quanto somos capazes de aguentar até nossos joelhos dobrarem, e não tivermos mais forças pra seguir, mais foco para olhar adiante, mais esperança que nos move. Quanto somos capazes de aguentar até a desistência? 

O meu rascunho da vida é feito de perguntas, de rabiscos inacabados, de promessas doadas aos que não sabem prometer, de lutas por vitórias e vitórias sem luta. O meu rabisco de vida é borrado, torto, indecifrável. Quem olha não lê, quem lê não compreende um traço.

Sou forte. Sou bastante forte. Sou um desgraçado que insiste na ilusão que minha mente cria. Sou doador de esperança à quem procura por tal. Me abrace, acredite, e siga comigo. Eu tento mais que temo, eu arrisco mais que espero. Eu me entrego sem medo de não ter a entrega. O que resta de mim, é o que eu preservo.

Rabisco novos contornos, novas páginas. Escrevo certo mas transluz estranho. Ponho tudo que penso, tudo que acredito. Sofro sozinho, pra que você não sinta o sofrer. Rascunhos e páginas em branco. Uma nova história, um novo capítulo em um livro deteriorado e cansado. 

As vezes paro e penso em desistir. Eu queria. Mas querer não é mais forte ainda que eu. Eu as vezes paro e penso em quão cômodo seria se nada mais existisse em frente meus olhos. Um tenebroso e apaixonante luto, um escurecer infinito, um descanso de tudo que eu tentei na vida. Essa vida que me faz refém, que me toma como propriedade e não me deixa escolha, nenhuma escolha.

Quando todas as tempestades cessarem, haverão escombros, e deles tudo aquilo que um dia foi história, será passado. Sem vestígios, sem pistas, sem marcas, sem rastros do que um dia foi chamado de mim.

O que escrevo são lampejos incertos do que deveria ser meu mundo. 
Incompreensão.


Batalha

O que existe é um erro constante em ser eu. Uma sina, carma, maldição. O que existe é um limite entre a luz que salta aos olhos e a escuridão de onde não posso sair. Sobrevivo, vivo, sobrevivo, perco. Eu não pertenço ao que mesmo acredito.
Procuro ser o mais ponderado possível. Relevo, transcedo, dôo, desisto, perco. Mas não encontro as fórmulas que equalizem o meu viver. Por onde anda a simplicidade e a cumplicidade? Por onde anda o aceitar?
Sou testado dia após dia, diante do meu eu desgastado e semi doente. Diante de inverdades e fúrias repentinas que me cortam a alma, me ferem o coração. Eu sofro calado, como se compreendesse a incompreensão.

Meu amor é turvo e constante. É braile em um mundo de provações. Existe sem existir, se é sentido sem agonia, sem fúria, sem necessidade de existir, é tão forte que me tira a vida, me leva ao limite. Mas nada, nada é suficiente.
Sou um acaso descaso da vida, um relutante problema que vicia aos próximos e mata os que se apaixonam. Sou um leigo que me deixo crer. Um mero telespectador de meus capítulos.
O que existe é torturante, viciante, contundente, lacivo e vivo. O que existe, se consegue enxergar, é imenso e infinito, tênue e forte como diamante. Não desprende.Não degenera. Não destrói.

Mas o que você vê? O que falta pra ti? O que tiro de mim lhe é dado, doado, suado. Eu não vivo sem viver com você. Cada escolha é pensada e tomada sem relutar. Há razões. Há motivos. Há amor.
Eu ando sofrendo na escuridão do meu peito. Sofro por não poder tirar seu sofrer. Por não ser maior do que sou, e lhe jogar ao infinito. Sofro ao inverso buscando saídas pra tudo que quero ter. E gostaria de ter ao seu lado. Como foi escolhido e dito.

Não há vitórias sozinhas. Glórias sem mãos dadas. Não há razões sem motivos.

Eu permaneço pulsante e presente ao seu lado, e assim será, pois está é minha maior batalha.

Hoje, e amanhã.

