Leoa

Se você olhar bem perto, verá que eu não existo mais. Talvez eu estive tempo demais tentando achar a felicidade que se perdeu quando eu me perdi, e projetei meus sonhos junto aos sonhos de alguém. No dia de hoje, eu não existo.
Eu desapontei e fui desapontado. Vi você chorar lágrimas tão sinceras quanto as minhas, naquela noite, onde não existia ninguém a não ser nós dois. Nunca havia chorado assim.
Quantos passos eu sou capaz de dar em direção aos seus, desviando meus caminhos e seguindo os que tocam meu peito, cegos da razão mas cheios da esperança de ter a paz ao meu lado.
Eu sou um sonhador, alguém que se frustra demais por ser frustrado. Que acredita na sinceridade das nossas próprias vontades e desejos, que constrói pontes onde antes só existiam vazios, e traz pela mão quem tem coragem o suficiente pra me ouvir e ver.
Meu amor, é tão cego de intenso que nem eu mesmo sou capaz de senti-lo sem me ferir ou ser traído em um piscar de olhos. Porque eu estou pra você, enquanto não está para mim.
É viciante. Um mal que não consigo me livrar, como não consigo me livrar de você, ou das sensações de dentro do peito.
Queria me aquetar e por pontos para cicatrizar as feridas abertas, apertar bem forte para impedir que continuem sangrando, e esvaindo gota a gota minha ilusão, minha crença, minha paixão.
Ontem foi o dia de nossas vidas. Onde vivíamos tao intenso cada segundo que haviam se tornado anos. Sem explicação ou roteiro. Contrariando à todos e mostrando respostas a perguntas que não queríamos mais fazer. O tempo voou tão forte que nos fez passar por todos os momentos de décadas em meses, e nos está testando, nossa força, nossa fé, nosso amor.
Você está ali, andando em torno daquele carrocel, esticando os dedos para alcançar aos meus e tocarmos nossos sonhos mais uma vez. Me puxe pela mão, me mostre que nada foi a toa. Suture as dores ou deixe que elas me dêem outra lição, mas não mantenha-as aberta. Eu posso sangrar até morrer.
Hoje tudo que tenho está no chão. Desarrumado. Espalhado neste cenário confuso e incerto. Pequenos cacos e estilhaços de espelhos e novas jóias, de respostas e perguntas em um emaranhado de remorsos. Venha pegar o que é seu, e por no lugar certo, ao lado meu.
Talvez da próxima vez, você seja forte suficiente pra lidar com a próxima vez. Que seus olhos de leoa foquem tão distante que ultrapassem os meus e me dêem a direção novamente, mostrando que ali, além do horizonte infinito existe um espaço que devemos chegar e conquistar.
Na próxima, estaremos tão certos pelas cicatrizes que nada vai derrubar. Eu assim espero, ou posso de novo me enganar. Que as dores que sentimos tenham nos fortalecido. Fazendo-nos caminhar com passos mais firmes, mas sempre na mesma direção.
Assim espero, mas...
...poxa, que saudade daquele sorriso. Do abraço que me dizia "você me tira daqui, dessa realidade". Poxa, mas que saudade do "sim, eu quero" do "vamos, claro!", do "você é incrível", do "meu amor".  Poxa, mas que saudade de me ver em ti e te ver em mim.
Tudo faz mais sentido.
Se fizer sentido, o fará.