Rascunho De Vida

Não há nada que eu faça que rebusque meus erros. Não há perdão. Não há cura. Como uma maldição que desafia o tempo, os atos, as promessas, as propostas, o amor, o viver. 
Eu respingo a tristeza de não ser perdoado por nada que fiz, que fui, que vivi, que criei. Sentenciado a um doloroso e tenebroso caminho. Craquelado de cicatrizes. Marcado de desilusões. Sigo rastejando por este meio fio, sendo julgado e açoitado, derrotado e erguido, pronto para mais um tombo. 

Como tirar marcas que se fazem cravadas na alma? Como derrotar um inimigo invisível aos olhos mas presente no coração? Como ser eu mesmo, sem ter chance de ser quem sou? Não há perdão. Todos meus atos são à prova. Dia após dia, noite após noite. 
Quanto somos capazes de aguentar até nossos joelhos dobrarem, e não tivermos mais forças pra seguir, mais foco para olhar adiante, mais esperança que nos move. Quanto somos capazes de aguentar até a desistência? 

O meu rascunho da vida é feito de perguntas, de rabiscos inacabados, de promessas doadas aos que não sabem prometer, de lutas por vitórias e vitórias sem luta. O meu rabisco de vida é borrado, torto, indecifrável. Quem olha não lê, quem lê não compreende um traço.

Sou forte. Sou bastante forte. Sou um desgraçado que insiste na ilusão que minha mente cria. Sou doador de esperança à quem procura por tal. Me abrace, acredite, e siga comigo. Eu tento mais que temo, eu arrisco mais que espero. Eu me entrego sem medo de não ter a entrega. O que resta de mim, é o que eu preservo.

Rabisco novos contornos, novas páginas. Escrevo certo mas transluz estranho. Ponho tudo que penso, tudo que acredito. Sofro sozinho, pra que você não sinta o sofrer. Rascunhos e páginas em branco. Uma nova história, um novo capítulo em um livro deteriorado e cansado. 

As vezes paro e penso em desistir. Eu queria. Mas querer não é mais forte ainda que eu. Eu as vezes paro e penso em quão cômodo seria se nada mais existisse em frente meus olhos. Um tenebroso e apaixonante luto, um escurecer infinito, um descanso de tudo que eu tentei na vida. Essa vida que me faz refém, que me toma como propriedade e não me deixa escolha, nenhuma escolha.

Quando todas as tempestades cessarem, haverão escombros, e deles tudo aquilo que um dia foi história, será passado. Sem vestígios, sem pistas, sem marcas, sem rastros do que um dia foi chamado de mim.

O que escrevo são lampejos incertos do que deveria ser meu mundo. 
Incompreensão.


Batalha

O que existe é um erro constante em ser eu. Uma sina, carma, maldição. O que existe é um limite entre a luz que salta aos olhos e a escuridão de onde não posso sair. Sobrevivo, vivo, sobrevivo, perco. Eu não pertenço ao que mesmo acredito.
Procuro ser o mais ponderado possível. Relevo, transcedo, dôo, desisto, perco. Mas não encontro as fórmulas que equalizem o meu viver. Por onde anda a simplicidade e a cumplicidade? Por onde anda o aceitar?
Sou testado dia após dia, diante do meu eu desgastado e semi doente. Diante de inverdades e fúrias repentinas que me cortam a alma, me ferem o coração. Eu sofro calado, como se compreendesse a incompreensão.

Meu amor é turvo e constante. É braile em um mundo de provações. Existe sem existir, se é sentido sem agonia, sem fúria, sem necessidade de existir, é tão forte que me tira a vida, me leva ao limite. Mas nada, nada é suficiente.
Sou um acaso descaso da vida, um relutante problema que vicia aos próximos e mata os que se apaixonam. Sou um leigo que me deixo crer. Um mero telespectador de meus capítulos.
O que existe é torturante, viciante, contundente, lacivo e vivo. O que existe, se consegue enxergar, é imenso e infinito, tênue e forte como diamante. Não desprende.Não degenera. Não destrói.

Mas o que você vê? O que falta pra ti? O que tiro de mim lhe é dado, doado, suado. Eu não vivo sem viver com você. Cada escolha é pensada e tomada sem relutar. Há razões. Há motivos. Há amor.
Eu ando sofrendo na escuridão do meu peito. Sofro por não poder tirar seu sofrer. Por não ser maior do que sou, e lhe jogar ao infinito. Sofro ao inverso buscando saídas pra tudo que quero ter. E gostaria de ter ao seu lado. Como foi escolhido e dito.

Não há vitórias sozinhas. Glórias sem mãos dadas. Não há razões sem motivos.

Eu permaneço pulsante e presente ao seu lado, e assim será, pois está é minha maior batalha.