Destroços

Sou como uma bomba relógio. Vivo no limite pronto a explodir a qualquer momento. Muito próximo ao ponto de destruir tudo ao redor. Mas eu sou assim, intenso demais e sem a capacidade de relevar o que me fere. Como um animal acuado sem ter como fugir, a única opção é atacar. Quando me sinto ameaçado, ataco tudo que me faz mal.
E no meio disto tudo eu resisto ate ao ponto de não mais entender o certo, acreditar no errado, compreender os sinais que são mostrados a mim. Eu apenas agrido.
Mas não aceito o que me machuca, não consigo me tornar monótono ao ponto de ser despercebido. Não aceito me calar. É mais forte que apenas ter vontade de dizer e não dizer. É impulsionado por força maior.
O que pulsa dentro de mim é inconsolável. Não se corrompe com gestos e palavras falsas, não aceita desculpas depois de fatos consumados.
Eu poderia ser feliz aos olhos de todos. Subornando minhas verdades enquanto bato palmas aos prantos aqueles que me apunhalam pelas costas, e engulo seco e ardido tudo que realmente vejo. Mas ao cair da noite, eu estaria impedido de dormir tranquilo, mais confuso e inconformado do que agora, pois sei que hoje eu não camuflo as verdades, eu exponho as mentiras. E não me traio.
Para muitos talvez seja irrelevante o que digo, o que penso, o motivo pelo qual eu luto sem armas, sem méritos ou vitorias. Pode ser que nunca enxerguem através dessas paredes, e jamais sejam capazes de reconhecer as virtudes que eu pareço ter, eu serei despercebido. Mas eu sou tudo, ou nada. Sempre serei.
Eu não tenho inimigos. Não no sentido figurado da palavra. Não falo ou ataco sem propósito ou intolerante. Eu tenho traidores. Esses sim, aos montes.
Traidores de confiança, traidores de consideração, traidores de amizade, traidores de amor. Esses sim, são os quais me sinto pronto a atacar sem piedade. E mostro as verdades, sem razoes para mentir.
Eu não tenho medo. Nunca tive medo.
Eu posso sangrar ate a ultima gota se for preciso, e ainda assim, levarei para minha sepultura o que acho realmente sagrado e digno de ser eterno. Eu não temo mais qualquer tipo de julgamento, qualquer tipo de retaliação por ser incompreendido. Perfaço-me.
Mas estou cansado. Bastante cansado desses dias e dessas historias, de tentativas e erros. Hoje procuro as diretrizes que me guiem a paz seja ela como for, aonde for e com quem for. Cada vez mais disposto a aceitar sofrer para aceitar viver. Se atirar dentro do olho do furacão, alcançando a morte ou a gloria, de enxergar o que ninguém jamais viu antes. Eu vou me arriscar.
Sofrer por ter tentado, por mais destruidor que possa vir a ser, é infinitamente melhor que sofrer por arrependimento. Devo me agarrar a tudo que acredito e lutar para agüentar a tempestade passar, e quando ela se for, eu venci.
E o que levarei comigo? Quais as lembranças que irão restar? Quais gestos e sorrisos estarão ao meu lado e quais mãos continuarão estendidas se eu finalmente deixar tudo?
Estas e outras respostas eu terei quando partir. Só quando partir.