Valeu

Hoje me deu vontade de chorar. Aqui, sozinho, de madrugada. 
Hoje, enquanto todos dormem, minha cabeça não para, e eu rebusco nas lembranças algo pra extravasar. Pra conseguir diminuir um pouco a angústia desses dias, que estão difíceis. E por mais forte que eu seja, por mais realista que eu seja, hoje, eu sucumbi. Pois não há força que deixe um homem em pé quando ele se vê impotente. Quando não cabe mais a ele decidir, cuidar, curar, trazer de volta.
Eu desabo quando não me conformo, deveria me conformar, talvez, mas é difícil. Esta é a palavra que mais perfura minha mente, como é difícil. 
E me pego a lembrar dos dias que não mais existirão. E isso dói demais. E me pego a lembras das horas de conversa, de aprendizado, de respeito. E onde estarão elas agora? E me pego a pensar se deixei de fazer algo, se deixei de dizer algo, se faltou um sorriso, se esqueci um abraço, se faltei com respeito, sem querer. E me destrói porque eu não posso fazer nada, nada mais. 
Quando eu vou repetir os almoços? Quando eu vou ter a ajuda pra lavar minha moto? Eu não sei! Ninguém sabe, porque talvez, não exista mais esse dia. 
Eu queria ter dito tudo que podia ter dito, mas ninguém sabe, ninguém escolhe, ninguém prevê. Eu queria poder ter aproveitado mais, não sei! Eu queria poder reverter as coisas.  Mas não tenho nenhum dom. 
Hoje, me deu vontade de chorar. Aqui, sozinho, de madrugada.
Hoje, eu só tenho uma pegunta que não me sai da mente. Porque? Porque tinha que ser assim? Será que esse foi o melhor jeito? Será que isso conforta? Eu não tenho nenhuma das respostas. O que me vem são lembranças, dos momentos bons, dos milhares de risos que dei, e dói, dói, dói, saber que mesmo estando ali, eu não vou mais poder repetir. Minha cabeça lateja, eu, sou forte, mas não tanto. O que eu deveria fazer pra entender esbarra em uma fraqueza comum.
A vida poderia levar as lembranças junto com as pessoas. Tirando de dentro de nós a falta que isso faz. A angústia que isso causa. A morte por dentro é pior que tudo.

Eu não me conformo. Me revolta as vezes. Me da raiva em certos momentos, me rebela contra a ironia do destino. Eu, você, ele, sempre refém dele. 
Libertar minhas palavras aqui tira um pouco de dentro de mim a pressão imensa que estou sentindo, a vontade de desaparecer e voltar quando tudo tiver terminado, ou voltar no tempo, seis dias. Seis dias, e nada disso existia. Seis dias, e tudo era harmonioso como sempre foi, e nossos almoços continuavam, e nossas conversas continuavam, e nossas brincadeiras e sorrisos continuavam. Seis dias.
Meu exemplo de força hoje é exemplo de luta. Mas talvez seja exemplo da crueldade do destino, da injustiça da vida, da maldade inevitável. Não tenho mais palavras.
Eu só espero que nunca o tenha magoado. Que nunca o tenha perdido. Que nunca o tenha decepcionado. Espero que guarde, nas lembranças que restarem, um pouco de mim, da forma que for, do jeito que for, mas que eu não me perca em um vazio condicional, um vazio agonizante. Espero que tenha forças pra saber das nossas histórias, dos nossos trinta e cinco anos.
Hoje eu não tenho mais você por completo. E isso dói demais. 
Hoje tudo que eu mais queria era não ter recebido aquela ligação do domingo, e a vida seguiria, porque as vezes é melhor acontecer com você.

Eu só sinto pena, por mim, por nós. 

Mas de qualquer forma, valeu, e MUITO.