Suborno-te

Eu, sempre eu, somente eu, vivo este espaço e este universo. Eu somente eu, suborno meus dias a espera de um vão onde eu escape, não ileso, mas inteiro pra um novo recomeço. Ainda assim reluto, em uma luta constante que jamais você enxergaria, pois é transparente, indolor ao seus olhos, impenetrável por suas tentativas de me confortar. Eu dissolvo minha alma pouco a pouco.
Incapaz de prender um amor, capaz de criar amores, imperfeito nos atos, perfeito nas palavras, e por mais que eu relute esta constante permanece, e eu crio e destruo, planto flores e colho espinhos, e mesmo assim eu ainda reluto a secar minhas rosas.
Minha alma padece, diante de mim sobram as migalhas que recolhi, eu permaneço órfão, permaneço obsoleto e absoluto em minhas convicções, e aonde elas me levarem eu suporto, e onde eu ancorar meu coração, será pulsante e eterno.
Se você ler isto realmente, se você absorver isto realmente, eu te encontro dentro dos meus sonhos, caminhando junto com meus passos, pois não há nada que separe você do que eu lhe digo. Eu não profetizo, eu não invento contos onde não me encontro, mas sim apenas transbordo meu luto e dor. Sim, dor, palavra que pode te incomodar mas me alimenta e me inspira, e claro, me derrota.
Enquanto as ondas forem rítmicas, enquanto o compasso não parar, os textos não param, as palavras não somem, porque é incrivelmente forte tudo aquilo que se vive. E eu não destruo minha alma, eu não renego ao meu destino, eu não suborno meu eu. Eu leio as páginas que a vida me escreve.

E onde estará você agora, que se esconde, renegando tudo aquilo que não pode controlar, tudo aquilo que eu plantei dentro de você, não existe a abnegação sem a neurose. Você não pode me substituir, nem me subtrair, não existe a farsa quando eu existi, não existe eu morrer. 
Mas voltemos a mim, eu permaneço em mim, não fujo, eu uso negativas, eu me subestimo, pois nem eu sequer seria capaz de compreender tudo sem pirar. Subjetivos, adjetivos, subjetivamente, adjetivamente, não dou pistas daquilo que não precisa ser encontrado. Esta aqui, minha "amiga", apenas veja, enxergue, eu te maltrato, mas eu ainda te afago em suas crises. Mato-te.
Mantenho perto sendo distante, perto o bastante para que toque seu corpo e renegue sua alma, você, sabe que eu me seguro para não errar. Eu jamais erraria com você, eu jamais errei com você, talvez por isso que você não compreende meus atos e passos. Eu só quero sobreviver. Perceba.

Hoje como ontem, talvez amanha eu relembre os meus passos e minhas quedas, eu serei capaz de remendar minhas feridas, costurar meus retalhos e seguir lembrando das trevas que transpus, dos infernos que vivi, e dos sorrisos que me levaram a eles. 
Eu só venceria matando o amor que existe em cada uma.

A Dor

Hoje é mais um dia como aqueles. Que começam como terminam. Daqueles sem cor e frio, que transborda dor. Hoje como aqueles dias que procuro lembranças pra subornar as horas, e preencher um vazio conturbante. Hoje é um dia que minhas mãos tocam algo sem forma, que minha respiração palpita sem ritmo, nas horas que ponho razoes em uma balança, uma comparação de pros e contras da vida.
Mais dos traços rabiscados no mesmo papel, seguindo a mesma linha, recomeçando um mesmo capítulo por varias vezes, substituindo personagens, que entrar e saem, levando pedaços de mim cravados em suas almas.
Contornos e luzes, venha comigo, não há historias sem tragédias, não há somente momentos de gloria, eu apresento os meus fins e você recomeça me aquecendo deste frio intenso que frisa minhas lagrimas no rosto. Para onde eu olho agora?
Eu preciso desta dor, que alimenta um sentido transformado de vida. Esta dor que provoca a essência irresistível só e pura do que sou, me calando para todo o redor. Um sussurro e tudo vem a tona.
Esta sendo frio a espera da libertação, das passadas largas que marcam a terra que me cerca. Um inferno de resíduos de um passado doente, sucumbindo a vida.
Ouvia vozes e sons, vindos daquele universo imperfeito que eu perfeitamente criei, vistoso.
Hoje é mais um dia daqueles que capítulos são apenas reprises...

