Mas Não

Eu queria sentir raiva, mas não consigo. Queria sentir dor, mas não consigo. Queria pelo menos ser capaz de impulsionar uma revolução aqui dentro, como aliás sempre foi, mas hoje em dia é um estado inerte. Uma pseudo anestesia e complacência assustadora. Eu não me conformo. 

As forças se esvaíram e lutar se torna cada dia mais desgastante e frustrante. Portas que se fecham, rostos que se apagam, sentimentos que dissolvem. Um grande é imenso vazio se forma a cada dia, como um grande lago secando e sendo drenado lentamente, a cada manhã, a cada por do sol.
Acreditar. Palavra que sempre significou muito, mas que não tem a mesma força quando as tentativas desmoronam sucessivamente. Eu deveria saber que tudo tem um preço, e ele é bem alto, muito alto.
Já deixei claro, muito claro, o que se passa aqui dentro.

Gostaria de ter tido ajuda, mas nunca houve. Gostaria de ter sido percebido, mas nunca fui. Gostaria de ter sido ouvido, mas fui ignorado. Hoje eu abri mão daqueles que consciente ou até inconscientemente abriram mão de me enxergar, e não espero mais ajuda, não quero mais ajuda. Não espero mais nada.
Preciso encarar a realidade, preciso aceitar o caminho escrito pra mim, mesmo ele sendo terrível e doloroso. Não estou sendo complacente nem medroso, pois sempre tentei com todas as forças alterar a realidade, mas perdi, fui derrotado por algo muito mais forte, e por mais que eu tente inúmeras é incessantes vezes, é fadado ao erro. Pois não se altera o inalterável. 

Poderia dizer fracasso, mas não vejo mais assim. Poderia acreditar que onde alguns vêem derrota pode haver um sinal para mudar, para tomar atitudes radicais que irão alterar toda perspectiva e ambiente à sua volta. Este é o destino agindo, colocando você em seu devido lugar. O fracasso só existe baseado na expectativa depositada em algo feito sem sentido.
Tudo que me aconteceu ano após ano, me fez crer nisso. Por toda minha vida é por todas as passagens que tive, tudo que vi e vivi, me fez traçar um paralelo com as origens de onde vim, e assim ter convicção de que as coisas acontecem realmente por predestinação. Boas ou más. 
Estou prestes a dar mais um salto de fé. Dentre inúmeros que já dei, arriscando tudo, ganhando ou perdendo tudo, mas com a certeza de ter tentado, mais uma vez, alinhar mente, corpo, alma e coração. Não é fácil, nunca foi. Não é certo, nunca será. Uma busca por enquanto constante por paz, nada além de paz.

Hoje escrevo sem tantas metáforas, sem tantas poesias, sem florear. Algo mais reflexivo do que fantasioso, talvez um pouco espelho da minha realidade atual, sem fantasias. Tenho consciência de tudo que faço, e incerteza em tudo que faço, pois ainda pairam as dúvidas e medos, mas porque temer?
Porque temer se novamente preciso me atirar seguindo o coração e a intuição? Devo apenas ser forte pra sobreviver, ser inteligente para saber identificar meus inimigos e obstáculos, e transpor. Ter saúde, para resistir às chagas que me atingirem, e olhar o horizonte. 
E ao meu lado, de preferência, e se possível, alguém que enxergue em todas as palavras acima um pouco de si, que mescle a mesma realidade e não tema o que está por vir, pois nenhuma tempestade é eterna, nenhuma dor dói pra sempre.

Nesta dissertação não há beleza, nem tristeza. Não há esperança ou derrota. Só mais um texto. Mais uma gota de sangue que escorre sem dor, sem fim. 

Um dia há de estancar.