Turvo

É uma loucura que ninguém percebe, invisível mas sensível. Tira o precioso sono, te zumbifica. São tantos porquês, serás, deveriam, poderiam. Talvez sejam subtraídos desta angústia os ignorantes. 
Eu me conheço bem, sei das minhas fraquezas e fortalezas, dos tiros que dou no pé pra aprender a não errar. Eu as vezes perco a sanidade, ou ela se desprende de mim, de me deixar quieto no meu canto. As vezes eu só queria estar quieto no meu canto. 
Eu mal te conheço, minha parceira de madrugadas que invade e atropela, me chuta do sono em míseras quatro horas e me deixa lembranças na cara durante todo dia. Uma vadiagem sem esbórnia. As vezes eu só queria desmaiar e acordar depois de uns pares de dias.
Onde eu estarei daqui dois, três anos? Os passos que vou deixando marcados aqui, no chão de onde cresci, não se apagam com o tempo, estão firmes e fortes, mesmo hoje sendo seguidos por quase ninguém. Lá se vai aquela pessoa, que outrora era presente, mas que não se fazia aparecer. 
A melodia é melancólica, remete ao poço fundo da depressão. Fala de adeus, de mudanças, de deixar para trás, de romper com tudo que precisa ser rompido. E quem além de mim hoje em dia se importa? Tem sido frio e meu rosto não nega, mas eu me perfaço. E a cada angústia homeopática que sinto, procuro suborna-la e me tornar invisível, me escondo dentro de mim para tentar escapar. Hoje você não entende e ontem você não existia. Eu finalmente estou deixando este lugar.
Incompreensão, intolerância e ignorância. Quantos desses detalhes me moldaram e transformaram tudo que eu acredito. Eu não posso e não devo mais lutar pelo que não é sagrado. Eu ouço as pequenas falar entre as paredes, suspiros e sussurros que dizem por seus ombros, lhe conta a verdade e tudo fica tão claro. Paranóia pode ser.
Não escrevo para ninguém, alias raros os momentos que lhe dou tamanha honra. Dentro deste cesto cheio de folhas soltas, eu, ele, nos, somos os personagens neste caminho constante ente céu e inferno. Eu vejo rosas dentro de espinhos, aquilo que se inverte as vezes quando você percebe que estamos apenas em um caminho passageiro.
Talvez um dia eu sucumba a algo mais forte, algo que me impeça de mover os dedos habilmente para deixar aqui os espasmos da minha mente, e provavelmente quando este dia chegar eu já esteja tão cansado que agradeceria um descanso.
É evidente a hora de dizer boa noite, fechar as portas que ficaram e os trincos que ainda restam, e de mãos dadas com os sentimentos partir, abraçando o meu incompreendido destino. 
Estas notas de piano redundantes e profundas, me levam e me trazem, dentro de um redemoinho, sustentando minha insanidade. Talvez eu não seja tão normal quanto os normais acreditam por não acreditarem. Mas eu estou aqui, virando a mesa novamente, chutando cadeiras e pondo tudo nas apostas. Eu me lanço ao mar, apavorado mas confiante.
Sou apenas meu próprio salvador, meu alicerce, meu deus. O que sinto aqui dentro é tão pesado, é tão claramente turvo, rebate entre as batidas do peito. Tão confuso quanto minhas palavras são meus poréns, desvios de curso, paradas bruscas. Agora não há paradas no meio do caminho. Eu espero a mudança de ares. De temas.
Você percebe aqui os meus gritos vazios, você lê aqui meus gritos vazios, que parecem ser ouvidos só por mim. Você ignora os fatos e eu ignoro as mentiras que me impedem de crescer. Enlouquecedor.
Poderia apenas dizer adeus hoje, mas eu volto.