Cristalina

Havia um tempo em que chorávamos sem medo. Onde as lagrimas que transbordavam de nossos olhos eram simples e nos traziam acima de tudo aquela sensação de alivio, mesmo que vindas de momentos de perda ou dor. Eram lagrimas cristalinas, reluzindo pureza, sentidos extremos e a vontade de mostrar o quanto nos importávamos.
Pequenas gotas, enxurradas, sussurros, soluções, aperto no peito e mãos no rosto. Chorávamos, e não tínhamos porque esconder, e tínhamos a certeza da verdade diante de nós, sabíamos dos choros por amor, por perda, por dor, por alegria. Estas lagrimas secaram.
E hoje choramos por dentro. Hoje choramos as angustias que a vida nos faz passar. Choros doidos, engasgados, que prendem a respiração e não nos dão respostas, apenas atam nossas mãos e misturam nossas idéias. E cada noite que passamos, acordados, em claro, procurando saídas para que as lagrimas cessem, este choro cresce.
E ainda espero o dia em que estes serão substituídos por sorrisos impulsivos. Que desaparecerão por serem supridos de alegria, de certezas, de respostas dadas, e complementos. Uma volta a sinceridade, um retorno aos bons momentos canalizados em cada gota.
Eu não sei se você é capaz de entender a simplicidade destas palavras. E são apenas palavras. E palavras é o que eu tenho pra usar como fuga, pra usar de uma forma a deixar marcado o que penso, imortalizado.

Hoje escrevo de lagrimas, lembrando os choros sinceros, extintos pela vida que os transformou em representação de dor.

Eu ainda derramo minhas verdades.

Venci

Você sabe do que é feita a vida? Pois eu vou lhe dizer. A vida é feita de erros, de estar perto de desistir e largar tudo para traz. É feita de momentos de dor onde os olhos não comportam tantas lagrimas, onde as partidas deixam marcas, e de onde não gostaríamos de estar naquelas horas erradas. E as vezes tentamos fazer o melhor para aqueles que não entendem que podemos ser melhores do que somos. E ferramos com alguém, e deixamos outros felizes. E vivemos uma vida onde podemos aprender e acertar ou acertar por ter errado ao invés de aprender. E a vida que mostro é a vida que mescla cada dia um pouco das alegrias que a tristeza deixa existir, quando ela resolve dormir, e deixar espaço para um sorriso. E a vida é sentida quando você descobre que viver significa mais que o que pode tocar, que transcende tudo aquilo que podemos ter em mãos e se resume a um segundo de gratidão por aquilo que julgamos ser correto, pelo menos para nós.
E o que eu pretendo não é ensinar que a vida que você ou eu levamos nos deixa mais puros ou menos dignos, eu falo de sinceridades. Sinceridade nos atos, que demonstrem a certeza do que você realmente quer fazer. Sinceridade que fere alguns princípios mas que te faz deitar a cabeça e dormir. Esta é a razão para que vivo e para a qual eu transformo o que penso em palavras.
Dos murros que dei em paredes intransponíveis deixei marcas que me ensinaram a não bater mais ali, a desviar e tentar outra maneira. E eu, por mim, da minha maneira vejo uma vida onde os detalhes reluzem na mais pura escuridão, me trazem a tona contornos e nuances que me parecem dizer pra onde vou e como devo existir.
E eu reflito os meus atos, sou reflexo dessa vida que explico ou que tento compreender a cada dia, enquanto navego em um oceano de magoas. Me vejo aqui, me encontro ali, transbordo cada segundo para dentro de um pequeno momento.
Uma doação sem pagamentos, uma entrega sem espera de respostas ou aplausos. Imune ao tempo e aos sucumbes. Talvez a vida de dor ensine as pessoas a viver com a alma e não apenas com os olhos. Eu aprendo a cada dia que piorar é praxe e vencer é inconsciente.
Eu me renderia a esta outra vida, seja ela qual for, que me tomasse como filho e me acolhesse sem medo, pois eu pertenço a onde eu imagino servir. Por mais insano que possa ser.
A realidade transforma só aqueles que vivem cravados aqui. Quem se liberta, se cura.