Sangro

E novamente me vejo em meio as incertezas. De onde não caminho com belos passos, mas sim aos tropeços. E ao despertar molhado de suor e calor, tento entender as razões, e elas não me saltam a mente. Meus propósitos, talentos, forças, lutas, onde estão?
Nas batalhas que a vida me pôs, como um forte soldado lutei, mas sem méritos. Sem medalhas decorando algum uniforme ou algo parecido. Sem homenagens ou condecorações por obras ou feitos. Não há sucessos. Não houve frutos. Dos mais altos pontos vi todo o horizonte de esperança e glória, mas como uma bela paisagem, a distância separa o real do sonho. E me questiono ainda, por mais que a calmaria insiste em aparecer, eu me pego em meio a controvérsias e angústias repetidas.

E de que importa o que falam? E de onde viria a paz que confortaria meu ser? E de palavras eu estou cheio. De histórias e atitudes que afagam um cadáver, eu estou cheio. Alguns atos apenas enxertam um corpo vázio, maquiando seus temores, subornando seus maus, tapando seus olhos sobre o transtorno. E disto tudo estou cheio.

Ainda espero por você, esperança, como outrora em sutis termos lhe implorava por surgir, hoje clamo por ti. Me estenda um braço, me segure a mão, te espero na forma mais linda que possa imaginar, e lhe espero portando um sorriso que me apaixone, e que me acolha, e de onde eu não possa mais sair. Com perfumes que me dopem do mais puro sentimento de felicidade. Me ache.
Do lado de cá me nego a viver, me podo aos prazeres, me confisco o mundo. Não, não quero mais. Me tirou a razão, gana, luta, e não quero mais. Aleijado pelas circunstâncias, posso apontar os culpados, e dentre eles estou eu, mas, posso apontar os meus cúmplices. E temo que nem eles serão capazes de reconhecer à mim. Desfigurado, retalhado e então, sangro. Do mais vermelho e denso rio de sangue brotam esses focos depressivos que não dizem nada a ninguém, senão à mim. Das farpas que retiro do meu peito a cada dia, sangro, e mais um buraco se abre, sem coágulo, sem dor, senão à mim.

Meu Deus, qual o sentido? Pasmem o ponto onde chega o desespero, e repito, meu Deus, qual o sentido? Quando tudo que se vê te provoca. Quando tudo que se vê, te enterra ainda mais...
Qual o sentido?