Vampiro

Houve um tempo, décadas atras, que não existiam consequências, apenas sede. Necessidade pura e simples de juntar conquistas, de ouvir as palavras certas, de sentir os murmúrios e os joelhos no chão. Não existia o "não", mas sim o "quando".
Não havia arrependimento, não há culpa, só a vitória. O certo e o errado foram mesclados e destruídos ali, dentro da insana obsessão. Dentro daquele tempo espaço onde era refém de si. 
A conquista vicia. Transforma você em escravo do "sim", do antes impossível, do chamado proibido. Não há barreiras. 
Evolução na arte da destruição, de sonhos, de perfeição, de família, união, verdadeiramente falsas ao seus olhos. Era a sede de conquista. Alguém a procura de destruir qualquer um que dissesse algo que lhe prejudicasse, que ele sentisse como desaforo ou ataque. Ele arrancava o que havia de mais digno, e da forma mais cruel e sádica.
Trazia para perto aquelas que eram soberbas, prepotentes, exibidas, arrogantes ao ponto de deixa-los aos pés. Todos? Quase todos. Ele as fazia sucumbir, ao seu modo, seu jeito, sua técnica impecável. As maiores lobas foram abatidas, domadas, de quatro ao seu comando. Era mais uma vitória.
E o prazer aumentava a necessidade, um vício sem controle, um refém de seus próprios desejos. Ele queria mais, e mais, e mais. Aquelas que se tornavam impossíveis aumentavam o desafio e o desafio aumentava o objetivo, e no final, triunfo. 
Não existiam as que eram de outros. As que estavam em mãos alheias às dele eram de mais valia. Objetivo redobrado e meta traçada. Ele queria destruir a idéia comum de união.
Introduz, apresenta, cerca, joga, cativa, conquista, vence.
A paixão o cercava, trazia a frustração daquelas que não teriam os desejos realizados. Porém nunca existiram falsas promessas, falsos comprometimentos. Era clara intenção, como era clara a consequência. 
Naquela época a paciência era virtude, a espera era recompensa, e o prazer era prêmio. Um risco intenso e eminente, uma delicia sem fim.
O proibido é doce como mel, lambuza, escorre, vicia. O improvável é apaixonante, olhos nos olhos com quem ninguém espera. Histórias que são segredos para quem as vive. Verdades que são mentiras pra quem não as soube. Esses são os trunfos imortais, por mais que os anos passem, as memórias ficam, as lembranças adormecem mas não morrem, revivem a cada vontade de renascer.
Houve um tempo em que ninguém era mais sincero e canalha, fogo e brasa ardente que acorrentava qualquer que quisesse ser tida como vítima. 
Seus homens eram objetos usados como instrumento de lembrança, lhes traziam a tona a imagem dele. Feche os olhos e imagine, suspire e diga seu nome, trema e denuncie quem te fazia mulher. Com os olhos fechados não existe traição.
E elas cobravam, exigiam mais, pediam mais, viciavam. Alimentavam ainda mais a volúpia e desejo, saciava o vício e mantinha a chama acesa. Um círculo infernal.
Daquelas histórias algumas sepultaram. Chegaram ao ciclo final. Sem mais capítulos. 
Mas as páginas escritas jamais poderão ser apagadas. Arrancadas talvez, mas o que aconteceu nunca será tirado de dentro das lembranças daquela época. 
Houve um tempo em que ele aprendeu os segredos que levará para vida toda. E todas as armas que aprendeu a usar hoje estão sobre a mesa. No final a vitória vai ser sempre em silêncio.