Ouça-me, aqui.

As vezes me pego com saudades de mim. Deve ser o tempo, que levou boa parte disto e outra se perdeu, dissolveu. Eu sei porque busco na memória, e ela me trás pitacos sutis de um outro eu. Nuances daquilo lá atrás.
Minha mente, resguardada, flamba-me todos os dias, com um pouco de medo, de coragem, de certezas e dúvidas. Desvaneios.

Se a morte é mudança, quantas vezes morri. Desatei meus nós e criei belos laços. Bonitos por fora mas fáceis de se soltar. Eu gosto mais de nós. Firmes e fortes.
A madrugada fria me norteia. Dentro dela eu sinto o silêncio de todas as almas, e nenhuma delas me percebe. Ah, como gostaria desse infinito sempre. Ele não me assusta.

Meus antigos sonhos se foram. Talvez se esqueceram de mim. De me visitar nas noites em que eu dormia sorrindo. Lá se veio a vida tirando aqueles antigos contos de dentro do peito. Do fundo da mente.
Quero estar ao seu lado, mas longe daqui. Sim, não me julgue egoísta. Me julgue faminto. Ansioso por te mostrar o mundo lá fora. É tão maior. Tão pulsante. Tão vívido.

Ergamos os alicerces, dignamente, e a partir dali, pontes e mais pontes. Daqui pra onde a vista alcançar. Espero que não demore tanto.
Saudade de mim. Mas estou aqui, relutante em cair. Um universo sobre meu corpo, um peso imenso invisível.

Um artista em metáforas, maquiando a tristeza das palavras diretas. Assim elas passam despercebidas por aqueles que não fazem questão. Nada é sincero diante de olhos sem foco. Escondido, dentro de casa ponto e vírgula, há um testemunho sorrateiro e contundente. Profundo e sofrido.
Faço das minhas palavras meu retiro mental e espiritual. Um baú da minha existência.
Talvez eu parta prematuramente aos olhos mas tardiamente ao coração. Não quero viver ao ponto de não ter mais escolhas. Não quero números, quero calos. Se me tirarem a vivência, que me levem a vida. Me bastou.

Estou perto do meu passado distante. Hoje ele não me norteia. Eu precisava disto. De alguns adeus. De alguns até logo. De alguns olá. Renovação.

Se eu vier a vencer ou falhar, foi encarando o destino. E que seja assim até quando for. Cada página escrita fortalesse o capítulo.
E eu vou escrevendo...