Sucumbir

É difícil pra maioria enxergar o próprio fim. Não pra mim. É sufocante e ao mesmo tempo didático. Não há barreiras além do resto de consciência que te arredia e te segura. Mas não pra sempre. Chegará o dia. Chegará o fim.
Não é justo que alguém carregue o peso imenso deste fardo que sou eu. Ninguém merece sofrer a vida dos outros. O destino dos outros. A maldição dos outros. 
Você nasce pra sua morte. E ela virá da maneira pré-destinada, sem aviso, sem alarmes, sem explicação. E sem escapatória.
Esses dias atrás me aproximei do seu encontro. Segundos me tiraram da frente, é, ainda não era a hora. Flerto com ela, e me vi assim, sem nada que me impedisse, sem nada que me prendesse. 
Naquele momento toda a vida esbarra e te arranha, tudo que foi visto, vivido, passado, sentido. Te coloca em uma balança de verdades, mentiras, e perdão. Eu não me perdôo. Talvez nunca o farei. Nem mesmo sei do que deva me perdoar. 
Eu não terei tempo de me desculpar daqueles que eu deveria faze-lo, nem me lembro mais. Talvez alguns me devessem desculpas, isso sim. 
Sei que pra você esta sendo pesado, cansativo, difícil, sem querer sufocante. É, não é fácil viver próximo à mim. Exige batalhas e longas e profundas respiradas. Acredito na sua força. Ainda acredito. 
Pois não sou de todo mal. Quando eu partir, sua lição ficará. Lembranças não dissolvem quando foram sentidas na pele, no peito, dentro de ti. Você terá seu tempo de lembrar e sorrir, assimilar, e compreender um pouco mais sobre a minha passagem duradoura. 
Enquanto esse tempo não vem, eu estou aqui escrevendo mais um pedacinho do fim...