Cativo

Hoje em dia vivo preso, cercado, como uma fera acorrentada sem ter para onde fugir. Hoje em dia são os mesmos sorrisos e abraços, apertos de mão e cansaço. Daqueles dias que se clonam, repito os versos, atos, gestos, sem ter pra onde fugir. 
Me mantenho ileso, por fora, por dentro murcho, esvazio a esperança e sufoco a lembrança, de onde eu vim, de onde eu sou, porque eu quero e por quem eu vou. Hoje não sonho, não idealizo a verdade que ecoa do meu peito, calado e mudo, surdo e sem voz. 
Dias sem noites, espaços ligados, perdendo a razão do tempo, do propósito vital, da alegria em sorrir, liberdade em viver, em sentir tudo aquilo que mereço por ser merecedor. Pratico aquilo que odeio, pago o preço porque tenho que sentir na pele, tudo que digo.
Hoje cativo, manso, talvez domesticado por hora, hoje meus afagos não aguentam a pressão. Humilhado, subestimado, passo de predador a presa diante dos meus olhos. Nunca desisti tanto de mim.
Jamais me doei tanto as mentiras que acredito. Nunca tolerei tanto as almas sem vida que me cercam, e todas as falsidades que vejo sem querer ver. Nunca foi tanto tempo que nunca se tornou real, e nunca parece terminar o que não gostaria, mas começou.
Me vejo em meio a um labirinto de passagens marcadas. Um caminho que conheço a saída e a entrada, e todos os defeitos e sombras que me cercam. Eu não saio porque não quero, me perco porque preciso, me escondo porque quero. Dentro daqui nada nem ninguém sobrevive.
No meu mundo, ninguém existe, ninguém transcende, ninguém me fere ou destrói. No meu mundo, você não existe, não dita regras nem aponta erros. Simplesmente se dissolve ao vento, evapora e desaparece. Aqui eu subtraio você.
Meu pequeno momento de martírio e dor, de angustias retraídas e feridas abertas. Eu compenso um lado e destruo o outro, e dentro deste redemoinho apenas eu. Eu não suportarei por muito tempo, pois não vivo o que acredito, não assumo perder, e não nasci pra estagnar. 
Se as vezes me pego na dúvida, na angustia da dor, incertezas e vazio, me retraio e busco minha alma. Se de noite, no silencio onde você jamais esta, eu grito, rasgo meu peito tentando me achar, uma luta sozinho, eu por mim.
Eu me vejo onde você se esconde, nega sentir o que sinto, proíbe sua alma de respirar. Eu aceito meus carmas, meu legado e registro cada passagem, cada momento que minha mente me transporta fora daqui. 
Desses dias eu tiro a ganância, a disputa por nada, a rebeldia inconsciente e insana pela conquista do fútil, das mesquinharias e restos. 
Hoje mais que nunca valorizo meu dom de sentir dentro de mim quem eu sou.