Frio

O silêncio maltrata. Vem sem respostas, sem pistas. Lhe deixa cego e perdido entre suas duvidas e angustias. Eu nunca serei perfeito o suficiente para ficar em silencio. Eu grito.
Eu esbravejo a cada sinal de desespero e incompreensão, porque me sufoca. Me sufoca tentar mudar mais do que já mudei e apagar mais do que foi apagado. São linhas de vida.
Por dentro eu repenso, questiono, procuro alinhar o inferno e o céu, construir solidas paredes e fortalezas, indestrutíveis, impenetráveis. Por dentro eu sou tão perigoso à mim, do que à você mesma, pois vivemos juntos, mas morremos sozinhos. E quantas mãos estarão estendidas quando este dia chegar?
É uma vida teatral, uma tragédia insana, rabiscada e rascunhada. De um jeito onde poucos sobrevivem, com impactos fortes e incessantes. O que eu deveria fazer além de esperar pelo desfecho ou ponto final, além de reagir aos golpes antes que eu tenha um ultimo suspiro. Nada pode ser feito antes, me parece.
O caminho é longo demais, as forças se esgotam. O impacto é profundo e permanente. As marcas no meu rosto denunciam fraquezas, cansaço, derrota. O tempo não para de reclamar sua parte, de reivindicar seus dias ao meu lado, um rolo de um filme do qual desconheço o final.
E ao meu redor, incapazes de enxergar, vocês permanecem indo e vindo, enquanto eu tento me salvar, eu não ouço vocês aí fora, prontos para captar minhas ultimas palavras. Eu preciso apenas salvar à mim. Algum de vocês seria capaz de levantar minha cabeça em meio a tempestade? Não.
São invernos gelados, tormentas cruciais, sombrio e nebuloso. Um prisioneiro de longa data, que não caminha mais pois seus tornozelos atrofiados, secos, quebrados, sem resposta, não lhe acompanham agora. Eu vi novamente raios de sol por aqui, mas eles sumiram.
O silencio me parece tão claro as vezes, pois dentro dele eu não preciso de consciência para entender a realidade nem quem eu sou. Mas não compreendo o seu silencio, brutal a si mesma, contundente e cruel a si mesma.
Deixo aqui, as batalhas por que passo, você lê e relê. Imagina que seja alguém, ou que seja eu, aqui, despercebido e inquieto, que te faz parar de imaginar e começar a entender. Eu vivo como um fantasma banido de seu descanso.
Na próxima tentativa eu serei mais comum, mais cego, mais imperceptível, mais automático. Menos humano.
Outra noite congelada no tempo. O que me resta são estas quase verdades, enquanto os que mentem se calam, e eu renego cada dose de calmante que me tire a sanidade. Eu mesmo não sei até quando existirão forças dentro de mim. Os céus me testam, o seu silencio me testa.
Um lampejo de felicidade me passou pela cabeça e eu tentei reencontra-lo. Onde estará tal sinal? Uma pista ou marca daqueles dias, onde eu não me continha. Não sei.
Hoje tudo ao redor é fosco. Uma chama gelada incandescente no inferno