Luta

Na verdade existem as lutas, que vencemos, perdemos, transformamos em gloria e sucesso, ou fracassos homéricos. Na verdade temos as duvidas, que nos consome, nos tira o foco e transforma paz em angústia. E corremos sem rumo, andamos em círculos, sem saber pra onde ir e pra quem recorrer. 
Na verdade vivemos momentos de dor, sofremos, choramos, decepções e ilusões, e questionamos tudo o que podemos ver, tudo que nos é mostrado. Porque a dúvida é eterna. 
Hoje é diferente de ontem, hoje é cinza, sem cor, fosco, sem brilho. Hoje é rotina, mesmisse, ilusão de felicidade que suborna o que minha alma anseia, conclusões e descobertas, revelações e no fim, paz. 
As pessoas não compreendem, isto não é conquista, não é vitória, não é crescer. Na verdade hoje a vida é simples por ser igual, não soma, não cria, céu nublado e escuro. Um escuro sem maiores adjetivos.
Na verdade quando paramos de buscar, se perde, desaparece, amorna, cicatriza. E a vida é uma ferida aberta, é um eterno sangramento, uma constante cheia de pulso. Quando estanca, morre. Quando não percebemos os erros, nos tornamos viciados, doutrinados, alienados. E nos transformamos em meros espectadores de nós mesmos. Isto tudo é consequência das verdades.
Algumas vezes rimos sem alegria, são os risos sombrios, risos mascarados, aqueles que não são da alma. Alma que hoje em dia se faz presente, se transforma em resposta aos porquês, talvez a única justificativa que nos livre dessa angústia. Minha alma vaga sozinha, a minha espera, enquanto padeço em meio as impurezas e rotinas doentes. 
Na verdade existem as vezes em que critico minha existência, questiono as razões, e procuro o mais rápido possível me libertar. Livrar meu espírito e por mim mesmo, só por mim, entender tudo e todos. E todo o mal será liberto, e eu vou respirar e dormir em paz.
Nas dúvidas eu navego, a deriva, na verdade elas existem, eu sei bem, e eu preciso passar por essas dúvidas para compreender ou ver tudo ao meu redor. Eu não pertenço. Eu persisto. Existo e sofro por não desistir. Insisto.




O Menino e o Muro II

E o menino  atravessou, por onde antes nunca havia alcançado. Braços doloridos, suor, olhava para os lados afoito e com medo. O que poderia encontrar? Haviam trilhas, novos caminhos, suas pernas tremulas queriam correr, mas para onde?. Ele lembrava de todas as aventuras que havia passado, daqueles dias onde acordava com o sol em seu rosto, que olhava ao horizonte e aonde seus olhos alcançassem, lá estaria ele. Este menino que lutou tanto para chegar ao limite, hoje havia descoberto o que estava lá, por de trás de tudo que ele acreditava, por além de todos as vezes que ele sonhou que o que vivia era eterno.
Em seu bolso ainda haviam os rascunhos, pequenos papéis onde ele escrevia os sonhos que um dia realizaria, onde colocava as histórias que a vida lhe mostrava, e as pessoas que passavam por ela, ele sempre guardava tudo isto. Alguns amassados, velhos pelo tempo, rasgados e faltando pedaços, e outros quase em branco, como se faltassem serem completados. 
Ele resolve sentar, descansar, esperar antes de seguir por caminhos que não conhecia. Seu rosto já não mostrava só alegrias, marcado pelo tempo e por vitórias e derrotas. Um sorriso fácil, um pequeno impulso para que fosse adiante, mas o que e até que ponto ele suportaria? Tudo era muito pesado e frio. 
Talvez o tempo que este menino passou caminhando por suas pernas, sobrevivendo por si só em um mundo aos avessos, tenha lhe ensinado a entender que as pedras e os caminhos marcados podem ser desfeitos, e isto fez ele parar por um tempo. 
Ele olha para traz, ali esta ele, aquele muro onde a alguns anos ele parou, sem poder sequer alcançar o topo. Ele não foi destruído, ele for transposto, o menino que não era mais criança estava ali, onde sempre imaginou estar, e ainda assim lhe faltava algo, lhe faltava a razão. E esta dúvida sobre a razão de ser, de porque ele precisara estar ali, com suas mãos e pernas já desgastadas, com seus cabelos já não tão brilhantes e vastos como antes, lhe fazia apenas querer entender.
E ele ouvia de dentro de seu peito:
"Levante-se, caminhe, siga. Forças em seus atos, enxugue seu rosto, não há volta, não existe retorno. Aquelas pessoas se foram, e aquelas trilhas que você tanto decorou, se apagaram. Desfaça-se dos seus rascunhos, de suas sobras de papel, de lembranças que lhe sufocam meu garoto. Hoje em dia o que você precisa é reconstruir, por mais dolorido que seja, deixe ir. Deixe que a vida pavimente seus novos caminhos e você tenha fé e caminhe, por si só. Deixe guardado em seu peitos as histórias com ponto final, deixe as lágrimas para os momentos de alegria e não de dor. Onde você possa lembrar de tudo que viveu e de quem viveu contigo sem vergonha ou medo, pois estas pessoas lhe deram sonhos e motivos para sonhar, pois estas pessoas, mesmo pecando, transformaram o que você jamais alcançaria em alavanca para seu sucesso. Hoje garoto você esta além do que imaginou, graças aos caminhos que você seguiu junto a quem lhe quis bem, e isto continua. Você ainda pode seguir adiante, pode ser de mãos dadas com quem acredita que você é especial, por cima de todas as vergonhas, boatos, falhas e defeitos. Acredite que novos passos serão dados, e não desista de ser o mais importe, puro, por si só."
O menino limpou a poeira de suas mãos, levantou-se, respiração funda e decidida, ele estava disposto a acreditar, confiante de que após mais esta nuvem sombria e carregada, o sol voltara a brilhar em seu rosto e o horizonte a indicar o caminho de seu coração. 
Força.