Fazia um tempo que não passava por aqui, sei disso. Talvez não haja gritos a serem ouvidos agora, e o silêncio é a representação do que sinto.
Ando como telespectador de mim mesmo, de olho no que a vida me oferece, me cospe na cara, ou me tira. Ando passivo eu sei.
Já não anseio por respostas que acredito não virão. Não há fórmulas, não há certezas, não há planos que certamente darão certo.

Disse há um tempo atrás que havia desistido de mim, e de tomar porradas por projetar vidas que não posso viver, sonhos que não posso realizar e histórias que não podem ser vividas por mim. Disse isso, e com todas as razões do mundo pra tal. E o que nunca termina no entanto são as provações. A vida me passando a rasteira. Eu sendo refém da minha própria existência conturbada. Em conflito com a realidade que precisa de paz, que precisa se estabilizar.

Tive inúmeras vitórias nestes anos, as guardo no peito, lugar de onde só saem se eu permitir, e não escorrem pelos dedos como tudo que conquistamos e perdemos material. E se eu não me curar, a vida vai me impedir de sorrir de novo.

Hoje eu só quis chorar. Talvez o choro de algumas décadas, de uma parte de mim. Da ausência, do inconformismo, da saudade, do erro. Das minhas escolhas conturbadas. Da angústia de simplesmente chorar. No silêncio do quarto, sentado em um canto, procurando respostas. Hoje eu só quis chorar.

E não tenho mais forças pra outra derrota. Não tenho mais pulsos em meu peito que me ergam de um fracasso. Eles superam na dor. As tempestades vem e vão, destroem o que criamos mas não os alicerces. Deles preciso paciência e sabedoria, mais que anseio e afobação, pra me reerguer. Com ajuda, apoio, companheirismo, fé e confiança.

Erro as vezes como todos erram um dia. Sofro as consequências, e delas pondero meus atos e caminhos. Filtro a vida como ela me filtra...

...enfim.

Estive por aqui, meu canto secreto. Espaço pra deixar marcado o que era invisível. Espero que um dia eu desapareça por completo, deixando lembranças de quando tentava achar o caminho sem espinhos ou obstáculos.

Talvez eu logo o encontre. Só depende de mim, só depende de seguir enfrente. Só depende de se deixar viver sem amarras.
..
...
....
..... Até mais.




Sucumbir

É difícil pra maioria enxergar o próprio fim. Não pra mim. É sufocante e ao mesmo tempo didático. Não há barreiras além do resto de consciência que te arredia e te segura. Mas não pra sempre. Chegará o dia. Chegará o fim.
Não é justo que alguém carregue o peso imenso deste fardo que sou eu. Ninguém merece sofrer a vida dos outros. O destino dos outros. A maldição dos outros. 
Você nasce pra sua morte. E ela virá da maneira pré-destinada, sem aviso, sem alarmes, sem explicação. E sem escapatória.
Esses dias atrás me aproximei do seu encontro. Segundos me tiraram da frente, é, ainda não era a hora. Flerto com ela, e me vi assim, sem nada que me impedisse, sem nada que me prendesse. 
Naquele momento toda a vida esbarra e te arranha, tudo que foi visto, vivido, passado, sentido. Te coloca em uma balança de verdades, mentiras, e perdão. Eu não me perdôo. Talvez nunca o farei. Nem mesmo sei do que deva me perdoar. 
Eu não terei tempo de me desculpar daqueles que eu deveria faze-lo, nem me lembro mais. Talvez alguns me devessem desculpas, isso sim. 
Sei que pra você esta sendo pesado, cansativo, difícil, sem querer sufocante. É, não é fácil viver próximo à mim. Exige batalhas e longas e profundas respiradas. Acredito na sua força. Ainda acredito. 
Pois não sou de todo mal. Quando eu partir, sua lição ficará. Lembranças não dissolvem quando foram sentidas na pele, no peito, dentro de ti. Você terá seu tempo de lembrar e sorrir, assimilar, e compreender um pouco mais sobre a minha passagem duradoura. 
Enquanto esse tempo não vem, eu estou aqui escrevendo mais um pedacinho do fim...

