Tolerância


O que eu sinto é a traição. Aquele gosto amargo que me desperta na madrugada. E este texto é curto como minha paciência, que deveria ser como minha hora de mudar. Eu não vejo a hora!
Por eu enxergar demais eu vejo dentro de cada um e o que meus olhos dizem se torna sua sentença. Todos vocês são podres, sujos e mortos por dentro. Com erros que eu condeno e atitudes deploráveis. Eu erro também, eu peco também, mas não engano a mim mesmo.


Eu sou fruto de uma doença chamada hipocrisia, que me transformou no que sou por estar cercado de cobras e vermes.Hoje reluto e defendo as verdades que aprendi a crer, e no fundo elas estão certas e são elas que me fazem permanecer aqui. Todos estes castelos de areia, frágeis e fúteis, eu chuto e desmancho, destruo. 


Hoje eu levanto a bandeira do meu ego, me orgulho de nunca ter sucumbido aos arredores.Nada do que eu vejo faz sentido. Vocês se maqueiam, se enfeitam, se juntam em pedaços de mentira recheados. Eu vejo cada dia mais e vocês cada dia menos. Estou cheio de tudo isso, estou cansado por estar cercado de falsos e subjugáveis. 


Eu aprendi a voar cada vez mais alto enquanto urubus dão rasantes sobre a carniça. Procuro me libertar desta prisão sem muros, preciso achar uma saída, preciso encontrar aquilo que transforma tudo ao meu redor. Eu estou apodrecendo por viver entre podres.


Onde estão aqueles a quem dei meu sangue? Onde estão todos quando as portas se fecharam, e junto não restou nada. Onde estarão aqueles que um dia eu estendi as mãos. Eu vivo os dias refém da minha tolerância com tudo aquilo que me mata. Uma tolerância aos fracos, aos falsos. 


O meu câncer é incurável, um câncer de alma, do qual nunca irei me livrar sem matar tudo aquilo que me causa mal.