Não Sirvo

Eu não sirvo pra nada. Nem pra ninguém. 
Eu construo e destruo. Começo e termino. Faço brotar a vida mas não sou capa de rega-la. Ela morre. E eu morro mais um pouquinho. 
Não importa o esforço que faço, não importa as mudanças que sofro. Lá na frente tudo ao meu redor desmorona porque nada nem ninguém é capaz de cravar firmes alicerces. São castelos de areia. 
E no fim eu sempre sou julgado, maltratado e condenado. Nenhum dos meus esforços é salvador. E sempre foi assim. 
Quem está certo? Quem está errado? Eu erro sempre que tento acertar. Mas quem eu deveria ser? O que eu deveria me tornar?
Eu me perfaço todos os dias em busca de uma paz que só existe em meus sonhos, enquanto tudo ao meu redor é sustentado por tolerância, não por vontade. 
Existe algo que não posso enxergar, e talvez eu nunca enxergue, pois ninguém vê com os olhos dos outros. Eu engulo todo meu orgulho e perguntas, mantenho tudo distante para que haja algo real, e parece que vivo encenando dentro de um reality show. Porque? 
O que seria de tudo se simplesmente eu sair andando sem olhar para trás? O que pensariam de mim e que conclusões trariam? 
Não adianta o quanto amor eu sinta, nunca é visto. Porque pessoas tendem a amar da mesma forma, e só esse amor é válido. Mas essa receita nunca foi sucesso. Nunca. 
Se eu pudesse mudar tudo para que nunca houvessem detalhes errados, eu o faria. Mas a perfeição esconde defeitos invisíveis. E as máscaras caem quando se desprendem. 
Enquanto eu luto, quantos lutam por mim? Quantos perguntam se estou feliz e vivo? Se a realidade me sufoca ou me faz bem. Quantos por aí desapareceram assim que eu apareci. 
Ou tudo se acertará ou tudo dissolverá. Eu segurei tempo demais. Eu tive forças tempo demais. E se elas não foram suficientes, eu nada posso fazer. 
Não serei perfeito, porque perfeitos mentem. Não serei falso, porque falsos escondem verdades. Não serei outro, porque não consigo nem ser eu mesmo.
Agora estou aqui, tão distante, tão só, ponderando todos os passos e todos os esforços. Enquanto todos sorriem, enquanto todos aprenderam como ceder e viver. 
Daqui vejo tudo, vejo começo, meio e fim. 
Se tenho tantos erros, se sou um poço de defeitos, não me engane mais. Me deixe chafurdar nos meus próprios pecados e aprender mais um lição. 
É só mais uma ferida que terei que cuidar...

...e se de nada valeu todas as vezes que te abracei, e te disse tantas coisas verdadeiras.  Não, elas não valem nada. Porque eu não valho nada.