Escorrendo

Desta forma, que as palavras se escondem, o silêncio me cala, me acua temendo o que não posso entender. É um anestésico natural, sistema de defesa, um véu que cobre a alma quando o desespero se prolifera.
Passo dias sem pensar, enquanto eles me consomem, eu fico a deriva sem norte, me arredio e me revolto no escuro. Nenhuma saída me tira daqui, são infinitas entradas, infinitas passagens.
Mais de trinta dias que não me deixo sangrar, que não permito ao meu peito explodir em revoltas e incertezas, palavras estas que uso tão frequentemente, que se tornam redundâncias macabras de um disco riscado, um looping infinito neste espiral de sofrer.
Ninguém aqui é convidado, ninguém aqui quer ficar bem, aqueles que aqui se encontram fazem parte de um juri sem réu, um processo de condenação por ser aquilo que sou, e refletir em vocês, e nada mais que isso.
Ando a procura de tudo que sempre quis, releio catástrofes, recrio cenários, assassino os bons, e replico os maus. E assim vou me reinventando, me suprindo das migalhas que a vida joga, e me suborna a acordar mais um, e mais outro dia, e assim por diante.
Quantos de vocês gostariam de gritar? De renascer do avesso com tudo aquilo que não te deixa feliz, no lixo. Quantos engolem seco uma vida sem propósito, pelo simples fato do propósito ser a vida, e não a vivência. Se você se encontra em pedaços daqui, é um fragmento de tudo que sou, e um bocado de você, que não se deixa livrar-se.
Convivo hoje com uma realidade aleijada, parte excelente parte deplorável. Arestas a serem aparadas, espinhos arrancados para que floresça a paz. Tão tão difícil paz.
Talvez você acredite ser capaz de entender cada linha de tudo que eu deponho. Talvez você recrie fatos pessoais e me transporte pra dentro de um universo só seu, onde eu não pertenço, a não ser por detalhes egoístas.
Eu ando bem preocupado com tudo, nenhum novidade. Turbilhando a mente a procura de respostas sem solução, olhando pra frente só.. bem lá na frente, imaginando que um dia eu saia de todos os labirintos que existem aqui.
Meus gritos são antigos.. volte e veja porque hoje estou rouco.

Ouça-me, aqui.

As vezes me pego com saudades de mim. Deve ser o tempo, que levou boa parte disto e outra se perdeu, dissolveu. Eu sei porque busco na memória, e ela me trás pitacos sutis de um outro eu. Nuances daquilo lá atrás.
Minha mente, resguardada, flamba-me todos os dias, com um pouco de medo, de coragem, de certezas e dúvidas. Desvaneios.

Se a morte é mudança, quantas vezes morri. Desatei meus nós e criei belos laços. Bonitos por fora mas fáceis de se soltar. Eu gosto mais de nós. Firmes e fortes.
A madrugada fria me norteia. Dentro dela eu sinto o silêncio de todas as almas, e nenhuma delas me percebe. Ah, como gostaria desse infinito sempre. Ele não me assusta.

Meus antigos sonhos se foram. Talvez se esqueceram de mim. De me visitar nas noites em que eu dormia sorrindo. Lá se veio a vida tirando aqueles antigos contos de dentro do peito. Do fundo da mente.
Quero estar ao seu lado, mas longe daqui. Sim, não me julgue egoísta. Me julgue faminto. Ansioso por te mostrar o mundo lá fora. É tão maior. Tão pulsante. Tão vívido.

Ergamos os alicerces, dignamente, e a partir dali, pontes e mais pontes. Daqui pra onde a vista alcançar. Espero que não demore tanto.
Saudade de mim. Mas estou aqui, relutante em cair. Um universo sobre meu corpo, um peso imenso invisível.

Um artista em metáforas, maquiando a tristeza das palavras diretas. Assim elas passam despercebidas por aqueles que não fazem questão. Nada é sincero diante de olhos sem foco. Escondido, dentro de casa ponto e vírgula, há um testemunho sorrateiro e contundente. Profundo e sofrido.
Faço das minhas palavras meu retiro mental e espiritual. Um baú da minha existência.
Talvez eu parta prematuramente aos olhos mas tardiamente ao coração. Não quero viver ao ponto de não ter mais escolhas. Não quero números, quero calos. Se me tirarem a vivência, que me levem a vida. Me bastou.

