O Menino e o Muro II

E o menino  atravessou, por onde antes nunca havia alcançado. Braços doloridos, suor, olhava para os lados afoito e com medo. O que poderia encontrar? Haviam trilhas, novos caminhos, suas pernas tremulas queriam correr, mas para onde?. Ele lembrava de todas as aventuras que havia passado, daqueles dias onde acordava com o sol em seu rosto, que olhava ao horizonte e aonde seus olhos alcançassem, lá estaria ele. Este menino que lutou tanto para chegar ao limite, hoje havia descoberto o que estava lá, por de trás de tudo que ele acreditava, por além de todos as vezes que ele sonhou que o que vivia era eterno.
Em seu bolso ainda haviam os rascunhos, pequenos papéis onde ele escrevia os sonhos que um dia realizaria, onde colocava as histórias que a vida lhe mostrava, e as pessoas que passavam por ela, ele sempre guardava tudo isto. Alguns amassados, velhos pelo tempo, rasgados e faltando pedaços, e outros quase em branco, como se faltassem serem completados. 
Ele resolve sentar, descansar, esperar antes de seguir por caminhos que não conhecia. Seu rosto já não mostrava só alegrias, marcado pelo tempo e por vitórias e derrotas. Um sorriso fácil, um pequeno impulso para que fosse adiante, mas o que e até que ponto ele suportaria? Tudo era muito pesado e frio. 
Talvez o tempo que este menino passou caminhando por suas pernas, sobrevivendo por si só em um mundo aos avessos, tenha lhe ensinado a entender que as pedras e os caminhos marcados podem ser desfeitos, e isto fez ele parar por um tempo. 
Ele olha para traz, ali esta ele, aquele muro onde a alguns anos ele parou, sem poder sequer alcançar o topo. Ele não foi destruído, ele for transposto, o menino que não era mais criança estava ali, onde sempre imaginou estar, e ainda assim lhe faltava algo, lhe faltava a razão. E esta dúvida sobre a razão de ser, de porque ele precisara estar ali, com suas mãos e pernas já desgastadas, com seus cabelos já não tão brilhantes e vastos como antes, lhe fazia apenas querer entender.
E ele ouvia de dentro de seu peito:
"Levante-se, caminhe, siga. Forças em seus atos, enxugue seu rosto, não há volta, não existe retorno. Aquelas pessoas se foram, e aquelas trilhas que você tanto decorou, se apagaram. Desfaça-se dos seus rascunhos, de suas sobras de papel, de lembranças que lhe sufocam meu garoto. Hoje em dia o que você precisa é reconstruir, por mais dolorido que seja, deixe ir. Deixe que a vida pavimente seus novos caminhos e você tenha fé e caminhe, por si só. Deixe guardado em seu peitos as histórias com ponto final, deixe as lágrimas para os momentos de alegria e não de dor. Onde você possa lembrar de tudo que viveu e de quem viveu contigo sem vergonha ou medo, pois estas pessoas lhe deram sonhos e motivos para sonhar, pois estas pessoas, mesmo pecando, transformaram o que você jamais alcançaria em alavanca para seu sucesso. Hoje garoto você esta além do que imaginou, graças aos caminhos que você seguiu junto a quem lhe quis bem, e isto continua. Você ainda pode seguir adiante, pode ser de mãos dadas com quem acredita que você é especial, por cima de todas as vergonhas, boatos, falhas e defeitos. Acredite que novos passos serão dados, e não desista de ser o mais importe, puro, por si só."
O menino limpou a poeira de suas mãos, levantou-se, respiração funda e decidida, ele estava disposto a acreditar, confiante de que após mais esta nuvem sombria e carregada, o sol voltara a brilhar em seu rosto e o horizonte a indicar o caminho de seu coração. 
Força.