Ramalhete de respostas

Lembro-me das vezes que caminhava em silêncio por esta rua turva e gelada. Um deserto à três palmos, nebulosa neblina.  Lembro-me de contar os laços e vãos entre os estreitos paralelepípedos, e de alguns deles brotaram mudas verdes de vida. Quanta poesia. 
Antes eu caminhava muito sozinho, quase sempre era comum, e vislumbrava todas as nuances da minha própria existência. O silêncio meu parceiro, conselheiro sincero, incontestável, verdadeiro, cruel em suas verdades. 
Sangro os lábios por libertar a ansiedade, e ela revida, pois à tempos se recua reclusa, sem espaço para aflorar. Ansiedade que aflora trás más consequências.  Se torna súbita, afobada, caótica.  Eis o que evito ao máximo, o caóticísmico das verdades sem razão. Das incisões que rasgam minha pele. Um fio de sangue, turvo, ácido, doce. 
Se o caminho até aqui me trouxe descalço e calejado, quem dirá o que virá. Não há fronteiras físicas que interrompam um objetivo, uma busca, um ramalhete de respostas.
Se todas fossem concebidas, doadas, dadas, talvez o assombro da incerteza não nos empurrasse pra frente, mais é mais. 
Estou no fio de uma estreita linha da vida, que passa diante dos olhos em flashes preto e branco. Um piscar e tudo some, se perde, se desfaz. 
Esta rua sem saída, sua praça e árvore, antigas e antiquadas. De lá sinto saudades, um pouco de tudo que eu tinha, ainda existe, e se foi.
Mais um ciclo reinicia, prometemos e não cumprimos, cumprimos sem prometer. Colecionando vertigens, colecionando fracassos. 
Mais longe irei ao caminhar por onde antes ancorava.