Estou perto do meu passado distante. Hoje ele não me norteia. Eu precisava disto. De alguns adeus. De alguns até logo. De alguns olá. Renovação.

Se eu vier a vencer ou falhar, foi encarando o destino. E que seja assim até quando for. Cada página escrita fortalesse o capítulo.
E eu vou escrevendo...

De Boa

Hoje em dia talvez algumas coisas pairam pelo ar da tranquilidade. Vejo uma nuance que se alinha, uma trilha que se forma em meio a um deserto sombrio e um denso nevoeiro. Ainda sigo em passos curtos, desconfiados, sentindo um empurrão que me leva à frente mas paredes que me seguram. Dentro de mim há conflitos, não posso deixa-los vencer. Preciso apostar por um momento na contradição, e não apenas em meu coração. Ele bate e clama por mais, eu sei, admito, mas hoje, ele precisa se aquietar por enquanto e absorver o que tem diante dos olhos. Não é muito, mas auxilia a organizar.
Eu olho lá fora, me chama, me suga a alma, deixando apenas o corpo vazio aqui dentro. É viciante, é mais forte que a realidade. Porque eu não sei, mas sinto que a vida passa diante dos olhos, e eu sempre perseguindo, perseguindo.
Tenho essa chama dentro de mim, incandescente, ardida, viva, que me transfere de uma realidade morna, sem cor, aleijada, para um turbilhão de emoções que preciso e necessito viver. Não sei por quanto tempo ela viverá, resistirá ao frio intenso e aos nevoeiros que a cobrem constantemente sem piedade, mas ela, protegida aqui dentro, ainda se faz presente. 
Almejo um dia viver sem amarras, sem ditas regras e padrões que não me enquadro. Dias que ao meu lado só quem amar e partilhar, me convencendo que aquilo tudo é o que basta. E pra mim, bastar é conquista, é sensação de satisfação por ter entendido que simplicidade transforma barro em diamante, valores acima de valorizados. E não preciso de mais que isso.
Chegará o dia em que limpei todos os caminhos e rastros do passado, e nada nem ninguém será capaz de me julgar, pois não haverão culpas, deslizes, remorsos ou decepções. E tudo aquilo que um dia fiz, permanecerá apenas dentro de mim, guardado por precaução, esquecido por necessidade, enterrado por merecimento. 

Mas pra tudo valer...

Quero hoje só você. Não preciso de mais nada. Porque tudo isso aí em cima não valerá lhufas se não compartilhado. E ter escolhido você me reluz como certo. Partindo de caminhos tão incertos. De passados dolorosos e confusos. Cicatrizes de feridas profundas, que nos moldaram, educaram, ensinaram e conjugaram nossos caminhos ao que hoje vivemos. Sonho em poder me fazer eterno, em deixar o que for capaz com você pra sua eternidade, inesquecível, válido, precioso. Quero sempre que possível tirar seus temores, afagar seus medos, suprir seus desejos. Os faço e faço com prazer, uma vontade inexplicável mas plausível, arrebatadora e confusa, mas proveniente do destino, que fez, refez, desfez, pra perfazer. 
Te observo todos os dias, aprendo você, assimilo você, incorporo você pra poder me ver, e me cravar razões para todas as renuncias e mudanças. Aposto cada dia mais, e estas apostas só aumentam com a certeza da vitória. E ela vai chegar, ela deve chegar, ela precisa chegar. E junto todas as realizações que um dia sonhou, desejos que um dia projetou, caminhos que trilhou em sua mente e que talvez tenha pensado jamais ser capaz de cruza-los, mas estes dias estão chegando, em passos largos. 
Aprenda a me enxergar, como já o faz, e terá tudo que eu puder. Me lapide como faço contigo, me transforme e traga novamente o reluzente brilho que já existiu e que por manchas da vida está afoscado, nebuloso. Você tem armas poderosas, basta ter a maestria de usa-las com destreza. 
Vamos logo, vamos fazer, deixar pra lá tudo aquilo que possa magoar, que não te joga pra frente, mas te prende pelo pé. Vamos logo, guarde o que merece dentro de ti, descarte tudo aquilo que não lhe é digno, e caminhe sem medo rumo ao desconhecido destino.  Só ele tem as palavras sem respostas, os caminhos sem rota, a vida que ainda não vimos. 

