Crescente

Da próxima vez eu serei tão forte que me erguerei e permanecerei firme sobre meus pés, sem que nada ou ninguém me derrube. 
Tão forte que não sentirei dor, perda, remorsos, pena. E as viradas da vida não me farão sofrer. E eu não perca as alegrias pelo caminho, trazendo mais um pesadelo.
Um redemoinho, torce, aperta, maltrata. Eu queria ser mais bravo, forte, tão seguro diante dos fatos quanto diante da  verdade. Não odiar, não expor, não passar por buracos tão pequenos que me esmagam.
Travando uma guerra constante, quem sabe ao certo pelo que eu luto, só meu Deus. Só quem me dá forças é capaz de entender e me empurrar, me lançar aos desafios. Onde eu vou estar?
Tão inconstante. São viradas bruscas, arremessando minha alma contra as paredes. Eu preciso destruir este bloqueio. Eu quero ser o meu próprio salvador. Meu próprio juiz. Minha sentença.
Um coração forte feito para resistir aos comandos e as pressões de uma cabeça tão tão feroz, que explodiria se eu deixasse. Uma chama ardente que é capaz de matar. 
Eu, refém, eu, refém. No arrependimento, na passagem, no que faço, desfaço, começo, termino. Acendo e apago antes de iluminar, de brilhar, de trazer claramente as verdades, ofusco. Deixo queimar por dentro como uma folha se estinguindo. 
Meu som, meu refúgio, minha inspiração. Me trás a tona aquilo que existe invisível. Que me abre os olhos e me insere dentro de um mundo silencioso.
Nada termina após existirem lembranças. Eu desejo esquecer os dias, as palavras, as passagens, mas não existe saída quando foi preso dentro do coração. É um infinito sim amputando um não.
Remorsos jamais. Saudades pra sempre. Dos tempos em tempos. Do som de vozes que jamais se calarão. Eu espero desde ja apenas lembrar e pensar que transpus.
Se eu pudesse escolher, escolheria a mais pura ignorância ao invés da tenebrosa lucidez. Escolheria ser brando ao invés de ardente, ou apenas seguir caminhos planos. Mas eu não controlo o que os céus desejam, portanto sigo meu caminho, sigo meu próprio destino.
Pegue minhas mãos, me guie, me dê forças enquanto os lados desmoronam. Me abrace, forte, não me deixe ir além do que nós merecemos. Eu preciso e quero, eu aceito mas prefiro sem sofrer. Se eu puder escolher, que seja pelo menos agora. Não haverá sucumbir, e sim, prevalecer.
Quero num futuro distante olhar para trás e entender cada passo, cada lágrima, cada aperto no peito, cada perda, cada adeus, cada desistência e despedida. Cada ponte que transpus até chegar onde eu merecia. Eu mereço!
Quando vocês ouvirem minha voz. Quando entenderem além daquilo que vêem, através dos pequenos pedaços, enxergando o tamanho disso tudo, haverá tanto perdão e ao mesmo tempo raiva por terem sido tão ásperos quando a saída era apenas aceitar. 
Da próxima vez eu serei tão forte que um só sorriso vai dizer tudo aquilo que eu precisava dizer. E no exato momento antes de eu fechar os olhos pela ultima vez, me dêem apenas um sinal de que tenham entendido meus passos até ali.
Eu vou descansar em paz.