Teatro Vazio

Tudo isso se apresenta como uma brincadeira sem graça. Eu deveria gargalhar da minha própria tragédia. Fazer piadas com minha vida. Rir para não chorar. 
Eu não quero estar ancorado a nada que me afunde, mas não gostaria de estar a deriva. 
E então o peso das escolhas prensam meu peito, sufocam, incomodam. A falta de respostas traz o clichê da dúvida, e quando há dúvida, não ha propósito verdadeiro.

Não participo, não somo, não influencio, não mudo. O que resta daquele ser, esta se esvaindo e dissolvendo, ainda assim eu reluto. Luto. Preto.
Quantas noites em claro, quantos dias a mais, palavras que assombram, esperanças desesperadas, nem aqui mais me tranquiliza. Aqui, é sim, dentro. 
Sou subjulgado por incompreensão. Sou atacado por defesa. Sou esmagado pelo peso de uma realidade assombrosa que eu reluto em aceitar e que me leva cada dia mais a um beco sem saída. Eu queria achar um ponto reluzente apenas. Um só. Uma fresta.

Não estou sozinho neste deserto, mas caminho a passos largos para uma morte lenta, angustiante e sem dor, muda, calada, dissolvente. Uma flor que murcha com o tempo, sem ser regada, sem forças para sobreviver dentro de um vazo seco e árido. Eu metaforicamente caminho a extinção. A extinção de uma alma é mais dolorosa que de uma vida.

Tudo isso se apresenta como uma brincadeira sem graça. Eu deveria rir das peripécias que a vida me apronta, mas é rir sem platéia. No meu teatro vazio. 
Meus gritos ecoam, meus passos ecoam. Meu choro rebate aos muros e rebate ao rosto, salgado e transparente. 
Um coração que bate atado a um corpo que padece refém de uma mente conturbada, teimosa, briguenta. São dois lados de uma moeda cara ou cara. De nada adianta eu virar as costas para tudo que tenho que encarar se virar significa encarar mais ainda.

Hoje caminho dentro deste teatro vazio apontando com os dedos o lugar marcado de cada um que ali um dia esteve. Lembro seus rostos, aplausos, olhos voltados à mim com atenção redobrada. Talvez vissem talento e futuro onde sequer eu via, mas aos poucos os mais lindos atos perdem força com a repetição. 
Hoje seus lugares não são preenchidos, e um rascunho ficou.

Eu viveria melhor se conseguisse viver, mas a vida pra mim não é tão simples como que pra você. Mais direto que isso impossível, pois você ainda teima em tentar me encaixar dentro de um universo ao qual não pertenço. Uma polaridade repulsiva. Eu nunca vou me encaixar e isto me da medo. Muito medo. 
Ninguém se cura sozinho. Eu sou ninguém. Não tenho forças pra destravar minhas asas, não tenho forças pra repintar meu mundo. Estou refém do acaso, do caso, do improvável provável.

Onde estão vocês? Não mais aqui.
Eu só quero fechar as portas já que ninguém mais vai entrar. Apagar as últimas luzes, desmontar os cenários e encerrar minha peça, de uma vez por todas.

Sonho meu.