Recentemente foi sutilmente representado publicamente, e me fez sentir alívio já que não sou apenas eu que tenho o dom de enxergar esse lugar.
Esse mundo, esse inferno real que passa diante dos olhos, é tão intenso e nebuloso que te traga pra dentro, como um espiral infinito, e você pode nunca mais sair de lá.
É um inversão dessa cortina, um universo onde a realidade por trás de todas as máscaras caem, e as palavras não surtem seus efeitos, e sorrisos não subornam a alma.
Ele é cinza, pálido, rachado. Um silêncio oco, não reflete, não pulsa. Craquelado como vitrais em preto e branco.
Rodeado de pessoas sem rostos, vagando perdidas buscando o incerto, o reencontro consigo mesma, uma saida deste labirinto sufocantemente confuso.
Alguns tem o dom de derrubar esta cortina real, e flertam entre paralelos. Outros fingem que não vê, e a grande maioria não aceita e literalmente não percebe.
Um filme antigo, um retrato da dor, das mentiras, um limbo mutante dissolvendo pessoas e despindo almas.
Sou um desses "abençoados" com a lucidez de enxergar o inxergável. Com a maldita condição de transpor sua carcaça e remexer no seu âmago.
E isso incomoda. Muito. Isso judia. Não há dor maior que a da transparência. Que revela seus contornos, traços, rascunhos. Ninguém quer se ver despido por dentro.
Paralelo que me impede de dormir, que me convida nas madrugadas à visitá-lo, enquanto você, aqui, dorme.
Já perdi as contas de quantas vezes rastejo por este lugar, e de quantas vezes durante anos, dilacerei a alma de muitos infelizes que cruzaram meu caminho, e ignorantes, não perceberam nada.
Hoje confesso, tento lutar contra na maioria das vezes. Não é prazeroso, não é saudável. Dói, desgasta, maltrata a gente.
Mas com a certeza plena de que nunca deixará de existir dentro de mim.