Ao certo só hoje, e vislumbrando mais e mais, porque me basta fazer isso contigo, e nada mais.

Inconstante

Há alguma coisa ainda que eu estou fazendo errado, e não sei qual é. Um elo que una o que faz sentido aqui dentro, com o que acontece aqui fora. Porém eu não sei sinceramente qual é.
Não procuro culpados, as circunstâncias já se foram, não são mais reflexos de um passado confuso. Arrisquei em uma nova vida e deixei meus fantasmas pra trás. Pelo menos os que conseguia ver. E eu precisava disso pra me sentir melhor. 
Há felicidade, há amor. Mas não há paz aqui dentro. Porque falta um maldito pedaço.
O que precisa para surgir aquilo que vá selar a razão pelos meus pedidos e anseios, e que definitivamente irá me livrar de todas as amarras? Onde está escondido dentro de mim essa chave que ira ignar todos os eixos em um só objetivo?

Pare! Sabe o mais chato?

Eu perdi também a magia das palavras mórbidas, mas poéticas. Meu anseio pela realidade me tirou do fosso dos contos floreados de angústia e feridas hipotéticas, para dentro de um mundo real, bem menos subjetivo. Materializou as trevas que rebatiam dentro de mim, e me atirou aos lobos, como em um conto de fadas real. E eles estão me devorando vivo. Uma dor dilacerante.

Por favor, me traga de volta!

Extendo os braços. Arregalo os olhos. Hoje eu vejo mais claramente na escuridão. Silhuetas respondem mais com seus contornos, e o silencio é tão audível que me atrapalha.
São cores sem tom, segregadas, separadas. São sutis feixos de sombra, e respiração forte, dolorosa, intensa.
Anestesia. Dormência.
Queria um deserto de calmarias. Livre de abutres e serpentes, livre de mim. Do meu próprio abrasivo torturante inferno.
Se fecho os olhos enxergo tudo aquilo que me faz mal, e de repente some. Se fecho os olhos enxergo tudo aquilo que some, e de repente me faz mal.
Calado, eu só queria um mísero elo. Um feixe de luz a seguir me mostrando a direção. Eu não acho. Juro. Eu não acho. E ao tocar essas paredes rochosas e sólidas, sem saída, me arrebato ao desespero. Desesperador.

Um pouco mais de realidade.

Se o presente me assombra, o futuro me desespera. Não há frutos a serem colhidos. Nao houveram sementes plantadas. Outrora isso era bobagem, hoje me traz agonia.
Mas procuro desviar, dissuadir, driblar. E pensar que o amanhã talvez nunca chegue, e que hoje é finito.

Que inferno! Eu só queria paz.
Chega.

Cavalo Selvagem

O silêncio que escuto aqui fora não foi capaz de me manter quieto. Desperto um pouco assustado, mente inquieta, arisca, me cutucando à pensar. Ela sabe meus receios, anseios. As vezes me toma como refém, conduzindo-me por entre essas longas noites de buscas.
Nao a culpo, entendo, não é fácil permanecer indiferente diante mais um grande passo, um salto vislumbrando a tão sonhada paz.

Nao há dúvidas. Há temores. Não medos. Temo pelo surpresa indesejável, por atritos e desvios de rota que não me agradem. Por ser mais uma vez impedido de alcançar, me derrubando aos poucos diante as barreiras.

É uma vida flambada à riscos, não há dúvidas disso. Mas a força da necessidade que me faz caminhar, me pega e me empurra. Eu não devo desistir. Eu não vou desistir.

Peço somente, para quem for, ou apenas desejo, que não me atinja novamente com um golpe tão duro quanto o vivido há poucos meses. Eu sinceramente não serei capaz de suportar.

Abra as portas, eu estou atravessando-as, e espero de uma vez por todas que elas me tragam paz, na pureza e simplicidade da concepção da mesma.

Deixo um pouco de mim pra trás, algumas feridas expostas, porém muitas delas fechadas e quase cicatrizadas. É um processo lento e doloroso, mas que entendi que devo passar e tirar as lições de cada um deles.

