Olho Mágico



Quando ele abria as portas, sempre achava alguem com quem conversar. Sorriam, se divertiam, passeavam juntos, comiam juntos. Por anos e anos sua ideia de felicidade incluía essas portas abertas. Pois sempre ali estavam eles.
Mas não é destes momentos que quero falar.
Quero relatar os novos tempos, em que ele abriu as portas e nada encontrou. Não mais.
Apenas o escuro e ecos de sua voz gritando ao vazio. Na sua cabeça ainda fantasiam-se momentos como se querendo anestesiar a dor da realidade. Ele procura, vasculha, monta e encaixa passagens que ainda não tenha recordado. Mas estão chegando ao fim.
E o conflito dessas lembranças com a visão da realidade, sabendo dos motivos que tornaram suas portas buracos negros da memória, o revolta.
Mas ele não pode controlar os atos daquelas pessoas, ele gostaria que elas vissem o que ele vê. Que sentissem o que ele sente, que entendessem os valores como ele entende. Mas não.
A overdose de alucinações provocadas pelo inexplorado contagia aqueles que antes se contagiavam com ele, com seus atos, e seu carisma.
Maso que é certo? Nada é para sempre quando não se existem raizes firmes, que sustentam tudo o que nasce, e floresce.
Hoje em dia ele só abre as portas pelo instinto que ainda o conduz à tal ato. Ele já percebeu que nada mais encontrará por trás. Só o vazio.
A visão dele com um sorriso no rosto, como se na esperança de uma outra realidade, e a frustração mais que visível quando percebe que nada mais volta, é comovente.

E o pior, hoje, ele está tentando entender...
Porque ainda existem portas onde ele sorri?

XV



Os laços que decoravam aquela mesa sempre foram cuidadosamente postos ali. Seus minimos detalhes conferidos por horas, antes do momento final.
Ele brincava com ela antes do anoitecer, antes da chegada dos convidados. E sorriam, por guardarem segredos a sete chaves. Ao lado das bebidas, fotos que para ela nada significavam.
Ele fingia não ver, mas gostava do sentido inverso do que pensava ser simples.
Mas ela quis brincar, e a hora que ele descobriu que era verdade, sorriu surpreso. E ela queria que ele brincasse junto, mas o que aconteceria depois?

Eles pararam de rir.

Os laços que decoravam aquela mesa foram desfeitos por ela, subtamente. Todos os detalhes não mais importavam. Ele não tolerava mais suas brincadeiras ,que se tornaram provocações.
E ela procurava testar seus limites, sabendo que o cansaço já o dominava.
Repetidas vezes tudo o que ele queria era mostrar o amor por ela. A importância que as atitudes simples haviam conseguido criar. Mas desistiram.
Ele não queria mais brincar, e a hora que ela descobriu que era verdade, sorriu surpresa. E ele queria que ela brincasse junto, mas o que aconteceria depois?


Boa sorte.





Capítulo Um



E quanto mais ele olhava aumentava a crença
De que nada de novo conseguiria fazer. De que mentes se fecham como prisões.
E mais e mais aumentava a crença, que suas palavras se dissolviam ao vento. Que talvez fosse a hora de parar de insistir em quebrar as amarras.
E por mais que fizesse por merecer seus afagos, muitos ainda o agrediam com insultos impensados. Faziam chorar, adoecer, se deprimir sem perdão.
E seus dias caminhavam rápido, e suas noites eternas como o infinito. Ao acordar no silêncio atormentante, onde os olhos nada viam, ele tremia. Combinando seus atos com sua maneira de ver o invisível, nem ele ao certo saberia a verdade.
E então suas palavras ficariam cravadas no tempo pelo menos servindo como anestesia para todas as suas dores.
E ele sorri ao recordá-las, e ele sorri ao reparti-las com amigos.

Guardadas para seu futuro, criadas por seu presente, representando seu passado.




Zíper


Cala-te, cala-te boca.

Ao menos que sejas pra dizer o que querem ouvir, não pretenda ser a menina má.

Ao certo já conseguiu o que queria, pisando com seus pés sujos de lama sobre meus tapetes brancos.

Cala-te, cala-te boca.

Seus zunidos maltratam as pessoas menos avisadas. Tu sabes que não pode beijar a todas as bochechas que gostaria.

Mordeu algumas que eu sei, outras até fizeram você cuspir. Maldosa boca.

Cala-te!

Antes que seja tarde demais pra poder nos momentos certos, abrir. E você vai precisar.


Tente boca, sorrir. Percebe que com isso outras iguais a você te imitam?

Querem o mesmo, ao ponto de se unirem muito, muito próximas as vezes.

Beijo. Conhece boca?


Mas espere, cala-te!

De novo tentas falar de mim por você! Dominar meu corpo. Fazer de mim seu escravo.

Isto me irrita! Saber do seu poder e não te amarrar atada aos meus desejos.


Sei de ti boca, como sabes de mim.

Somos cúmplices e amantes. Inocentes e culpados.



Percebe, boca...

Me ajude, que eu te ajudo.


Cala-te!

Pelo menos por hoje.


Palavras com Palavras

Eu não costumo construir rimas

Acho mais fácil escrever textos corridos

Pensamentos que vagam pela mente

De tempos ou momentos sofridos


Eu não escrevo em rimas

Poemas e poesias me assustam

Quero expressar sem pensar

As mensagens que do fundo murmuram


Fazer rimas é muito simples

Não gosto delas, talvez nem elas de mim

Posso começar agradando, e me culpando no fim

Não escrevo em rimas ou versos


O sentimento se esconde entre palavras

Poucos conseguem talvez decifra-las

Mas eu escrevo para todos, sempre

Mas nunca em rimas, fatos certos


O que seria poema e poesia?

Não parei para pensar

Apenas escrevo sobre o dia

Noite, paixões e claro, amar


Mas jamais repito, construo rimas

Prefiro assim escrever

O mais puro e simples possivel

Para até cego entender


Deus! parei para olhar

O que havia escrito

Olhem elas ai, sem um mero aviso

Rimas, rimas, e rimas

Talvez seja um poema, não vou discordar

Mas se realmente for poesia...


...eu prefiro parar.

Funeral


E quando olhava para os lados ele via as paredes que esmagavam seu corpo. Nada podia fazer a não ser murmurar por clemência, mas ninguem ouviria seus chamados. A alma ferida nada mais atraia a não ser o turbilhão de tapas na própria cara. E quanto mais ele pensava, mas os nós se atavam. E por não ter feito o que lhe foi insinuado, ele pagava o preço.
Mas nada mais iria enterrar os remorsos que restaram. Em sua cara a velhice, a marca de não saber onde errou, onde cometeu o deslize derradeiro. E nada mais o faria sorrir novamente, não como os sorrisos que por sua vida cativaram suas paixões, seus amores, suas amantes.
O poder que sucumbe ao tempo. E suas meninas se tornaram mulheres, e suas mulheres, mães.
E vejam o fim do que sequer começou, e vejam o que alimenta o pior dos sentidos humanos
E qual seria?