O Fim Do Labirinto Da Dor - Início

As palavras adormeceram desde quando me impedi de sonhar. Tirei do peito a ilusão de que a vida pudesse me fazer feliz por completo, e deixei com que a correnteza me levasse. Desde então, as palavras se foram. 
Todas aquelas enxurradas de mágoas e frustrações ficaram pra trás. Quando você para de exigir respostas, as respostas aparecem. 
 
Hoje não persigo mais ilusões, ideais gloriosos que faziam aos outros baterem palmas e à mim definhar em uma espiral alucinógena procurando as confirmações  e provas para os meus delírios. Hoje eu semeio as minhas vontades. Nada além. 
O que a vida nos ensina é que ela vai te responder mais cedo ou mais tarde, e que viver se escondendo da verdade por trás do véu turvo vislumbrando absurdos te transforma em um zumbi alienado. 

O que havia aqui, meus gritos, meus delírios, me ofuscavam a luz da real esperança. Tirava de mim a força de trilhar algo que meus pés pudessem tocar, e meu coração sentir. Uma luta onde a vitória viria de um lado diferente, do MEU LADO. 

Os olhos não mais buscam do passado todos os momentos dignos ou felizes.  O passado hoje é memória adormecida. Uma trilha suave já coberta e desmarcada pelo tempo. O tempo é  o sábio condutor de nossas vidas. 

Quando eu transbordava aqui toda minha angústia, me calava ao mundo, me afundava em conflitos dilacerantes que maltratavam minha força. Me acorrentavam dentro de um inferno particular circular, sem saídas. Um labirinto da dor. Só dissolvendo as amarras com desprezo é que essas paredes sucumbiram. 

Diante de mim a poeira se foi. Os olhos turvos e feridos de anos e anos travando batalhas sem vilões ou heróis pouco a pouco se tornam límpidos e direcionados. Um fenômeno nunca antes visto, testemunhado, ou sentido. 

Os momentos que se seguem me afastam dia após dia desta prisão. O Gritos foi meu escuro quarto sombrio, minha muleta da vida, meu ácido. Hoje ele envelhece levando consigo doentias vozes que não mais gritam aos meus ouvidos. 

Talvez um dia ele retorne à assombrar minhas noites, não por vontade mas circunstâncias, as mesmas que hoje não mais alimentam esse covil. Espero que jamais. 

Eu ainda te visito, por consideração, por respeito, por ser parte de um ciclo que talvez eu devesse ter passado, para que tudo adiante faça sentido. 

As correntes estão se trançando. O início do fim.