Ouço de dentro do meu peito esse pulsar, como escritas em braile, uma mensagem sem palavras que só de senti-la já me passa o recado: se bate, te faz vivo, se está vivo, VIVA.

Como eu citei ao começar, não é possível transparecer indiferença diante de tais mudanças. Perfeitamente normal, acredito.
Hoje, esta angústia que outrora me segurava como quem segura rédias impostas à um cavalo selvagem, me fazia parar. Hoje ela me ensina a cavalgar com cautela, mas nunca parar de seguir em frente.

Me dê o mínimo para manter-me em pé, é o que preciso. O suficiente que me permita autonomia de viver capaz de criar novas metas, realizar mais sonhos, almejar mais vitórias, e consequentemente vencer.
Deixe do mais por conta das minhas escolhas e renúncias, que eu aprenda e me cure, que eu sofra ou sinta o sabor das alegrias.

Loucos são aqueles que me acham louco, sem o gosto de um dia poder ter perdido ou vencido por tentar realmente ser real.

Vou galopar.

A Morte Da Esperança

As vezes me pego sem saída, resolvo começar a escrever mais um pouco, deixar registrado aqui fora o que está se passando aqui dentro, mas a mensagem não vem. As vezes não vem.
São seis anos que ponho aqui cada pergunta que não sai da minha mente, que me atormenta dia após dia, me tirando o sono, me trazendo sensações ruins, pois não encontrei ainda as respostas. Hoje já duvido que hajam.
Em todos estes anos, pessoas passaram por mim, algumas me trouxeram profunda alegria em certo momento, mas depois uma tremenda decepção. Talvez seja eu me decepcionando comigo.
O fato é que o circulo vicioso não terminou. Me parece as vezes como um labirinto sem saída, onde vou viver toda a vida correndo e procurando uma saída e ela não está lá, porque simplesmente o meu destino é permanecer assim, aqui, dentro deste labirinto sem escapatória.
Cada texto que eu deixo aqui é parte desse labirinto. Um local novo que achei, que não conhecia, e que depois que descubro é imortalizado em palavras. Um dia, haverá alguém que junte todas essas peças e enxergue a razão, e talvez, a saída que eu na minha vida não achei.
Recentemente, eu saí fora de mais uma parte desse emaranhado, foi rápido e muito intenso, e como toda intensidade merece, doloroso e sequelar no final.
"Voei" sobre esta parte do caminho e já estou em outra, tateando, observando, sentindo, tentando descobrir onde ela vai me levar, e as pessoas que vão fazer parte dessa etapa, mesmo tendo quase absoluta certeza do fim disso tudo também.
Hoje, sinceramente, eu estou inclinado a desistir das respostas e simplesmente observar até aonde e até quando irei resistir. Quanto tempo da minha vida eu vou ainda aguentar os tombos sem perder a sanidade mental e posteriormente, a sanidade física. É fato que quando a mente sucumbe, o corpo padece.
Haverá um tempo em que eu não terei mais forças motoras pra lutar, nem sequer registrar o que penso, o que sinto. Não terei forças pra me manter independente, e não vejo muitos que estarão próximos à mim quando isto ocorrer para que eu sobreviva.
Já passaram de duzentas peças aqui, neste seis anos. Se você observar bem, ano após ano elas vêm diminuindo, gradativamente, homeopaticamente.
Quando isto aconteceu, e eu também notei, por um momento acreditei que a razão disto era que eu havia encontrado algumas respostas, e que minhas angustias, devido a isto, estavam diminuindo, e logo a necessidade de eu registrar uma parte dela aqui era menor. Mas hoje vejo que não.
O que isto realmente representa é a degradação gradativa pura e simplesmente. É a perda da esperança, da vontade de externar por saber que não encontro as respostas, e que cada vez menos, acho novas partes desse emaranhado, e por isso os textos estão ano após ano, se esvaindo. É a morte da esperança.
O que escrevo aqui hoje não é tão poético quanto deveria ser, fica mais como um registro da fatalidade singular que vivo, e que praticamente ninguém irá se dar conta. Praticamente ninguém.
Eu guardo sinceramente, esperançosamente, que depois que meu caminho terminar, alguém seja capaz de pegar tudo isso, juntar e analisar. Pode ser que se feito isso sem a ordem cronológica, sem se limitar a seguir o tempo, alguma resposta apareça. Eu não saberei, mas de onde estiver estarei grato. Esta é uma das pequenas esperanças que carrego, e por isso que ainda alimento isto aqui com meus tombos.
Neste sexto ano, que está ainda no começo, continuo caminhando, é verdade. Me levantei de mais uma catastrófica queda e estou seguindo em frente. Um pouco mais atrevido que antes, curioso pelo que vai acontecer. Novamente passos diante o desconhecido, mas já estou dentro dessa nova seção.
Me estendi além do normal desta vez, me peguei sentindo esta necessidade, de tirar cada palavra que havia aqui e deixar imortalizada.
Estes são meus pensamentos hoje.

