Invisível

Eu continuo aqui. No meu mundo que desaba todo dia, enquanto uns acham que é uma fase. Extender os braços a quem pode alcança-los é fácil. E onde estão as pontas dos seus dedos sequer? É um caminho sozinho, sempre sozinho. Miragens e paisagens ao redor, de que nada adiantam ou trazem mudanças. 
Eu vivi e esperei, por algo que talvez não venha. Nem hoje, nem amanha. Não me encha com suas frases feitas, suas promessas de vida, suas palavras doces. Eu navego na essência da desilusão. Aqui o inferno é real. 
Mas quem se importa afinal? Ninguém.

Crises de insônia, crises de angústia, crises de perdição. Não sinto na pele minha dor, sinto na alma. Aqui dentro infelizmente é tudo invisível. Mas também, quem hoje esta preocupado em olhar profundamente? Eu preencho parágrafos com perguntas. Elas são muitas.
Olho para os lados, estão aqui, estão ali, e não estão em nenhum lugar. Se eu gritar hoje, quem ouve? Se eu sangrar hoje, quem estanca? Se eu morrer hoje, todos choram. Porque lágrimas suprem falta, mas não suprem ausências. Antes de escorrerem pelos seus rostos, deveriam ter sido combatidas com amor.

Eu padeço. Desintegro. Dia após dia. Existe a saúde que mantém o copo vivo. Um corpo com uma alma em coma, um profundo coma. 
Quantas portas entreabertas, quantas trancas e cadeados. Eu sinto um aperto tão grande no peito. Tão forte. E ele não se interrompe. Ninguém sente mesmo.

Talvez o tempo abre todas as portas hoje trancadas. Talvez o tempo apenas me cale ainda mais. Talvez o tempo pelo menos, em um gentil momento, me dê as respostas a tudo que preciso, boas ou ruins, mas irão me satisfazer.  

Enquanto todos veem invertido, um negativo de toda a verdade, eu não tenho como lutar. Enquanto todos derem com os ombros, eu estarei de joelhos, pois sucumbi. 
Não é drama, não é carência, não é derrota. É carma e verdade.  É batalha diária, não essa que você trava diante dos olhos, é outra, é diferente, é agonizante. 

Eu preciso enxergar um ponto apenas, um único ponto. Mas ele precisa ser fixado ali, por qualquer um, por mim, porque quem seja, mas ele precisa reluzir e brilhar para que eu enxergue e vá, direto e destemido. 

Hoje eu não tenho nada, nem ninguém. E quando digo isso não é da forma que você entende. Quando eu digo isso eu falo comigo mesmo e externo. Eu não quero ser socorrido quando estiver na sarjeta ou em uma maca, eu não quero ser afagado quando estiver indefeso, eu não quero.  Eu quero que qualquer um ou alguém ou algo reencontre dentro de mim o prumo, o norte, o sentido. Eu sou incapaz. 

Um gigante hoje acorrentado. E nada me liberta por enquanto.