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No escuro do quarto, do mais escuro canto, onde as luzes não tocavam seu rosto, não ofuscavam sua vista, ouvia as gotas da chuva, continua e compassada, como uma música que não termina, um canto que ecoa sem fim, ela deitava sua cabeça e sentia as pulsações de seu coração.
Sem palavras ou gestos, descrevia na mente seus sonhos, rescrevia suas duvidas, limpava os ombros dos pedaços que ainda não cicatrizaram.
Ela vivia sua gloria, acordada, perguntando se aquilo era merecido ou prudente, talvez sem querer se permitir, sem poder acreditar que o mundo conspirava a seu favor. Sorrisos sem motivo, brilho no olhar onde antes existia rasas poças d'água.
Hoje em dia ela se permite feliz, se entrega de corpo e alma aquilo que acredita e gosta, vivendo cada virgula, cada espaço, cada ponto final. Do reduto do seu quarto a vontade de estar ao lado dele, aquecida pelo seu corpo, pelo seu toque desajeitado por preocupação, seu movimento sutil para manter o silencio da cumplicidade que só ela e ele viviam, lhe fazia falta.
Os motivos afloram, as razōes prevalecem e a vontade transborda.
Ela sorri ao mais simples toque, se arrepia ao som das palavras, se sente segura e em paz.
O destino fareja aqueles que seguem seu rastro, que como os pingos da chuva que não cessa, se libertam e deixam a vida lhes levar.
Tão bom quanto viver o presente é sonhar com as possibilidades futuras, mesmo que o destino é senhor disto.
E ela dizia aos quatro ventos, "seu sonho meu sonho"