Veneno

É angustiante. E eu espero que ninguém sinta tamanha angústia. Pois a vida, quando se perde o sentido, é tão ou mais vazia que a morte. Morte esta que pelo menos te traz o alivio do fim, do descanso e silencio eternos, algo que a vida te priva. 
Te faz sentir a garganta seca e procurar fechar os olhos para fugir de tudo, mas não há fuga, não há saída enquanto seu peito bate
Maldita prisão sem muros, maldita vida que lhe tira tudo e não se justifica. De que adianta anos ao meu rosto, marcado e envelhecido de afagos cruéis, e não de convicções e liberdade de realmente viver. 
Eu não suporto mais. Laços que desatam e sentidos à deriva. Um oceano em fúria de duvidas, sem onde fixar o norte, rumo ao desconhecido, ao redemoinho infinito. 
Porque me tiras a paz? A frieza que estampa o silencio é macabra, um filme de terror real. Mesmo que eu vomite todas as dores que me rasgam a alma nestes dias, continuo atado, é cravado no âmago. 
Me faltam palavras, pois elas não expressam tão límpidas como os olhos, que transbordam de tempos em tempos, e fecham a procura de um avesso que me leve para outro lugar, ou de volta a um passo atrás, onde não havia dor.
Arrancado pela raiz, não se morre em um, ou dois dias. A força mantém tudo correndo entre as veias, enquanto existir como respirar, folhas não secam e murcham. 
Eu não queria que nada disso estivesse acontecendo. Querer é utopia dentro de mim, muitas e muitas vezes refém da minha própria ingenuidade. De vislumbrar a alma enquanto só me enxergam pele. Deveria ser menos, mas não sei. Eu simplesmente acredito.
E são nesses dias longos e sombrios, nas madrugadas em claro enquanto lá fora se cala, que eu travo minha guerra. Sozinho, sem ter pra quem gritar. Pois nossa dor é invisível aos olhos, principalmente de quem não te enxerga, nem hoje, nem nunca.
Quantos dias a mais? Quantas noites a mais? O coração drena, mas drena tão lentamente como escoar um filete de agua ao mar, é quase infinito aqui dentro. Talvez se eu abrisse o peito, talvez se eu arrancasse de mim, mas, não me ensinaram a matar friamente. 
Eu procuro a saída. Juro. Eu procuro respostas. Juro. Arrastando-se em um solo árido e seco. Quem me resgataria de dentro hoje? Maldição!
Se eu dormisse, um sono que me levasse desse pesadelo, e despertasse dessa tempestade como se nada houvesse acontecido, "foi só um sonho ruim", "foi só um sonho ruim". Mas não ha ninguém pra me chacoalhar como tantas vezes eu fiz tirando você desse inferno.
Não, eu ainda não escrevo sobre você, pois as palavras quando chegam aqui são de algo já sacramentado, algo que já é real, e não sei o porque mas ainda não chegou a hora.
Isto agora é só um registro do cataclisma que você proporciona dentro de mim com esta distância muda, este silêncio cruel.
Eu, por mais que deseje não, ainda vivo pra sentir sozinho cada espasmo latejante dessa dor. É angustiante. E espero que ninguém sinta tamanha angústia.

Um dilúvio está por vir? Eu não sou tão forte como gostaria de ser.