O Fim Do Labirinto Da Dor - Meio

Antes haviam dúzias de porquês, hoje há alguns. Alguns deles temerosos a maioria das pessoas, e insistentes guerreiros à mim. Uma batalha redundante e angustiante, de dentro pra fora, invisível. 
A cada dia, mês, ano que se passa, eu me conformo com a inexistência da perfeição, e a dor da desilusão. Talvez uma desilusão tão utópica que só eu criei, e me mantive fiel, derrotando dúvidas mas sucumbindo à vida. Ela sim é justa sem fazer força. Como um curso natural. 
O fim do labirinto da dor é na verdade uma organização fúnebre de verdades imutáveis. Uma constatação cruel de que faça o que for, não será.  Lute como nunca lutou, e perca como sempre perdeu. Não há nada a ser refeito. 
Ao redor o que vejo são insensíveis vidas que se perdem na ignorância e dissolvem ao tempo. Castelos imensos, de frágil areia, ruindo e se desfazendo aos olhos testemunhosos de quem talvez nem enxergue, enquanto eu, daqui, não me conformo. 
Dessas milhares de vezes que perdi a noção do tempo tentando achar o tempo que perdi tentando ter noção, me deparei com tudo que não posso mudar, apenas aceitar. E aceitar aqui, veja bem, não é desistir, não é se entregar, não é parar. Aceitar aqui é aceitar, na pura concepção da palavra, que a vida lhe guie, lhe ajude a plantar e colher, os clichês frutos que sejas merecedor. 
Quando as palavras aqui por fim adormecerem, será porque toda e qualquer batalha parou.  Será porque até o mais forte guerreiro não sustenta o peso nos ombros por toda eternidade, e mais cedo ou mais tarde, dobram-se os joelhos. 
Eu conservo medos infinitos, forjados por uma conturbada existência, entre dúvidas e respostas exatas, e dúvidas e respostas lúdicas. Esses medos, alimentados por tudo aquilo que vivi em três décadas, são parrudos, gordos, obesos. Inertes ao tempo e bloqueando minha passagem, minha realização. Ou impedindo que eu veja o que quero, ou seria me privando de ver o que não?

O meio do fim do labirinto da dor nada mais é que um refluxo natural, uma reanalise racional dos gritos que se foram, e daqueles que ainda ecoam. Curiosamente estes ecos hoje são mais perceptíveis que ontem. Talvez haja mais como eu por aí, vagando por entre portas abertas e caminhos rabiscados à giz. Vocês não estão sozinhos.  
Ando desejando que no futuro, toda lucidez me seja desprovida, e que boas almas me conservem enquanto eu pavimento minha última trilha, dou meus últimos passos. Desejo talvez que não me lembre das falhas que cometi, dos amigos que perdi, das vezes que não sorri. Se é que saberei como desejar.  Mas deixemos pra lá o que ainda não está. São só devaneios, só devaneios. 
Falando nisso, é certo que complique cada vez mais a leitura desses meus gritos. Sim, eu preciso filtrar aqueles que não podem compreender, que não sentem como eu sempre senti. 
Fecho os olhos, abro os olhos.  É uma náusea minha amante, das madrugadas relutas, parceira que ninguém vê. Sinto que padeço calado, aqui sem estar aqui, sem ser notado. Nostálgico da época de palcos e holofotes. Tempo ilusionalmente bom.  
Fiz uma visita rápida, de passagem, daquelas surpresa. Precisava mediar e plantar mais uma semente neste caminho final...
...e aqui está o meio.