Visitante

"Talvez um dia ele retorne à assombrar minhas noites, não por vontade mas circunstâncias, as mesmas que hoje não mais alimentam esse covil. Espero que jamais."
E "jamais" é tão irreal quanto a minha tentativa de viver sem dor. Um brinde à minha companheira inseparável, a angústia. Como um sutil véu de seda, paira sobre mim cobrindo todo meu corpo, se assentando sorrateiramente enquanto inocentemente tento dormir em paz. Não há na minha vida paz.
Por mais que eu acoe minha alma, como um cão em um canto, por mais que eu me reduza ao mínimo e aceite viver das migalhas em troca de transpor antigas barreiras, elas se remontam. 
O que assisto diante dos meus olhos são frustrações homeopáticas minando nossa resistência. Abrimos as asas para voar e percebemos que a força dos ventos contrários nos empaca. Os olhos focados ao longe mas os pés patinando sem sair do lugar. Metáforas pra ilustrar poeticamente a frustração.
Quando você metafora sobre algo, você tenta dissolver a verdade em desculpas compatíveis do mundo real. Mas elas já são feitas de verdades como as suas.
Quais são os passos errados que ando dando? Eu odeio redigir perguntas, mas minha mente anda martelando essa frase. Como me tem refém! 
Me tira o sono e me inunda de náuseas caóticas enquanto o mundo dorme em seu palco perfeito. Eu acordo dependurado, amarrado pelos pés de cabeça para baixo em um vale infinito, sem fundo, sem beiras. 
O fim do labirinto da dor não se faz em poucas partes, nem em partes sequenciais. Eu já havia previsto. Eu sabia que não seria tão fácil. Afinal, é um labirinto. E por mais que você estude e decore seus passos, há encruzilhadas sem respostas.
Não pretendo me entregar. Não, ainda é cedo. Ainda há forças pra aceitar que não devo parar. Ainda há razões dentro do peito que me empurram. 
Há você, sem sombra de dúvidas, que acredita em mim talvez mais que eu, e que me vê lutar, testemunhando dia após dia as batalhas, virtuosas e torturantes, com lampejos de sucesso e avalanches de frustrações. 
Mas como seriam nossas vidas se não estivéssemos vivendo?