Sucesso?

Tudo esta congelado, parado, instável, sem vida. Nada do que vejo é real, nada do que sinto é bom, e as horas passam mais devagar que os anos. É um inferno congelante, sombrio, eco por dentro e sem frutos. Dentro de mim as peças estão espalhadas, rodando em um universo paralelo distante dos olhos de todos. 
Não temos as mesmas alegrias, não compartilho do sucesso que deixam vocês felizes. Por aqui tudo se despedaça, se fragmenta, eu luto contra aquilo que acredito. Eu me seguro para não explodir.
São pequenos detalhes, da minha grande alma, que representa mais do que eu mesmo acredito, que reluz mais do que deveria, e transforma meus atos em algo fora do controle. Não admito ser aquilo que não devo ser, questionando porque e incompreendido os fatos. Eu não sei fingir por muito tempo. 
De que adianta a felicidade aos olhos dos outros enquanto por dentro nos traímos? É por isso que luto, para não me tornar mais um que sucumbiu e se matou por dentro para viver as imposições de uma vida banal. Incomoda aqueles que nunca lutaram, incomoda aqueles que nunca experimentaram nada alem do que lhes foi mostrado por outros. É por isso que eu reluto sempre.
E aquilo que a maioria das pessoas almeja, de nada me seduz. Pois tenho a consciência de que isto apenas trás alegrias momentâneas, subornando a verdade, pois quem nunca teve se deslumbra com qualquer coisa. E vive num círculo sombrio e falso, cego de que esta no caminho certo, de que aquilo é a prosperidade, enquanto é morto por dentro. 
Já tive armas pra me tornar o maior dos menores, o melhor dos piores, e viver na soberba hipocrisia que me assombra dia a dia. Não quis. Fruto da minha alma que me impede de seguir por onde não acredito, e isso não cabe a ninguém decidir. Só eu. 
Talvez eu seja um louco, talvez eu deva experimentar de cada pedaço da impureza e desordem que todos vivam, das dores que todos sofrem, das vontades que todos matam por um propósito qualquer. Talvez eu deva provar o amargo da derrota, da traição da vida com você, para entender mais ainda o que devo fazer ao certo, onde devo pisar e com quem caminhar. Eu aprendo demais com os erros, e jamais os repito.
Hoje eu vivo assim, planando sobre o que acredito, engolindo seco e flertando com um coma. Assistindo meu próprio dramalhão mexicano, de camarote.
Talvez eu seja injusto com o destino, não compreenda seus passos e pistas, e esteja blasfemando contra mim mesmo. Ingrato, pode ser, quem garantiria que não? Mas não consigo ainda enxergar a parte boa dessa história toda. Não consigo olhar na mesma direção que ele me aponta e dizer que lá está meu foco.
Se para alguns eu tenho sorte, pra mim eu tenho lições. Se pra alguns isto é felicidade, pra mim é penitência. Se pra alguns isso é sucesso, pra mim é vida desperdiçada.