Destoante

Um intransitável espaço, onde fico a mercê de qualquer brecha para sair. Eu flutuo entre meus próprios medos, esbarro nas paredes dos labirintos que criei, áspero, pontiagudo, úmido e frio. Hoje estou resgatando pedaços de papel queimado, palavras esquecidas, lembranças destruídas.
Quantos deuses terei que criar antes que eu desista de fé, sepultando as minhas verdades sem ritmo? As vezes eu desperto sem razão, procurando motivos para continuar, seguir em frente para um destino desconhecido até hoje. Mas eu persisto, insisto, acredito naquilo que não vejo, como muitos fazem a toa.
E vejo seus rostos, eles brilham e reluzem, transparece a cor da mentira. Eu vejo seus pequenos universos cheirando a cinzas, um pequeno mundo dominado por todos. Eu bato o pé, eu não faço parte de histórias com capítulos repetidos.
Eu atravessei fronteiras, releguei e elegi novos horizontes, um universo antes intransponível. Poderia dizer tudo que não faz sentido, tudo que guardo e engulo, ou esqueço de falar. Mas eu deixo aqui.
São todos semelhantes, são as mesmas pessoas, vestidas diferente. Todos são pardos, pálidos, felizes e doentes. Eu vejo muita dor, muita ruína e destroços. Não existe palavras que descrevam os contornos de quem esta no fim.
Apenas um rosto a mais, eu passo por eles todos os dias, despercebidos, desatentos. Meus deuses se intercalam, entre salvadores e matadores, é quase sempre tudo ou nada. 
Toda decisão é dura e machuca, mancha a pele, sangra os olhos, busca razões irracionais para fins racionais. Eu ando de lá para cá, onde estará você? Eu parei e perguntei novamente. 
Agora que minhas pernas estão dormentes, eu tenho problemas, são internos, são minha bomba relógio, um curto pavio incandescente. 
Todas aquelas coisas que são melhores esquecidas, tiradas e destruídas. O que você faz aqui? O que te atrai em minhas palavras dislexicas e sem sentido?
Hoje eu deixo você ir sem respostas, sem verdades, sem perfeição. Hoje é tão imperfeito que se fosse fácil dizer o que quero, eu me calaria. 
Eu olho para tudo e não vejo nada, eu estou aqui, mas não tente me encontrar.