Inconstante

Há alguma coisa ainda que eu estou fazendo errado, e não sei qual é. Um elo que una o que faz sentido aqui dentro, com o que acontece aqui fora. Porém eu não sei sinceramente qual é.
Não procuro culpados, as circunstâncias já se foram, não são mais reflexos de um passado confuso. Arrisquei em uma nova vida e deixei meus fantasmas pra trás. Pelo menos os que conseguia ver. E eu precisava disso pra me sentir melhor. 
Há felicidade, há amor. Mas não há paz aqui dentro. Porque falta um maldito pedaço.
O que precisa para surgir aquilo que vá selar a razão pelos meus pedidos e anseios, e que definitivamente irá me livrar de todas as amarras? Onde está escondido dentro de mim essa chave que ira ignar todos os eixos em um só objetivo?

Pare! Sabe o mais chato?

Eu perdi também a magia das palavras mórbidas, mas poéticas. Meu anseio pela realidade me tirou do fosso dos contos floreados de angústia e feridas hipotéticas, para dentro de um mundo real, bem menos subjetivo. Materializou as trevas que rebatiam dentro de mim, e me atirou aos lobos, como em um conto de fadas real. E eles estão me devorando vivo. Uma dor dilacerante.

Por favor, me traga de volta!

Extendo os braços. Arregalo os olhos. Hoje eu vejo mais claramente na escuridão. Silhuetas respondem mais com seus contornos, e o silencio é tão audível que me atrapalha.
São cores sem tom, segregadas, separadas. São sutis feixos de sombra, e respiração forte, dolorosa, intensa.
Anestesia. Dormência.
Queria um deserto de calmarias. Livre de abutres e serpentes, livre de mim. Do meu próprio abrasivo torturante inferno.
Se fecho os olhos enxergo tudo aquilo que me faz mal, e de repente some. Se fecho os olhos enxergo tudo aquilo que some, e de repente me faz mal.
Calado, eu só queria um mísero elo. Um feixe de luz a seguir me mostrando a direção. Eu não acho. Juro. Eu não acho. E ao tocar essas paredes rochosas e sólidas, sem saída, me arrebato ao desespero. Desesperador.

Um pouco mais de realidade.

Se o presente me assombra, o futuro me desespera. Não há frutos a serem colhidos. Nao houveram sementes plantadas. Outrora isso era bobagem, hoje me traz agonia.
Mas procuro desviar, dissuadir, driblar. E pensar que o amanhã talvez nunca chegue, e que hoje é finito.

Que inferno! Eu só queria paz.
Chega.

Cavalo Selvagem

O silêncio que escuto aqui fora não foi capaz de me manter quieto. Desperto um pouco assustado, mente inquieta, arisca, me cutucando à pensar. Ela sabe meus receios, anseios. As vezes me toma como refém, conduzindo-me por entre essas longas noites de buscas.
Nao a culpo, entendo, não é fácil permanecer indiferente diante mais um grande passo, um salto vislumbrando a tão sonhada paz.

Nao há dúvidas. Há temores. Não medos. Temo pelo surpresa indesejável, por atritos e desvios de rota que não me agradem. Por ser mais uma vez impedido de alcançar, me derrubando aos poucos diante as barreiras.

É uma vida flambada à riscos, não há dúvidas disso. Mas a força da necessidade que me faz caminhar, me pega e me empurra. Eu não devo desistir. Eu não vou desistir.

Peço somente, para quem for, ou apenas desejo, que não me atinja novamente com um golpe tão duro quanto o vivido há poucos meses. Eu sinceramente não serei capaz de suportar.

Abra as portas, eu estou atravessando-as, e espero de uma vez por todas que elas me tragam paz, na pureza e simplicidade da concepção da mesma.

Deixo um pouco de mim pra trás, algumas feridas expostas, porém muitas delas fechadas e quase cicatrizadas. É um processo lento e doloroso, mas que entendi que devo passar e tirar as lições de cada um deles.

Ouço de dentro do meu peito esse pulsar, como escritas em braile, uma mensagem sem palavras que só de senti-la já me passa o recado: se bate, te faz vivo, se está vivo, VIVA.

Como eu citei ao começar, não é possível transparecer indiferença diante de tais mudanças. Perfeitamente normal, acredito.
Hoje, esta angústia que outrora me segurava como quem segura rédias impostas à um cavalo selvagem, me fazia parar. Hoje ela me ensina a cavalgar com cautela, mas nunca parar de seguir em frente.

Me dê o mínimo para manter-me em pé, é o que preciso. O suficiente que me permita autonomia de viver capaz de criar novas metas, realizar mais sonhos, almejar mais vitórias, e consequentemente vencer.
Deixe do mais por conta das minhas escolhas e renúncias, que eu aprenda e me cure, que eu sofra ou sinta o sabor das alegrias.

Loucos são aqueles que me acham louco, sem o gosto de um dia poder ter perdido ou vencido por tentar realmente ser real.

Vou galopar.