Enfim...

Rir dos próprios atos e escolhas.

É o que me resta, deteriorado pelas feridas, trancados por fora, por caminhos que, ninguém, sequer por um dia passarão perto, e eu estou ficando louco. E por mais que eu tente entender o que haveria de errado comigo, me escondo. Ela se esconde.
Duas pílulas,  terceira hora da madrugada, e nem assim a paz me aperta a mão. Me puxa para o vazio onde nada mais me perturbe. Mas este lugar não existe. Já estou fadado ao que os outros me doam, ao que os outros me escolham.

Cansados de mim, dos meus defeitos, dos meus gritos, cansados de perceber que eu machuco, e eu machuco mais do que facas. E isto não é uma defesa, é representação de dor frustrada. Outros sequer as sentem, eu sinto por mais que um.
Cada pedaço meu morre, dia após dia, sem remédios, sem cura, sem importância. Os meus filhos não existem, os meus sonhos não se criam, os meus olhos não fecham. O meu futuro é passado. Gasto, sem escrúpulos, sem contos de fadas ou histórias de amor.
Amor, eu procuro por ele e encontro a farsa, fantasiada de deusa, mais imperfeita que emaranhados de fios, enroscado, nós cegos e pontos falhos. Este é o amor se apresentando à mim. Em pedaços de morte, cego e surdo. Amor.
O que me faria dormir agora me traz dor, isso sinto, meu corpo ainda responde à elas, ele chora, eu percebo seus lamentos. Não aceita estar carregando este peso todo.

O que me induz a escrever é a indignação com a vida. Não me arraste seus verbos melancólicos e falsos, eles me perturbam mais. Não me torça o nariz com seus conselhos banais, com princípios católicos ou evangélicos. Uma mente brilhante não se ajoelha, se aceita, e padece com o tempo.

Meus pequenos textos, que um dia serão lidos por pessoas que jamais me viram, por mulheres que jamais me amaram, por amigos que jamais tive, por mães que jamais criaram filhos como eu, eles não morrem. Estes pequenos contos de uma vida serão mostrados e esquecidos. E eu mesmo os esquecerei um dia, e alguém os terá como seu, e alguém será amado, por aquelas pessoas que eu não conheci, e por mim. De onde eu estiver eu não mais escreverei, mas eu vou sorrir, por mais estranho que seja sorrir sem ter razão. Isto é vida. Isto é sofrer ou sorrir e deixar marcado.
Meus pequenos textos voltaram com força máxima, pois o meu espírito não morreu. Pede por isso, e eu, escravo dos meus atos, subornado por mim, os eternizo.

E as pílulas não funcionam mais...Deus, me livrai do seu mal.

Vago

Posso não mais entender, não mais aceitar, não mais construir.
Posso estar confuso, querendo morrer, querendo sumir.
Mas quero mudar.

Porque devo mudar, creio que sim, porque devo agir, creio que não posso. E tenho medo de sentir tudo de novo. Mas existem tantas coisas que eu gostaria de sentir de novo. Muitas boas, muitas impossíveis de serem revividas. Mas eu lamento o que não posso alcançar, tudo aquilo que me transtorna. Confuso, como gosto de ser, adorável, como posso querer ser, imperdoável, como sempre sou.

Eu não luto mais.

E não quero me lamentar pra ninguém. Isto aqui é meu tumulo, meu caminho, meus pergaminhos de dor. E não são para ninguém, a não ser para os que achem necessário. Aproveitem, me destruam..
Meus gritos no vazio jamais vão acabar, porque eu jamais estarei sobrio novamente. E isto me conduz a todas estas palavras. Eu gosto delas. Meu alívio, meu divã..

Quand eu encontrar o caminho meu corpo vai parar. E minha mente em coma vai agradecer por eu ter finalmente conseguido transpor os meus próprios medos, e barreiras. Esses medos me descrevem, essas palavras confusas estão sempre ligadas, contando uma história, uma mórbida história, de morte sobre a vida. E jamais compreendida.

Quero estes registros, que para sempre vão dizer o que sou, indestrutíveis...
Imortais..

Derrota

Que eu fique bem, mesmo sabendo que não sou mais aquele rei.

E sei que não sou. E que descobri uma fraqueza. Algo que me faz chorar e que acredito ninguém ache que eu seja capaz ate ver. E sei que sofro por perder meus domínios e todos meus medos se confundem.
Quero estar onde estou e o destino não me permite viver. Me agarra por dentro, me joga novamente ao vazio da angustia. Por puro prazer, se eu não merecesse ainda mais.
E que eu esteja bem, mesmo se envelhecer sozinho, de costas para o mundo, e aqueles que me viam não me enxergam mais.
Mais que doenças ou mortes, mais que perder os sentidos é perder o amor e a razão. E contorcer-se de agonia sem chances para o revide, calado.
As escolhas da vida. Fico feliz por meus amigos, que vivem apenas sem sentir, lado a lado. Até o fim.
Se eu consigo tirar lagrimas dos seus olhos é porque lhe mostro a cara da dor.
E que eu esteja bem, mesmo me dopando. Subornando os dias para atravessar as noites. E não existe compreensão. Não existe a mãe que abre os braços ou o amor que reluz aos olhos.


Se a vida me fosse tirada eu não mais lhe faria chorar, e ninguém mais poderia entristecer, por mais cruel que seja.
E quando eu encontrar meu anjo de olhos azuis...

Eu estaria bem...