Leoa

Se você olhar bem perto, verá que eu não existo mais. Talvez eu estive tempo demais tentando achar a felicidade que se perdeu quando eu me perdi, e projetei meus sonhos junto aos sonhos de alguém. No dia de hoje, eu não existo.
Eu desapontei e fui desapontado. Vi você chorar lágrimas tão sinceras quanto as minhas, naquela noite, onde não existia ninguém a não ser nós dois. Nunca havia chorado assim.
Quantos passos eu sou capaz de dar em direção aos seus, desviando meus caminhos e seguindo os que tocam meu peito, cegos da razão mas cheios da esperança de ter a paz ao meu lado.
Eu sou um sonhador, alguém que se frustra demais por ser frustrado. Que acredita na sinceridade das nossas próprias vontades e desejos, que constrói pontes onde antes só existiam vazios, e traz pela mão quem tem coragem o suficiente pra me ouvir e ver.
Meu amor, é tão cego de intenso que nem eu mesmo sou capaz de senti-lo sem me ferir ou ser traído em um piscar de olhos. Porque eu estou pra você, enquanto não está para mim.
É viciante. Um mal que não consigo me livrar, como não consigo me livrar de você, ou das sensações de dentro do peito.
Queria me aquetar e por pontos para cicatrizar as feridas abertas, apertar bem forte para impedir que continuem sangrando, e esvaindo gota a gota minha ilusão, minha crença, minha paixão.
Ontem foi o dia de nossas vidas. Onde vivíamos tao intenso cada segundo que haviam se tornado anos. Sem explicação ou roteiro. Contrariando à todos e mostrando respostas a perguntas que não queríamos mais fazer. O tempo voou tão forte que nos fez passar por todos os momentos de décadas em meses, e nos está testando, nossa força, nossa fé, nosso amor.
Você está ali, andando em torno daquele carrocel, esticando os dedos para alcançar aos meus e tocarmos nossos sonhos mais uma vez. Me puxe pela mão, me mostre que nada foi a toa. Suture as dores ou deixe que elas me dêem outra lição, mas não mantenha-as aberta. Eu posso sangrar até morrer.
Hoje tudo que tenho está no chão. Desarrumado. Espalhado neste cenário confuso e incerto. Pequenos cacos e estilhaços de espelhos e novas jóias, de respostas e perguntas em um emaranhado de remorsos. Venha pegar o que é seu, e por no lugar certo, ao lado meu.
Talvez da próxima vez, você seja forte suficiente pra lidar com a próxima vez. Que seus olhos de leoa foquem tão distante que ultrapassem os meus e me dêem a direção novamente, mostrando que ali, além do horizonte infinito existe um espaço que devemos chegar e conquistar.
Na próxima, estaremos tão certos pelas cicatrizes que nada vai derrubar. Eu assim espero, ou posso de novo me enganar. Que as dores que sentimos tenham nos fortalecido. Fazendo-nos caminhar com passos mais firmes, mas sempre na mesma direção.
Assim espero, mas...
...poxa, que saudade daquele sorriso. Do abraço que me dizia "você me tira daqui, dessa realidade". Poxa, mas que saudade do "sim, eu quero" do "vamos, claro!", do "você é incrível", do "meu amor".  Poxa, mas que saudade de me ver em ti e te ver em mim.
Tudo faz mais sentido.
Se fizer sentido, o fará.